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História O Monótono Diário de Isaac - 28 de Novembro, 2018 - Quarta (13h15)


Escrita por: lyanklevian

Notas do Autor


Este livro, O MONÓTONO DIÁRIO DE ISAAC, está em fase BETA. Isso significa que essa ainda não é a versão final (passará por revisão, correção, essas coisas).

Caso você encontre frases mal escritas, erros ou qualquer coisa estranha no texto, ME AVISE SEM MEDO. Dessa forma, você estará ajudando uma aprendiz de escritora (eu) a melhorar o trabalho. 😊

Conto com a ajuda de vocês sempre que notarem algo a ser melhorado ✊

Um suuuper abraço da autora de Boys Love...

Lyan K. Levian 🐌

💙

Capítulo 136 - 28 de Novembro, 2018 - Quarta (13h15)


Fanfic / Fanfiction O Monótono Diário de Isaac - 28 de Novembro, 2018 - Quarta (13h15)

28 de Novembro, 2018 – Quarta (13h15)


De: [email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Conversas densas e risadas sinceras

 

Boa tarde, amiga! Acabei de almoçar, e estou escrevendo este e-mail do colchão em que tenho dormido. O Nicolas insistiu que queria ficar lá em baixo um pouco, porque estava se sentindo um prisioneiro no andar de cima, onde ficam os quartos e banheiro.

Se eu ficar aqui mais um minuto eu juro que vou derreter de tédio”, disse depois que eu trouxe nosso almoço para cima.

Então ele desceu as escadas com o maior cuidado do mundo, usando as muletas alugadas, e agora está perambulando no gramado com a cadeira de rodas enquanto atende a clientes curiosos sobre a perna imobilizada (a habilidade dele em desconversar o assunto é fenomenal). Parece que o Nicolas fica mais radiante quando fala com as pessoas sobre as plantas ou sobre o cultivo de morangos (que estão bem vermelhos e suculentos – pudera… nas mãos do Nicolas eu fico igual).

Quanto a mim, acho que ainda vou precisar de umas boas semanas até conseguir falar com alguém sem deixar todos preocupados pensando que sou uma assombração deprimida e de péssimo humor. Mas com o Nicolas algumas coisas melhoraram (mas, calma… Uma coisa de cada vez… Logo sua curiosidade será sanada).

Enquanto o Nicolas exercita os braços lá no quintal ao andar com a cadeira de rodas eu fico aqui na sacada do quarto, olhando o mundo acontecer sem mim (a propósito, já testei, e não é fácil andar com aquela coisa! Se eu dependesse disso iria ter que dar uma boa desenvolvida em meus braços antes de sair rodando como ele está fazendo).

Ah, enfim. Aconteceram coisas até que interessantes ontem, depois que mandei o e-mail para você. E foi por isso que resolvi lhe escrever hoje novamente.

Assim que fechei meu notebook, vim exatamente onde estou agora para ficar com o Nicolas. Me sentei de pernas cruzadas no chão ao lado dele, que estava na dita cadeira de rodas, e abracei a perna do Nicolas (não a machucada, a outra), apoiando minha cabeça no joelho dele. Senti um afago carinhoso na cabeça.

Está bem longo. Não vai demorar para você conseguir prender o cabelo, Zak. Vai ficar legal”.

Dei um sorriso ao ouvir isso, mas durou só um segundo.

Já daria para prender um pouco no topo da nuca”.

Uhum, mas suas franjas ainda continuariam caindo em seus olhos. Daria para ser tipo um samurai daquelas histórias japonesas”.

Aham… Aí eu arrancaria meu próprio pé, sem querer, com uma daquelas espadas… Hum, por isso é melhor eu ser só o Isaac, mesmo”. Me ajeitei para ficar mais confortável, e ele continuou passando os dedos entre meus fios pretos. “Eu meio que sempre quis deixar crescer, mas… Você sabe como são as coisas na casa de meus pais. Era minha avó quem cortava. Todos os meses, sem falta, bem curtinho. Acho até estranha a sensação de poder colocar o cabelo atrás das orelhas”.

De canto de olho, notei que ele se curvou um pouco na cadeira para me ver melhor.

Gosto quando você puxa ele para um lado e fica com a cabeça inclinada, pensando. Não tem ideia de como fica bonito”.

Hãã… Eu faço isso?

Ele deu um riso tão rápido quanto o meu, e logo a profundidade da realidade sugou a breve alegria de nossas expressões mais uma vez.

O sol estava daquela cor vermelha que só acontece quando está tocando o horizonte, antes de se esconder de vergonha alheia por ter ficado um dia inteiro vendo as merdas que a humanidade faz (esqueça aquela baboseira científica sobre incidência da luz e comprimento de ondas violetas… é vergonha, mesmo). O único momento em que podemos olhá-lo diretamente sem que nossas retinas derretam.

O Nicolas ficava penteando minha franja para trás, com os dedos. Às vezes repuxava um fio, fazendo doer, mas não falei nada. Queria as mãos quentes dele ali mais do que qualquer coisa.

Como você está, Zak?

Hum… Estou vivo”.

Será que está mesmo?

De início, aquela pergunta soou estranha, por isso olhei para ele. As sobrancelhas do Nicolas estavam unidas, e isso me lembrou um dia em que ele tentava arrancar uma confissão do Lucas, sobre quem havia derrubado açúcar no chão da cozinha.

Que foi?

Você não está me parecendo exatamente vivo, e isso me preocupa. Sem falar que você toma quase cinco banhos por dia, e nem está tão calor assim. E está andando como se tivesse algo te mordendo nas pernas. O que há, Zak? Algo que você não contou? Se quiser, é só falar com a Jack ou o Jonas, e eles te levam no médico, você sabe. Se eu estivesse bom, levaria mesmo contra sua vontade”.

Não preciso de médico, e não fale como se eu fosse o Lucas… Mas, bem… Se você encontrar alguém que me hipnotize para esquecer tudo, eu aceitaria”.

Falei aquilo em tom de piada, mas a cara fechada do Nick mostrou que ele não achou graça.

Deixa eu ver”.

Hein? Ver o que?

Vem cá”, disse ele, dando um impulso para trás na cadeira de rodas e saindo de perto da sacada. “Quero que tire as calças para eu ver”.

Para, Nick. Não tem nada para ver aqui”.

Ele se aproximou e quase atropelou meu pé com a roda fina da cadeira. Segurou meu pulso com força o bastante para eu não me soltar, mas não a ponto de doer.

Se não tivesse nada, você não esconderia… Ah, Zak… Sua maldição é ser transparente demais. Você acha que não vi você mexendo entre as pernas como quem sente dor? Sem falar que minha pomada de cicatrização tem acabado mais rápido do que deveria. Você está usando, sei disso. Mas minha pergunta é… Por quê?”.

Nessa hora não tive nenhuma resposta para dar além de meus olhos arregalados, e tenho certeza de que foi isso que acabou por assinar em baixo das suspeitas a que fui submetido.

Eu já contei que tenho medo da habilidade de dedução dos Belson? Ou talvez seja eu que seja de fato um livro aberto diante deles… Queria ser uma pessoa menos óbvia, cruzes! Até o Lucas conseguiria disfarçar melhor.

A Jack notou algo?

Não. Se ela te visse andando com certeza notaria, mas sempre que ela sobe aqui você está sentado, ou dormindo”.

Então, espero que continue assim”.

Não entendo por que quer esconder algo da gente, Zak… Por acaso acha que vamos brigar com você? Ah… É isso, não é?

Não precisei responder. A mão invisível em minha garganta apertou o suficiente para que eu engasgasse com saliva e começasse a lacrimejar. Deixei que meu cabelo caísse na frente do rosto, para que ele não visse a situação deplorável, pois meu nariz também começou a escorrer.

Não quero causar mais preocupação ainda em vocês… Não aguento mais ser sempre o centro da atenção por motivos como esse! Isaac se acidentando com isso, Isaac ferrando com tudo naquilo, Isaac fazendo merda onde quer que toque! E vocês andam atrás de mim como se tivessem a obrigação de limpar minha bagunça! Não aguento mais isso, então tô me cuidando sozinho, tá bom?”.

Ele quase não piscou enquanto eu falava. Se não fosse a perna quebrada, tenho certeza que teria levantado para me responder, porque ele se inclinou na cadeira como se fosse voar em cima de mim:

Não, não está bom! Depois de tudo o que houve, não está nem um pouco bom você esconder o que quer que seja! Deixa eu ver, Isaac! Ele te passou alguma doença? Você precisa mesmo de um médico!

Não é isso… Não é doença, nem nada disso”.

Enfim, me rendi e mostrei minhas coxas, nádegas e virilhas para o Nicolas. Quando ele viu, colocou a mão perto, como se fosse tocar, mas não tocou. Minha pele estava um pouco melada por causa da pomada que de fato estou usando para ajudar na cicatrização.

Ele não disse nada. Apenas continuou olhando, e finalmente cobriu o rosto com uma das mãos. O único som que fez foi o de respirar fundo, mas pelo tremor no ar que saía de seus pulmões notei que estava segurando o choro.

Tá vendo, Nick? Era isso que eu estava evitando! Não queria você assim, preocupado comigo. Isso é algo meu, ok? Nem está ardendo tanto assim…

Era mentira.

Zak, você está cheio de feridas… É como se tivesse arrancado sua pele de tanto esfregar… Pelo amor de Deus…

Foi isso que fiz… Mas já está melhor, vê? Já tem cascas se formando… Não estou mais esfregando com a bucha. Agora uso só o sabonete… Senão machuca mais”.

Ele ainda estava com o rosto oculto nas mãos. Quando falou, a voz estava um pouco embargada:

Qual é sua intenção com isso, afinal? Por que tem feito isso com seu corpo?

Subi minhas calças novamente, sentindo vergonha de tudo em minha existência.

É que… Tô tentando tirar o que ele colocou aqui. Quero dizer, a sensação de que ele ainda está me tocando… Eu sei lá! Se eu pudesse, jogaria cândida no meu reto, mas sei que isso seria…

Pelo amor de tudo o que é sagrado, Isaac, não coloque nada além de água lá…

Eu sei! É o que eu estava falando… Não vou fazer isso, ok? Sei que sou um completo idiota, mas não a esse ponto”.

Pare com isso, Zak”.

Com o quê?

Se chamar de idiota de graça, assim. Você simplesmente sai falando isso e nem se coloca no meu lugar. Não acha que EU sou um completo idiota por não ter conseguido fazer nada? Pois eu acho!”, ele dizia, quase gritando e sentado na ponta da cadeira. Cada palavra entrava em mim como uma flecha com a ponta em brasa. Não havia nada em meu peito, mas a dor era real, e o choro que eu havia começado se intensificou. O Nicolas continuou: “Sou um idiota por não ter notado que havia alguém no carro, para começo de conversa. E sou o maior idiota por não ter conseguido prevenir nada do que aconteceu. Sou um completo inútil porque…

Por favor, Nick, não fique falando assim…

“… porque não consegui proteger a pessoa que amo!

Para, por favor

Por que você pode se maltratar, mas eu não tenho o direito de fazer o mesmo comigo? Consegue entender agora como eu me sinto todas as vezes que você faz isso?”. Ele me olhava, com a mão no próprio peito, agarrando a camiseta. Quase quis morrer quando vi que ele chorava também. O Nicolas não é como eu, de choro fácil. Para ele estar daquele jeito, deve ter segurado muito tempo aquela dor. Não tem como eu saber. Não tem como eu entrar no corpo dele e sentir o que ele sente. “Pare de fazer isso com você, Zak, porque não é só a si mesmo que castiga com isso. Não é só você, Zak…

Ele pareceu que ia cair da cadeira, então o segurei, mas ele somente tinha se curvado para chorar sem que eu visse seu rosto. O som dele chorando é um dos que eu mais detesto ouvir. É o som mais triste do mundo. É o som que faz eu querer arrancar meu coração do peito e jogar fora, de tanto que dói.

Me desculpa”, pedi, me abaixando para apoiar a testa nos joelhos dele.

Você não precisa pedir desculpas por isso, Zak… Aliás, não sou eu que preciso lhe perdoar. É você”.

Aquilo doeu. De tão óbvio, machucou, e não falo isso com ressentimento do Nicolas.

Ele estava tão certo, que chegou a atingir em cheio.

Não sei se consigo me perdoar… Toda essa merda começou por minha culpa, você sabe”.

O Nicolas levantou a cabeça para me olhar. Os olhos dele pareciam ainda mais verdes, mas não posso dizer que estavam belos, pois era um olhar triste e inchado, todo vermelho em volta das pálpebras.

Não… Tanto o Marcus quanto a Sônia já eram um problema antes, e você sabe”. Nicolas secou os olhos e respirou fundo. Recostou-se na cadeira e voltou a cabeça para cima. “Você apenas fez as coisas se movimentarem mais rápido, e de certa forma isso é bom.

Bom? Nick, de que forma isso pode ter sido bom?

A Sônia, por exemplo… Se não fosse você fazer ela colocar as garras para fora, o Lucas estaria até hoje convivendo naquela situação sem que eu ou a Jaqueline soubéssemos, e isso porque de nos ela sabia se esconder. A gente achava que conhecia ela, então baixávamos a guarda”.

Humm”, respondi sem muito ânimo.

E o Marcus… De quantas pessoas ele ainda estaria abusando se você não tivesse tirado ele do sério e o mandado para a cadeia? Você lembra daquelas moças, não lembra? Aquelas que testemunharam antes de ele ser preso… Zak, o Marcus já tinha um caráter duvidoso quando o conheci, mas eu achava que era só o jeito grosseiro dele. E você fez com que ele revelasse o verdadeiro lado”.

A lembrança de ser penetrado contra minha vontade invadiu minha mente como um soco no estômago.

Nick… Você acha que ele fez o mesmo com aquelas meninas? Quero dizer… Acha que ele foi até o fim?

Antes de ouvir uma resposta, fui afagado na cabeça. Eu ainda estava de pé diante dele.

Não dá pra saber… Mas pelo menos a gente sabe que ele não tem mais como machucar ninguém… Olhe para mim, Zak. Você fez o que fez para nos salvar, e com isso pode ter evitado outros desastres. Eu e a Jack temos sorte por você ter se mudado para Vale do Ocaso”.

A tempestade de emoções que acontecia em mim dessa vez mergulhou num oásis de felicidade ao ouvir o Nicolas dizendo aquilo. Demorei para notar, mas eu estava quase sorrindo.

Eu é que tenho sorte”, falei. “Aliás, vivo no meio de uma roleta russa de sorte e de azar. Acho meio que incrível vocês ainda estarem ao meu lado”.

Bom, sobre estarmos ao seu lado, isso é obvio. Eu gosto de estar com você, e nunca me senti tão bem ao lado de outra pessoa. Nunca desejei tanto estar com alguém… Ou beijar alguém, como te desejo”.

Ahh”. Eu estava começando a ficar com o rosto vermelho. Não tinha resposta para aquilo.

E sobre a roleta russa de sorte e azar, só tenho uma coisa a dizer: bem vindo à vida”.

Mas nem todos têm a vida tão cheia de coisas assim… Eu tô cansado disso tudo. É como se todas as coisas que eu tocasse virassem uma bomba!

Bom, talvez algo em você faça com que as coisas aconteçam. Talvez sua mania de fazer ou dizer coisas impulsivamente”. E nessa hora ele deu uma risada, e apoiou as mãos em minha cintura. “Você é transparente demais, Zak… Se você meramente pensar algo, as pessoas já vão ler em sua cara o que pensou. E tanto a Sônia quanto o Marcus não devem ter gostado do que viram”.

Esse é seu discurso de quem está tentando me animar? Tenta ler em minha cara se está funcionando, então!

Nós dois rimos. Estava funcionando, e sei que o Nicolas sabia disso. Ver alguém tirando a carga de culpa de minhas costas e colocando em outra pessoa foi agradável. Não que eu me isente de minhas responsabilidades, mas… Carregar tudo aquilo sozinho estava me matando.

Eu gosto de ver você sorrindo assim, Zak. Mesmo que seu sorriso não esteja ainda chegando até os olhos, me dá um pouco de alívio”.

Suspirei, e me sentei na cama, diante da cadeira de rodas do Nicolas.

Viver não é fácil…

Não. Não é”.

Deus devia ter avisado isso antes de a gente nascer”.

Ele deu de ombros.

Talvez ele tenha avisado… É a gente que não se lembra”.

Ou talvez a gente se lembre sim, senão nem nasceríamos chorando”.

E foi esse meu comentário bobo que fez o Nicolas gargalhar em concordância.

Foi nessa hora que notei uma coisa: aquela dor toda dentro de mim não vai sair em uma simples conversa. Não tem discurso que faça aquele bloco de desgosto derreter, por mais incríveis que sejam as palavras. Mas são esses pequenos momentos de riso misturado com assunto sério que fazem algumas lascas de tristeza se dissiparem. Depois da brincadeira eu comentei isso com o Nicolas, e ele ouviu com um rosto sereno, de quem tinha retirado um peso do coração.

É… No fim das contas, um pouco de conversa misturado com o passar do tempo são os melhores remédios, não é?”

É como se nossa conversa precisasse ser envasada para fermentar e ficar mais forte”.

Tipo vinho?

Humm, isso. Tipo vinho”.

Ok… E por falar em tempo, é somente a passagem dele que vai fazer isso aqui sarar, ouviu?”. Ele apontou para minha calça, na região da virilha. “Eu vou querer ver todas as noites como está, e preciso que prometa para mim que não vai mais esfregar essa parte”.

Mas se eu não limpar, aquela coisa vai continuar aí…

Não, não vai… Aquela coisa é uma sensação, não uma sujeira”.

Mas é como se… Como se eu ainda sentisse ele me tocando!

As mãos de meu namorado ainda estavam apoiadas em minha cintura. Ele me olhava sério, e logo suas mãos se moveram um pouco.

Posso?

Não sei… O que vai fazer?

Ele parecia preocupado. Mordeu o lábio inferior, mas não de forma sexy. Era como se estivesse pensando muito em algo.

Quero entender até onde vai seu limite. Talvez eu possa ajudar”.

O… OK…

Ele levantou minha camiseta, e deu um beijo em minha cicatriz, que fica ao lado do umbigo. Somente isso me deu um gelo ruim na espinha, e dei um passo para trás.

Fui rápido demais?

Não, não… Desculpe”. Voltei a dar um passo à frente, ao alcance dele. “Pode continuar”.

Tranque a porta”, pediu, ao que prontamente atendi. “Caso se incomode com algo que eu fizer, é só dizer que paro, tudo bem?

Meus dentes estavam cravados tão fortes que não consegui produzir som. Apenas apertei as pálpebras e movi a cabeça para cima e para baixo.

Certo… Mas seria bom se você abrisse os olhos, Zak. Quero que veja que sou eu a lhe tocar”.

Respirei fundo e fiz o que ele pediu. Mas meus dentes ainda rangiam de tanto que os apertava.

As mãos do Nicolas se encaixaram no elástico da calça, e a desceram devagar. Fechei os olhos novamente.

Ei, sou eu… Zak, olhe para mim. Não vou fazer nada que você não queira, ok? É seu namorado que está tocando seu corpo”.

Eu sei

Eu sabia, mas não era fácil. Os toques que eu aprendi a amar agora estavam causando uma repulsa forte, e tive que me segurar para não empurrá-lo. Continuei resistindo até que todas as minhas feridas – físicas e emocionais – estivessem expostas.

Vi a tristeza voltar em seu rosto quando viu as cascas de cicatrização.

Não, Nick! Quero que pare! Eu sei que está nojento demais olhar para mim, e não quero que se force a fazer isso! Eu sei que estou horrível!

Ele permitiu que eu voltasse a subir minha calça de moletom. Ainda bem, porque se ele me impedisse eu não sei o que faria.

Se não quiser que eu olhe, eu não olho. Mas não fiz aquela cara por nojo, mas por pena. Deve estar doendo… Eu não tenho nojo de você Isaac. Olha pra mim, pare de desviar… Isaac, eu te amo”.

O maldito falou as exatas palavras que fizeram meu coração apertar ainda mais. Eu não sentia que merecia aquilo que ele tinha a oferecer, entende? Eu… Ah, amiga. É tão difícil! Mesmo agora, ao te contar, dói um pouco.

Como você pode amar algo estragado?

Não está estragado, Zak… Se coloque em meu lugar e pense no que diria para mim se eu estivesse com esses pensamentos”.

Fiz o que ele pediu, e a mudança de perspectiva foi um pouco chocante.

Acho que… Eu diria que não tem nada a ver”.

O riso do Nicolas não foi de quem acha graça, mas de quem está satisfeito com o que ouviu.

Exatamente! Não tem nada a ver. Você não está estragado, e eu não sinto repulsa ao olhar para você. Sinto vontade de cuidar, e de fazer você deixar essas ideias tristes de lado”. Ele estendeu uma das mãos e tocou meu rosto, depois passou o polegar sobre meus lábios. Dei-lhe um beijo rápido. “Quero que me deixe lhe tocar, mesmo que seja por cima da calça, pode ser?”.

Eu suspirei, permitindo que todo o ar de meus pulmões vazassem. Meus olhos estavam úmidos, mas olhei para o teto e pisquei algumas vezes para evitar que as lágrimas caíssem.

Tenta de novo. Pode abaixar minha calça e olhar. Eu aguento”.

E novamente, senti o ar morno da liberdade em meu membro desanimado. O Nicolas tocou com os dedos as partes machucadas, mas logo desistiu ao ver que isso doía. Depois começou a beijar meu pênis, mesmo que adormecido.

Se eu falar que não parecia um ato erótico, você acreditaria? Ele estava com os olhos semicerrados, e dava pequenos selinhos nele, sem usar a língua.

Então ele riu:

Você está cheirando a sabonete e pomada”.

Meu riso foi mínimo, porque eu estava atento demais ao que ele fazia, com medo de algo que eu ainda não sabia o que era.

Até que ele abriu a boca, e começou a me chupar.

Ok, aqui a coisa fica estranha: eu senti uma onda de prazer, mas no segundo seguinte veio a culpa.

Quem sou eu para sentir prazer depois de tudo o que aconteceu? Eu não me sentia no direito, entende? E toda aquela coisa gostosa que sempre percorria meu corpo antes de transarmos, acabou no segundo seguinte.

Não, Nick… Para!

Eu estava envergonhado, de todas as formas possíveis. Vergonha de ter um machucado feio, vergonha de ter meu pênis exposto e quase crescendo na frente dele, e vergonha de ter permitido que ele colocasse a boca em algo que tenho considerado muito sujo.

Tudo bem… Talvez eu tenha ido rápido demais

Não, não é isso… É que… Sua boca…

O que tem ela? Machuquei você?

Não. Eu não quero te sujar”.

Você não vai me sujar, Zak…

Eu já havia recolocado a calça, e fui até o parapeito da varanda pegar minha toalha, que estava pendurada lá.

Vou tomar banho

Você já fez isso quatro vezes, hoje”.

Minha resposta silenciosa foi dar de ombros, e sair de lá.

Eu entendia a intenção do Nicolas, e aquilo quase funcionou. Eu quase senti o prazer que ele queria causar, mas a culpa veio e estraçalhou tudo.

Ao abrir o chuveiro, ouvi a voz do Nicolas por trás da porta:

Por favor, não vá se machucar mais…

Não vou”, respondi, com o sabonete em mãos.

Será que eu não ia mesmo? Sinceramente, não tenho certeza da resposta a essa pergunta. Eu estava sentindo raiva de mim mesmo por quase ter sentido prazer com o toque do Nicolas.

Sei que pode parecer ridículo, mas foi como me senti.

Depois do banho – onde apenas passei as mãos ensaboadas nos ferimentos, sem esfregar nem me unhar – desci as escadas e fui andar no quintal de casa (que, à noite, deixa de parecer parte de uma casa, e se assemelha muito à pequena reserva florestal que cerca meu terreno). Como eu estava com meu celular, comecei a pesquisar coisas sobre como superar trauma de abuso e estupro. De início me senti meio idiota por pesquisar isso, mas depois os textos foram me deixando curioso, e acabei sentando no gramado para ler.

A maioria das vítimas são mulheres, mas isso não impediu que eu me identificasse. O artigo dizia que muitas reagiam como eu, repudiando o próprio prazer, e outras agiam ao contrário: buscando sexo com várias pessoas diferentes num curto período de tempo.

Pensei em me forçar a transar com o Nicolas, como tratamento de choque, mas no segundo seguinte já deixei a ideia de lado. De choque já chega tudo o que aconteceu.

Não sei quanto tempo fiquei ali. Mas foi o suficiente para preocupar o pessoal da casa, e logo ouvi a Jaqueline me chamando.

Pelo amor de todo o panteão, Dáki, não some desse jeito… Você quer que eu enfarte?

Foi mal… Eu só queria… Ah, você sabe. Minha cabeça tava meio pesada”.

Meu irmão quase desce a escada com cadeira de rodas pra te procurar”. Olhei para ela assustado, mas a Jack riu: “É brincadeira sobre quase descer as escadas e tal… Mas ele realmente estava te chamando. Você viu a hora?”.

Quando olhei meu celular, me espantei. Já passava da uma da madrugada. Levantei e quase tive uma síncope de dor ao bater a sujeira das nádegas – rachou duas das casquinhas que estavam se fechando.

Dáki, tudo bem?

Nah, relaxa… Vou sobreviver”. Tentei dar um ar cômico, mas minha cunhada tem me olhado desconfiada esses dias. “E o Lucas? Já não está na hora de a gente fazer a mudança definitiva dele pra cá?

Não foge do assunto…

Já falei sobre isso o suficiente com o Nicolas… Não tô com cabeça agora…

Bom, se você conversou com meu irmão a respeito, tudo bem. E sobre o Lucas, não acha melhor deixar a poeira baixar mais um pouco? Ele vai notar essa sua cara jururu, e você não vai conseguir enganá-lo… Não se esqueça que ele tem sangue Belson”.

O comentário da Jaqueline veio para me fazer rir pela segunda vez naquela noite.

Eu sei que tô com cara de morto, mas… Acho que ter o Pinguinho aqui pode ser bom, no fim das contas. Se o Nicolas e a Dona Rosa concordarem com isso, eu gostaria que ele viesse. De repente é disso que eu preciso… Né?

A resposta dela foi um abraço de lado, e assim chegamos até o casarão, depois de eu ser resgatado do quintal escuro por minha cunhada.

Vou deitar, ok? Fala com o Nick sobre o Lucas… Tenho certeza que ele vai topar. Boa noite, Dáki”.

Antes de subir, apaguei meu histórico de pesquisas do celular. Já na porta do quarto, antes mesmo de meu namorado pegar fôlego para dizer algo, soltei:

Vamos fazer a mudança do Lucas esse fim de semana!

Er… O que? Assim, do nada?

O Nicolas estava sentado na cama, encostado na cabeceira e com as pernas estendidas, e muito (muito!) concentrado em algo no celular. Ignorei minha curiosidade por um momento, e confirmei:

Não é ‘do nada’… Já faz tempo que a gente planejou isso, e não quero mais que essas merdas de minha vida interrompam o fluxo que planejamos. Talvez seja exatamente disso que eu esteja precisando… Sinto falta dos comentários aleatórios dele”.

E… Você não tomou essa decisão no impulso? Não vai ser um problema para você ter o Lucas por perto antes de você estar cem por cento?

Sentei ao lado dele, olhando para a tela apagada de meu celular.

Eu é que pergunto a você se não vai ser um problema deixá-lo perto de mim”.

Ei Larga de ser bobo. Vem cá…”. Me aproximei, e ele me abraçou forte. “Se você acha que a presença do Lucas vai deixar sua casa mais completa…

Nossa casa”.

Ele sorriu.

Nossa casa… Então vamos fazer a mudança dele esse final de semana”.

Naquela hora, uma torrente bateu em meu peito e em meus olhos, não dando para segurar. Não sei dizer se era felicidade, alívio, ou o que fosse… Mas foi forte. Abracei o Nicolas, e me permiti chorar mais um pouco que nem criança enquanto ele acariciava meus cabelos. Chorar de forma que eu não choraria se o Lucas estivesse ali, me observando.

Acho que aí reside parte do incrível poder delas: a gente precisa ser forte para ser uma base decente. Eu posso não ter tido um bom exemplo paterno, mas certamente minha avó sempre fez o máximo dela por mim (e não vou entrar aqui na questão de que o máximo dela ainda era torto, senão a beleza da reflexão se perderá em reclamações do passado).

Demorou um pouco, mas logo fui me acalmando. Quando levantei a cabeça, acabei dando uma risada involuntária: a camiseta do Nicolas ficou com duas manchas úmidas no ombro, onde estavam meus olhos.

Isso tudo é seu?”, ele perguntou, em tom de brincadeira, enquanto puxava o pano para ver as rodelas de lágrimas.

Parece que o dia foi feito de momentos assim: um pouco de tensão, um pouco de descontração… Depois voltava com mais tensão, e mais descontração, numa sucessão de emoções tão díspares entre si que fica até complicado explicar tudo o que se passa na minha cabeça.

Mas acho que consegui me fazer entender para você.

Foi somente depois de eu já ter escovado os dentes para me deixar que o Nicolas pegou o celular e falou:

Zak, separei uns vídeos para você dar uma olhada”.

Hum… São aqueles vídeos motivacionais?

Não que eu tivesse algo contra, mas eu estava num momento de não querer ver um completo estranho me dizendo como eu deveria me sentir.

Hum… Não exatamente”.

Ele passou o celular para mim com a maior cara de inocência. E quando vi a tal seleção no celular dele, vi muita pele bronzeada. Depois que meu cérebro se acostumou às formas é que entendi: eram vídeos pornôs. Vários homens se pegando entre si.

Ah… Nick???

É minha outra tentativa de ajudar… Sei que é um método meio controverso, mas… Depois tenta. Pode esperar eu dormir, caso se sinta melhor”.

Não, é estranho eu assistir isso com você dormindo ao lado!

Ele estava sério.

Então senta do meu lado. Vamos ver juntos”.

Ah… Não sei se assim fica melhor pra mim…

Ficamos em silêncio por um tempo. O celular do Nicolas, em minha mão, entrou em proteção de tela. Quando o olhei, ele estava mexendo em um dos dedos, e às vezes o apertava, torcia um pouco, até que finalmente falou:

Eu também não estou me sentindo bem com isso!

Que? Como assim?

Ele fechou as mãos em punho e as encostou na própria testa, abaixando a cabeça.

O que eu vi naquela noite… Aquilo está grudado na minha retina tanto quanto a sensação que você diz não sair de seu corpo. Tive tanta vontade de me levantar aquela hora, e enfiar os cacos do vidro da caminhonete no pescoço dele… E tinha uma arma apontada em sua cabeça enquanto…

Não havia a necessidade de completar a frase. Ambos nos calamos enquanto eu acionei novamente o celular com os vídeos de sexo.

Por isso quer ver esses vídeos?

Ele deu de ombros.

Acho que seria bom ver alguém sentindo prazer com isso, para variar”.

Hum, entendi”.

Por dentro, eu estava sorrindo. Mas por fora eu ainda não sabia o que fazer com a vergonha que me invadia. Me ajeitei ao lado dele e lhe cedi o celular.

Ok, mas você é que vai dar o play”.

Abracei meus joelhos e escondi quase todo o meu rosto enquanto o primeiro vídeo era acionado.

Foi estranho. Foi realmente muito estranho. Havia uma mistura de homens musculosos e outros magros como eu. Todos se pegando, se tocando… Uma briga entre línguas (geralmente mais de duas), e uma quantidade enorme de pênis balançando entre bundas durinhas na pequena tela do celular.

Um lado meu estava acordando, pensando “ah, que tesão”, enquanto o outro lado dizia que eu não podia sentir aquilo.

A cena de penetração dos atores não fez eu me sentir mal como eu achei que sentiria. O cara estava fazendo uma cara de prazer tão óbvia que consegui desvincular aquilo com o que aconteceu comigo. E o cheiro do Nicolas estava ali para me confortar.

Eu estava me encolhendo cada vez mais, pois nunca havia assistido pornô junto com alguém – muito menos com meu namorado, o que me pareceu bizarro. Quando eu comecei achar que estava tudo bem comigo, o Nicolas pausou e abaixou o celular.

Desculpa, Zak… Eu não devia ter feito você ver isso…

Fiquei com olhos arregalados encarando-o. Toquei-lhe o braço.

Tá tudo bem comigo… Não achei exatamente ruim assistir isso. Só foi estranho, porque você está junto”.

Fiquei com medo que eu tivesse arranjado o pior método de todos, mas você…”. Ele ficou quieto, e notou que eu me encolhi com o olhar dele. “Como você está?

Bem!”, respondi mais rápido e enfático do que pretendia.

Posso ver?

O… que?

Ainda sentado, o Nicolas se virou um pouco na cama e colocou a mão em meu joelho. Umedeceu os lábios e pegou fôlego, mas não disse nada. Suspirou.

Fala, Nick

Tenho medo que isso traga mais minhocas para sua cabeça, Zak. Eu não deveria nem ter começado a falar”.

E guardar tudo pra você mesmo, fermentando coisa ruim pra depois explodir e sair cozinhando uma porrada de doces? Nicolas, desse jeito a gente vai ter diabetes. Fala logo o que quer que seja!

Melhor eu lidar com isso da minha forma”.

Lidar com aquilo da maneira dele… Foi o que o Nicolas disse. O pior de tudo é que lembrei da época em que os problemas de guarda do Lucas estavam pipocando. Foi exatamente quando ele tentou lidar com os problemas da forma dele – que nem uma concha hermética e ignorante – é que acabou dando um monte de merda que nem quero falar aqui.

Ah, mas não vai, mesmo!”. Soltei meus joelhos, que eu ainda abraçava como um escudo, e me virei para ele. Apoiei uma das mãos em seu ombro: “Lembra que a gente prometeu? Sem segredos, ainda mais no meio dessa nova onda de merda que veio atrás de mim!

Nossos narizes quase se tocavam. Ele levantou a mão, e passou na pequena cicatriz em minha testa, depois em minha bochecha, e finalmente abaixou a cabeça.

Estou com medo de te machucar… Não quero que tenha medo de mim”.

Quando tocou meu machucado, mais cedo, não foi por medo de você que me afastei, Nick. Aliás, foi por medo, sim… Medo de você sentir nojo de mim!

E você sabe que não precisa…

Eu sei! Sei disso! E o que mais te fez pausar o vídeo aquela hora? O que você está escondendo?

Eu estava nervoso. Tudo o que eu menos queria era que o Nicolas: 1) Se enclausurasse novamente, e 2) Achasse que vou sentir medo dele.

Prazer”.

Minha irritação se dissipou. Meu aperto em seus ombros afrouxou, e eu inclinei a cabeça para o lado.

Oi?

Quero ver você sentindo… Não os outros. Eu nunca senti tesão de verdade assistindo a vídeos desse tipo. Quero ver a pessoa que eu gosto sentindo prazer, e não um bando de caras quaisquer”.

Ah

Eu estava com cara de bobo, olhando para o Nicolas com a boca meio aberta.

Queria tentar de novo… Quero te tocar, Zak. Não existe vídeo pornô melhor do que ver você sentindo prazer… Não precisa fazer essa cara. Não vou tirar sua roupa”.

Eu juro que não sabia que cara eu estava fazendo. Só sei que eu fiquei repetindo dezenas de vezes em minha cabeça o que ele falou sobre gostar de me ver sentindo prazer mais do que vídeos pornôs.

Ahh… Eu poderia ouvir aquilo para sempre. E me fez lembrar a coisa sobre o Nicolas ser demissexual, e tudo o mais. Me sinto privilegiado, de certa forma. Afinal, se demissexuais se sentem atraídos apenas por aqueles com quem têm vínculos, então posso dizer que fui escolhido, não é? Quero dizer… Não uma escolha qualquer, mas uma escolha especial.

Se você não vai tirar minha roupa, então como…?

O Nicolas se ajeitou na cama, deitando-se.

Deita do meu lado”, pediu, e atendi sem questionar. Em seguida ele tocou nossos lábios, mas não beijou. Apenas ficou deslizando-os, sempre atento às minhas reações. “Se algo te incomodar, avisa que eu paro na hora… Tudo bem?

Tá…

Ele elevava o tronco apoiando-se num dos cotovelos, enquanto a outra mão passeou por cima de minhas roupas, sem em momento algum despi-las. O beijo se tornou um pouco mais intenso, mas apenas a ponto de eu senti a língua de leve.

Isso é ruim?

Eu me lembrava da sensação viscosa que o Marcus havia me deixado no pescoço e na boca, então não tinha como evitar a associação da umidade com aquilo.

Um pouco… Desculpe…

Tudo bem… Então sem beijos ,por enquanto

Ok… Me desc…

Já falei que está tudo bem… Não quero que peça desculpas por isso, só me diga se estou passando do ponto”.

Ele afastou os lábios e ficou apenas me encarando. Eu ia dizer que aquela forma de me olhar era meio que passar do ponto, mas a mão dele alcançou bem ali antes.

Talvez pelo excesso de tempo sem me tocar, ou talvez pelo vídeo que havia me acordado ligeiramente minutos antes, mas… Ter meu membro tocado com tanto cuidado – e com a fricção correta –, fez um gemido acidental escapar.

Isso”, ele disse, fazendo eu querer me enterrar de vergonha. Mas antes eu queria sentir mais, então virei o rosto, e só deixei que continuasse.

O único toque que eu estava recebendo era aquele, em meu pênis já tão duro quanto possível por baixo das roupas. Não havia nenhum toque em minha virilha, nem nada ameaçando entrar em meu ânus.

Talvez por isso tenha sido mais fácil aceitar.

Ahh, não!”. E tapei minha boca, porque sabia que se não o fizesse meu gemido poderia alcançar o outro quarto, onde a Jaqueline dormia. Respirei forte por entre meus dedos, e senti a cueca melada com o gozo que chegou mais rápido do que o normal.

Meu namorado me olhava com uma cara de triunfo que quase arrisco dizer que era a de um safado gostoso, mas sei que ele só estava feliz em ver o pornô particular dele (é, talvez chamá-lo de safado gostoso não esteja tão errado).

Minha respiração estava rápida, e meus membros – os outros quatro – pareciam gelatina.

Parece que foi intenso

Humm”, resmunguei, meio sem forças. Havia sido bom sim, e eu sequer acreditava que ele havia conseguido isso apenas friccionando a mão por cima de minha calça. Ah, tem o fato de que ter a boca dele próxima também me deu tesão, desde que não me tocasse com a língua. “Agora vou ter que tomar outro banho”.

Não quer que eu continue mais um pouco?

Enquanto eu não respondia – por estar ocupado demais sentindo aquela coisa pós orgasmo queimando as veias – ele adentrou a mão livre dentro de minha calça.

Nick, está sujo…

Você sabe que não tenho nojo de você”.

Ah, espera! Ainda está sensível…

A mão dele agarrou meu membro ainda rijo, e começou a me masturbar usando meu sêmem como lubrificante.

Está nojento ali, não precisa fazer isso…

Eu amo tudo em você, Zak. Desejo beijar cada centímetro de seu corpo, e não sinto nojo de nada… Eu já engoli isso diversas vezes, por que acharia ruim lambuzar um pouco as mãos?

A sensibilidade foi passando, e comecei a sentir mais uma vez o tesão de ser tocado ali. Nós já fizemos isso diversas vezes, de nos masturbarmos usando o gozo anterior como lubrificante para as mãos deslizarem melhor, mas naquele momento aquilo pareceu tão sujo.

Agora continue

Como assim?

Vai, faça com suas mãos… Quero ver você fazendo isso”.

É muito vergonhoso…

Então eu faço primeiro”.

Ele retirou o próprio membro de dentro da calça, e começou a se masturbar. Estávamos ambos deitados na cama, lado a lado, e por um momento pensei que parecíamos dois adolescentes. Parecia brincadeira de amigos descobrindo o que era a sexualidade.

E no fim me dei conta que era mais ou menos essa a intenção do Nicolas.

Ele deslizava a mão no próprio pênis, toda melada com meu sêmen, e fechava os olhos. Fiquei admirando-o por um momento, ate que coloquei minha mão ali.

De início, foi horrível.

Horrível.

Além da vergonha de me masturbar na frente dele, ainda tinha toda a carga emocional das conversas que tivemos naquela noite.

Mas quando ele me olhou, com aquela cara de quem está curtindo, algum tipo de comporta dentro de mim se abriu. Comecei a me dar prazer, mas às vezes eu prendia a respiração para não fazer nenhum som. Para não demonstrar que estava tão bom.

Ele virou o rosto para mim, deixando a boca próxima.

Eu quero te beijar, mas… Não tire sua língua para fora, por favor”.

“Tudo bem”, ele respondeu em meio às arfadas.

Beijei-lhe os lábios, e passei minha própria língua na boca dele. Como prometido, ele não fez nada além de sentir.

Algum tempo depois, percebi que ele estava gozando, e gostei de ver isso. Já brincamos antes de nos masturbarmos, mas sempre com um tocando o outro. Nunca com cada um tocando a si mesmo.

Quando fui tomar banho, ele fez questão de estar ao meu lado, na cadeira de rodas. Não que ele tenha entrado junto no banho, mas ficou por perto, como se cuidasse para eu não fazer nada além de me limpar.

Como você está?”, ele sussurrou, talvez com medo de acordar a Jaqueline no quarto ao lado.

Melhor do que eu imaginava ser possível depois de algo assim”, sussurrei de volta.

Quando eu finalmente me deitei para dormir, já passava das três da madrugada.

Ainda bem que esses dias você está estudando em casa… Senão eu teria atrapalhado seu horário de acordar para a faculdade”.

Mantendo os olhos fechados, o Nicolas sorriu, e estendeu a mão para segurar a minha.

É, mas você precisa ir em sua aula na auto escola…

Ah, merda

Ele riu, e depois do “boa noite” não demorou muito para a respiração mudar para a de quem dorme profundamente. Já eu, coloquei meu celular para despertar de manhã, para que não perdesse a aula obrigatória.

Na semana passada eu acabei não indo, porque não estava com o corpo nem espírito bons (aliás, dizer apenas que “não estava bom” é apelido). E isso gerou uma espécie de multa por falta na aula (bem cara, por sinal).

Quando acordei essa manhã, o Nicolas ainda estava dormindo, então fiz minha higiene matinal e me despedi da Jaqueline, que preparava o caixa para abertura da floricultura.

Tem certeza que não precisa de carona?

Neguei com a cabeça, forçando um sorriso que dizia estar tudo bem. Eu sabia que ela estava referindo-se ao gatilho de ter pedalado atrás da caminhonete, mas eu queria enfrentar isso. Afinal, o meu pior gatilho encarei ontem à noite, com os toques em meu corpo. Uma pedalada na bicicleta não iria fazer mal algum.

Ou assim eu achava.

Meu psicológico estava ótimo, mas as cascas em minha virilha racharam ao longo do caminho. Cheguei na auto escola com raiva de mim mesmo, e quando a moça da recepção perguntou se eu estava bem, menti que apenas havia chutado uma quina, e estava doendo pra cacete.

Cuidado, numa dessa você pode quebrar o dedo”.

Dei outro sorriso amarelo enquanto entrava na classe desejando que de fato meu único problema fosse um osso de mindinho partido. Imagino que deve doer horrores, mas eu o quebraria se fosse possível trocar isso por paz de espírito. Aliás, se de fato essa barganha com Deus fosse possível, eu aceitaria quebrar todos os dedos do pé, apenas para não ter mais esse monte de coisas acontecendo comigo.

Doeria que nem o inferno? Certamente doeria. Mas diante de tudo o que tenho passado, seria a dor da paz. Eu encararia de cabeça erguida, e ainda faria piada sobre os dedos quebrados.

Em vez disso, foi eu inteiro que se quebrou, e não foi fisicamente.

Bom, por causa da conversa com o Nick e do que fizemos ontem, pelo menos estou me achando um pouco mais digno de respirar o oxigênio que as árvores de meu quintal sintetizam.

Talvez não exatamente “digno”, mas no mínimo começo a me considerar um pouco merecedor dessa pequena parcela de ar que me permite continuar vivo.

Tem ainda a mudança do Lucas nesse final de semana, então minha esperança é de que as coisas melhorem (por favor, Deus… que as coisas realmente melhorem… Não aguento mais descobrir alçapões nos fundos de meus poços).

Bom, amiga… Foi assim. Achei que deveria contar, pois a noite anterior com o Nicolas foi muito importante para mim… Aliás, para nós! Quase como o primeiro degrau de uma escada de salvação. Algo assim.

Que o restante de seu dia seja iluminado! Bye-bye, irmã espiritual!

 


Notas Finais


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