História O Internato Riverhill - Uma sombra na madrugada

O relógio da cabeceira da cama marcava 03:14 em led verde quando Jessica acordou um pouco incomodada com o frio — estava sem roupas, afinal. Ouviu o barulho de uma fina chuva caindo lá fora e tamborilando na janela e isso a trouxe uma sensação de paz. Ellie dormia ao seu lado e respirava baixinho, deitada com o corpo colado ao seu e confortando-a com o seu calor, mas Jessica resolveu se levantar para vestir seu pijama de inverno. Se levantou com cuidado para não acordar Ellie e rapidamente encontrou suas roupas jogadas no chão, iluminando com o celular. O ar fora do edredom estava realmente gelado, e então ela vestiu o pijama com certa urgência. Se preocupou com Ellie por ela estar nua naquele frio mas não quis acordá-la — a garota dormia profundamente. Já vestida, Jessica resolveu dar uma olhada pela janela para observar a chuva. Abriu a veneziana e contemplou a chuva lavando a madrugada, embaçando as janelas e gelando as plantas dos jardins. O céu estava de um escuro avermelhado, e vez ou outra era iluminado por relâmpagos distantes. Estava prestes a voltar para a cama com Ellie quando percebeu um movimento por entre as árvores lá fora, que parecia muito ser uma silhueta de alguém caminhando debaixo da chuva. Parecia ser uma pessoa vestindo um capuz preto, andando com pressa em direção à pequena capela que havia por lá. 

— Jessica? — chamou Ellie, sonolenta. — O que foi?

A morena se assustou, mas continuou a observar a estranha figura que caminhava lá fora.

— Acho que estou vendo alguém lá fora.

Ellie olhou para o relógio e esfregou os olhos. Ficou aliviada por ainda ser madrugada, pois estava muito sonolenta. Resolveu se levantar para se juntar à Jessica e se sentiu um pouco constrangida por estar nua. A lembrança da noite anterior ainda causava nela uma sensação inexplicável. Rapidamente encontrou seu pijama e o vestiu, cobrindo a pele que estava toda arrepiada pelo frio. 

— Onde? — perguntou Ellie, chegando ao lado de Jessica na janela e cerrando os olhos na tentativa de enxergar melhor. 

  — Ali. — apontou — Indo em direção à capela. 

A loira conseguiu vislumbrar a estranha sombra encapuzada que caminhava na escuridão da madrugada e sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo. 

— Quem andaria a essa hora debaixo da chuva? — perguntou, assustada.

— Não consigo imaginar. — respondeu Jessica.

Quem quer que fosse a pessoa que elas observavam, entrou na capela e fechou a grande porta de madeira atrás de si. 

— Entrou na capela. Que estranho. — disse Ellie.

  As garotas então acharam ainda mais estranho quando perceberam que a capela se iluminou fracamente em seu interior, como se lá dentro houvessem sido acesas várias velas. 

— Que porra é essa? — questionou Jessica, confusa com o que estava vendo.

A morena percebeu que Ellie estava um pouco assustada, e então segurou sua mão. Subitamente a iluminação que havia dentro da capela se extinguiu, voltando a ser engolida pelas sombras da noite. 

— Jessica, tem algo errado nisso. 

A morena então fechou a veneziana e trouxe Ellie de volta até a cama pela mão. 

— Não vamos nos preocupar com isso. Amanhã eu falo com alguém sobre o que vimos, tudo bem? — disse, deitando na cama e cobrindo ambas com o pesado edredom branco. 

— Você acha que é uma boa ideia falar sobre o que vimos? — perguntou Ellie, se aconchegando no ombro da mais velha — E se for algo que ninguém possa saber?

Jessica refletiu por um instante e temeu que ela estivesse certa. E se fosse perigoso saber de certas coisas? Preferiu não dar continuidade ao assunto para não deixar Ellie preocupada.

— Não vamos pensar nisso agora. Estamos juntas, é o que importa. — disse, puxando o rosto dela para lhe dar um selinho. 

Como era possível uma pessoa lhe tirar todas as preocupações e medos com simples palavras? Ellie nunca havia se sentido daquela forma antes, tão confortada e protegida por sentir o mero calor do colo de alguém. A chuva ficou mais forte e as trovoadas mais constantes, e as duas garotas se abraçaram e se acariciaram até que o sono voltasse aos poucos, fazendo-as dormir tranquilas apesar dos fatos sinistros que vinham presenciando no Internato Riverhill.