História O meu professor de química - Minha plantinha

Entrei em casa e voei para a cozinha, me debruçando sobre a pia e abrindo a torneira. Não acredito que eu estou de rolo com Louis. Suspirei, molhando o rosto e seguindo para a geladeira, vendo se tem alguma coisa que vale a pena comer. Escondido lá no fundo, com um monte de legumes na frente disfarçando, tinha um pedaço de bolo. Eu abri um sorriso vitorioso. Se Niall não sabe esconder comida, só lamento para ele. Achado não é roubado. Coloquei o bolo em cima da mesa e comi tudinho, lavando o prato que estava sujo e o guardando no armário. 

No dia seguinte, o primeiro tempo é química. Adentrei a sala de aula e me sentei em meu devido lugar. Eu estou ansiosa para ver Louis, mas também estou nervosa. Como a gente vai se tratar na escola? Eu não tenho ideia do quão difícil vai ser para nós fingirmos que nada aconteceu. 

- Maliaaaaaaa! - Me chamaram.

Eu me virei e encontrei meus amigos. 

- Oi - falei para eles.

- Eu trouxe um presente para você! - Lily disse, abrindo um sorriso do tamanho de um elefante. 

Eu abri um sorriso tão grande quanto o dela.

- Sério? Ownnnn! - Ela me entregou uma plantinha dentro de um vasinho verde. - Lily, assim eu vou chorar! - Eu disse, abraçando a plantinha, emocionada.

- Ah não, Malia. Se você chorar eu pego de volta - ela ameaçou.

- Não! Não vou chorar, prometo - eu prometi, apertando ainda mais a plantinha em meus braços. - Olha o que a Lily me deu - eu mostrei para Harry. Ele sorriu divertido para a gente.

- Que legal.

- Eu sei. Niall, olha a minha plantinha - eu coloquei o vaso na frente do rosto do meu irmão. 

- Eu vi quando ela te entregou, Malia - ele revirou os olhos.

- Chato - eu resmunguei e desviei o olhar, vendo que Ashely olhava com divertimento para a gente. Fui até ela. - Olha a minha plantinha! - Mostrei o vaso para ela.

- Que bonitinha! - Ela sorriu, pegando o presente de Lily nas mãos e o analisando. Ela me devolveu assim que Louis entrou na sala.

- Oi, alunos - ele disse, entrando na sala e indo para a mesa.

- Sr. Tomlinson, olha a minha plantinha! Lily quem me me deu - eu estendi a plantinha para ele e sorri.

Louis olhou para as minhas mãos e depois olhos nos meus olhos.

- Que bonita - ele sorriu. - Igual você - ele disse em um sussurro incrivelmente rouco, sexy, e eu sorri, sem graça. - Eu elogio a planta e é você quem cora? - Ele perguntou, divertido.

- Eu vou me sentar, a plantinha deve estar cansada - eu respondi, dando as costas para ele e me sentando em meu lugar.

- Você gostou muito, né? - Lily me perguntou, feliz.

Eu assenti várias vezes.

- Muito, muito. Obrigada, Lily - eu a abracei e ela retribuiu.

- Vou nem falar o que essa planta parece - Zayn disse, dando de ombros e olhando para frente.

Eu revirei os olhos, já sabendo o que ele falaria.

- Como vocês sabem as provas começam em duas semanas. Eu vou comecar o penúltimo conteúdo para a avaliação de vocês, então prestem atenção. Esse assunto é moleza, fácil fácil - Louis garantiu. - Eu vou anotar no quadro e é para vocês copiarem.

Ele começou a anotar o assunto e eu abri meu caderno, copiando também. Logo Louis começou a explicar e a responder dúvidas. Quando a campa bateu, todo mundo começou a conversar e a fazer um barulho alto por conta das várias vozes. Louis recolheu as coisas e antes de sair, me encarou. Ele abriu um sorriso timido e eu me encantei. Nunca vi esse sorriso dele, e é o meu favorito até agora. Abri um sorriso parecido com o seu, meio envergonhada por ter um sorriso favorito dele, e ele foi embora.

Cameron entrou e veio até a nossa mesa, fazendo um toque de mão com Liam.

- Como foi o fim de semana de vocês? - Ele perguntou. Segunda é o único dia em que não temos aula de matemática.

- Foi bom, eu não fiz nada - Harry disse.

- Nem eu - Lily disse, frustrada.

- Mas parece que ontem você se divertiu para caramba - Liam disse, olhando direto para ela.

- Mas ontem eu só saí com Travis - Lily disse, franzindo a testa. 

- Exatamente - Liam disse, abrindo um sorriso irritado.

- Lily te trocou, Liam? Sinto muito, cara - Cameron disse sorrindo, jogando lenha na fogueira.

- Vocês não vão esquecer o beijo nunca? - Lily perguntou, irritada. - Eu e Liam não temos nada, que saco - ela revirou os olhos.

Olhei para Liam e ele estava bem tranquilo.

- Eu quero assistir a aula de matemática - ele disse, se espreguiçando e bocejando. Aposto que o bocejo não é de verdade.

Cameron soltou um risinho e foi para a mesa dele, pegando um pincel e começando a resolver exercícios do assunto. 

- Eu tenho duvida na dezessete - eu gritei para ele.

Ele colocou a questão no datashow e começou a resolver, tirando minhas duvidas.

Na hora do lanche nós nos sentamos embaixo da árvore em que lanchamos sempre e começamos a comer. Enquanto a gente conversava, uma garota que Liam sempre pega em festas se aproximou da gente.

- Vai ter uma festa na casa do Abs no sábado - ela entregou um papel azul para Liam e piscou para ele. - Vocês todos estão convidados - ela disse antes de ir embora.

- Já tô dentro - Zayn disse, pegando o papel das mãos de Liam e o analisando.

- A casa dele é perto da minha casa, vocês podem dormir lá quando a festa acabar, se quiserem - Harry disse.

- Opa! - Niall esfregou uma mão na outra e sorriu. A cena me lembrou uma mosca.

- Será que o Travis vai? - Lily se virou para mim.

- Eu não sei. Quer o meu celular emprestado para ligar para ele e perguntar? - Liam atirou irônico, estendendo o celular para ela.

- Não precisa, Liam - ela sorriu amorosa para ele. - Eu posso procurar por ele depois das aulas, mas obrigada - ela deu beijo na bochecha dele. Lily sempre foi meio lerda para ironias, então não percebeu a de Liam e interpretou como se ele tivesse falado de verdade, com boas intenções.

Liam olhou para ela com culpa e então suspirou.

- Desculpe - ele pediu, abaixando o olhar para não encontrar o dela.

- Pelo o que? - Ela perguntou, confusa.

Liam abanou a cabeça e Lily deu de ombros.

- Então... - Niall começou, para quebrar a tensão.

- Como foi o aniversário da sua priminha? - Eu perguntei para Harry.

- Foi legalzinho - ele disse. - Vai ter o da minha avó daqui a vinte dias. Vocês querem ir? - Ele convidou.

- Eu quero! - eu disse para ele.

- Eu também - Niall disse.

- Se eles vão, eu vou - Zayn deu de ombros.

- Então vai todo mundo? - Harry perguntou, olhando para Lily e Liam, que assentiram, em concordância.

A campa bateu e nós voltamos para a aula. O restante da manhã passou calmo e devagar, quando quando era a hora do almoço a gente já tinha decidido o que iríamos fazer. 

- Então vocês vão todos lá para casa? - Harry perguntou para nós enquanto pedia, pelo telefone, para a mãe fazer a famosa lasanha.

- Isso - Zayn respondeu, ainda abraçado a mim.

Nós vivemos na casa uns dos outros, isso é tipo rotina. Nós somos amigos desde a quinta série; quero dizer, o sexteto foi fundado' na quinta série, mas alguns de nós já éramos amigos faz tempo, como por exemplo: eu, meu irmão, Zayn e Liam somos amigos desde o berçário - nossas mães se conheceram naquelas aulas de ioga para gestantes. Harry entrou no nosso "grupo" na quarta série. Confesso que a gente começou a falar com ele só para pegar as respostas das tarefas - e às vezes as respostas durante as provas -, mas depois de tantas tarefas compartilhadas, ele virou um dos nossos melhores amigos. E na quinta foi quando Lily chegou na escola. O primeiro a falar com ela foi Liam, já que eles eram da mesma sala. E na hora do lanche, quando ela veio se sentar conosco, com aquelas maria-chiquinhas no cabelo, foi que a gente se conheceu. Foi amizade no exato momento. Lily estendera o pedaço de bolo que ela trouxera para escola e me ofereceu. Eu aceitei por educação, claro. Ela me conquistou ali. Desde então somos melhores amigas.

Nossos pais são amigos também. Como já disse, alguns são desde a maternidade, mas os de Harry e Lily conheceram os nossos (meus/ de Niall, Liam e Zayn) na nossa primeira suspensão como sexteto - que foi na quinta série mesmo, no nosso primeiro ano como os seis amigos. Foi durante essa suspensão que o nome pegou. A mãe de Harry quase surtou, pois ele sempre foi quieto, e essa era a segunda suspensão dele nos dois anos que ele estava na escola - não fazer tarefa, ficar conversando, esquecer material e outras coisas parecidas resultam em uma anotação, quando chega em um limite de anotações, você é suspenso. Ficamos com medo dos pais dele proibirem a nossa amizade, mas os pais dele conheceram a gente e se apaixonaram pelo nosso grupo de amigos. Então eles promoveram uma festinha para nós seis e os pais de todos foram - inclusive os meus, que ainda eram casados na época. Depois dessa eles faziam mais festinhas, mas nós sabíamos que não eram para a gente, e sim para os nossos pais se encontrarem.

E foi assim que a nossa amizade começou. Teve uma época em o nosso sexteto era de oito - octeto, no caso - mas isso não interessa, não mais. 

- Tchau, sexteto - ouvi uma voz soar e me despertei dos meus pensamentos, olhando para a frente e vendo Louis parado perto da gente, olhando diretamente para mim.

- Tchau, Louis - Liam disse, fazendo um toque com ele.

- Tchau, professor - Lily disse, sorrindo para ele.

- Tchau, Sr. Tomlinson - Eu sorri para ele, mas ele não retribuiu, estava sério.

- Tchau - Niall, Harry e Zayn responderam juntos. A voz de Zayn soou por cima dos meus ombros e eu me assustei, lembrando que ele ainda estava me abraçando por trás.

Louis abanou a cabeça em despedida e caminhou para seu carro, não sem antes me dar um último olhar. 

- Vamos, então? - Niall perguntou.

Nós fomos cada um para o carro em que veio e seguimos para a casa de Harry. No caminho meu celular apitou, indicando uma mensagem. A tela brilhou com a mensagem de Louis.

"Fiquei com inveja de Zayn por ele poder te abraçar livremente."

Foi o que disse a mensagem. Antes que eu pudesse responder, veio outra.

"Quer fazer alguma coisa agora?"

Meu coração se apertou, agora seria o primeiro fora em que eu daria em Louis.

"Eu disse que iria para a casa de Harry junto com os outros... desculpaaaaa! Podemos deixar para outro dia?"

Logo veio a sua resposta.

"Sim, sem problemas. Bom almoço"

E depois dessa veio outra.

"Você estava linda hoje, aliás. Igual a sua plantinha."

Eu sorri, sentindo minhas bochechas corarem.

- Tá vermelha por que? - Meu irmão perguntou.

- Não sei - menti em resposta.

Nós paramos no sinal e o carro ao lado buzinou. Logo Zayn baixou o vidro do seu carro e deu a língua para a gente. Eu abri a minha janela, que era a que estava perto dele, e dei língua para ele.

- Parece um piriq... Porra, Lily! - Zayn dizia mas um barulho soou e logo ele gritou. 

- NÃO CHAMA MINHA AMIGA ASSIM - ouvi a voz de Lily soar irritada.

- Eu nem disse nada! - Zayn revidou.

- O que ele disse? - Niall perguntou para mim. Estava difícil ouví-los.

- Que ele nem disse nada.

O sinal abriu e nós continuamos o caminho para a casa de Harry. 

Quando chegamos, abri e porta e entrei, indo para a cozinha.

- Oi, tia - falei para a mãe de Harry, indo até ela e a abraçando.

- Malia, minha filha - ela sorriu grande para mim, abraçando- me forte. Quase que perco o ar. - Fiz a lasanha que você adora! - Ela disse, animada. 

Se você elogiar a comida da mãe da Harry ela vai cozinhar para você para sempre, contando que você continue elogiando. 

Eu abri um sorriso guloso.

- Eu aaaaamo a sua comida! Vou comer muito, muito - eu falei para ela. Tia Anne é tipo avó. Enche o prato da visita de comida. E eu adoro isso.

- Tem que comer mesmo, Malia. Está tão magrinha... - Ela disse, me analisando.

- Compra um óculos, mãe - Harry disse, entrando na cozinha e me lançando um olhar de deboche.

- Malia magra só em sonhos - Zayn concordou e eu revirei os olhos.

- Você também, meu filho - ela disse olhando para Zayn - está magrinho magrinho.

- Ah, tia. Faz parte do meu charme - Zayn piscou para ela, que sorriu.

- Daqui a pouco a comida tá pronta. Cadê a Lily, o Niall e o Liam? 

- Na sala - Harry respondeu, se jogando em uma cadeira.

Depois de duas horas todos já haviam ido embora, com exceção de Zayn, que ficou lá mesmo. 

Estava em meu quarto, eram três horas da tarde, quando recebi uma mensagem de Lily.

"Malia eu pksso ir ai na sua casa fzr aquele negocio ???"

Franzi o cenho.

"Q negócio?"

"Aquele negocio" ela respondeu.

"Qual?" Eu não fazia ideia de qual negócio Lily estava falando.

"Pornozinho, Malia" 

A confusão se esvaiu e tratei de responder.

"Aaaaah simm" mandei e logo complementei: "pode vir".

"Ta to indo obrrigada"

Entrei no chat com Louis e mandei uma mensagem para ele.

"Bora tomar aquele sorvete agora?"

Não demorou muito ele respondeu.

"Tô passando aí"

Troquei de roupa, passei um perfume e desci no exato momento em que a campainha tocou. Abri a porta e dei de cara com Lily.

- Oi, Malia - ela sorriu para mim e eu a abracei.

- Oi, Lily - dei passagem e ela entrou. - O Niall tá no quarto dele, mamãe tá trabalhando e eu vou sair. Pode ficar tranquila - avisei a ela e o carro de Louis estacionou em frente à minha casa. Fiquei preocupada com a chance de Lily saber que eu ia sair com ele, mas o vidro era escuro demais para enxergar os traços do rosto de quem tava dentro.

- Tá, obrigada - ela disse, subindo as escadas. - Beijos - ela gritou do meio dela.

- Beijos - eu saí de casa, fechando a porta e caminhando até o carro de Louis. 

No caminho eu mandei uma mensagem pro meu irmão avisando que eu ia sair.

Coloquei o celular junto com o dinheiro no meu bolso e entrei no veículo. Louis se aproximou e selou nossos lábios com um beijo calmo, tranquilo.

- Oi - ele disse, dando mais um selinho e voltando para o seu assento, dando partida no carro.

- Oi - eu sorri, me ajeitando no banco.

- Lily tá namorado o Niall? - Ele perguntou, curioso.

Eu franzi o cenho, evitando uma gargalhada.

- Não, por que? - Indaguei, sem saber o motivo da pergunta.

- Porque eles estão sozinhos em casa - ele deu de ombros. - Imaginei que como você está comigo, eles estariam juntos, você sabe, namorando.

Eu soltei um risinho.

- Não é isso o que Lily foi fazer lá em casa.

- Então o que é? - Olhei para ele. Louis é bem curioso. Parece até o fofoqueiro do meu irmão.

- Ela foi usar a... hã... a internet, ela está sem na casa dela - eu respondi, escolhendo com cuidado as palavras. O que não era mentira pois Lily de fato foi lá em casa fazer uma pesquisa. Erótica ou não, continua sendo uma pesquisa

- Entendi - ele murmurou. - Eu conheço uma sorveteria mais afastada - ele começou, receoso. - Você se importa se formos lá?

Eu prendi o suspiro. Eu sabia que nós teríamos que ser cuidadosos para que não nos vissem, mas daí ter que escolher com cuidado qual lugar ir ao invés de ir em qualquer um é frustrante. Não ponho a culpa em Louis, ou em mim. Ponho a culpa na vida mesmo.

- Não - respondi e percebi que foi com sinceridade.

Apesar de querer ir nos lugares comuns com Louis, eu não me importo em ir com ele em um menos movimentado, por um motivo simples: estaríamos juntos. Eu gosto bastante da companhia dele, é bem divertida e pacífica.

- E as nossas aulas? - Ele perguntou, mudando de assunto.

- Podemos marcar uma amanhã - eu respondi, pensativa. - As provas estão chegando, preciso estudar para elas.

Louis me olhou rapidamente.

- Posso te ensinar biologia também, se quiser - ele disse. - Eu era bom quando ainda estudava.

- Como você era na escola? - Eu perguntei, curiosa.

Louis abriu um sorriso.

- Definitivamente não como você - ele disse e eu soltei um risinho. - Talvez como Harry - ele murmurou, pensativo.

- Mas o Harry também bagunça - eu protestei. Harry não é nenhum santo na sala de aula.

- Mas ele faz todas as tarefas e as notas dele são boas - ele respondeu.

- Eu também faço as tarefas! - Eu retruquei e Louis me deu uma olhada bastante significativa. Eu fiz bico, sabendo que ele sabia que eu não fazia todas as tarefas, que muitas eu pegava dos meus amigos.

- Você sempre foi assim na escola? - Ele quis saber.

- Assim como?

- Malandra - ele respondeu com um sorriso.

Eu soltei um risinho. Não tem como esconder isso, desde a creche eu sou a aluna que não quer fazer nada a não ser conversar e dormir. E a lanchar. Eu adoro a hora do lanche.

- Meus pais até tentaram me colocar de castigo quando eu era mais nova - me lembrei de quando eles disseram que eu não ia comer nada que tivesse açúcar se eu não fizesse todas as tarefas que eu tinha deixado de entregar. Isso foi na segunda série. - Mas não adiantava nada. 

- Estávamos falando sobre vocês na sala dos professores - ele disse. - Daniel contou da sua resposta na aula dele - Louis prendeu a gargalhada e eu sorri amarelo.

- Poxa, eu fiquei muito triste no dia - eu falei.

Louis soltou um risinho e pegou minha mão, a beijando antes de colocá-la em sua perna e ficar acariciando-a sempre que podia. Logo chegamos na sorveteria e Louis estacionou o carro, quando eu ia abrir a porta ele se manifesta.

- Quase ia me esquecendo! - Disse de repente, me dando um pequeno susto. 

Louis se virou para o banco de trás, pegando uma sacola. Quando ele voltou a posição normal, me estendeu a sacola marrom terra. 

O olhei rapidamente, negando.

- Só olha - ele pediu, casualmente.

Eu não posso aceitar um presente de Louis. Não posso mesmo. Então, a contra gosto, abri a sacola, olhando para dentro. Soltei um risinho, o olhando sem acreditar.

- Não acredito! - Eu disse, puxando de dentro dela um regador pequeno de cor amarelo pastel.

- Para você regar a sua plantinha - ele explicou, um pouco vermelho. Eu sorri, olhando para o regador. - Insisto que aceite... por favor - ele murmurou baixinho. Eu desviei o olhar do objeto em minhas mãos para seus olhos claros.

- Obrigada - eu sorri um pouco mais.

Louis se inclinou para frente, beijando meus lábios.

Saímos do carro e entramos na sorveteria. Louis segurou a porta e esperou que eu entrasse. O lugar de fato era mais longe que a parte em que morávamos, mas ainda assim tinham várias pessoas ali, a maioria eram crianças acompanhadas por adultos.

Caminhamos até o balcão e servimos nossa taça. Eu coloquei duas bolas de baunilha e uma de morango. Louis colocou uma de chocolate amargo, uma de chocolate normal, uma de amendoim, uma de creme e uma de flocos.

Seguimos para a balança e após pesarmos nos sentamos na mesa. Logo a garçonete veio com as nossas águas.

- Quer provar? - Louis perguntou.

Eu balancei a cabeça, recusando.

- Não gosto de amendoim - eu falei. Um barulho alto soou e eu me virei, assustada. Um choro irrompeu e eu logo avistei uma criança caída no chão. Os responsáveis por ela logo a acudiram. - Coitada... - eu murmurei, voltando a comer meu sorvete. - A mamãe dizia que eu e Niall deixávamos ela e o papai loucos - eu comentei, comendo o sorvete de morango.

- Por que? 

- Porque nós éramos agitados - eu expliquei, dando de ombros. - Logo quando eu aprendi a andar de bicicleta sem rodinha eu resolvi me aventurar. Desci a ladeira lá perto de casa, mas fui com tanta velocidade, que, quando freei, eu voei por cima da bicicleta e caí nas flores de uma senhora. Quebrei todos os gira-sóis dela. A senhora tratou de me ajudar, mas meu joelho estava sangrando muito. Niall e Zayn correram para chamar meus pais. Aí de lá eu fui pro hospital. Levei vários pontos - eu disse, animada, esticando meu joelho esquerdo para fora da mesa e mostrando a cicatriz um pouco menor que o meu dedo mindinho para Louis, que estava de frente para mim na mesa.

Louis abriu um sorriso entretido, me olhando e se curvando um pouco para frente. Ele levou uma colher de sorvete a boca e, quando engoliu, disse.

- Eu também tenho uma cicatriz - ele começou. - Mas ela é no pé - eu desviei o olhar de seus olhos azuis-esverdeados e olhei para seus pés, que estavam calçados pelo tênis.

- Eu quero ver, algum dia - eu disse para ele. - Mas até lá - eu sorri -, me conta como você a ganhou.

Louis levou mais sorvete a boca.

- Eu fui brincar com uns amigos no meio de um terreno abandonado. Enquanto eu corria eu pisei em um cano quebrado. Aí rasgou - ele disse, fazendo uma careta.

- Eu tenho uma no pé também - eu disse. Louis me olhou rapidamente, surpreso.

- Outra? - Ele perguntou, se ajeitando na cadeira para me ouvir melhor.

- Eu tenho três - confessei. Louis piscou, com um sorriso surpreso.

- Estou ouvindo - ele me encorajou a continuar.

- A do pé foi ano retrasado. Eu e Niall inventamos de fazer um bolo porquê a gente tava morrendo de fome e não tinha nada nem ninguém em casa. No meio da receita, quando dizia que era necessário três ovos, Niall quebrou os três e enquanto eu estava concentrada com o trigo, ele quebrou um na minha cabeça. Eu joguei trigo nele e ele jogou as cascas dos ovos usados em mim. No caminho para pegar açúcar para jogar no meu irmão, eu deixei um copo cair. Quando eu ia jogar açúcar nele, eu pisei em cima do vidro. Ele entrou no meu pé. Niall ligou desesperado para uma ambulância, ele até me ajudou a tomar um banho, mas ainda assim eu fui toda suja de ovo para o hospital. Mamãe ficou uma fera quando viu a cozinha - eu contei, me lembrando dos berros da minha mãe quando chegou em casa e viu a cozinha fedendo a ovo e toda cheia de trigo.

Louis soltou uma gargalhada.

- Um caco de vidro? - Ele perguntou, chocado.

- Uh hum - eu ri também, comendo mais sorvete.

- E a outra?

- A outra foi quando eu tinha onze anos. Eu e Niall conseguimos essa juntos. Estávamos em uma das festas de trabalho dos nossos pais e estávamos com tédio, não tinha nada para fazer. Então a gente decidiu brincar de subir e descer escadas. Niall teve a brilhante ideia de apostar quem descia a escada mais rápido. Mas acabou que ele tropeçou e eu me desconcentrei e tropecei também. Nós rolamos até o chão. Acabamos com a festa - eu disse, me recordando. - Eu quebrei um braço e Niall quebrou uma perna. Nós dois temos uma cicatriz aqui - eu apontei para a cabeça. - O cabelo esconde, mas se procurar dá para ver.

- Malia, você está sempre me surpreendendo - Louis disse, terminando seu sorvete. Eu dei de ombros, abrindo um sorriso.

Eu sempre fui muito desastrada. Vivia caindo e tropeçando e derrubando as coisas.

Meu celular tocou. Puxei o aparelho do bolso e vi o nome do meu irmão já tela.

- Oi, N... 

- O que a Lily tá fazendo aqui? - Ele disparou, assustado. Niall estava ofegante.

- Ela foi usar a internet para pesquisar uma coisa - eu franzi o cenho -, por que?

- Eu fui entrar no seu quarto e... 

Enquanto ele falava eu arregalei meus olhos, desesperada.

- Você entrou no meu quarto? - Perguntei apressada. Puta merda. Fodeu para Lily.

Louis me olhou com o cenho franzido.

- Entrei e...

- E a Lily? - Perguntei, preocupada. Será que ele viu Lily no ato?

- Ela estava tomando banho. Eu tomei um susto quando entrei lá para pegar minha camisa que você roubou e tinha gente. Pensei que era um assaltante tomando banho - ele explicou, tentando controlar a respiração.

Eu soltei o ar que só então notei que prendia. Ainda bem que Lily já tinha terminado de assistir quando Niall entrou. Aliás, só ele mesmo para achar que um assaltante iria tomar banho na casa em que ele estava saqueando as coisas.

- Que pesquisa que ela veio fazer aqui? - Ele perguntou, curioso.

- Cadê ela? - Eu perguntei, mudando de assunto.

- Calma - ele pediu e eu ouvi ele se mover. - Lily! - Ele deu um grito.

- Oi - ouvi a voz dela do outro lado.

- Lily, você está bem? - Eu perguntei. 

- Vou passar para ela - Niall murmurou.

- Oi, Malia - ela disse.

- Niall descobriu alguma coisa? - Eu perguntei.

- Não, quando ele entrou eu já tava tomando banho para ir embora.

- Tá bom. Tchau - eu me despedi.

- Tchau - ela disse.

Desliguei o telefone e Louis me olhou pensativo.

- Que confusão só por causa de uma pesquisa - ele disse, rindo baixinho.

- Nem me fale - eu respondi, abrindo um sorriso pequeno.

- Posso pedir a conta? - Ele perguntou e eu assenti.

Logo a garçonete veio e eu puxei meu dinheiro do bolso, estendendo a ela.

Louis abaixou meu braço com a mão direita e estendeu a esquerda, que segurava uma nota do mesmo valor que a minha.

Eu o olhei indignada.

- Louis! - Eu o repreendi.

Ele abriu um sorrisinho e piscou para mim.

A garçonete nos olhou confusa mas ao mesmo tempo entretida.

Eu olhei o nome dela no crachá.

- Hanna, não aceita o dinheiro dele - eu falei, tentando soltar meu braço do de Louis, mas ele é bem mais forte.

- Aqui, moça - Louis estendeu ainda mais o braço.

Eu olhei suplicando para ela.

- O dinheiro dele é falso! - Eu disse a primeira coisa que veio na minha cabeça. Louis arregalou os olhos, me olhando surpreso.

A garçonete caiu na gargalhada.

- Malia! - Louis me repreendeu e eu encolhi os ombros. - Me deixe pagar, pelo amor de Deus!

- Mas você já me deu um presente hoje. Esse é por minha conta - eu tentei me soltar do braço tatuado dele. - Você quer ver a minha plantinha? - Eu perguntei para a garçonete. - Minha melhor amiga quem me deu - com a mão livre, a que segurava o dinheiro, eu peguei o celular e fui na galeria, quando cliquei a foto da minha plantinha e mostrei para Hanna, vi que Louis já tinha pago.

Eu o olhei séria. Suspirei e olhei para Hanna.

- Essa é a minha plantinha - eu falei, ignorando Louis.

Não sou mal agradecida, ou mesquinha. Mas poxa, ele já me deu um presente hoje, e ainda ter que pagar é abuso. Totalmente desnecessário.

A garçonete me olhou estranho, mas abriu um sorriso engraçado.

- Que bonita.

- Parece a Malia - Louis disse e o olhei sem humor. - Não fica chateada comigo, Malia, por favor - Louis disse, agarrando minha mão e a apertando levemente. 

A garçonete se despediu e saiu.

- Mas, Louis, não custava nada você ter me deixado pagar.

- Mas esse é o nosso primeiro encontro - ele retrucou.

- E?

- E que você nem trabalha; deveria usar o dinheiro para comprar comida - ele sugeriu e eu o olhei incrédula.

- Mas isso é comida! - Eu retruquei, querendo rir. 

Louis levantou da cadeira e se inclinou sobre a mesa, beijando meu nariz. 

- O próximo é seu, então - ele disse.

- Tudo bem - eu respondi, aproximando nossos lábios e o beijando.

Já na porta de casa, Louis estacionou o carro e se virou para mim.

- Eu adorei a nossa tarde - ele disse, acariciando minha perna.

- Eu também - eu sorri para ele, indo para cima de Louis e colando nossos lábios.

O selinho se transformou em algo mais gostoso. Nossas línguas brincavam juntas enquanto eu acariciava os cabelos dele. Quando o ar se fez ausente, nos separamos. Eu olhei nos olhos de Louis e sorri, hipnotizada pelo azul esverdeado.

- Boa noite - eu dei um selinho em seus lábios finos.

- Durma bem - ele murmurou, me dando outro selinho.

Agarrei a sacola com o regador e desci do carro. Toquei a campainha e logo meu irmão apareceu, abrindo a porta para mim. Enquanto eu fechava a porta eu espiei a rua, vendo que Louis ainda estava estacionado, apenas me esperando entrar. Eu abri um sorriso bobo diante de seu gesto de preocupação e entrei em casa.