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História O Herdeiro do Fogo - Oitenta e sete


Escrita por: bleedingrainbow e grouwundzero

Notas do Autor


Olá herdeirinhos, como vocês estão? Esperamos que estejam todos bem 💕

Bem, chegamos ao final de mais um grande ciclo da fic, este capítulo encerra o segundo grande arco de uma imensa jornada que Eijiro e Katsuki têm pela frente. Eles recém saíram das muralhas, ainda vão viver muitas aventuras, muitas >mesmo<, e nós ficamos extremamente felizes por podermos compartilhar isso tudo com vocês, nossos herdeirinhos como gostamos de chamar 💕

O Herdeiro do Fogo só é o que é hoje por conta do apoio de todos vocês, que estão aqui comentando sempre que sai um capítulo novo, favoritando, comentando com os amigos e tudo mais. É muito recompensador ter essa troca.💕 Essa história é um projeto importantíssimo para nós duas, nos empenhamos muito todos os dias escrevendo, criando e transformando esse universo; fazemos tudo com muito amor e carinho, e vamos continuar assim até que essa saga termine daqui uns bons anos (sério, não temos mesmo nenhum tipo de previsão para quando vai terminar, VOCÊS ASSINARAM UM CONTRATO VITALÍCIO, OKAY?). Enfim... somos profundamente gratas pela companhia de todos vocês, leitores. Não vamos nos prolongar muito mais porque se não vamos acabar chorando aqui andjsdn 💕

⚠️AGORA, VAMOS AOS AVISOS:

⚠️Como é comum em todo final de arco, vamos entrar em um breve hiato para nos organizarmos. O arco do Aizawa é possivelmente o maior arco planejado da fic, e queremos deixar tudo arrumadinho para que possamos trabalhar com tranquilidade e também entregar um bom conteúdo. O Hiato será de mais ou menos um mês e meio, planejamos voltar na primeira semana de outubro, então nos esperem na quarta-feira 06/10/2021!

⚠️Para possíveis atualizações da fic nesse meio tempo, podem nos seguir no twitter @grouwundzero e @clubedoluto (apenas um disclaimer aqui: nossas contas pessoais não são inteiramente voltadas para conteúdo de O Herdeiro do Fogo). E para possíveis atualizações de um livro 3 que pode ou não estar no forno, não esqueçam de nos seguir em @Kali_Eiri

❗ POR ÚLTIMO, MAS NÃO MENOS IMPORTANTE, ESSE CAPÍTULO VEM COM ALGUNS MATERIAIS DE APOIO:

❗ A casa do Aizawa foi inspirada na casa Breezehome do jogo Skyrim, e vocês podem conferir o interior neste link: https://www.youtube.com/watch?v=bXmvJyxT6rA (o tour começa em 1:05)

❗ Como estamos introduzindo um novo personagem, é claro que temos fanarts! Foi commissionada uma arte do nosso Aizawa, então deem uma conferida e também muito amor para o artista: https://twitter.com/sushisushigore/status/1382909425476894721

Sem mais delongas, boa leitura. 💕

Capítulo 87 - Oitenta e sete


[Eijiro Kirishima]

Acabei passando a noite inteira acordado sem querer. O céu estava especialmente lindo depois da tempestade, e por conta disso, tínhamos o privilégio de avistar Hawks no céu, o que nos rendeu mais um episódio de histórias infinitas a respeito de estrelas, logo Katsuki desistiria de mim por isso. Hawks é como os povos de Hellflame se referem às estrelas cadentes, seu nome é uma homenagem ao regente do povo das montanhas, meio homem, meio águia, com enormes asas vermelhas, ele se move livremente pelos céus. 

Para os adoradores de Endeavor, ele é conhecido como o amante de seu regente que, perdidamente apaixonado, largou seu povo para morar no topo do vulcão ao lado de seu amado; e para essas pessoas, Hawks cruzando os céus é um sinal de boa sorte, anuncia desde ótimas colheitas, até bebês saudáveis. Contudo, para o povo da montanha, a história é bem diferente, acreditam que Hawks foi sequestrado por Endeavor, que por sua vez, ficou obcecado pelas belas asas de Hawks. Dizem que até hoje ele está preso como um escravo, cativo; nesse caso, estrelas cadentes são as tentativas de fuga do seu regente, sinais para avisar seu povo que está vivo e lutando… os anciões dessas aldeias fazem rituais para responder à mensagem, dizer a ele que estão esperando pelo seu retorno, e por isso os mais jovens ficam responsáveis por fazer a manutenção do altar que servirá como sua residência, e preparar oferendas. Por mais que em sentidos diferentes, Hawks nos céus é sempre um bom sinal.

Como estava no embalo dos contos e lendas, não pude me conter ao ver o nascer do sol, e tive que comentar um fato curioso a respeito dele. Em textos muito, muito, muito antigos, obviamente escritos em élfico, não era incomum encontrar o sol e a lua recebendo o nome dos grandes primordiais, One for All e All for One. Mas o que é mais interessante é que em nenhum desses textos, a noite é tratada como algo a se temer, ela é algo necessário, um momento de descanso, um ponto de contato com regentes, tão importante e adorada quanto o sol. 

Pela manhã, fizemos uma pausa rápida só para nos aliviar e esticar as pernas, depois, de volta a viagem. Quanto mais nos aproximávamos da casa do seu mestre, mais Katsuki parecia tenso… conheço direitinho essa postura de ombros tensos, costas recurvadas, e dá pra ver claramente que está rangendo os dentes. Perguntar o motivo de estar assim, não nos faria bem algum, então optei por tentar distraí-lo. O que fiz exatamente não vem muito ao caso, mas digamos que começou com uma massagem nos ombros e terminou em outro lugar, isso tudo sem me esquecer de relembrá-lo o quanto o amo, e que mesmo lá no nosso destino, vamos continuar juntinhos como sempre. 

No final da tarde, fizemos uma bela refeição, e eu acabei dormindo logo depois de terminar. Uma noite e um dia em claro são o meu limite. Felizmente a capa dele já estava seca e pude usar como cobertor.

[Katsuki Bakugo]

Nos dois dias seguintes, não foi uma vez que eu cheguei a cogitar que devia ter tentado com maior afinco finalizar o desafio que nós nos propusemos ali na carroça. Sim, Eijiro já estava todo molinho - uma gracinha, basicamente - e não teve sucesso perfeito ao nos mudar de lugar, e, sim também, eu sentei em um monte de pedrinhas que Eijiro tinha recolhido e caíram de um de nossos recipientes e toda a cena não era nada favorável, mas ainda assim. Acho que eu fiquei tão ultrajado com minha própria interjeição de dor e com as risadas dele que seguir ali seria só pelo disparate.

A cena tinha sido engraçada, até eu tenho que admitir. Não consigo deixar de me incomodar com alguém rindo da minha cara, mas quando é Eijiro eu até posso achar que estamos rindo de algo além de mim, juntos, ou que pelo menos qualquer coisa que cause nele essas risadas adoráveis no mínimo vale o sacrifício. O que não quer dizer que não vou retrucar e dar-lhe uns tapinhas para que parasse com aquela humilhação. Não devia nem ter botado as pedras ali, para começo de conversa!

Desistimos porque estávamos satisfeitos. Podíamos limpar um ao outro em mais um momento íntimo que significaria o suficiente para mim, e então seguir viagem - Riot já estava resfolegando, de todo modo. Não foi o que se seguiu naquele dia que me fez pensar isso. Eijiro me acompanhou noite adentro com as lendas e fábulas, todas contadas sobre coisas que eu de um modo ou outro sabia, mas de formas que eu não conhecia. Os detalhes nas lendas eram coisas que eu só saberia se me foram úteis uma vez. 

Olhei para a lua que agora não se escondia detrás de nenhuma nuvem mais, pensando no que ele disse sobre o poder de All for one. Acho que fazia bastante sentido. Por que coisas tão antigas quanto o universo se preocupariam com o que é bom ou mau? Não falei muito naquela noite, deixei que Eijiro tomasse meus pensamentos e os inundasse com ele mesmo, para que eu não precise pensar demais em mais nada.

Em especial, pensar sobre onde estamos indo. Onde já estamos, na verdade, quase chegando.

O dia seguinte foi mais silencioso, e isso para mim significava que eu ficaria pensando no que nos aguardava. No que eu devia falar e no que me deveria ser respondido, e o que eu falaria nesses casos. No final de cada espiral de pensamentos eu me perguntava se deveria mesmo estar lá, se não havia uma alternativa. Tudo tinha corrido tão fácil até aqui, por que eu não continuava e nós só seguimos para fora desse reino…?

Não posso. Tudo só deu tão certo assim porque eu tenho Shoto Todoroki e Inasa Yoarashi me ajudando dentro de um plano estrito. Eu tenho no máximo mais quatro dias de vantagem. Não é tempo suficiente para escalar todas as montanhas de Kamino para sair daqui, e nem para atravessar toda a província até o mar agora. É tempo para nos escondermos. Se fosse por mim, ainda vá lá, mas não posso arriscar Eijiro. E, sobre ele, tanto Hitoshi quanto Aizawa são quem pode ajudar Eijiro com isso tudo de magia, dragão e o caralho. Tenho informações importantes sobre a coroa, sobre o rei e sobre cristais de aura e traidores. 

Eu sei que é a melhor escolha, mas eu também sei que preferia escalar uma montanha com uma adaga ou construir um barco com uma machadinha.

Faz o quê? Cinco, seis anos? 

Por que mesmo que eu coloquei isso em nosso plano…? Merda.

Eijiro retornava ao seu hábito de fazer pequenos gestinhos para me cuidar, desde me lembrar de beber água e cobrir o sol até me fazer massagem. Uma dessas massagens acabou deslizando para áreas particularmente mais prazerosas, o suficiente para me fazer esquecer essa merda toda. Ele me abraçava por trás e me elogiava de graça, o movimento da mão dele ironicamente me relaxando os outros músculos ao que me deixava duro entre seus dedos. Eu até me dizia, merda, Bakugo, vá para essa carroça de novo e aproveite bem até vocês perderem a consciência. Gaste mais um dia inteiro aí, ande logo, vocês não vão ter isso tão cedo de novo porque…

E só de eu imaginar o motivo, já percebia que eu não ia ficar duro tão cedo, depois de já ter gozado nas mãos dele uma vez. Poderia pelo menos ajudá-lo de volta, como é o mínimo, mas eu estava tão confuso e desgraçado dentro de tudo isso que desisti antes de fracassar. Usei para mim mesmo a desculpa de que estávamos agora em uma região crítica, que não era perigosa para mim, mas eu não poderia me distrair demais, ou me perderia. Era aquele lugar em que as heras iriam levar apenas os que conhecem o caminho. Os que rumam ao léu ou procuram sem saber onde encontrar nunca acharão, porque a magia os encontrará e levará para outros lugares. Cachoeiras com árvores de fruta, cavernas para se proteger… coisas vantajosas a viajantes, que assim caminharão para longe do perímetro mágico e não irão de modo algum topar por acidente ou perseguição com uma casa de dois andares cravada em uma clareira imensa com pequenas plantações e criações de animais.

Uma magia poderosa como aquela ancestral que protegia a cidade fortificada central da Toca da Coelha. Uma que apenas ele seria capaz de conjurar ali, cravada milhas e milhas de distância de qualquer vilarejo, entre árvores, trilhas e heras.

Mais uma noite caiu, perfeitamente estrelada, e eu estava muito atento ainda a cada cipó no caminho, Eijiro dormindo pacificamente mesmo com as muitas raízes da estrada agitando a carroça. 

Até que começou a chover, e eu sabia, estávamos chegando. Era quando o caminho se abriria, amplo, as árvores rareando cada vez mais para apenas indicarem um caminho tortuoso. Logo ao final dele eu veria a mata se abrir por completo e, então, a casa adiante, aquela na qual cresci.

[Eijiro Kirishima] 

Dormia tranquilamente na parte de trás da carroça, perfeitamente aninhado entre nossas coisas. Um sono profundo que foi interrompido pelo som das gotas de chuva caindo no teto… espera, chuva? Mas, quando fui dormir, o céu estava limpo. Me sentei em um pulo, tentando me situar no mundo mais uma vez. Ainda não chovia tão forte, porém, é só uma questão de tempo até se intensificar. Talvez percebendo que estava agitado, Katsuki me alcançou, fazendo um carinho em meu ombro, e anunciando que havíamos chegado… espera, nós chegamos? Não pode ser. Botei a cabeça para fora, mesmo no escuro conseguia ver uma casa distante, localizada em uma clareira linda, essa só pode ser a casa em que Katsuki cresceu, a casa do seu mestre, eu vou conhecer o mestre dele! Preciso causar uma boa impressão. 

A chuva apertava cada vez mais, e em meio a isso, entrei numa missão de ficar apresentável, coisa que não tento há semanas. Com cuidado para não acertar Katsuki sem querer, e me esforçando ao máximo para não incomodá-lo, fuçava em nossas coisas atrás atrás de três itens: Uma fita para prender meu cabelo, que não tem tempo para ser penteado; uma camisa, pois aparecer semi-nu seria falta de respeito; e por fim, o meu broche, só porque já passei tempo demais sem tê-lo no meu peito e estou começando a sentir falta. 

De algum jeito, em movimento, consegui me trocar, encharcado e preparado. E por mais incrível que pareça, a parte mais difícil foi calçar minhas botas. Que coisa, deveria ter prestado mais atenção no que Katsuki falava, e me preparado com antecedência.

[Katsuki Bakugo]

Desde que acordei Eijiro ele estava em algum frenesi tentando fazer alguma coisa na carroça. Quando perguntei o que ele queria, me disse que tinha que estar apresentável, e ignorou quando eu falei que não precisava estar apresentável, todos andavam naquela casa como se vestissem trapos. Também não acho que Eijiro se importou quando eu falei para ele não bagunçar a nossa carroça porque seria uma merda de tirar nossas coisas de dentro se estivessem todas espalhadas. Era uma cena toda que eu acharia graça em outra situação, especialmente com o quanto ele lutou para colocar as botas no pé, mas agora estava apenas me irritando e eu não iria me ater nesse momento a isso. Só segui com a carroça.

A casa de Aizawa se fazia cada vez mais nítida e parecia que nada havia mudado. Eu tinha dezesseis anos de novo, quando vi o lugar pela última vez. Olhava para a estrutura de madeira grossa e pedra e podia quase vê-la por dentro. Era uma casa espaçosa para um lugar no qual moravam originalmente duas pessoas, e o Hizashi como terceira em temporadas esporádicas. Em minhas memórias, o segundo andar era como o sótão, as paredes inclinadas pelo que formava o telhado alto, onde havia dois quartos: o maior, de Aizawa, e à frente, o que costumava ser meu e do Deku, com as duas camas. O térreo era composto por um único grande cômodo além do… quarto? Covil? Enfim, o lugar onde Hitoshi supostamente dormia, se é que ele dormia (o único que nunca entrei naquele lugar e não pretendo) e uma despensa na área debaixo da escada vazada de madeira.

A carroça seguia o caminho e as duas tochas da frente que ficavam presas à parede do lado da soleira estavam estranhamente acesas. Nem todo fogo era apagado na casa; não me lembro de ter visto apagado o fogareiro que ficava no meio do cômodo inferior, usado para cozinhar e para aquecer a casa. Contudo, na chuva assim, não havia razão para as tochas da frente estarem acesas, só para logo serem apagadas por mais lufadas de ar levando água. Só que eu nem teria razão para suspeitar ou estranhar, porque logo viria que aquela luz estava desenhando a silhueta de alguém escorado a uma das vigas da entrada. 

Um homem de cabelos longos, com aquele volume enrolado sobre os ombros quase como se fosse inerte. Tranquei minha respiração, e então soltei devagar, virando-me para Eijiro uma última vez.

— Aquele é Aizawa. Como eu já disse, não estranhe, nem se espante. Ele com certeza não vai ser cordial. E a cobra de estimação dele não tem veneno.

Os cavalos se aproximavam da casa caminho acima, seguindo a trilha no declive suave do caminho até a construção. Dali, eu podia vê-lo em muito mais detalhes, ainda que na penumbra pela luz cálida de detrás dele eu mal pudesse ver seu rosto. Maldição, era como se até ele se posicionasse para ficar aterrorizante. Via as suas roupas, todas escuras, como seus cabelos, apesar de já grisalhos. A cobra cinzenta não se mexia em torno de seu pescoço, sobre seus ombros; poderia até ser um cachecol de terrível mau-gosto, se eu não soubesse que ela estava viva e que era assim que ele andava com ela. Tentava encontrar seus olhos entre toda a sombra e a marca negra tatuada em seu rosto, tingindo toda a área de sua fronte e órbitas, mas não os encontrava, o que só me enregelava os ossos muito mais do que o vento. 

Ele nos esperava, claramente, sob chuva. Ninguém passaria seu perímetro sem que ele soubesse. Ele sabia que seria alguém conhecido ou que devia no mínimo estar ciente do funcionamento do lugar. Talvez reconhecesse Lorde. De todo modo, se ele me confundisse por uma ameaça, no mínimo eu veria seus olhos brilharem em vermelho vivo e talvez, talvez eu tivesse alguma chance de gritar para que ele esperasse antes de não poder gritar nada.

Virei a carroça para que ela ficasse paralela à entrada da casa e desci. Minhas botas afundaram um pouquinho em lama. Fiquei ali parado na chuva, como ele também estava. Ele estava ainda mais encharcado do que eu, não evitou sequer uma gota de chuva. Ali vi seus olhos, e, como sempre, não podia ler nada neles. A mesma tatuagem, as mesmas cicatrizes, o mesmo olhar. Talvez mais cabelos brancos, mas ali na noite seria tolo da minha parte afirmar com certeza.

Aizawa olhou para mim, bem nos olhos como eu odiava que ele fazia, e ele sempre fez, desde que me lembro.

— Vocês demoraram. — A voz dele se fez naquele familiar murmúrio denso, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. 

Será que me demorei demais para falar? Quanto tempo eu-... e como assim, demoramos? Tomei fôlego e dei um passo para frente.

— Boa noite, Aizawa. Estou aqui porque tenho assuntos muito importantes a trazer. 

Obviamente. — Ele olhou para Eijiro, que estava terminando de descer da carroça, longamente o suficiente para que Eijiro percebesse que ele o notou, mas não se deu ao trabalho de cumprimentar e nem deu espaço para que ele falasse. Ao invés, deu as costas.

— Deixem suas tralhas molhadas no quintal. Se ainda gosta de seu leite quente pela manhã, sabe como conseguir. Você já conhece a casa, então mostre-a a ele. Conversamos quando terminarem.

Ele andou na direção da porta e baixou o trinco da maçaneta para abrir, passando pela soleira e deixando a porta aberta para nós. O fogareiro do centro do cômodo estava aceso, iluminando o interior, e ele andou adiante sem se despedir.

[Eijiro Kirishima] 

É difícil explicar como me sentia, um misto de ansiedade, nervosismo, inquietação, e animação. Sir Aizawa não é uma pessoa qualquer, não teria nem como ser, afinal, foi o responsável por criar o melhor cavaleiro do reino, e também o grão mestre da cavalaria. Estamos aqui para nos abrigar e nos proteger, mas não posso ignorar o fato de que é uma oportunidade  única na vida, de aprender com alguém tão forte e respeitado. 

A poucos metros da casa, já podia identificar toda a fachada, parecia ser um lugar aconchegante pela entrada, as tochas acesas, como se alguém estivesse nos esperando, dão um ar de acolhimento, que só foi reforçado quando finalmente vi que, de fato, tinha alguém lá para nós mesmo debaixo de chuva. O que, parando para pensar é um pouco estranho já que não anunciamos nossa chegada, só não é mais estranho porque me lembro de quando Katsuki explicou sobre a magia que protegia o lugar, de algum modo, nossa presença deve ter sido sentida. Quanto mais nos aproximávamos, mais as minhas expectativas eram subvertidas, por algum motivo, esperava um senhorzinho de idade, cabelos brancos e tudo, mas não foi bem esse o tipo de pessoa com quem me deparei. Vestido de preto dos pés a cabeça, braços cruzados e encostado no batente, ele realmente não parecia ter a postura mais cordial e amigável do mundo, o que é compreensível, está de madrugada e chovendo. O que mais me chamou atenção, foram as marcas em seu rosto, tinta preta em sua pele ao redor dos olhos, seguindo um padrão que ia para as maçãs do rosto e a testa. Apesar do aviso, ainda me surpreendi com a cobra repousando enrolada em seus ombros, bem quietinha, obediente, coberta em lindas escamas cinza, mal podia esperar para vê-la bem de pertinho. 

Katsuki foi o primeiro a descer assim que parou a carroça, e eu fiz o mesmo logo em seguida, minha presença imediatamente reconhecida. Me apressei para cumprimentá-lo, ainda que estivesse um pouco intimidado, só que isso não foi possível. Antes mesmo que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele simplesmente deu as coisas, mandou que tirassemos leite, e entrou… “conversamos quando terminarem”. Confuso, olhei para Katsuki atrás de qualquer dica ou instrução de como agir… Sir Aizawa sabe mesmo como causar uma impressão forte.

[Katsuki Bakugo]

Continuava acompanhando Aizawa com os olhos ao que ele ia até a escada para seu quarto, um passo levemente mais curto que o outro em um mancar característico, mas muito sutil; largando um rastro molhado cintilando no chão à luz do fogo. Como assim, "nós demoramos"? Ele estava nos esperando desde quando? Como? Ele queria dizer que fui devagar na entrada com a carroça ou sabia mesmo mais? Ele sempre sabia, não seria nenhuma dificuldade. Ele olhou para Eijiro longamente quando falei em assuntos importantes, ele deve saber que é o príncipe. Ainda assim não esboçou reação? O que-

Acabei me virando quando percebi o olhar de Eijiro em mim, querendo saber alguma dica do que fazer perante aquilo. Claro, ele não está nada acostumado para lidar com a amostra do exemplo exímio de falta de cordialidade - o que de certo modo é curioso, porque ele parece sempre ter sabido lidar bem comigo.

— Não me olha desse jeito. Eu avisei. Vai ser daí pra pior. — Virei-me para a carroça e andei até Lorde para guiá-lo a andar sem subir de novo no banco do condutor. — Venha, vou te mostrar o estábulo onde esses dois podem ficar sequinhos. E depois nós dois, eu não aguento mais água gelada.

Estiquei minha mão livre para que ele a alcançasse. Suspirei, acho que foi menos ruim do que eu imaginava, mas sou sensato o bastante para estar ciente de que é só porque o golpe vai vir mais tarde. Por enquanto, Eijiro vai poder ver as hortas no entorno da casa e as pequenas plantações mais adiante (ainda que meio indistinguíveis com noite e chuva, sei que pelo tempo do ano devem ser batata, pepino e abobrinhas), que vou poder ir explicando. Já que vamos deixar a carroça na área coberta do quintal e levar nossos cavalos para o estábulo, já resolvo a questão do leite. Será que é são as mesmas vaquinhas manchada e preta de quando eu estava aqui? Eu acho que o Deku tinha dado algum nome imbecil para ela, mas justamente por isso eu fiz questão de chamá-la de "vaca malhada" e de "vaca preta" como Aizawa faz.

Certo. Estamos em segurança agora. Por mais angustiante que seja, disso eu posso ter certeza. Vamos lá guardar nossos cavalos, tirar leite, estender nossas coisas e nos livrar dessas roupa molhadas. Podia não ser a casa mais acolhedora do mundo, mas era uma casa. Por muito tempo, uma que até chamei de minha.

 


Notas Finais


NÃO SE ESQUEÇAM, O HERDEIRO DO FOGO RETORNA DIA 06/10/2021 COM UM NOVO ARCO!!!!!!!!!!!

ATÉ LÁ!!💕


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