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História Inseparáveis - O Santuário da Raposa


Escrita por: Kitsune_night

Notas do Autor


Talvez eu esteja um pouco atrasada.

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Capítulo 9 - O Santuário da Raposa


Fanfic / Fanfiction Inseparáveis - O Santuário da Raposa

Na manhã seguinte, como de costume, nos juntamos para o café em volta da bancada - que separava a pequena cozinha da sala de jantar ao lado. Embora não tivesse dito nada, Tiffany agarrava-se a sua xícara como se segurasse um punhal, eu podia sentir que ela poderia jogá-la em mim a qualquer instante.

Depois da nossa conversa na noite anterior, ela havia se mantido em um silêncio perturbador, e eu não conseguia entender o que poderia tê-la feito se sentir daquela forma, visto que eu não tinha culpa em estar sendo perseguida. Por outro lado, eu não me sentia no direito de tirá-la de sua quietude, de alguma forma me sentia culpada pela situação.

Embora as garotas já estivessem habituadas ao meu silêncio matinal, o fato de Tiffany e eu estarmos imersas em um clima estranho e pesado não passou despercebido por Priscilla e Isis. As duas trocavam olhares cúmplices, como se estivessem pensando exatamente na mesma coisa.

- Tá legal, quanto tempo vai levar? – Priscilla começou, enquanto largava sua caneca sobre a mesa, cruzando os dedos em frente ao rosto.

- O que? – ergui o rosto instantaneamente, surpresa com a súbita questão. Tiffany acompanhou-me no sobressalto.

- Ah, corta essa! Vocês estão muito quietas! – Priscilla continuou, enquanto apontava de mim para Tiffany com seu pepero[1] de chocolate em mãos.

- Você sabe que gosto de silêncio pela manhã. – respondi quase imediatamente, novamente baixando os olhos para minha xícara quase intocada.

- Claro, a gente sabe disso. Mas você nunca evita de falar com a Tiffany, de qualquer forma. – Isis finalmente se pronunciou, aproximando-se um pouco mais de Priscilla. – Mesmo que queira silêncio, você nunca a ignora. Ah, não mesmo, ela não.

Tiffany e eu nos entreolhamos ainda emudecidas. De certa forma Isis tinha razão, eu nunca deixei de responder quando Tiffany se dirigia a mim pela manhã, por mais que meu humor estivesse estragado.

- Eu só não me sinto bem hoje, não se preocupem. – Tiffany disse simplesmente, enquanto sorria vagamente para as duas a nossa frente.

Nenhuma delas respondeu prontamente. Priscilla, que estava sentada a frente de Tiffany, a olhava com cuidado, como se analisasse cada centímetro de seu rosto, procurando por algo que nem mesmo ela deveria saber o que era. Acompanhei o olhar de Priscilla, eu sabia que não deveria me meter, se Tiffany havia dado uma resposta como aquela, significava que realmente não queria falar sobre o ocorrido.

- Até quando vocês vão continuar com isso? Sabemos que vocês duas tem assuntos que não contam para mim e para a Isis. – Priscilla soltou finalmente depois de muito tempo. – Não é de agora que fingimos não perceber que vocês falam e agem sobre coisas que não sabemos o que é porque vocês não nos contam! Afinal, não confiam em nós? Não somos todas amigas?

Novamente Tiffany e eu fomos pegas de surpresa. As palavras de Priscilla nos caíram como um balde de água fria numa manhã gelada. Não havia como negar que, desde sempre, Tiffany e eu compartilhamos mais segredos entre nós do que com as outras. Mas isto não podia ser visto como uma preferência, mas sim como um caso de maior identificação e, muitas vezes, de acaso.

- Não é bem assim! Eu sempre conto tudo para vocês. – afirmei, juntando as sobrancelhas.

- Claro, depois de contar a ela primeiro e depois de muito tempo. – Isis retrucou, irônica.

- Não é verdade! – insisti, procurando os olhos de Tiffany na esperança de que ela me desse algum apoio, mas em vão.

- Eu só queria dizer que Hideki vem até aqui esta tarde. – Tiffany soltou em meio ao meu fogo cruzado com Priscilla, intermediado com o sarcasmo camuflado de Isis.

Paramos imediatamente a discussão, nos virando atentamente para ela.

- Então quer dizer que finalmente iremos conhecê-lo? – não consegui evitar que minha voz se tornasse mais propensa a irritação.

- Já não era sem tempo! Estava quase achando que não havia noivo nenhum! – Priscilla automaticamente levantou as duas mãos em comemoração, claramente esquecendo o assunto anterior.

- Aliás, por que não vimos nenhuma foto dele? – Isis questionou de repente.

- Ah... por que? – Tiffany precipitou-se, sua voz tremulava.

- Tiffany nunca foi de tirar fotos, por que iria começar agora? – intrometi-me, percebendo que a outra não conseguiria responder.

- Nossa, mas nem umazinha? – Priscilla resmungou.

- Ele também não é de tirar de fotos! – Tiffany completou rapidamente, dando um sorriso amarelo por final. – Vamos, temos que continuar os preparativos! - num pulo ela se levantou, desconversando.

- Aonde vamos hoje? – Priscilla questionou com a voz lânguida.

- Vamos ao jinja[2], preciso resolver umas coisas com os sacerdotes. – Tiffany respondeu, enquanto sumia pelo corredor rapidamente.

- Na onde? – Priscilla gritou para alcançá-la, com uma expressão engraçada de confusão enquanto movia-se para ajudar Isis a retirar as xícaras do balcão.

- No santuário! – fomos capazes de escutar a voz risonha de Tiffany ecoar pelas paredes a nossa volta, vinda de algum lugar acima de nós.

- O que a gente vai fazer lá? – Priscilla virou-se para nós, com uma cara de extrema preguiça.

- Ora! Onde se fazem casamentos, Priscilla? – retruquei, irônica.

- Vocês também perceberam que ela mudou de assunto muito rápido? – Isis questionou repentinamente.

Embora o clima tivesse se tornado descontraído rapidamente, na mesma velocidade voltou a tensão com a fala de Isis.

- É verdade. E você a acobertou, não foi? – Priscilla dirigiu-se a mim, interrogativa.

- Claro que não, eu só disse o que estava pensando! – comecei, tentando salvar minha pele. - Tiffany nunca gostou de tirar fotos e os caras japoneses são bem chatos com isso também. Não sei o motivo de estarem tão preocupadas. Vamos conhecê-lo hoje, certo? Então tiraremos todas as dúvidas!

Com grande custo acabei conseguindo fazê-las mudar o rumo da conversa, e então nos apressamos para acompanhar Tiffany ao santuário.

Viajamos por quase uma hora, saindo completamente da agitada Tóquio e rumando para um lugar afastado, pacato e repleto de uma vegetação ainda fracamente encoberta por neve. A diferença gritante entre os cenários era simplesmente fantástica, como se tivéssemos saído de um filme e pousado diretamente em outro.

- Chegamos. – Tiffany nos avisou enquanto apontava para uma grande construção que se erguia sob uma montanha.

Olhando pela janela vimos ao longe um largo prédio arcaico de três andares, no melhor estilo japonês que poderíamos esperar. A construção reluzia ao sol da manhã, fazendo-a parecer completamente feita de ouro; seu telhado ainda segurava grande quantidade de uma neve derretida e mole; era quase encoberta por pinheiros verdejantes e salpicados de branco, tão altos quanto, e um grande lago o rodeava. A visão era majestosa e, enquanto pude, contemplei a cena com as bochechas grudadas na janela, boquiaberta.

- Vai babar no vidro, Lara. – Isis comentou no banco de trás, fazendo as outras garotas rirem e me tirar do devaneio.

Começamos a subir a ladeira íngreme que serpenteava a montanha, ladeada com pinheiros de diversos tamanhos e tipos. Vez ou outra, Tiffany diminuía a velocidade, espreitando o caminho a procura dos pequenos animais que habitavam a vasta floresta que protegia o santuário. O gelo por ali já estava praticamente derretido, e o caminho já havia sido aberto anteriormente por outros carros.

- Tem raposas aqui, preciso ter cuidado. – Ela explicou simplesmente.

- Sério? – Priscilla e eu falamos em coro, surpresas e animadas com a ideia.

- Sim. – Tiffany nos lançou um riso divertido – As kitsunes[3], as raposas, são os animais adorados por esse santuário. Dizem que são elas que protegem esse lugar e tem várias delas aqui.

- Uau! – sussurrei.

- Será que veremos algumas? – Priscilla adiantou-se, agarrando o encosto do banco de Tiffany, olhando para os lados, animada.

- Talvez. – Tiffany a respondeu sorrindo, observando-a pelo retrovisor. – Se você ver uma, dizem que lhe dará sorte.

Chegamos finalmente a um amplo estacionamento de pedras, onde mais alguns poucos carros estavam estacionados. Tiffany nos avisou que teríamos que continuar o percurso a pé, o que fez Priscilla gemer de infelicidade – ela usava botas com um pequeno, mas relevante, salto.

Ao tomar novamente o caminho, logo avistamos o primeiro torii[4]. O portal, enorme e de um vermelho cintilante, indicava que o santuário se aproximava, o que nos deu um pouco mais de esperança, mas que logo foi desaparecendo a medida que mais arcos apareciam. Ao final de cinco portões chegamos a entrada principal, antecedida por um enorme campo de pedrinhas cinza brilhantes, que estralavam à medida que pisávamos sobre e elas. Cada lado da entrada possuía duas grandes estátuas de bronze representando raposas.

Ao passar a entrada, atravessamos uma grande passarela apinhada de turistas e devotos, dos lados, os jardins ostentavam sua grama rala, que retomavam a força após o inverno. Pequenas árvores espaçadas e graciosas também contornavam todo o caminho, algumas eram retorcidas, como se o vento tivesse se encarregado de moldá-las. Por todos os lados víamos pequenas estátuas de raposa, cada qual em uma posição. Uma pequena cerca separava o caminho dos jardins, limitando a proximidade dos visitantes.

A medida que nos aproximávamos do santuário, o grande lago começava a se desenhar a frente de nós. Não parecia estar congelado, e as águas eram escuras, esverdeadas, mas límpidas e agradavelmente calmas, porém, estranhamente convidativas. Instintivamente me aproximei mais das garotas. Grandes quantidades de água nunca me foram bem-vindas, eu sempre tinha a sensação de que algo me chamava para dentro dela, e nunca era algo bom.

O santuário erguia-se bem no meio do lago e era acompanhado por algumas pequenas ilhas ao redor. Uma grande ponte de madeira vermelha levava até o prédio que, mais uma vez, estava apinhada de turistas. Acima de nós, pássaros das mais diversas cores sobrevoavam árvore por árvore com suas incessantes melodias. Tudo parecia mágico demais para ser verdade. Meus olhos não conseguiam acompanhar todas as informações.

- Podem ficar por aqui. Eu vou até aquele pavilhão fazer o que preciso. Quando voltar, entramos no santuário, pode ser? Só não sumam. – Tiffany nos avisou, apontando para um prédio marrom próximo a nós e se afastando lentamente.

Concordamos com Tiffany e continuamos a observar o lago e suas pequenas ilhas espalhadas pela superfície, idealizando como aquele cenário seria perfeito para a cerimônia que presenciaríamos dali alguns poucos dias.

 

[1] Biscoito doce em forma de palito coberto de chocolate.

[2] Santuário Xintoísta.

[3] Palavra japonesa para “raposa”.

[4] Portão tradicional japonês ligado à tradição xintoísta e assinala a entrada ou a proximidade de um santuário.


Notas Finais


Leiam também: Gorillaz: Make Me Feel Good (http://fics.me/7861946)

"Depois de Paula Cracker, o coração do doce e gentil 2-D se fechou para tudo e qualquer pessoa que quisesse transpor a armadura que ele criou para si próprio em auto-defesa. Ele só não imaginava que não conseguiria ser capaz de impedir que o tiro de uma AK 47 estilhaçasse por completo essa barreira."


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