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História O Legado dos Shinigamis - Lar, doce Lar


Escrita por: Dani_M_2004

Notas do Autor


Bom dia, boa tarde e boa noite. Espero que estejam todos bem!

Capítulo 27 - Lar, doce Lar


Fanfic / Fanfiction O Legado dos Shinigamis - Lar, doce Lar

Foram quatro meses de puro treinamento intensivo. E, nesse tempo, nós paramos de frequentar a escola. O que eu achava justo, já que entre aprender o teorema de Pitágoras e preservar minha vida, eu gostava muito de viver, obrigada. Mas, em contra partida, nós nos víamos com muito menos frequência. Para se ter uma noção, se nós víssemos duas vezes ao mês já era muita coisa. Com exceção de mim e Kota, que morávamos na mesma casa, e de Tatsuo e Hana, que foram para a casa dos avós. Porém, pelo o que Asami tinha me dito por mensagens, Aiko tinha se juntado a ela para treinar. Ichigo era o tutor das duas. Eu só não tinha notícias de Sora.

Meu pai havia conseguido permissão para ficar no Mundo Real. E não precisou de uma restrição de poder espiritual, já que a casa de Fiona tinha uma proteção para que ninguém de fora fosse afetado. Na verdade, ele foi quem mais ajudou Kota, ensinando o controle das emoções em batalha e a paciência para analisar seu inimigo. Com isso, Kota progrediu muito nos meses que se seguiram. De um minuto que ele conseguia aguentar a transformação, agora ele aguentava cinco. Era uma grande avanço em pouco tempo, acredite.

Nós dois conseguimos alcançar nossas bankais, mesmo que não estivessem completas ou não soubéssemos dominá-las completamente, já era um ótimo passo.

Eu aprendi com minha mãe sobre estratégias. Como me comportar em um combate e como sair de um com o mínimo de danos. Acabei prestando mais atenção do que Kota, que gostava mais da prática do que da lógica, mas isso eu já esperava. Eu também havia me tornado mais rápida com meu shunpo e cheguei no mesmo nível de agilidade que o garoto tinha em suas transformação.

Os hollows estavam aparecendo com menos frequência, o que eu não sabia exatamente se era bom ou ruim. Poderia ser aquela calmaria antes da tempestade novamente, ou eu só estava sendo pessimista demais. Tendo isso em mente, poderiamos pensar que as coisas estavam melhorando, se não fosse pelos meus pesadelos constantes.

O mesmo pesadelo que eu tive naquela noite, onde eu me afogava. Eu o tive inúmeras vezes ao longo desses quatro meses. Chegou em um nível que eu precisei ficar no quarto de Fiona para conseguir pegar no sono, porque eu estava com medo de dormir. Ela era quem me confortava de madrugada quando eu acordava assustada e quase sem respirar. Eles eram tão reais que eu quase sentia a água em meus pulmões, mesmo acordada.

Como uma tentativa de fazê-los irem embora, meus pais nos arrastaram para uma viagem de carro. Estávamos em silêncio enquanto Fiona dirigia. Meu pai trocava a música do rádio e Kota começou a ajudá-lo a escolher uma boa. Meus olhos cansados estavam na estrada. Estava tão exausta que quase confundi um monte de terra com um gigante, tive de olhar uma segunda vez para me certificar. Reprimi um bocejo e Kota me deu um olhar solidário.

— Sakura, se quiser dormir um pouco até chegarmos — ele hesitou por um segundo, procurando o incentivo certo. — eu estarei aqui caso precise...

Neguei.

— Obrigada, Kota. Mas eu estou bem — forcei um sorriso e ele se calou, mesmo contrariado.

Passamos mais algumas horas na estrada e eu sabia que tínhamos chegado quando senti o cheiro de água salgada. A rua de cimento passou para uma de pedras, as quais nos fizeram balançar. Por sorte o carro de Fiona não era baixo. A praia se estendia à nossa esquerda, e as casas começaram a ficar mais escassas, até que a única que sobrou era um pouco mais isolada das outras. A alguns quilômetros ficavam as docas da cidade. Fiona parou em frente a casa, tirou o cinto e virou-se para mim.

— Você tem certeza? Não precisa fazer isso se não quiser, querida. Podemos dar meia volta e ir para... bem, para casa — ela me deu um sorriso reconfortante.

Eu queria mais do que tudo voltar para minha zona de conforto, para nossa casa. Mas se eu quisesse que os pesadelos fossem embora, senti que teria que encarar a fonte dos problemas de frente. Balancei a cabeça e soltei meu cinto.

— Eu preciso fazer isso, mãe — respirei fundo e abri a porta do carro.

O ventos que o mar trazia balançavam meus cabelos, de modo que ficavam na frente do meu rosto. Eu os afastei e pude ter uma visão melhor da casa. Ela tinha dois andares, suas paredes eram de cimento e eram brancas, mas haviam também pedras na construção. Parecia nova por fora, como se tivesse sido construída há pouco tempo. Na fachada, um pequeno jardim que aparentava ser bem cuidado. Talvez algum vizinho ainda vinha cuidar das plantas.

— Eu pedi para que reparassem a casa, caso um dia você quisesse visitá-la — disse meu pai, de certa forma triste. Ele me entregou as chaves.

Minhas mãos tremiam mas eu consegui abrir a fechadura. A porta de madeira se abriu com um leve rangido. O piso estalou sob meus pés ao entrar, à esquerda uma escada que dava acesso ao andar de cima e à direita a sala de estar. Adentrei mais à casa, no final do cômodo, a porta para a cozinha estava aberta e uma outra fechada que deduzi ser o banheiro. A TV estava coberta por um lençol, mas, para minha surpresa, a casa estava limpa. Sem poeira nos móveis ou o cheiro de maresia. Cheirava a rosas, e era familiar para mim de alguma forma.

Senti como se já a conhecesse de sonhos distantes, daqueles mais pacíficos e que você dificilmente se lembra após acordar. Uma vontade imensa de chorar se fez presente de repente, como se o lugar contasse a história mais triste que eu ouvira em minha vida, mas segurei o choro na garganta.

No canto da sala estava uma mesa retangular, de mais ou menos um metro e meio, de madeira escura. Eu me aproximei e passei a mão sobre a superfície. Meus dedos seguiram os arranhões que haviam, gravados na madeira, como se um gato enorme houvesse resolvido afiar suas unhas ali. Manchas de tinta preta irregulares estavam espalhadas na mesa, que poderiam terem sido facilmente causadas caso alguém esbarrasse em um pote de tinta. Ou vários potes de tintas. Talvez eles precisassem para a pesquisa.

Eles. Meus pais. Meus pais biológicos, que deram sua vida por mim. Havia mais uma porta dupla que eu não tinha notado antes. Corri até ela e a empurrei. Era um escritório, não muito grande. Estantes de livros se estediam nas duas paredes laterais e uma mesa no centro possuía não uma, mas duas cadeiras. Pilhas e pilhas de livros estavam sobre a mesa e uma pequena luminária quase passava despercebida no meio deles.

Quando bati o olhar pela primeira vez, achei que era apenas uma caixa de madeira. Porém, ao olhar com mais atenção, revelou-se ser um berço. O móbile nele pendurado tinha animais marinhos que brilhavam com o reflexo da luz. Dentro, um pequeno bichinho de pelúcia. Um golfinho rosa, um pouco sujo, mas inteiro. Ao toque, as lágrimas formaram-se em meus olhos. Eu não queria mais ficar ali, eu não queria. Tanta dor e sofrimento, e eu me sentia culpada por não conseguir fazer nada a respeito.

Eu fiz a única coisa que consegui pensar: corri para fora da casa. A voz do meu pai me chamanda à distância.

Poucos minutos depois, Fiona me encontrou sentada na areia de frente para o mar. Eu abraçava minhas pernas, com o golfinho no meio, e olhava as ondas se quebrando no horizonte. A pior parte do choro já havia passado, mas algumas lágrimas ainda escorriam. Meu coração estava tomado pelo luto de pessoas que morreram anos atrás e eu sequer conhecera. Não fazia sentido, eu sei. Porém, entendera há muito tempo que o sentimentos não faziam sentido, embora fossem palavras muito parecidas.

Minha mãe se sentou ao meu lado em silêncio e me trouxe para seu peito, seu queixo sobre minha cabeça. Agarrei-me à ela como se fosse a última pessoa no mundo.

— É tão injusto, mãe — solucei. — Por quê?

— A vida é injusta, meu amor, nem sempre temos o que queremos, ou merecemos — ela acariciou meus cabelos. — Mas para se viver de verdade é preciso parar de pensar nas coisas ruins que já aconteceram e olhar para o que você pode tirar do meio de todo o caos. Embora não signifique que você não pode se permitir sentir as perdas.

Senti seu coração bater mais rápido.

— Eu posso ter perdido a Shiro, mas ganhei uma filha maravilhosa e... — ela fez uma pausa. — o Byakuya — afastou-se para segurar meu rosto e limpá-lo. — E eu sei que é trágico tudo o que aconteceu com os seus pais, e eu não digo que valeu a pena. Longe disso. Nenhuma morte vale. Mas, felizmente, você tem a nós agora. Somos uma família e você pode se apoiar em nós.

Levei uns minutos para formular uma resposta apropriada.

— Por favor, mãe, não quero que pense que eu não estou feliz com a família que tenho. Muito pelo contrário. Mas o que aconteceu...

— Eu sei, querida. Você tem todo o direito de lamentar a perda dos seus pais — Fiona beijou minha testa. — Pode não se lembrar deles, mas tenho certeza que eles a amavam muito. Apenas saiba que estamos aqui para o que precisar.

Assenti e me encostei nela novamente. Eu só queria ficar ali, sentindo o calor da minha mãe e a brisa do mar batendo em meu rosto. E assim ficamos até o pôr do sol. Era reconfortante e não pude deixar de pensar se era essa a beleza que minha mãe biológica via no mar, além dos animais. Eu sentia uma vontade imensa de conhecê-los, e talvez eu pudesse, através de fotos e vídeos que deveriam estar espalhados pela casa. Eu decidi que faria uma varredura por lá mais cedo ou mais tarde.

A parte boa disso tudo é que meus pesadelos cessaram.



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