História O Mestre Mandou - Aula de Biologia

  Um lindo dia para arrependimentos… 

  Busan, quinta-feira 6:45 da manhã.

  Acordei atrasado - como era de costume -, ainda relutante, me levantei e fui fazer minha higiene matinal. Notei pela minha aparência os indícios da péssima noite de sono e por conta disso, meu rosto não era um dos melhores. Olheiras eram perceptíveis e o olhar abatido só denunciava o quanto estava cansado. Fiz o melhor que pude, dei um jeito no cabelo e passei alguns hidratantes no rosto, embora nada daquilo fizesse minha pele ter uma aspecto melhor. Quando terminei voltei para o quarto e coloquei o uniforme o mais rápido que pude, uma merda, pensei e encarei o relógio. 

  Já estava passando da minha hora. 

  Não ia dar tempo nem de tomar café, então, após calçar os sapatos corri até o quarto de minha mãe e arranquei alguns trocados na carteira dela, provavelmente seria o suficiente para comprar alguma besteira no caminho e ela não iria sentir falta. Depois, corri para a sala e coloquei a mochila nas costas, segui para a porta principal e finalmente fui com Deus.

  Quando cheguei - atrasado - tentei passar despercebido pela secretaria, normalmente os alunos precisam assinar uma lista quando chegam depois do horário, todavia, a moça da secretaria era meio distraída e dessa forma, eu entrava várias vezes sem ser visto. Mas eu não conseguiria passar a perna na professora rabugenta que estava em sala, então eu simplesmente entrei como se nada estivesse acontecendo.

  — SeungHee, preste atenção! - a velha me falou tirando-me de meus devaneios, aí que saco!

  Eu apenas me virei para encara-la, não estava nenhum pouco interessado no que ela explicava ou deixava de explicar, eu sinceramente estava jogando o foda-se para qualquer um naquela sala. Poderia até mesmo plantar uma bomba e explodir geral naquela escola, ao mesmo tempo que não, acredito que explodir uma escola seja muito radical. 

  Quando ouvi o sino soar sorri aliviado, meu inferno pessoal havia acabado e eu poderia curtir meu intervalo na tranquilidade. Sai o mais rápido que pude daquele ambiente hostil, que era a sala de biologia. Caminhei até o refeitório e de longe consegui enxergar meus amigos e comprimento eles com um aceno. Antes de me juntar a eles peguei algumas coisas para comer e me sentei ao lado de Owen, a cara deles também não era uma das melhores.

  — Ih Cara, você não está com uma cara muito boa, o que tá pegando? - Owen perguntou curioso e eu revirei os olhos. 

  — Nada que seja da sua conta - sorri e no instante seguinte dei uma mordida no meu sanduíche. - E aí, do que estavam falando? 

  — Ah Cara, aconteceu uma coisa muito bad com um colega de classe. - Irving disse com um semblante triste em seu rosto. 

   — O que rolou? - perguntei curioso, devia ser alguma coisa intrigante pra deixar eles com a cara tão murcha. 

  — Sabe aquele Park JaeSung? - Owen perguntou e eu assenti. - O cara se matou ontem à tarde, geral está falando sobre isso. 

  — Misericórdia! - exclamei boquiaberto, aquele tal Park era um dos melhores alunos da escola e ainda que eu o conhecesse de vista, dava pra notar que era uma pessoa gentil e alegre com todo mundo, eu estava tão chocado quanto qualquer coisa. - Caramba, isso é tão difícil de acreditar. Uma pessoa tão agradável, inteligente… como isso pôde acontecer?

  — O irmão dele, Park JaeMin, está desolado. Nem veio à escola hoje, coitadinho. Deve está sendo uma barra pra ele. - Irving disse preocupado, todos sabiam o quanto ele era próximo dos dois rapazes. 

  — E o que aconteceu para que ele tomasse uma atitude tão extrema como essa? - perguntei indignado, aquilo não tinha o menor cabimento.

  — A polícia ainda está investigando, mas todo mundo tá ligado que ele se matou porque estava participando de um jogo há um tempão. - Owen falou e naquele momento, senti um frio na barriga, será que…

  — O que? Como assim, Owen? - indaguei - Explica isso!

  — Cara, não sei de muita coisa, mas pelo o que o Ícaro do terceiro ano me disse, o motivo da morte se deu por uma ordem que ele recebeu desse jogo… eu não entendi muito bem, mas ele estava num esquema pra tentar descobrir uma informação importante e mandaram uma ordem para que ele tirasse a própria vida antes que os observadores o executasse. De qualquer jeito o JaeSung ia morrer…

  — O Ícaro explicou mais alguma coisa? - perguntei nervoso, eu estava jogando aquela merda, tinha certeza absoluta de que era o mesmo jogo. Eu estava surtando internamente.

  Deus, onde fui me meter?

  — O JaeSung estava chegando na fase final do jogo, estava quase conseguindo zerar só que ele se meteu com as pessoas erradas e sua última missão, a que encerraria o ciclo, foi responsável por sua morte. - Irving explicou. 

   — Irving, o que você sabe sobre este jogo? - perguntei nervoso, aquela altura do campeonato minha mão já estava tremendo e o medo tomava conta de mim. 

  — Por que você quer saber, cara? - Irving questionou e eu respirei fundo, eu não sabia se devia contar, mas queria tirar por tudo aquele peso em minhas costas e desabafar com alguém.

  — Porque se esse jogo for algo como “obedeça o mestre” ou algo assim - respirei fundo - eu estou jogando. - confessei e os dois arregalaram os olhos assustados.

   Em outras situações eu apenas iria dar umas boas gargalhadas das expressões engraçadas que os dois tinham em seus rostos, mas aquele dia eu estava preocupado e não sabia exatamente o que fazer, tudo em minha cabeça se tornou confuso e eu não conseguia raciocinar corretamente.

  — Am? - Irving indagou boquiaberto- Cara, você enlouqueceu? - disse piscando várias vezes, possivelmente tentando digerir a situação. 

   — Louco? Me respeita seu saco de merda! - falei ríspido e ele apenas fechou a cara. 

   — Você tá ligado que o que rolou com o pobre do JaeSung pode acontecer contigo também, certo? - Owen falou sério. 

  — Caralho, se eu soubesse dessa merda é claro que eu tinha ficado quietinho no meu canto, mas o que eu posso fazer? - disse desanimado - Não tem como parar de jogar. 

  — Você nem sabia ao menos onde estava se metendo, e agora, está em perigo - Owen disse e parecia enfurecido. - Qual é o teu problema, SeungHee? 

  Eu daria a ele uma bela resposta se meu celular não tivesse tocado impedindo-me de continuar aquele diálogo. Tateei o bolso da calça e peguei o celular, desbloqueei o aparelho e chequei a barra de notificações. Eram aqueles cuzões, que saco.

 [Desconhecido]: A regra número 3 foi quebrada.

[Desconhecido]:Aguarde sua punição e lembre-se de não repetir isto novamente.

  — Meu pai amado, que merda eu fiz? - perguntei a mim mesmo, estava incrédulo minha expressão denunciava o quanto eu estava assustado. 

  Os dois me encaram ainda confusos, eu só queria entender a regra que eu tinha quebrado até me tocar que falei para os dois babacas que eu estava jogando. E é claro que eu estava com medo, afinal, podia ser uma punição dolorosa.

   — Merda, Merda! - resmunguei - Como eu pude me esquecer esse detalhe estúpido! 

  — O que você esqueceu, cara? - Irving questionou-me confuso.

   — Eu não devia ter dito nada pra vocês. - passei a mão no cabelo e respirei fundo. - Ouçam com atenção, ninguém além de vocês dois devem saber sobre a minha ligação com este jogo. Para segurança de vocês evitem comentar sobre isso e vê se não se metam nessa confusão. - disse em um tom autoritário e os dois assentiram. 

  Me levantei e sai às pressas do refeitório, precisava dar um jeito de sair daquela escola o quanto antes. Passei pelo corredor observando atentamente qualquer um que me parecesse suspeito. Os corredores eram repleto de câmeras e eu sabia que se estivesse sendo observado de alguma forma, era através delas. Abri meu armário e guardei os livros, em seguida caminhei rapidamente até a saída, tomando o máximo de cuidado para não ser visto. 

  Eu não poderia, de jeito nenhum, fugir pela parte da frente, poderia ser visto por alguém da diretoria e eles entrariam em contato com minha mãe nos instantes seguintes. Optei por sair pelos fundos, era mais viável, só que merda, eu precisava passar por um beco e lá no fundo eu sabia que minha sorte acabaria ali.

  E bem, meu palpite não estava errado. 

  Bastou alguns passos depois da saída para dar de cara com uns 7 homens encapuzados, eles eram grandes e eu diria que bem fortes. Os caras me cercaram e eu não tive para onde correr, o medo era visível em meus olhos e eu sentia que poderia chorar como uma maricona naquele momento. 

   E droga, eu estava tão fodido!