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História O Herdeiro do Fogo - Setenta e nove


Escrita por: bleedingrainbow e grouwundzero

Capítulo 79 - Setenta e nove


[Eijiro Kirishima]

Cada um dos gestos dele fazia com que eu me sentisse cuidado. A gentileza com que me colocou em pé na água, até o toque sutil em minha mão para me ajudar a sentar. A água não estava tão fria, ou talvez meu corpo estivesse quente demais para se preocupar com a temperatura dela. A noite estava linda, todas as minhas constelações favoritas aparentes no céu, e o seu sorriso bem diante dos meus olhos. Sua companhia era mais do que necessária, já cometi o erro de deixá-lo sozinho uma vez hoje, e não quero repetir. Tudo bem… ele só vai pegar nossas coisas, logo estará de volta. O assisti correr em direção a caverna sem nem mesmo esperar que eu falasse qualquer coisa, ouso dizer que Katsuki conseguiu ultrapassar a velocidade do Lorde só nessa disparada. Com a mão bem onde beijou minha bochecha, me virei para frente com um sorriso no rosto. 

Um dos bichinhos coloridos veio até mim, de perto parecia uma vespa, seu exoesqueleto era de um azul metálico forte, um tom semelhante a uma gema de lápis-lazuli. Estava fascinado, o mundo aqui fora tem tanta vida, é tão colorido e bonito. Distraído com a criaturinha, cheguei a levar um pequeno susto quando, em questão de instantes, Katsuki já estava ao meu lado, afobado tirando suas roupas.

— Você demorou… — Brinquei e me posicionei para olhá-lo melhor. Agitei meus dedos e com um “adeus” me despedi da minha breve companheirinha. — Achei que fosse me abandonar sozinho aqui.

[Katsuki Bakugo]

Tinha largado as coisas à margem do rio e logo me livrei da minha camisa de novo, mas mesmo minha prontidão não lhe foi suficiente. Ao que me abaixei e comecei a desamarrar minhas botas, mesmo que ele estivesse todo distraído com algum bichinho que lhe fez amizade de novo a ponto de se assustar à minha presença súbita, Eijiro ainda estava com a voz manhosa reclamando de minha ausência por aquele tempo aparentemente imenso.

— Como você ousa sequer proferir um absurdo desses?  — Respondi-lhe, tirando rapidamente as duas botas. Ele acha que é o único que sabe brincar de fazer draminha? Cai dentro. — De mim, seu honrado cavaleiro, que movo montanhas e enfrento exércitos por você? Depois de tudo o que passamos juntos, você tem a audácia, a pachorra de dizer que achou que eu ia te abandonar? Acha que sou dos cavaleiros fajutos de seus livros? É isso mesmo que pensa de mim, Eijiro?

Estava no mínimo meio engraçado falar aquelas palavras de honra enquanto abaixava minhas calças e em seguida empurrava suas costas com um pé para ele me dar espaço para sentar atrás dele na água (óbvio que bem devagarinho). Eu não conseguia ver problema algum naquilo àquela altura, e não quero pensar em nada que me faça começar a ver.

[Eijiro Kirishima] 

Bobo, impossível, exagerado, existem muitas palavras para descrevê-lo eu eu pensava todas com o maior amor do mundo, pois não o mudaria por nada. Eu ria por ouvi-lo falar tão seriamente sobre honra enquanto tirava suas botas, e me acusava de duvidar da sua índole com as calças empoçadas em seus tornozelos. Longe de mim duvidar da sua capacidade, ou do seu senso de moral, só que é bem difícil levá-lo a sério quando me empurra tão sutilmente só para poder conquistar um pequeno lugar às minhas costas. Adoro seu lado teatral, tanto quanto adoro me aninhar confortavelmente entre suas pernas e relaxar contra seu peito. Deixava escapar risadinhas, e brincava com os dedos em seu joelho sem qualquer intenção duvidosa, só queria sentir sua pele úmida e nada mais. 

— Ó grande herói, mil perdões por duvidar do seu caráter, o que posso fazer para recompensá-lo — Falei preguiçosamente, de olhos fechados deixei minha cabeça tombar em seu ombro, e virei meu rosto só um pouco para poder beijar sua bochecha — É o bastante? Estou desculpado?

[Katsuki Bakugo]

— Claro que é suficiente, minha eterna honra de cavaleiro e cavalheiro se satisfaz com o menor suspiro de seu donzelo. — Ajeitei-me às costas dele como se fosse meu lugar de direito no mundo, e ai de quem discordasse de que eram. Ainda assim, ainda que eu me sentisse pertencente, a sensação de seu corpo me gerava tantos sentimentos que minhas reações eram impulsos súbitos. Abracei-o forte, enterrei meu rosto em seu pescoço. Meus dedos dedilharam em suas costelas e minhas pernas envolveram a cintura dele e eu era incapaz de sequer calcular se iríamos acabar caindo para o lado. Contradizia de novo minhas palavras, por óbvio; eu disse que me contentaria o menor suspiro e lá estava eu o travando em meu aperto porque não sabia nem queria me controlar.

Era sempre complicado lidar com tudo o que Eijiro me causava e nesse momento eu não queria evitar nenhum toque por medo do que poderia se acender dentro de mim. Não vou passar incólume a nosso toque nu tão perfeito, a pressionar meus quadris na curva gentil de suas costas, a encaixar meu rosto na curva de seu pescoço. E tenho a impressão de que só vou conseguir aproveitar isso de verdade, aproveitar apenas a sensação incrível de seu corpo contra o meu sem se acender qualquer fúria, quando eu parar de reprimi-la. Era uma contradição bizarra, concluir que tenho que deixar uma fera à solta para que ela pare de querer atacar o tempo todo por estar acuada. Solta eu não poderia nem saber onde está, como pode vir. Só também não está diante do meu alcance o tempo todo, rugindo em meu ouvido.

Precisava falar sobre isso, isso precisa sair do meu peito de algum jeito, mas o quê precisa? Até mesmo se eu conseguir concluir o que preciso falar e o que é essa coisa querendo sair da minha garganta, duvido que consigo chegar a esse tópico por uma conversa. Então continuei dedilhando as costelas dele como se fossem cócegas, e acabei por sorrir, daquele jeito que fico quando quero provocá-lo, que é o que sai mais fácil.

— Não que eu não tenha me satisfeito muito com o tapete aveludado e molhado de sua língua...  — Sussurrei baixinho para ele, citando trechos do que ele tinha lido para mim. — E quanto a você, sente que foi satisfeito seu sonho com meu sabor que tem desde que provou o de meus lábios e de água enchia sua boca só de imaginar?

Vamos lá, eu não quero me retrair de novo. Eu não quero que isso fique absurdo se nós pensarmos bem nisso. Ainda que seja absurdo, ainda que sintamos vergonha, ainda que eu tema o que isso é... eu quero mais. Não de lascívia, mas também não de pureza... que merda, não sei o que é, mas será que não dá para descobrirmos juntos?

[Eijiro Kirishima]

Entre risadas, dei um tapinha em sua perna e o chamei de “bobo”. Não nego que gostei de ouvir que sou seu donzelo, por mais que ame todos os seus lados, e tenha certeza absoluta de que me apaixonaria mesmo se ele fosse um ferreiro qualquer, preciso admitir de que seu lado cavalheiro e cavaleiro faz com que algumas borboletas especiais surjam em minha barriga… até mesmo quando ele está brincando. 

Meu corpo relaxa instintivamente ao menor contato do seu. Deixei que se acomodasse bem às minhas costas, e me aninhei perfeitamente ali. Minha ideia era a de um banho tranquilo, só nós dois, uma noite gostosa cheia de estrelas, água em uma temperatura agradável, mas fui muito ingênuo… Katsuki é como um furacão, ele não consegue ficar quieto por dois minutos, e acredito que não seria capaz nem mesmo se sua vida dependesse disso. Em um piscar de olhos eu já estava completamente preso em seus braços e pernas, sorria feito um bobo e em momento algum tentei me soltar, principalmente quando enfiou seu rosto em meu pescoço… apenas sua respiração ali já seria capaz de me causar arrepios, só que agora, tinha algo diferente, algo a mais, uma sensação gostosa tão áspera quanto suave, inclinei um pouco minha cabeça para o lado, e a movi suavemente para sentir mais, Em um quase transe, do qual só fui acordado quando ouvi sua voz, apenas um sussurro que fez meu coração disparar. 

Não estava preparado para ouvi-lo repetir as frases que li, menos ainda para o constrangimento de perceber que tais palavras saíram da minha boca primeiro… onde eu estava com a cabeça? 

— Eu não acredito… vou tomar banho depois — Meu rosto ardia de vergonha, e por mais que no fundo não quisesse isso de verdade, tentei realmente me soltar do seu aperto para, quem sabe, ir enterrar meu rosto no chão.

[Katsuki Bakugo]

Juro que mesmo na penumbra eu o vi corar. Senti o corpo dele, que estava todo molinho contra o meu, derretendo contra o meu toque, de repente se enrijecer como se ele nem respirasse mais. E é claro que eu caí na gargalhada. Porque era adorável, porque eu estava feliz, por qualquer coisa que já não conseguia ter formato de escárnio nem se eu tentasse, e eu não estava realmente tentando. Não queria que ele ficasse com vergonha, e era justamente por isso que eu o faria olhar bem para isso.

Ele tentou se desvencilhar de mim, deslizar de meus braços para talvez se enfiar debaixo da água, como um tubarãozinho que ele me disse que não iria virar. Até que se retorcendo ele saiu um pouquinho do meu aperto enquanto eu fiquei mais fraco pela risada, mas eu consegui trazê-lo de volta rápido o suficiente. Envolvi meus braços em torno dele firme de novo, minhas mãos firmes em seu torso e em seu ombro, o rosto dele contra meu peito, e beijei-lhe o topo da cabeça várias vezes.

— Tá com vergonha do quê, Eiji? — Inclinei meu rosto para o lado para olhar para ele, quisesse ele esconder o rosto em meu peito ou não. Isso eu não iria forçar, não iria obrigá-lo a olhar para mim, mas coloquei uma mão no seu rosto para convidá-lo a fazer isso. — Se você acha que eu não vou te incomodar você tá muito enganado, — Belisquei o nariz dele, mas logo meus dedos deslizaram por sua bochecha e eu encaixei minha mão em seu rosto, acariciando-o com o polegar —  mas também tá muito enganado se acha que isso é escárnio e tudo o que fizemos foi qualquer coisa além de incrível pra caralho. E eu não vou deixar você achar qualquer outra coisa a respeito disso, está me entendendo?

[Eijiro Kirishima]

Katsuki ria, ou melhor, gargalhava da minha reação, claramente contente ao ter alcançado o seu objetivo de me deixar envergonhado. Realmente, seria muita inocência da minha parte esperar que ele fosse ignorar e se esquecer totalmente das coisas que falei. Não estou bravo, tampouco irritado, assim como também não me arrependo de nada que fiz ou foi feito comigo, a questão é que saber que pronunciei tais palavras é mais do que posso aguentar. Até alguns dias atrás nunca tive contato com esse tipo de leitura, certas cenas sequer passaram perto do meu imaginário, e passar de uma descoberta tão imprópria, por assim dizer, para compartilhar essa descoberta com outra pessoa, é um salto muito grande. Lembro-me de quando recomendei um livro para meu irmão antes de terminá-lo, e quase tive um mal súbito ao ler minha primeira cena de beijo, porque sabia que logo Tamaki também chegaria lá e não conseguia cogitar sua reação. 

Já percebi que tenho essa tendência, quando Katsuki toma todos os meus sentidos, faço e falo coisas das quais me envergonho quando estou “são”, mas que sei que vão totalmente de acordo com o que quero e desejo, mas que nunca conseguiria externalizar graças a tudo o que internalizei. Eu sei que queria falar tudo aquilo, que ele me ouvisse ler cada palavra, e talvez por isso me sinta ainda mais envergonhado. Frustrado também é um ótimo jeito de definir como me sinto, só que por outros motivos, Katsuki tem uma força insuperável, nem mesmo com ele mole de tanto rir, eu consegui me desvencilhar totalmente… minha única esperança de liberdade seria se ele sentisse que estou realmente incomodado, verdadeiramente bravo com ele, ou se percebesse que está me machucando de alguma forma… nenhum dos critérios está sendo cumprido no momento.

Em certo ponto, desisti e deixei que me puxasse de volta para o seu abraço, dessa vez, com o rosto escondido em seu peito. Ao sentir os diversos beijos em minha cabeça, inspirei profundamente e deixei que seu cheiro me tranquilizasse… ficava mais confortável agora que não podia mais ver meu rosto, talvez apenas uma parte, pois acabei me virando levemente ao ouvi-lo me chamar de “Eiji”. Aceitava o carinho em minha bochecha, assim como aceitei o aperto em meu nariz, e aceitaria qualquer toque dele.

— Eu entendi… só não acredito que li aquelas coisas, ou pior, que li aquelas coisas em voz alta pra você… — Escondi de vez o rosto, e por isso, ao continuar, minha voz saiu um pouco mais abafada, e também mais manhosa do que o normal. — não precisa ficar me lembrando.

[Katsuki Bakugo]

Ele não chegava a me repelir, sinto que meus carinhos foram bem recebidos, mas não tive sorte em vê-lo olhar para mim. Não posso reclamar por completo, contudo, porque a imagem foi apenas a epítome do adorável quando ele virou mais o rosto para meu torso e enfiou a carinha entre meus peitorais. Mordi o lábio até, o sorriso forçando meus lábios independentemente de eu querer ou não que ele se abra de novo.

— Preciso, sim. A culpa é sua por ficar tão fofo quando está desse jeitinho. — Envolvi meus braços em torno dos ombros dele para fechar-me em seu entorno, como se me fosse imperioso agora que eu o protegesse, que eu fosse sua muralha, sua concha, tudo o que ele sente ao seu redor. — E é claro que você leu em voz alta, foi o que eu disse para você fazer. Acha que vai ter que ficar guardando seus segredinhos eróticos só para você? Imaginando qualquer homem por aí?

Meu tom era o de uma bronca, o suficiente para que ele percebesse que eu estava brincando. Não que, todavia, o que eu dissesse fosse completamente sarcástico, pelo contrário. Eu esperava, sem conseguir dizer, que ele entendesse que eu queria que ele compartilhasse comigo sem que eu tivesse que forçá-lo como fiz. Na verdade, eu sinto muito por tê-lo feito, por tê-lo arrancado um segredo à força, por mais que eu não tenha a decência de me arrepender. Eu esperava, sem nem conseguir aceitar, que ele reiterasse livremente as afirmações para meus anseios imaturos, porque não sei ser nobre o suficiente quando ele está em meus braços, quando eu o tenho comigo. 

Sempre esperava várias coisas sem conseguir agir de acordo a conseguir nenhuma delas, e Eijiro me mal acostumava. Ele de novo e de novo se encaixava a mim mesmo sem eu ter mostrado as minhas peças, como se tivesse sido feito para mim, sob medida.

[Eijiro Kirishima] 

Abracei sua cintura como pude, e quis mordê-lo por “brigar” comigo, ainda que de brincadeira, como ele ousa sugerir que imagino outros homens quando sequer conseguia imaginar os personagens descritos. Porém, entendi exatamente o que quis dizer, ele nunca me deu motivos reais para ter que fazer qualquer coisa, especialmente guardar segredos. Por um momento, cheguei a pensar: Você fugiu com um príncipe e príncipes não leem esse tipo de coisa… o que escolhi não falar, pois Katsuki já me mostrou incontáveis vezes que esse não é o motivo pelo qual me escolheu; e porque escolhi fugir justamente para não ter que agir como um príncipe… essa parte, eu teria que aprender sozinho, ainda que ouvi-lo gritar que estou errado possa ser bem reconfortante.

Levantei meu rosto de seus peitorais, apenas para que pudesse olhar em seus olhos

— Você é meu homem, e me insulta você pensar que imaginaria “qualquer homem por aí” — Foi a minha vez de dar uma bronca — Eu não queria guardar segredinhos… só estava preocupado com o que iria pensar de mim se descobrisse…

[Katsuki Bakugo]

Olhei para baixo, para corresponder ao olhar que ele me direcionara, finalmente. A primeira frase fez subir um calor pelo meu peito. Não sei se cheguei a corar, porque senti alastrando-se pelo meu pescoço e rosto, mas não era exatamente essa a sensação; era mais como se a descrição que chamam de frio na barriga fosse na verdade o emanar de uma chama cálida. Passei a mão em seu cabelo, sorrindo de lado enquanto o ouvia dizer que eu o insultava dizendo de qualquer homem, e bufei balançando a cabeça com o medo que ele me confessava.

Molhei a ponta de meu dedo e ergui para o rosto dele. Desenhei uma marquinha molhada na ponte de seu nariz, e depois na sobrancelha. 

— É você, Eijiro, seu tonto. Eu quero você do jeito que vier, sempre. Se não deu para entender ainda, eu vou ter que continuar enfiando na sua cabeça.

Acariciei seu cabelo de novo, sentindo meu sorriso crescer, de lado, minhas sobrancelhas franzindo.

— E eu sou o quê, mesmo? Fala mais uma vez.

[Eijiro Kirishima]

A vergonha começava a passar, e aos poucos ficava mais corajoso para mostrar meu rosto novamente. Katsuki estava adoravelmente corado, vermelhinho do seu pescoço às orelhas, não sei ao certo o que o deixou assim, até tenho uma ideia bem definida da causa, mas sem certeza. Meus olhos só saíram do seu rosto, quando se cruzaram na intenção de seguir seu dedo bem na ponte do meu nariz… é bem fácil me distrair, mas nem por isso ignorei o que disse, sorria bobo como se fosse a primeira vez que ouço algo do tipo, meu peito quentinho com o lembrete de que não serei julgado aqui.

Decidi me ajeitar melhor nessa nova posição. Sem me soltar, subi um pouco mais meu corpo para que pudesse abraçar seu pescoço ao invés de sua cintura, e me acomodar com meu peito contra o seu. Parei de me mexer apenas por um instantinho, rendido pelo carinho em meu cabelo, e paralisado pelo sorriso que ele me dava, como já disse, Katsuki é impossível.

— Meu homem. — Repeti sem hesitar, me inclinando mais em sua direção para passar minha bochecha em seu maxilar. Ronronando ao sentir mais uma vez aquela sensação áspera tão agradável. — Você é meu homem…

[Katsuki Bakugo]

Em um momento, Eijiro estava vesguinho tentando olhar meu dedo ao que eu molhava a ponta de seu nariz. Em outro, ele tinha voltado a se ajeitar entre minhas pernas, esfregava o rosto no meu e, com os braços enlaçados sobre meus ombros, murmurava baixinho que eu era seu homem. Seria difícil de acreditar que era a mesma pessoa, se eu já não soubesse e sentisse o que há em comum sempre, essa sua energia inacreditável, tão inerente a ele. Uma pureza que eu podia entender melhor; não se confundia com castidade. Agora parecia tão óbvio ao senti-lo que que não é necessário ser frígido para ter, quase ser, inocência e candidez. 

Ergui um pouco o queixo e movi meu rosto contra o dele. Minha barba estava começando a aparecer, e ele pareceu hipnotizado com a sensação áspera em sua pele, e senti entre nós aquela vibração tão peculiar que me embalava junto a ele. Suas pálpebras semicerradas, os cílios sempre tão lindos se encontrando ao que ele fechava os olhos, tão perto do meu olhar. Segurei-lhe o rosto, enfiando uma mão em seus cabelos para que ele inclinasse de leve a cabeça, facilitando-me o acesso ao seu pescoço.

— Seu homem, hm? Não iria conseguir isso aqui com nenhuma princesa. — Abaixei a cabeça e passei a bochecha e o maxilar em seu pescoço com até certa pressão, como se fizesse questão de arranhá-lo com aquilo e não só provocá-lo devagar. 

[Eijiro Kirishima]

O meu encanto, e desejo por prolongar essa sensação recém descoberta, não é nada além de puro instinto. Não é lascivo, luxurioso, é um prazer diferente, quase hipnótico, como se minha pele clamasse por aquilo, pelo conforto que me trazia, pela sensação gostosa que se espalhava pelo meu corpo conforme ele me correspondia e movia seu rosto contra o meu. Era a primeira vez que experienciava o toque de sua barba, ainda que estivesse rala… ou melhor, de qualquer barba na verdade. Meu primeiro e único homem, não sou capaz de compreender o motivo de ter gostado tanto de dizer isso em voz alta, só posso dizer que repetiria quantas vezes ele quisesse ouvir. Sua mão em meu cabelo, assim como a que segurava meu rosto, foi uma sugestão gentil para que inclinasse minha cabeça, e lhe desse acesso ao meu pescoço… a aspereza em um local tão sensível, me arrancou um suspiro 

— Por isso eu escolhi você.

[Katsuki Bakugo]

Sentindo a vibração no pescoço dele, quando fechei os olhos, mergulhei em uma sensação peculiar. Eu enchi meus pulmões de ar e soltei em um suspiro longo. Não era inocente nem casto, mas não chegava a ser erótico; com minha mão descendo por seu corpo até sua cintura, acho que não encontraria descrição melhor do que sensualidade naquela entrega mútua que trocávamos agora. 

Deixei beijos em seu pescoço, sorrindo ainda, entorpecido junto ao ronronar alto que emanava dele. Raspei mais um pouco a barba aqui e ali ao longo da mandíbula dele, sem parar minha vontade de dar mordidinhas, cada reação dele me fazendo sorrir mais. Meus instintos até me diziam que era uma linha muito tênue até meu corpo me trair e eu ser tomado de excitação sexual de súbito com todos esses nossos toques e ao menor som ou gesto inesperado de Eijiro, mas era um momento bom demais para não aproveitar. 

Minha mão então deslizou até a água. Separei nossos corpos o suficiente para que eu pudesse ver seu rosto novamente, e com isso ergui minha mão molhada e comecei a passar pelos cabelos dele, onde tinha lambuzado um pouco antes, e acariciei o rosto dele, também como se o limpasse. O que eu via, contudo, era para mim mais como se eu botasse um verniz sobre uma pintura impossível, um brilho sobre uma superfície de algo precioso demais para mim. Distraí-me com o cintilar que se fazia na pele dele cada vez que eu passava os dedos e me perdi um pouco no objetivo do que eu fazia.

[Eijiro Kirishima] 

Como descrever o que sinto, se não por meio de metáforas. Cada sensação era como um passo guiado, uma mão segurando a minha e me encaminhando para outro plano, um transe calculado, estava adentrando um novo campo, caindo de cabeça em nosso próprio mundo, me entremeando nas linhas do destino que tecem nossa conexão. Nossos rostos estão tão próximos, e afirmo que há algo de mais profundo do que o simples toque de nossas peles, algo de instintivo, de primal, tal qual esse ronronar baixo de pura satisfação. Não é sexual, mas também não deixa de ser, estávamos em uma área cinza que não poderia ser mais ideal e clara. 

Apenas me deixava levar, meu corpo sabia exatamente como reagir. Retribui seus suspiros, soltando todo o ar que não sabia estar prendendo, relaxando e me inclinando na direção dos seus beijos. Sorria com as mordidas, suas presas afiadas atacando meu pescoço, e ria quando sua barba vez ou outra me causava cócegas. Não precisava abrir os olhos para saber que ele sorria, o silêncio preenchido apenas por nossas respirações, o som da água, o crepitar da fogueira e alguns insetinhos. Com suas mãos descendo pelo meu corpo, tive uma epifania ao perceber o verdadeiro significado de estar confortável em minha própria pele, e não apenas viver nela normalmente. Apenas trocávamos carinhos e carícias, minhas mãos passeavam pelo seu peito, ombros, braços, costas, tudo. Ao explorá-lo o tornava real, assim como fazia comigo. 

Nosso afastamento foi tão natural quanto nossa aproximação. O via com clareza, e me perguntava se o olhava da mesma forma que ele olhava para mim, o brilho em seus olhos distantes, que pareciam ver através de mim, me ler e interpretar como um livro aberto. Distraído, acariciava meu rosto e cabelo, com o mesmo cuidado que um restaurador trataria uma obra de arte antiga e raríssima… não é a primeira vez que Katsuki faz com que eu me sinta um tesouro, e mesmo assim ainda me pego surpreso e admirado, meu coração prestes a explodir. 

Deitei meu rosto na direção da sua palma que estava em minha bochecha, e passei a enchê-la de beijos… me afastei apenas quando segurei seu pulso, para que agora pudesse beijar seus dedos, as costas de sua mão, tudo. Minha outra mão se entrelaçava a sua que estava em meu cabelo, meus dedos entre os seus, apertado, apenas meu polegar fazendo um carinho suave.

[Katsuki Bakugo]

Meus carinhos foram recebidos com mais carinhos e também se duplicavam de novo e de novo todos os sentimentos bons em meu peito. Cada beijinho dele em minha mão, seus dedos se entrelaçando aos meus e, em especial, acima de tudo, o brilho do olhar que encontrava o meu. A ternura que havia neles era inexplicável para mim, ainda que, por algum motivo, usando-me de algo que não era meu raciocínio, eu fosse capaz de compreender completamente.

Não queria dizer que eu sabia o que fazer com isso. O rosto de Eijiro era o mesmo, então por que me parecia cada vez mais bonito em cada segundo que eu olhava? Era como se tudo isso de bom em meu peito se acumulasse e meu coração pudesse expandir tanto no meu peito que iria explodir. Não tenho provas suficientes de que sentir tanto carinho dessa forma não poderia realmente ser fatal, e acho que até meu corpo deve ter começado a reagir e a me mandar atacar de volta antes que eu perecesse. Eu realmente estava ficando inquieto; é provável que eu estivesse certo que aquele momento em si era único demais para durar em sua perfeição, porque eu me veria transbordando em algum momento. Pois bem, não necessariamente de luxúria, parece. Eu poderia só me ver com uma vontade de rir e de trincar meus dentes, de fechar minhas mãos e agarrar algo, agarrar Eijiro até fundi-lo a mim.

Deixei minhas mãos escaparem de seus toques, ainda devagar, mas foi quase súbito que eu segurei o rosto dele. Encarei-lhe e dei uma risada da sua surpresa quando minhas palmas pressionaram suas bochechas e ele foi obrigado a fazer um biquinho. Beijei aquele biquinho, deixei uma mordidinha na ponta de seu nariz, e mordi sua bochecha quando minhas mãos soltaram seu rosto e rumaram para seu torso. Abracei-o, mergulhei em seus protestos e risadas, naquela sensação que me inundava o peito e era forte demais para lidar. Mergulhei inclusive quase literalmente, quando acabei nos inclinando para frente até deslizar na pedra e nos molharmos um pouco mais. Talvez eu não saiba lidar com coisas delicadas, como a gentileza lânguida daquele nosso momento anterior, mas sei que, por mais delicadas que sejam, não são frágeis. O que havia ali permanece mesmo em minha impetuosidade, que foi só um jeito explosivo de dizer as mesmas coisas que eu sentia lá: Que eu estou estupidamente feliz e indecorosamente apaixonado.

[Eijiro Kirishima] 

A singularidade desse momento tão simples, era o que o tornava especial, assim como todos os demais momentos singelos que já compartilhamos. É muito curioso perceber que não preciso de muito para ser feliz… a felicidade que sentia ao receber metros e metros de tecidos caros, bordados com fios de ouro e prata, por mais genuína que fosse, em nada se comparava ao que sentia aqui, agora. Eu só precisava do olhar dele, transbordando carinho, afeto no seu estado mais puro, para me sentir completamente realizado. É sempre difícil falar da imensidão de sentimentos que habitam meu coração, pois todas as palavras parecem eufemismos bobos, nada é tão simples que possa se reduzir a quatro letras que magicamente formam “amor”... porém, apesar de carregar o mundo em meu peito, não pesa, estranhamente ideal.

Poderia facilmente ter passado a noite inteira assim, até que estivéssemos parecendo duas frutas secas, com a pele enrugada e aquela sensação desagradável na ponta dos dedos, porém, admito que que Katsuki até que aguentou bastante antes de me “atacar” novamente. Suas mãos se soltaram das minhas, e foram direto para o meu rosto, ainda que estivesse surpreso, a única coisa que me impedia de sorrir para acompanhar sua risada, era o aperto em minhas bochechas que me obrigava a fazer um biquinho. Beijinhos e mordidas por toda parte, mas não parou por aí. Katsuki quase nos afogou ao me abraçar super apertado, entre risadas e o retribuindo, reclamava e pedia para ir com calma. Acho que o lado bom ser ser dragão, na verdade, não tem nada a ver com não se cortar ou se queimar, mas sim com poder aguentar esse carinho tão peculiar, e ficar confortável nesse aperto que chamo de abraço e também de casa.

 



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