História O Legado dos Shinigamis - Shinigamis e Humanos

— E ai, o que você vai fazer? — Aiko me encarou.

— Eu vou ajudar, óbvio — esperava um protesto mas a garota sorriu.

— É assim que se fala, garota!

Aproveitei que todos os alunos pareciam estar reunidos no pátio para usar meu shunpo no corredores e chegar lá o mais rápido possível. Não tinha como eu atravessar a multidão pelo meio, então usei uma árvore perto para pegar altura e pular sobre os alunos. Sorte a minha que eu havia insistido em colocar um shorts preto por baixo da saia.

Quando cai agachada, os cinco mudaram sua atenção para mim. Tatsuo tinha suas sobrancelhas franzidas. Havia um corte em sua testa e sua mão direita estava com sangue, mas eu duvidava que era dele.

— Quatro contra um? Que luta mais injusta — coloquei-me em posição de luta. — Vocês são covardes.

— Olha, a garota quer entrar na conversa? Que bonitinha — disse um dos garotos. — Gracinha, por que você não vaza daqui antes que se machuque?

— Engraçado — lancei-lhe um sorriso irônico. — Eu estava prestes a dizer a mesma coisa.

Ele se irritou e partiu para cima de mim com um soco. Esquivei e segurei seu braço, torcendo. Logo em seguida acertei um chute na barriga que o lançou longe. Outro garoto tentou a sorte e eu me esquivei novamente. Coloquei um pé na frente e ele tropeçou e rolou. Olhei para os dois ainda restantes mas eles apenas saíram correndo, abrindo caminho pela multidão.

Caminhei até Tatsuo e limpei a poeira do meu uniforme.

— Meu nome é Sakura Kuchiki, muito prazer — estendi a mão e ele apertou.

— É, eu sei. Da aula mais cedo — disse ele, mas não de maneira rude. — Obrigado pela ajuda, mas eu...

— Conseguiria sozinho?

— Pode-se dizer que sim.

— Eu não duvido, mas gosto de uma boa desculpa para bater em idiotas.

Ele sorriu um pouco.

— Garota, isso foi incrível! — Aiko veio correndo e me abraçou. — Mas é melhor a gente dar o fora daqui antes que o inspetor apareça.

— Certo — virei para Tatsuo. — A gente se vê por aí. Tenta não se meter em mais brigas.

— É, quem sabe — ele deu de ombros e se virou. — E quanto às brigas, não prometo nada. Esses caras adoram mexer com quem tá quieto! — gritou enquanto se afastava.

Ao final do dia, acompanhei Aiko até a casa dela. Ela ficou falando de como eu tinha acabado com aqueles garotos, mas minha mente sempre voltava para nossa conversa mais cedo. Não entrava na minha cabeça que as pessoas não gostavam de alguém como a ruiva. Ela era tão esforçada, sempre tão disposta a ajudar. Isso só mostrava que não importa em que mundo fosse, as pessoas nunca conseguiam enxergar o brilho da individualidade das outras.

Chegamos à frente da casa dos Kurosaki. O avô de Aiko havia vindo visitar e ele nem esperou a ruiva entrar para já ir abraçando a neta. Ela parecia quase sem ar. Eu ri com a cena e Isshin me chamou para entrar no abraço também, mas tive que recusar. Despedi-me e fui direito para a casa de Fiona.

— Cheguei! — gritei ainda tirando meus sapatos na entrada.

— Na cozinha! — gritou ela.

A mulher estava preparando o jantar já, mas a espada encostada no balcão da cozinha indicava que ela havia chegado tinha pouco tempo também. Seus cabelos estavam amarrados e ela mexia algo na panela ao fogo. Lavei minhas mãos e me juntei à ela.

— Posso ajudar?

Fiona me entregou alguns vegetais para que eu cortasse.

— Como foi a escola, querida?

— Diferente do que eu pensava — ponderei.

— O que foi? Os humanos te decepcionaram?

— Não, acho que essa não é a palavra certa. É que... tirando os poderes, achei que eles fossem mais diferentes de nós.

— Esse é o erro que a maioria dos shinigamis cometem, Sakura — dizia sem tirar os olhos da comida. — Acham que são melhores que os humanos apenas por possuírem uma espada.

— Meu pai também é assim, não é?

— Ele era pior, até você entrar na vida dele.

Eu entendia o que ela queria dizer. Até onde eu sabia, meu pai biológico era um shinigami e minha mãe biológica uma humana, com um poder espiritual acima da média. Era tudo que eu sabia sobre eles. Isso explicava o porquê da visão do meu pai sobre os humanos ter mudado.

— Mas, então, você gostou do Mundo Real? — perguntou ela com um sorriso no rosto.

— Sim! Tem muita coisa que eu ainda não conheço, mas tô louca para aprender. Aiko já me mostrou um monte de animes legais, e comparando com o que eu aprendia lá na Soul Society, vai ser fácil acompanhar a matéria da escola aqui — eu disparava sem parar para respirar. — Tem comidas que eu também quero experimentar, como um tal sorvete. E logo vamos começar meu treino e...

— Ok, calma lá, garota — Fiona riu e desligou a boca so fogão. — Respira um pouco, ok? Eu tenho algo para você.

Respirei fundo.

— O que é?

— Isso — ela me entregou um celular. — para que eu possa me comunicar com você, ou se você tiver algum problema — logo em seguida, ela colocou um colar ao redor do meu pescoço. — E isso, para que você saiba quando estiver em problema.

Olhei para o pequeno pingente do colar. Era uma espécie de caveira e eu podia sentir que nela resídia muito poder.

— É um amuleto poderoso, tenha cuidado. Ele emitirá uma pequena luz quando um hollow estiver por perto. Assim você saberá quando deve agir ou não.

— Uou. Obrigada, Fiona. Isso é muito útil!

— Não achou que eu deixaria você andar por ai sem alguma proteção, achou? — ela riu e bagunçou um pouco meu cabelo. Quando era ela, eu não ligava. — Você está sob a minha proteção aqui, Sakura. Não vou deixar te machucarem.

Fiona realmente tinha uma preocupação no olhar, e por um segundo tomei coragem para abraçá-la. O afeto não demorou muito mas foi bom, senti que estava em segurança. Quando me soltei, ela sorria para mim.

— Vamos terminar esse jantar antes que fique muito tarde, você tem escola amanhã.

— Certo!

Mas, realmente, eu não sabia do que me aguardava no dia seguinte.