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História O Lado Ruim de Ser um Adolescente Gay - O Segredo


Escrita por: jaemean

Notas do Autor


OI, GENTE! Então, primeiro eu quero começar com as boiolices: É ANIVERSÁRIO DO DODO *CHORA* QUE É O AMOR DA VIDA DO AMOR DA MINHA VIDA, ANA BEATRIZ (que atende nesse site por @gyomi)
Eu amo você demaaaaaais (e você também, tata, vocês duas são minhas rainhas) e eu espero (e sei) que hoje foi um dia muito feliz para você, então, estou soltando primeiro capítulo da dowoo, seu presentinho. Inicialmente era para ser uma one shot, mas eu me empolguei e eu vou explicar mais sobre nas notas finais, caso alguém se interesse (a fic vai ter mais 3 side!fics)

(obrigada alê, @migukie, por ser minha escrava, digo, beta e ter tido todo o carinho de corrigir os erros, me explicar várias coisas e ser incrível do jeitinho que você é :*)

Capítulo 1 - O Segredo


Jungwoo era alguém tranquilo com a vida. Não tinha muito com o que reclamar. Talvez porque pudesse ser pior ou apenas porque era grato, mesmo. Qualquer um dos motivos sempre levaria para o mesmo resultado: gostava de como vivia.

Ele tinha amigos — três no total —, notas relativamente boas e biscoito recheado de morango. Aquilo era o suficiente para fazer com que sorrisse sem motivos. Porém, nem mesmo sorrindo, tendo o mínimo de inclusão social e boas notas, fez com que ele fugisse das más línguas e olhares tortos.

Kim Jungwoo era gay.

Não que isso fosse um problema, não para ele, ou para seus amigos; mas era para o resto dos alunos. Entretanto, aquilo não fez com que se tornasse alguém amargurado ou qualquer derivado. Ele manteve-se quem sempre foi, mesmo depois que seu “segredo” — que não era bem um na roda de seus amigos — foi exposto para a escola.

Ele não se importava que soubessem, porque não era menos humano ou se tornava um monstro por causa da sua orientação sexual. E ficou grato ao saber que seus amigos pensavam o mesmo. Mas, claro, a vida não era um mar de rosas e existia consequências, estas que Jungwoo não se importava em passar, mas ligava se seus amigos passassem, pois eles não tinham absolutamente nada a ver com quem ele era ou por quem se atraía.

Depois que o rumor se espalhou, Mark, artilheiro do time de futebol, foi excluído pelos outros jogadores e até sofreu com piadinhas homofóbicas — elas pararam depois que Taeyong apareceu, após o treino e tacou o terror em todos, porque ele era muito assustador quando queria. Já Dongyoung não pareceu ligar muito. Em geral, ele não ligava muito para as coisas e dificilmente algo o afetava. Por fim, Lee Taeyong, o taco-o-terror-mesmo, começou a ser importunado por Jung Jaehyun, mas nada impossível de se resolver com uns socos e pontapés. Era aquela mesma coisa todo santo dia e parecia que aqueles dois nem sabiam mais por que brigavam.

E, mesmo que tudo tivesse se resolvido em um curto período de tempo, Jungwoo se sentia culpado por ter causado tudo aquilo, principalmente em relação ao Mark. OEle sempre foi do tipo popular e que é adorado por todos, mas nem por isso foi perdoado. E, ainda que Jungwoo sentisse que a culpa era dele, Mark insistia em dizer que não tinha problema algum e que sempre estaria ao seu lado — o que foi uma coisa boa, pois ele soube que não deveria confiar nos outros jogadores do time.

No fim, tudo aquilo serviu apenas para fortalecer o laço de amizade daquele quarteto esquisito e nada a ver.

— Aí, Jungwoo, fiquei sabendo que virou gay porque não conseguia pegar nenhuma garota.

Um suspiro. Dois suspiros. Três suspiros. Foi o que Jungwoo precisou para pensar numa boa resposta para envergonhar Wong Yukhei, um dos integrantes do time de futebol do colégio. Aquela era a sua mania de lidar com todo preconceito, piadinhas estúpidas de mau gosto e até mesmo ofensas.

— Ah, Lucas… — chamou o jogador pelo apelido que o time usava. — Se queria tanto uma chance comigo, era só ser direto. Eu sei que não consegue resistir a mim — disse com um sorrisinho divertido e o chinês tossiu, em puro nervosismo.

Os outros garotos que estavam com ele riram e fizeram piadas do amigo, que olhava para Jungwoo com raiva pelo constrangimento. Jungwoo deu de ombros, como se não fosse sua culpa, e de fato não era, e começou a seguir caminho quando Lucas tocou em seu ombro, fazendo com que parasse.

— O que é? — perguntou, arqueando uma sobrancelha.

Antes que Lucas pudesse ter a chance de responder — ou fazer uma piadinha imbecil, que era de seu feitio —, seu braço foi agarrado tranquilamente e retirado de cima do ombro de Jungwoo.

— Será que podia manter o famoso espaço pessoal? — Dongyoung perguntou com sua expressão preguiçosa. Era difícil ele esboçar outra feição a não ser aquela.

— Uau, você fala — zombou.

— E você enche a merda do saco. Dá o fora, Yukhei.

Taeyong apareceu, pondo-se em frente do chinês, não se intimidando pela altura do outro. O que Lucas tinha de altura, ele tinha de medo de Taeyong. E o ruivo estava pronto para meter a mão na cara de Yukhei na primeira respirada errada.

O sinal bateu e o jogador e o seu grupo de amigos apenas deram um último olhar ameaçador para o quarteto e retiraram-se.

— Finalmente foram embora. O ambiente estava começando cheirar a estupidez.

— Relaxa, Yong — Mark pediu, afagando o ombro do irmão. Jungwoo agradeceu ao amigo por ter ido acalmar o ruivo. — Se você batesse neles, correria o perigo de pegar uma doença contagiosa.

Jungwoo revirou os olhos. Por que esperava algo maduro vindo de Mark Lee? O jogador era tão palhaço quanto o próprio irmão.

— Mark, é melhor ir para a sua sala antes que se atrase e receba uma advertência — Jungwoo pediu, bagunçando os fios loiros do mais novo. O futebolista revirou os olhos por ser tratado como uma criança, mas obedeceu ao pedido do mais velho.

— Certo, mãe. Boa aula.

[...]

Quando o intervalo deu a benção de começar, Jungwoo correu porta afora e foi direto para a pequena salinha do terceiro andar, onde era sua amada rádio. Ele amava exercer aquela atividade, afinal, gostava de música e o poder de mostrá-las — principalmente as mais desconhecidas — para as pessoas só o deixava mais empolgado do que já era; sua afobação não era à toa.

Assim que chegou, destrancou a sala com a chave que tinha e já começou a organizar as coisas pelo local, para iniciar o programa diário. Era dia do indie, um dos seus favoritos. A maioria das músicas que tocava já eram conhecidas por si — e olha que muitas eram sugestões dos alunos.

Já sentado na cadeira, Jungwoo pigarreou, limpando a garganta, e ligou o microfone.

— Bom dia a todos os estudantes do colégio Newton. Seu querido e único Radialista Misterioso está aqui mais uma manhã para os avisos semanais: o período de provas do trimestre está chegando. Todos estão se preparando? Lembrando que salas de monitorias estão disponíveis no terceiro andar após a aula e que, caso queiram montar grupos de estudos, a biblioteca pode ser uma ótima opção de lugar! Só não se esqueçam de fazer reservas de salas com, pelo menos, um dia de antecedência — Jungwoo pausou por um momento, tomando uma respiração para se preparar para o que diria a seguir. — Mas agora vamos ao que realmente interessa: quem mais aí está animado para sábado? A semifinal do campeonato municipal de futebol está chegando, e, sem dúvida, esse ano, o troféu é dos nossos queridinhos Lyons! Vai, Lyons! Esse sábado, às 16h, vamos todos torcer pelo nosso time, no campo da cidade, no Centro. Não deixem de aparecer! — Jungwoo concluiu, a boca um pouco amarga. Ele estava empolgado para ver Mark jogar, mas somente ele. Não podia torcer contra a vitória do time, senão seu amigo ficaria arrasado. Mas era difícil de engolir o fato de que Mark não era o único a ficar feliz com a vitória. Tipos como Wong Yukhei não mereciam o gostinho de vencer. — Para entrar no clima, fiquem com a primeira música do dia: Unbelievable, da banda EMF!

Jungwoo deu play na música e desligou o microfone, deixando a canção animada soar por toda a escola. Ele se recostou na cadeira e encarou o teto.

Até onde sabia, todos os alunos adoravam a rádio e a sua programação, mas o motivo principal de tantos ouvintes era o mistério de descobrirem quem era o locutor e dono de tão bom gosto musical. Quase ninguém na escola sabia quem era e Jungwoo agradecia por aquilo. Não queria que parassem de ouvir apenas porque era ele, o aluno gay — ele odiava esse rótulo. Não que fosse inseguro, mas era algo que ele realmente amava fazer e gostava muito de compartilhar aquele seu lado com as pessoas.

Entretanto, ainda que descobrissem, ficaria feliz em compartilhar aquilo só com seus amigos, os únicos que provavelmente permaneceriam a acompanhar assiduamente a rádio.

Ouviu batidas na porta e estranhou, porque ninguém sabia que ali era a sala da rádio. Olhou pelo olho mágico e notou ser Taeyong, ele era um dos únicos que sabia. Abriu a porta e deu passagem para o amigo entrar, ainda meio confuso do porquê de ele estar ali.

Sentou-se na cadeira e acabou esbarrando em algo no processo sem querer. Não deu muita bola e focou-se em saber o motivo da vinda do Lee.

— E então?

— Eu é que te pergunto. — Riu. — O que faz aqui, Tae?

— Você ontem disse que tinha algo importante para me dizer, esqueceu? — Enfiou as mãos no bolso da calça do uniforme. — O que era assim tão importante que você tinha que falar pessoalmente? Sério, eu fiquei agoniado.

Jungwoo soltou uma risadinha, que soou um pouco forçada para Taeyong, e suspirou, pensando se dizia logo de uma vez ou enrolava um pouco. De qualquer maneira, sabia que ele iria querer lhe esgoelar.

— Bem… Eu sei que no nosso código de amizade, não devemos… Você sabe… — Coçou a nuca.

Ah, aquilo era mesmo complicado de se dizer, afinal, uma coisa era gostar de Dongyoung só em pensamentos e ninguém saber de nada, mas expor aquilo em palavras… Nossa, realmente era muito complicado. Parecia que o sentimento se tornava mais real e Jungwoo se desse conta do problemão que tinha em mãos — ele sabia bem como era essa sensação, já que na primeira vez que disse “Eu gosto de Kim Dongyoung”, na frente do espelho, foi como se o mundo mudasse drasticamente e ele tivesse um peso incômodo para carregar consigo em qualquer lugar que fosse.

Isso foi um dos motivos que o levou a contar sobre para Taeyong. Não suportava mais carregar aquele segredo; sem contar que, no código de amizade dos dois, segredos eram proibidos, caso não fossem extremamente necessários — eles tinham criado aquele código, porque muitas amizades acabavam graças a segredos e Taeyongnão queria que aquilo ocorresse, então a sinceridade era algo muito importante na relação dos dois.

— Se apaixonar por um hétero? — arriscou perguntar e Jungwoo concordou com a cabeça, tendo a sensação de que a sala havia diminuído de tamanho.

Taeyong tinha criado aquele código também, pois a primeira paixão dele foi um garoto hétero — que Jungwoo não fazia ideia de quem era — e não foi nada legal o final daquela história, por isso ele queria evitar futuras feridas.

— É. Isso mesmo.

O ruivo suspirou, apoiando-se na parede, e encarou o loiro, que se remexia desconfortavelmente.

— Não vou te repreender por isso. Mas você sabe bem como essa história acaba.

— Coração partido, eu sei. — Fez uma careta. A realidade era cruel.

— Bem, quem é o sortudo? — Sorriu, passando conforto para o amigo.

Jungwoo começou a olhar para todos os cantos da salinha e sentiu o suor frio escorrer pela sua têmpora esquerda até que finalmente tomou coragem de responder a pergunta de Taeyong

— Kim… Dongyoung.

Jungwoo se levantou da cadeira no exato momento em que o amigo arregalou os olhos, completamente chocado.

Taeyong estava transbordando de mil perguntas e queria compreender como aquilo tinha acontecido. Quer dizer, não que Dongyoung fosse chato; nem nada, mas… Ah, era Kim Dongyoung. Como amigo do garoto nerd, podia dizer sem dúvidas que ele era esquisito. E caladão. Então, o que Jungwoo tinha visto nele? Se um dia ele fosse se apaixonar por alguém,Taeyong apostaria em Seo Johnny, o estrangeiro gente boa. Um dos poucos que não discrimanava o garoto por ser gay. Mas Dongyoung?! Chocado era eufemismo.

Porém, antes que Taeyong pudesse liberar a sua munição de perguntas, ele notou algo errado. Muito errado.

Nos dias que Jungwoo precisava faltar por algum motivo, ele quem cobria o amigo na rádio, então aquela luzinha verde, acima da palavra “mic”, coisa boa que não significava.

— Cara… — disse devagar. — Aquela luzinha não era para estar verde… não é? — questionou só para ter certeza.

Quase que em câmera lenta, o mais alto se virou e compreendeu a pergunta de Taeyong.

— Não. Não era.

— Ah, merda!

Eles estavam ao vivo e a escola inteira tinha escutado a conversa dos dois.

[...]

Jungwoo jurava que tinha morrido e quem balbuciava coisas incompreensíveis era a sua alma cheia de dor e desespero. Nem Taeyong conseguia acalmá-lo.

Dongyoung deve me odiar. Era a única coisa que se passava na cabeça de Jungwoo e ele já não sabia mais o que fazer; que desculpa dar. Não tinha como mentir sobre aquilo. Ele tinha dito com todas as palavras.

— Olha, liga para o seu irmão e pede para ele vir te buscar, ok? Eu vou pegar sua mochila na sala e já volto. Em hipótese alguma saia daqui, ouviu?

Dito isso, Taeyong saiu em disparada pela porta e correu para a sala que ambos tinham aula. Porém, Jungwoo estava tão desorientado que seu cérebro sequer processou as palavras do amigo ou quando uma nova música começou a tocar na rádio e apenas compreendeu que não deveria sair dali — não era como se quisesse fazer aquilo. Dois segredos revelados no mesmo dia. Dois segredos explosivos. Ah, o que faria agora? Continuaria com a rádio, mesmo depois de tudo? Alguém ainda ouviria? E quanto a Dongyoung? Será que o amigo ainda lhe olharia na cara depois de tudo? Provavelmente já o odiava e queria distância.

Aqueles pensamentos apenas mostravam como era inseguro em várias coisas. Sentia-se até falso por exalar confiança, mas olha só como se encontrava naquele momento: com medo e desamparado, parecia até que tinha ficado viúvo — e talvez tivesse mesmo, no sentido de amizade e sua querida rádio.

Procurou pelo celular e viu uma mensagem de Mark questionando o que diabos tinha sido aquilo e se estava tudo bem. Ignorou-a e procurou pelo contato de Taeil, seu irmão mais velho, e clicou em “ligar”. Demorou alguns segundos na linha até ele atender.

— Irmãozão, você tá ocupado? Pode vir me buscar na escola agora?

Woo? O que houve? Tá tudo bem?

— Não tá nada bem. Você pode vir?

Claro. Já, já estou aí.

A chamada se encerrou e Jungwoo só soube respirar e agradecer pela enorme ajuda que estava recebendo do irmão e do melhor amigo, Taeyong. Provavelmente estaria escondido embaixo da mesa, chorando e tremendo de desespero — a vontade de fazer aquilo era grande, mas permaneceu onde estava, sem mover um músculo e obedecendo ao que Taeyong tinha pedido até o pé da letra, porque tinha quase certeza que qualquer movimento em falso o faria desabar e aquilo era a penúltima coisa (a última era trombar com Dongyoung) que queria no momento até chegar em sua amada cama.

Esperou Taeyong voltar, este que logo apareceu esbaforido na porta da rádio.

— Aqui, Woo. — Entregou a mochila para o amigo. — Te aconselho a esperar o intervalo acabar para poder sair.

Jungwoo não precisou de muito para compreender o motivo daquilo. Era óbvio que tinha virado a notícia do mês — já não bastava o fato de ser gay assumido, agora todos já sabiam de quem ele tinha uma queda. O ano estava sendo incrível!

— Obrigado, Tae. Por tudo.

— Não há de quê. — Ele tentou um sorriso aconchegante. — Eu sou seu melhor amigo, Woo, estou aqui para te apoiar e ajudar no que der e vier.

Jungwoo sentiu vontade de chorar ao ouvir aquelas palavras. Estava sensível demais.

— Obrigado.

Taeyong sorriu e abraçou o amigo, fazendo carinho nos fios descoloridos como se consolasse o próprio filho. E, talvez, ele considerasse Jungwoo como um filho, do qual tinha que encher de amor, apoio e palavras carinhosas.

— Não posso prometer isso, mas vai dar tudo certo, tudo bem? — Deixou um beijo na testa do amigo. — Não posso dizer em relação aos outros dois, mas eu estou aqui e… — Antes que pudesse terminar o monólogo, o sinal bateu, avisando o fim do intervalo. — Acho que tenho que ir agora. Tem problema?

— Tudo bem, Yong. É melhor você ir. Não pode se atrasar. — Tentou sorrir, mas falhou.

— Ok, vou indo. Cuide-se — pediu, direcionando-se para a porta, mas parou por um segundo e virou-se. — Responda o Mark. Encontrei com ele no caminho e ele faltava chorar de tanta preocupação. Ele sabe que você é sensível. Semelhante atrai semelhante. — Piscou e Jungwoo revirou os olhos para a piadinha. Taeyong acenou e saiu.

É, agora estava sozinho. E seus pensamentos obtiveram passe livre para ocupar sua cabeça.

[...]

Acordou no susto ao trombar com tudo no chão. Tinha dormido assim que chegou em casa, pois não queria ser feito de refém dos próprios pensamentos. Estava cansado mentalmente, então sua única rota de fuga foi dormir. E foi bem fácil colocá-la em prática.

Viu pela janela aberta que já era noite e as estrelas exibiam-se no céu. Uma coisa que ele admiraria por horas, caso seu estômago não reclamasse de fome.

Foi para a sala e encontrou seu pai lavando a louça. Ele o recebeu com um sorriso caloroso e perguntou o que tinha acontecido para ter vindo mais cedo para casa — não era do feitio de Jungwoo voltar no meio do período das aulas.

— Bem… — Coçou a nuca, não sabendo bem como explicaria a situação complicada a seu pai. Sabia que ele não o julgaria, mas… a situação continuava complexa, pelo menos em sua mente. — Vocês já jantaram? — desviou o assunto.

— Ah, sim. Taeil disse para não acordamos você, pois parecia bem cansado — respondeu, parecendo notar o desconforto do filho. — Está com fome? Ainda não guardei a comida.

O mais novo sorriu, aliviado, e concordou com um meneio de cabeça, correndo para pegar um prato e servir-se com a comida maravilhosa que a mãe fazia. A culpa não era sua que o kimchi da mulher era ótimo.

[...]

Comer aliviou o estado caótico de Jungwoo, mas o efeito acabou junto com a comida. Pelo menos, ele pôde ficar “em paz” por alguns minutos antes de ser arrastado para a realidade cruel.

Já de volta para o quarto escuro, ele se jogou no colchão de cara e rolou por ali, nos trinta minutos seguintes. Não estava com sono, pois tinha dormido a tarde inteira, o que significava que provavelmente desempenharia um papel de morcego naquela noite, já que quem fazia a coruja era Taeil.

Depois de se cansar de tanto pensar e ser atormentado por dúvidas que não receberiam uma resposta tão cedo, ele pegou o celular e viu que o aparelho estava lotado de mensagens. Ignorou quase todas, exceto as de Taeyong, que perguntava se estava tudo bem e depois surtava por Jungwoo estar sumido há horas. Respondeu o amigo, dizendo que não estava exatamente bem, mas estava vivo.

Tae <3:

Olha, você nunca mais some assim, entendeu?

Achei que fosse morrer de preocupação e eu sou jovem demais para isso.

Sinto muito, Tae.

Eu dormi. Precisava ignorar um pouco a realidade.

Tae <3:

Tudo bem, anjo, mas, por favor, vá responder o Mark. Ele está quase tendo um colapso.

 

Saiu da conversa com Taeyong e foi para a de Mark, notando que havia quase cinquenta mensagens dele.

Oi.

 

Respondeu aquilo na cara dura, tendo uma visualização quase que imediata. Mark começou a digitar, e Jungwoo se preparou para a bronca, pois sabia que o amigo o xingaria por 1) ter sumido o dia inteiro depois do fatídico acontecido e 2) por ter respondido um simples “oi” para quarenta e oito mensagens de puro desespero.

Mark, meu bebê <3:

COMO ASSIM “oi”, JUNGWOO?????

EU ESTAVA QUASE TENDO UM PIRIPAQUE IGUAL AO CHAVES E VOCÊ TEM A PACHORRA DE RESPONDER “oi”???

GAROTO, VOCÊ ESTÁ BRINCANDO COM A MORTE.

Desculpa, Mark. :(

Eu dormi k

Mark, meu bebê <3:

Ok, pelo menos você está vivo. É isso que importa.

Mas você está bem?

Quer a verdade? Não.

Tenho muito a pensar e prefiro procrastinar.

Mark, meu bebê <3:

Certo. Não vou te perturbar com sua missão complicada de procrastinação.

Só me responde: vai na aula amanhã?

Não vou.

Mark, meu bebê <3:

Ok, se cuida. Sentirei sua falta.

 

 

Jungwoo sorriu ao ler a mensagem. Também agradeceu mentalmente por Mark não tocar naquele assunto. Sabia que o amigo ansiava por explicações detalhadas, mas respeitaria o tempo que ele precisava, fosse longo ou curto.

Jungwoo tinha os melhores amigos do mundo, não podia negar. E, por falar em melhor amigo… Tinha Dongyoung. O que faria em relação a ele e aos seus sentimentos, agora expostos ao mundo? Como o encararia, isso se tivesse a mínima coragem de ficar no mesmo local que ele sem querer fugir?

A sua vida estava uma completa bagunça e tudo por causa que tinha inventado de contar sobre seus sentimentos a Taeyong. Mas não que aquilo fosse o problema, ou que Taeyong se tornou culpado por ter insinuado dias atrás que Jungwoo não precisava ter medo de contar nada para si… Só queria ter prestado mais atenção na droga do botão do microfone. Sabia que tinha o ligado sem querer quando esbarrou em algo assim que o amigo chegou na sala da rádio. Odiava-se por ser tão avoado. Por que não era observador como Dongyoung?

Jungwoo suspirou, bagunçando o cabelo. Por que literalmente tudo em que pensava acabava chegando no amigo-barra-paixonite? Qual era o seu problema? Melhor dizendo, o que havia de errado com o seu coração bobo, que vacilava com um mero sorriso dele? Será que aquele sentimento não podia simplesmente desaparecer? Afinal, sabia que se o coração não acelerasse e denunciasse todos os sintomas do seu amor, Jungwoo conseguiria usufruir de sua confiança, e cara de pau, e encarar o amigo na maior tranquilidade, sem se envergonhar ou querer se esconder.

Só queria que aquilo acabasse logo de uma vez.

[...]

No dia seguinte, nada acabou ou se resolveu. Nem seus sentimentos, nem a sua ansiedade ou medo de falar com Dongyoung.

Tinha tido um ótimo sonho durante a noite — ele tinha pego no sono em meio aos pensamentos e agradeceu por aquela proeza, pois jurava que passaria a noite em claro, martirizando-se — e, quando despertou e, consequentemente, voltou à realidade, uma enorme desilusão percorreu seu corpo. Por que o mundo gostava de enganá-lo?

Era nove horas da manhã e deveria estar na escola. Por sorte, tinha avisado na noite anterior que não iria à aula, então seus familiares  não o acordaram às cinco, como de costume.

Tomou café da manhã sozinho, pois naquele horário os pais trabalhavam e o irmão estava na faculdade. Talvez ter aquela privacidade fosse tudo que (não) precisava.

Mesmo não tendo ninguém além de si na casa, Jungwoo travava um debate intenso em sua mente com a razão e a sensibilidade. A primeira dizia que deveria aproveitar aquele momento para acertar, pelo menos um pouco, as ideias e tomar uma decisão de como encararia tudo; e a segunda, a sensibilidade que parecia gritar em sua mente, dizia para largar tudo e esconder-se embaixo dos cobertores, ignorando a tudo e a todos em seu em torno.

O Kim admitia para si mesmo que estava tentado a seguir a ideia da sensibilidade, porém estava começando a enjoar de ficar só nos “e se” e fazendo-se de vítima. Ele odiava se vitimizar — não que estivesse fazendo aquilo, mas era o que a razão estava insinuando e ele não aguentava mais a dor de cabeça que só se intensificava.

Tentou dormir mais, mas falhou miseravelmente — e olha que tentou o fazer, no mínimo, umas cinco vezes. Em decorrência disso, acabou desistindo e pegou o celular para jogar algum jogo e distrair-se; porém, quase vomitou o coração quando viu a notificação de uma mensagem de Dongyoung. Uma não, várias.

Kim Dongyoung não costumava usar muito o celular ou conversar por ele, por isso ver aquele tanto de mensagens assustou Jungwoo. Quer dizer, o que será que ele tinha dito? E se estivesse com raiva de si? Ou magoado? Ou decepcionado? Ou… enojado?

Sentia-se mal por pensar naquele tipo de coisa, afinal, Dongyoung era seu melhor amigo. Mesmo assim, a sua insegurança parecia não compreender aquilo.

Ignorou as mensagens, mesmo que seu lado curioso praticamente gritasse para ler o que quer que fosse o conteúdo delas, e foi para a conversa de Taeyong. O amigo avisou que passaria na casa de Jungwoo após as aulas e perguntou se o irmão podia ir junto — Mark estava doido para vê-lo e abraçá-lo. Jungwoo respondeu que estaria aguardando pelos dois. Alguns minutos se passaram até que Taeyong respondesse, prometendo que não diria nada a Dongyoung. Jungwoo ficou grato. Ainda não sabia como iria encarar sua paixonite secreta, que de secreta agora não tinha nada.

[...]

No início da tarde, Mark e Taeyong apareceram na casa de Jungwoo. Mark pingava de suor e ainda vestia o uniforme do time — ele tinha tido treino naquele dia, por isso chegaram mais tarde. Ele correu para abraçar Jungwoo, porém foi impedido. Jungwoo não queria abraçar o amigo que pingava suor. Era fresco mesmo e dizia aquilo com orgulho.

— Vai para o banheiro agora, Mark Lee — afastou-se dele, apontando para a primeira porta do andar de cima. — Vou pegar uma roupa para você, seu nojento.

Mark obedeceu o pedido de Jungwoo a contragosto, direcionando-se para as escadas e deixando os outros dois garotos na sala de estar.

Taeyong olhou para ele durante alguns segundos antes de suspirar. Queria encher Jungwoo de questionamentos e depois de amor, mas sabia que tinha que respeitar o espaço do amigo e ele logo explicaria tudo do início até o momento atual. Quem sabe até encontrariam uma solução para aquela zona que se formou da noite para o dia.

Jungwoo foi para o próprio quarto, catando uma roupa para o futebolista trancado no banheiro e achou até algumas roupas dele perdidas em seu guarda-roupa. Se bobear, tinha mais roupas dos amigos em seu armário do que suas. Tudo um bando de abusados preguiçosos que não queriam levar peso na mochila nos dias pós-sessão de filmes — eles faziam uma sempre no último sábado do mês.

Pendurou a muda de roupas na maçaneta e gritou, avisando que tinha as deixado ali. Mark respondeu algo, provavelmente um agradecimento, mas Jungwoo não tinha certeza graças ao barulho alto da água caindo.

Taeyong e Jungwoo foram para a cozinha, já que o residente da casa estava fazendo o almoço, pois estava com fome e os outros dois adoravam se aproveitar de seus dotes culinários.

Taeyong se recostou na bancada onde ficava a pia e observou o amigo mover-se para lá e para cá pelo cômodo. Ele parecia concentrado. Ou apenas estava ignorando a presença de Taeyong e o mundo desabando lentamente em volta deles.

— Prefere fingir que está tudo nos conformes ou vamos falar sobre aquilo de uma vez? — Não aguentando mais, Taeyong proferiu.

Jungwoo quase derrubou a panela no chão ao ouvir as palavras do amigo. Não queria fingir que estava tudo bem, mas também não sabia como colocar tudo em palavras, ainda mais para Mark. Ele confiava, sim, nele, mas se sentia mais confortável falando aquele tipo de coisa apenas com Taeyong, pois ele era bissexual e entendia-o, já que tinha passado por uma situação similar há um ano.

Taeyong tinha namorado uma garota dos doze anos até os catorze e, de fato, foi uma relação adorável, porém tudo acabou quando Taeyong começou a se sentir esquisito diante de um garoto da sala deles. Demorou muito até ele compreender que estava gostando dele. De uma maneira romântica. A partir daí, foi uma confusão que Jungwoo só soube após tudo terminar em coração partido e uma amizade acabada. Taeyong só tocou naquele assunto duas vezes; a primeira quando tudo ocorreu e ele chorou no colo de Jungwoo e a segunda quando ele se assumiu gay.

Em decorrência de tudo isso, ficava evidente o motivo de preferir falar sobre o assunto só com Taeyong.

— Eu quero falar. Apenas não sei como.

Taeyong meneou a cabeça, compreendendo o lado do amigo.

— Como isso começou? — arriscou perguntar. Se Jungwoo não sabia como começar, ele daria uma mãozinha.

Jungwoo estava arrumando a mesa pequena que tinha na cozinha, afinal, só teriam os três no almoço — os pais ainda estavam trabalhando naquele horário e Taeil tinha avisado que passaria na casa da namorada para comer lá. Quando terminou, virou-se para o amigo e começou a explicar.

— Lembra que ano passado teve uma sessão de filmes em que você e o Mark não foram? Pois é, ficou só eu e o Dodo — explicou, sentando-se numa das cadeiras e olhando para o amigo, que ainda continuava apoiado na bancada. — Nós estávamos brincando. Eu tinha pego o biscoito da mão dele e tentava desviar das tentativas dele de pegar o pacote de volta. Ele estava em pé e eu sentado na cama, sabe? Foi então que… — Pela risadinha engasgada que ouviu de Taeyong, ele teve a certeza que estava vermelho. — Eu não sei direito como isso aconteceu. Ele escorregou, talvez por causa da meia, e caímos. — Coçou a nuca. — Eu nunca tinha ficado daquela maneira com um garoto. E, cara, era o Dongyoung. Eu nunca tinha me sentido atraído por ele ou o olhado de outra maneira. — Riu, nervoso. Parecia que tinha voltado para aquele dia, então foi inevitável que seu coração não acelerasse. — Mesmo assim, minha primeira reação foi beijá-lo. Eu juro que não sabia o que estava fazendo. Foi puro impulso.

Jungwoo deu uma pausa em seu monólogo para observar a reação de Taeyong. Os olhos deles estavam arregalados, apesar de que um sorriso malicioso ameaçava surgir. Jungwoo torceu para que ele não estivesse chateado por ter escondido aquilo. Provavelmente não, porque ele gesticulou para que continuasse como uma criança ouvindo a melhor história de um super-herói que salvou milhares de vidas.

— E sabe o mais louco de tudo, Tae? Eu podia jurar que ele, não sei, iria embora, me empurraria, me bateria, nunca mais olharia na minha cara, mas…

— Mas…? — incentivou.

Jungwoo deu uma risadinha ao notar a empolgação na voz do Lee.

— Ele deu continuidade. — Apoiou o cotovelo na mesa. — Tipo, Tae, ele enfiou a língua na minha boca, do nada. Era meu primeiro beijo e eu quase tive um ataque cardíaco.

Taeyong gargalhou ao ver o amigo bagunçando os fios loiros. Poxa, se ele tinha ficado assim só com um beijo, imagine se tivessem chegado mais longe.

— Os quietinhos são os piores… — divagou, rindo da própria conclusão. É, Kim Dongyoung era muito mais do que imaginava. — E o que aconteceu depois?

— A gente finge até hoje que isso nunca aconteceu.

— Nossa, vocês querem um diploma de babaquice? Porque assim vocês podem oficializar a estupidez aguda que têm.

Jungwoo revirou os olhos, porém, quando foi prosseguir com a história, Mark apareceu na cozinha, finalmente limpinho e sem grama no cabelo e suor por todo o corpo.

— Parece até gente assim — Taeyong alfinetou e o garoto revirou os olhos.

— Vamos comer? — Jungwoo interveio na discussão que logo se iniciaria. Os dois concordaram, animados. Não era todo dia que podiam cair matando na comida maravilhosa do amigo.

[...]

No dia seguinte, Jungwoo levantou mais cedo que o costume. Havia dormido cedo, então já era de se esperar que aquilo acontecesse, apesar de torcer para que seu organismo deixasse que dormisse até o horário usual.

Fez tudo na maior calmaria e relembrou-se do dia anterior.

Após o almoço com os amigos, eles passaram a tarde conversando e fazendo os deveres do dia — Jungwoo tinha aproveitado a oportunidade de colocar a matéria em dia —, mas não tocaram no assunto mais nenhuma vez. Jungwoo também não fez menção de que iria contar tudo a Mark. Optou por esperar mais um pouco.

Depois que os irmãos foram embora, ele pegou o celular e encarou o monte de mensagens de Dongyoung. Tomou coragem de abrir a conversa com ele e surpreendeu-se ao ler as mensagens que continham ali.

Dongyoung indagava por que havia ido embora, se estava tudo bem e, depois, o motivo da falta. Claro, Jungwoo estranhou muito aquelas mensagens. Como assim “por que havia faltado”? Não era óbvio? Ou será que…

Sem querer, Jungwoo começou a montar teorias em sua mente e só poderia confirmá-las quando chegasse na aula — sim, ele iria para aula. Não podia mais se dar ao luxo de faltar — e falar com Taeyong, este que, por sinal, tinha combinado de passar em sua casa para irem juntos à escola.

Escutou a campainha soar pela casa e despediu-se dos pais, que ainda tomavam café da manhã tranquilamente. Correu para a porta e abriu-a, dando de cara com a cabeleira ruiva de Taeyong e um sorriso empolgado.

— Bom dia, Tae — cumprimentou, sentindo-se mais tranquilo com a presença do amigo.

— Bom dia, Woo — respondeu, acompanhando-o até o portão da casa. — Dormiu bem?

— Na medida do possível.

Continuaram a conversar durante todo o caminho, porém se calaram assim que chegaram no portão escolar lotado de alunos. Jungwoo puxou todo o ar que conseguiu e soltou logo em seguida, torcendo para que aquilo lhe desse o mínimo de coragem.

Taeyong passou o braço pelo ombro de Jungwoo e adentraram a escola, recebendo olhares, muito mais do que o costume, nada discretos de, praticamente, todos. Taeyong apertou o abraço, mostrando que podia se apoiar nele, caso precisasse ou quisesse. Jungwoo sorriu.

Fizeram todo o processo dos armários até a sala de aula e, quando finalmente estavam relativamente seguros, Jungwoo pôde respirar aliviado. Mas esse alívio não durou muito tempo quando Dongyoung adentrou a sala.

O mundo pareceu parar para todos. Jungwoo e os outros alunos da sala observaram ele vindo em sua direção com sua expressão natural, sem mostrar nenhum sentimento intenso.

— Bom dia, Woo.

Jungwoo quase cuspiu o coração ao ouvir o amigo o cumprimentar tão tranquilamente. Ele pareceu querer perguntar alguma coisa, mas notou os olhares de todos sobre eles e arqueou uma sobrancelha. Virou-se para frente e afundou o rosto na mochila, tirando seu cochilo rápido até o professor chegar.

Se ele tinha agido daquela maneira, então será que…

Olhou para Taeyong e ele parecia pensar o mesmo que si. No intervalo, iriam conversar.

[...]

Assim que o sinal tocou, a muvuca começou. Jungwoo esperou que todos saíssem da sala para que pudessem seguir seu caminho até à rádio junto de Taeyong. Não mudaria sua programação por causa daquele fatídico acontecimento.

— Tae… — Parou de caminhar assim que chegaram na rádio e notou que não havia ninguém no corredor além deles. Até deu uma checada para não correr riscos. Enfiou a mão no bolso da calça e resgatou uma chave. Enfiou-a na fechadura e abriu a porta, entrando após Taeyong e encostando-a logo após. — Acho que Dongyoung não ouviu.

— Também acho — concordou, olhando para a parede com a cabeça a mil pensamentos. — Ele não disse nada comigo, apenas me perguntou por que faltou ontem e por que foi embora cedo naquele dia.

— Ele também me perguntou a mesma coisa. Será possível que… — Se fosse verdade... Se fosse verdade, ele se sentiria extremamente aliviado.

— Eu estava conversando ontem com Mark depois que voltamos da sua casa e ele disse que, naquele dia, não estava com Dongyoung. Pelo que entendi, ele tinha ido à biblioteca entregar um daqueles livros enormes, que ele lê em uma semana.

— Na biblioteca não tem alto-falantes — constatou.

Ficaram se encarando durante alguns momentos até que Taeyong bolou um plano — ele pôde notar aquilo pelo olhar iluminado do amigo.

— Olha, eu tenho uma ideia que pode facilitar sua vida. Quero dizer, eu espero que sim.

— Desembucha, homem — Jungwoo disse, afobado.

Taeyong riu do desespero do amigo, mas logo se posicionou para começar a explicar a sua ideia.

— Não sabem que você é o locutor da rádio. Eu não falei seu nome em nenhum momento, as pessoas devem ter deduzido pelo apelido que você me chamou e o nome do Dongyoung. Mas, se você aparecer hoje no refeitório enquanto a rádio acontece, pode ser que essa suspeita acabe. Sem contar que eu já te cobri várias vezes nos dias que você faltou. E eu nem costumo ir ao refeitório.

Jungwoo analisou aquela ideia e, de fato, ela fazia muito sentido e era boa. Estava preocupado com Dongyoung, mas, se o que pensavam estava certo, o garoto não sabia de nada e deveria permanecer daquela maneira; logo, era menos um problema a se preocupar. E, se a ideia de Taeyong desse certo, então era menos dois problemas para se preocupar. Claro, todos ainda iam querer saber quem era o garoto que gostava de Kim Dongyoung, mas aquilo já não seria mais problema seu.

— Vocês três vão para o refeitório e fingem que está tudo bem e que não é com vocês. Talvez os rumores e a história diminuam com o passar do tempo e caia no esquecimento. — Afagou o ombro do loiro e sorriu. Esperava mesmo que ocorresse tudo de acordo com seu plano.

— Ok, podemos tentar. Vou procurar pelo Mark e o Dodo. Não esqueça que hoje é dia do pop. A playlist está aqui. — Entregou o celular para o amigo, que confirmou com a cabeça e disse que não o decepcionaria naquela missão em tom de piada.

Antes de ir, Jungwoo gravou um áudio no celular com os avisos matinais daquele dia para que Taeyong o reproduzisse antes de dar início à sessão musical. Era assim que ele fazia nos dias que o amigo o cobria, para que não houvesse discrepâncias nas vozes. Mesmo que o som do alto-falante distorcesse um pouco a voz e tornasse difícil de dizer a quem ela pertencia, os timbres dele e de Taeyong eram bem divergentes, a voz do seu amigo era bem mais grave, então ficaria óbvio que era outra pessoa e o querido e único Radialista Misterioso não tinha coisa nenhuma de único.

Jungwoo abraçou Taeyong mais uma vez, em frente à porta, antes de deixar a sala de rádio com um sorriso aliviado no rosto.

[...]

— Cantou vitória antes da hora, Kim Jungwoo.

Jungwoo sentiu o corpo todo gelar ao ouvir aquela voz, tendo seu curto momentinho de glória cortado pela raíz e o desespero tomou conta de seu corpo.

Virando-se lentamente para trás, como se estivesse em câmera lenta, ele observou o corpo alto recostado na parede próxima às escadas. Sua respiração falhou.

Podia ser qualquer pessoa, qualquer pessoa, mas tinha que ser logo ele? Wong Yukhei? O mundo só podia estar de brincadeira com a sua cara.

— Lucas — pronunciou aquele nome com um gosto amargo na língua.

— Eu mesmo, em carne e osso. E que sabe de tudo. — Sorriu maldoso.

— Ouvir a conversa dos outros é falta de educação — resmungou, fazendo uma careta nada contente.

— Não pude evitar. Você estava agindo suspeito.

— Você nos seguiu?

Yukhei deu de ombros como se aquilo não fosse nada demais. Jungwoo quis socá-lo como Taeyong havia feito uma vez, mas não possuía força o suficiente e o jogador com certeza era mais forte que si.

— O que você quer para ficar de bico calado?

— Agora sim estamos conversando. — Sorriu novamente, um sorriso que não tinha nada de gentil, apenas a satisfação de poder tirar vantagem de alguém.

O Kim sentiu o corpo ser tomado por um calafrio assim que Yukhei se aproximou e sussurrou devagar, como se fosse divertido para si decretar a sua morte.

— Você vai ter que me ajudar em algo.


Notas Finais


BOM, o primeiro capítulo acabou e eu tô bem nervouser para saber a opinião de vocês, porque eu tenho um carinho imenso por esse plot e eu coloquei mUITO de mim nele (nas opiniões, inseguranças e pensamentos do jungwoo, assim como do taeyong e mark. Sim, eles vão ser mais trabalhados!)
O importante que eu queria dizer é: assim que eu finalizar essa dowoo, terá uma side!fic de jaeyong, lumark e + um shipp que será revelado na lumark (vai ser postado nessa ordem) para contar cada história dos casais e suas amizades (o desenvolvimento em geral) do ponto de vista deles e complementar coisas que não citadas nessa dowoo ou só são mencionadas (como o garoto por quem o taeyong foi apaixonado, o relacionamento que vai se iniciar de lumark e o shipp X).
Não precisam ler todas, caso não forem do seu agrado, mas coisas importantes serão citadas e que complementarão muitas coisas sem resposta [tipo o Taeyong no processo da descoberta da sua bissexualidade (eu realmente espero retratar isso certinho, mas posso cometer deslizes, porque é a primeira vez que me arrisco tanto em certos temas e saio da zona de conforto) e outras coisas]
Sem mais delongas, espero que tenham curtido e até dia 10, dia do nascimento de dowoo! :)


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