História O livro dos Desejos - Capítulo 14 - Lay Me Down

Era o dia da minha morte!

Certeza!

Eu olhava sem jeito pra placa gigante na minha frente com os dizeres “Delegacia de polícia” com as mãos presas por algemas, sentada ao lado de nada mais nada menos que meu chefe.

“Você tinha que morder a mão dele!” ele reclamava ao meu lado, sentado em frente ao policial que anotava tudo que havia acontecido, no fundo, o grandalhão que eu tinha lutado, recebendo tratamento médico pra sua mão e o pedaço de pele que faltava nela, em outra vida eu poderia ser um cachorro de boa.

“Foi preciso tá legal?! Ele tava cutucando a menina, humilhando ela, e você ainda queria pagar pra ele!” eu discutia, enquanto o homem nos olhava do fundo com um olhar mortal.

“Você tem ideia do quão difícil foi pra gente chegar aqui sem que nenhum paparazzi publicasse sobre como minha secretária fez escândalo numa cafeteria e como eu fui parar na delegacia com ela?!” ele dizia, e pensando bem era verdade, ele era muito famoso, um escândalo dele na polícia pegaria mal.

“Eu não tive escolha, não podia chamar minha mãe pra delegacia, o que ela pensaria de mim? Você era a única opção” eu dizia, balançando a perna, ansiosa.

“Bem, você poderia começar perguntando pra sua mãe de onde herdou toda essa força e temperamento forte” ele dizia, mas eu era um defeito do universo, minha mãe era agitada apenas com os negócios, meu pai era mais tranquilo que um bicho preguiça, eu fui um erro da natureza.

“E pra completar você fez todo esse show na frente da Sung Kyung, o que ela vai pensar agora?” era com isso que ele estava preocupado??

“Se ela tivesse um pingo de bom senso também faria a mesma coisa que eu, as pessoas tem medo de fazer o certo” ele me olhou, como se eu fosse louca.

“Morder a mão de alguém e bater nele é o jeito mais certo de fazê-lo aprender?”

“Ele sairia de lá ileso depois que você desse o dinheiro, seria como se nada tivesse acontecido, não acha isso injusto?” perguntei, com a mão no quadril.

“Injusto é eu estar aqui tendo que limpar a sua sujeira” ele falava, com os braços cruzados. “Você entende o que eu quero dizer quando falo que desde que você chegou só tem acontecido coisas estranhas comigo? E todas elas envolvem você!” ele tinha razão...tudo aquilo era o livro querendo nos deixar mais perto...

Só que dessa vez a magia tinha ido longe demais, cada vez mais coisas bizarras aconteciam e sempre acabavam comigo e Taehyung perto um do outro, mas advinha só? Aquilo não queria dizer que ele estaria contente ou bem com isso, ele estava ao meu lado sim, mas numa delegacia de polícia caramba! Livro, vamos rever seus conceitos de romance ok? Essa não é a melhor forma de fazer alguém se apaixonar por você!

“Está tudo pronto” dizia o policial, arrumando uns papeis e digitando algumas coisas. “Você vai ter um episódio na ficha mas nada além disso, o senhor que foi violentado decidiu não prestar queixa, pelo visto ele não queria ficar muito mais tempo na delegacia, provavelmente tem podres maiores do que gritar com atendentes...mas por sua causa já temos o nome, face e digitais dele, ele não estava no sistema, vai ajudar na investigação sobre o tráfico de drogas aqui na região, ele parecia um suspeito potencial...” o policial explicava e eu não consegui evitar de sorrir, no fim eu tinha feito algo de bom.

“Eu não deveria estar dizendo isso pra alguém que acabou de morder um homem e de desacatar as leis mas...Muito obrigada Sun Hee” o policial dizia, de pé, me dando a mão, que eu aceitei na hora. “Por sua causa temos outro nome pra investigação” e eu sorri, feliz por ter sido liberada, um outro policial já me livrava de minhas algemas e eu finalmente conseguia andar em direção a porta.

“Não consigo acreditar...você faz toda essa bagunça e ainda é elogiada por isso?” Taehyung perguntava, andando ao meu lado, indignado.

“Eu fiz o que era certo, o universo só está me recompensando por isso” falei, super feliz por ter feito algo bom na frente dele, quando de repente ouço um barulho estrondoso da minha barriga, clamando por comida.

Ele com certeza ouviu, olhou pra mim, depois pra minha barriga, sorrindo. “O universo deveria ter te recompensado com uma coxa de frango” disse ele, com aquela forma quadrada que eu adorava.

“Vamos comer” espera aí...ele disse...vamos comer?...quer dizer...eu e ele? Ele e eu? Comendo? Juntos?

“Entra aí” dizia ele, fechando o zíper da sua jaqueta até o final para cobrir sua boca, olhando pros lados em frente a loja de conveniência com as mãos nos bolsos.

“Como assim? Por que eu tenho que ir sozinha?”

“Eu não posso deixar que as pessoas me vejam, vai virar uma bagunça, pegue uns dois Lámens e traga quente pra gente comer em algum lugar escondido” ele falou, ainda olhando pros lados, com medo de que nos vissem. Havia me esquecido por uns segundos que ele era tão famoso...claro que não iríamos comer em um restaurante normal como todo mundo...muito menos juntinhos como um casal...droga...

Depois que eu havia pego tudo achamos um banquinho num parque deserto onde poderíamos comer em paz, peguei os hashis, agradeci pela comida em mente e mandei bala, com o meu segundo Lámen ao lado, pronto pra ser devorado.

No fim o livro tinha conseguido fazer uma coisa boa.

“Você tá mesmo com fome em” Tae dizia, olhando pro meu desespero ao comer, com o segundo pote ao lado.

“Trabalhar pra você me dá muita fome” eu disse, o provocando.

“Eu que deveria estar dizendo isso,você dá muito trabalho sabia?” dizia ele, comendo, mastigando como um bebê, ele fazia um biquinho fofo quando estava comendo.

"Falando nisso, como você conseguiu esse trabalho? Se você fez os testes do mesmo jeito que trabalha comigo não sei como a empresa te contratou” vish...ele tocou no assunto delicado da mentira galera...

“Muito esforço e dedicação senhor Taehyung, eu posso até ser atrapalhada as vezes, mas sempre me esforço ao máximo no que eu estiver fazendo, não foi fácil deixar tudo em Namsan pra vir pra Seul ” falei, sorrindo com o Lámen na boca.

Ele olhou pra mim, dessa vez parecia realmente interessado. “Você morava em outra cidade?”

“Sim, era uma pequena vila de Namsan, eu vivi até os onze na fazenda dos meus avós com meus pais, depois nos mudamos pra perto numa casa só nossa, minha mãe recebeu uma proposta pra gerir uma matriz aqui e eu me mudei com ela” eu dizia, olhando pra ele. “Ah! E coincidentemente ela vai fazer negócios com a B.G acredita? Foi assim que eu conheci a empresa e arrumei o emprego” bem, não era de tudo mentira, apenas pela parte de que eu tinha conseguido o emprego.

“Namsan? É uma cidade bonita...eu nasci em Daegu, também vivi numa fazenda com meus avós” arqueei as sobrancelhas...era difícil imaginar um homem de negócios como ele numa fazenda, colhendo ovos de galinhas e limpando estábulos.

“Sério? Você gostava de viver lá? eu sempre achei a vida na fazenda mais bonita que a que eu tinha na vila” falei, contente porque era a  primeira vez que compartilhávamos informações sobre nós sem que nos espetássemos como lutadores em um ringue.

“Na verdade eu sempre achei que me tornaria um fazendeiro...ainda assim não achava que eu era bom em mais nada pra tentar algo diferente...foi uma surpresa quando descobri que poderia me tornar um idol, ainda mais abrir uma empresa” ele dizia, bem diferente da forma como falavam dele na internet, o poderoso e ambicioso Taehyung, o cara que sempre visava o topo e sabia o que queria.

“Eu queria descobrir no que sou boa também...” acabei deixando escapar ao ouvir o discurso dele.

“É, você deveria tentar mesmo, porque não é nada boa como secretária” ele riu, e, ao contrário do que eu pensei que faria acabei rindo junto também, Aish...ele estava certo, eu era uma droga nisso...

O som de nossas risadas juntas era tão único que eu queria poder gravar pra ouvir eternamente depois...era um momento tão raro, não sabia quando e se isso aconteceria de novo.

“Mas eu acho que os talentos se descobrem com o tempo” continuou, me deixando curiosa. “Eu nem sabia que gostava de fotografia até uns anos atrás, muito menos que eu teria alguma conexão com a arte...você tem que relaxar e esperar, um dia vai descobrir no que é boa sem nem perceber” aquilo era um conselho pra mim? Tipo, um conselho mesmo? Sem brigas nem discussões, sem broncas...apenas ele tentando me ajudar?

Bem, isso era realmente novo.

“Mas e o seu pai?” ele perguntou. “Você disse que se mudou com sua mãe...e ele?” ele realmente estava interessado na minha vida? Estávamos realmente tendo uma conversa como pessoas normais?

“Eles se divorciaram...meu pai ainda está em Namsan com minha madrasta, a Yoon Na, ela é bem legal, está se recuperando da perda de cabelo com a nova peruca”

“Perda de cabelo?” ele perguntou, sem entender.

“É, minha mãe não aceitou tão bem quando meu pai disse que estava com outra” ele riu baixinho.

“Espera...sua mãe escalpelou sua madrasta?”

“É...escalpelar é uma palavra muito forte, vamos apenas dizer que ela retirou fios de cabelo dela”

Ele riu. “Está bem claro agora de quem você puxou” pensando bem...não era só nos negócios que minha mãe era agitada...

“E seus avós?” perguntei, lembrando que ele havia dito que morou com eles na fazenda, seu sorriso caiu na hora, acho que tinha tocado num ponto sensível.

Ele demorou um pouco pra responder, parecia pensativo. “Eles...morreram faz um tempo” droga Sun Hee! Você tinha que estragar tudo!

Decidi não falar nada como “Me desculpe, eu não sabia” ele já devia ter ouvido aquilo muitas vezes, não é como se sua dor fosse diminuir por isso.

“Achei que você pediria desculpas ou coisa parecida” disse ele, ao receber meu silêncio.

“Desculpas não curam todas as feridas” falei, sorrindo. “O importante é que você ainda se lembra deles, eles estão vivos em algum lugar dentro de você”

Ele suspirou, olhando pro céu da tarde, o ar frio passando por nós. “Eu sempre penso neles quando eu canto...por isso gosto muito de Lay me down...é como se eu estivesse pedindo que eles me abraçassem mais uma vez...” quase chorei ao fitá-lo, ele parecia tão sincero e ferido...ao mesmo tempo não conseguia acreditar que ele estava se abrindo tanto comigo, nem mesmo se ele ainda estava me notando ao seu lado.

De repente, com um piscar de olhos ele segurou em minha nuca, me trazendo pra bem perto, um milímetro de distância de sua boca, se pondo em frente a mim. Seus olhos encontraram os meus, surpresos, eu não estava entendendo o que ele estava fazendo nem porque, então ele disse: 

“Não se mova, tem umas meninas ali no fundo, elas não podem me ver” disse ele, escondendo sua face em meu rosto, a cada vez que ele falava o ar quente de sua boca naquele clima frio alcançava minhas bochechas, como leves carícias feitas sem querer.

“T-tá bom” gaguejei um pouco, estremecida pela sua proximidade, meu coração batia muito rápido, se eu não estivesse alterada podia dizer que conseguia ouvir o dele também, duas batidas fortes e constantes.

“Elas já saíram?” ele perguntava, sua respiração ofegante de repente, ele parecia querer urgentemente sair de perto de uma hora pra outra. 

Olhei por de trás dele, elas já tinham ido embora, mas ele estava ali, tão perto e quente, com cheirinho de perfume e Lámen combinados...era tão irresistível...mas não podia durar pra sempre.

“Já” falei, contra minha vontade, ele logo voltava ao seu lugar, esfregando as mãos nas pernas, nervoso.

“Vamos embora antes que mais pessoas cheguem” disse, voltando a ser frio de repente.

E eu obedeci, sabendo que a cada vez mais, eu não conseguiria sair de perto dele.

Mas não era por causa do livro.

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Lay me down – tradução

E é difícil, os dias parecem tão escuros

A lua, as estrelas, não são nada sem você

Nenhuma palavra pode explicar o jeito que estou sentindo sua falta

A noite, esse vazio, esse buraco em que eu estou

Essas lágrimas, contarão suas próprias histórias.

Você me disse para não chorar quando você se foi

Mas o sentimento é avassalador, é pesado demais

Eu posso me deitar do seu lado? Perto de você.

Estou procurando por você

Você consegue ouvir o meu chamado?

Essa dor pela qual passei

Estou sentindo sua falta, sentindo sua falta loucamente.