17 de Setembro, 2018 – Segunda (08h23)
De: [email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Não sei mais o que pensar
Bom dia, amiga. Hoje acordei junto com o nascer do sol, e bati na porta do quartinho onde a Hellen estava. Ela demorou para compreender por que eu estava recolhendo as coisas dela mas, quando se ligou que era uma expulsão, começou a fazer um showzinho dramático. Disse que sou um crápula, que nem dei uma chance, que não se faz isso com amigos de longa data, etc. Só que no momento em que eu disse que iria junto ela se acalmou: “Ahh, eu fiz você brigar com seu namorado, né, bebê?”.
Eu posso ter imaginado coisas, mas tive a impressão que ela ficou satisfeita. Como se esse tivesse sido o objetivo desde o início, sabe? No fim ela até ajudou a arrumar as malas, e parecia bem contente quando pegamos um táxi até o terminal. Agia como se fosse uma viagem entre amigos, mas a verdade era que eu a estava escoltando de volta. Assim eu matava dois coelhos com uma cajadada só, porque sei que eu também estava sendo uma dor de cabeça para o Nick esses dias.
Por falar nele, só depois de o ônibus ter entrado na pista é que os avisei (num chat em que estamos só nós três). Se eu contasse antes, provavelmente me fariam mudar de ideia.
Em vez de ficar contando o que cada um falou, acho melhor copiar aqui a conversa do grupo:
ZakRod: Oi, gente, já dei um jeito na Hellen (ela está indo embora). Vou ficar uns dias longe também porque não quero atrapalhar nos problema familiares.
Nick: Zak, eu exagerei ontem. Desculpa. Não queria ter dito aquelas coisas. Eu estava nervoso por conta de tudo.
ZakRod: Tudo bem, eu sei.
Nick: Então para de brincadeira sobre ficar uns dias longe. Estou indo abrir a floricultura. Vamos conversar. Acho que tô bem pra isso agora.
Bel: Dáki, acho bom estar zoando sobre “ficar longe”. Você entendeu tudo errado! Quando falei que ter alguém de fora só atrapalharia, eu me referia àquela tua colega sem noção!
Nick: Zak, acabei de ir na sua casa e não te encontrei. Fui até o cemitério, e nada. Pode por favor dizer onde está se escondendo? Chega de graça, já disse que vamos conversar.
Bel: Não acredito que você sumiu, Dáki! Eu ainda tô no apartamento do Jonas, mas fala onde você tá que a gente busca você.
ZakRod: Eu já disse… Vou ficar uns dias longe. Estou num ônibus agora. Não precisam me procurar, nem se preocupar comigo. Prometo que não vou fazer nenhuma besteira.
Nick: Ônibus? Não pode estar falando sério, Zak…
ZakRod: Aproveitem e digam à Sônia que fui viajar. Saber que eu não estou por perto pode acalmar a fera e facilitar pra vocês resolverem as coisas em relação ao Lucas.
Bel: Não acredito, Dáki. É sério, mesmo? Você realmente acha que ficar longe vai ajudar em alguma coisa?
Nick: Zak, você só tá piorando as coisas… Quando eu mais preciso de você, é assim que age?
ZakRod: Não parecia que você precisava de mim quando tentei conversar nos últimos dias. Eu me senti excluído da sua vida e usado no seu colchão (Jack, desculpa te fazer ler isso). Ontem você literalmente fechou a porta na minha cara. E agora diz que eu tô piorando as coisas? Porra, tudo o que eu faço é errado!
Nick: Eu já pedi desculpas por isso! Eu tava de cabeça quente por conta de tudo o que está acontecendo, Zak! Eu só queria ficar um pouco sozinho e botar os pensamentos em ordem! Não era pra você se afastar!
Bel: Não quero me intrometer na discussão do casal, mas tenho que perguntar, Dáki, você está indo pra casa da sua avó?
ZakRod: Não importa. O fato é que to garantindo que a Hellen volte pra casa dela e pare de infernizar a vida de vocês.
Nick: Se essa fuga egoísta é o que escolheu fazer, beleza, Isaac. Só saiba que sua forma de pensar está completamente torta. Eu precisava de você aqui.
Bel: Dáki, por incrível que pareça concordo com meu irmão… Nenhum de nós queríamos que você se afastasse. Assim que despachar tua colega em sua antiga cidade, volta pra cá, ok? Por favor, precisamos de você… E fica de olho nessa menina, pois ela tem uma energia estranha.
Depois disso, não respondi mais. Saber que o Nick me acha egoísta, e que a Jack concorda com ele fizeram meu dia ficar péssimo antes mesmo de começar.
Estou digitando pelo celular, tentando me distrair com a paisagem da janela do ônibus, mas está difícil. E olhar para a Hellen ao meu lado, conversando alegre no telefone como se tudo estivesse maravilhoso, me dá ainda mais raiva. Ela invadiu minha casa e ainda teve a cara de pau de dar em cima do meu namorado! O que esperar de alguém assim? Eu sempre soube do caráter dela, mas nunca tive um namorado antes (não achei que ela fosse capaz de ser tão fura-olho).
Já teve umas duas vezes de eu achar algum cara da escola bonito, contar a ela, e dias depois a Hellen dizia que tinha “ficado” com o fulano que eu tinha achado gatinho. Era como se ela estivesse arquitetando para destruir minha felicidade. E quando eu perguntava o motivo de ela fazer o que fazia, a resposta era sempre pedidos de desculpas e explicações esfarrapadas de que “rolou sem que ela tivesse controle”. Por isso acabei parando de falar quem eram os caras que eu achava bonitinhos.
E neste final de semana percebi que as situações não saíam do controle dela porra nenhuma! Era essa vaca que dava em cima deles. Minha sorte é que o Nicolas não é esse tipo de cara (apesar de estar com raiva dele, por ter me afastado e depois dito que estou piorando as coisas por sair de perto).
A vontade que eu tenho é de jogar essa vaca traíra para fora do ônibus, pois quem está piorando tudo é ela!
Nesses próximos dias vou ficar na casa dela. Tá bom, eu sei, eu sei que parece loucura completa! Mas a intenção é ficar de olho na traidora de amigos. Ela havia dito que foi me ver porque os pais estão discutindo muito, e que o ambiente na casa dela está insuportável, mas isso é melhor do que ficar na casa de meus pais. E por falar neles, estou já pensando no que vou fazer para que nem eles e nem minha avó me vejam (já que a casa da Hellen fica de frente com a deles).
Enfim… Eu estava pensando aqui, e… Talvez o Nicolas esteja certo. É claro que foi doloroso ele não ter falado comigo sobre os problemas dele, mas… No fim das contas, o que eu poderia fazer, afinal? Eu insisti tanto para ele se abrir que talvez eu tenha feito ele desistir de conversar comigo por excesso de chatice. Eu não tenho como fazer nada para ajudar, essa é a verdade. Não sei o que é ter um filho, não sei o que é ser acusado injustamente de ser um pai ruim… Eu só sabia ficar que nem uma mosca irritante, perguntando como eles estavam. E ao ver que estavam mal, o fato de eu não saber como agir me dava vontade de pedir desculpas, e eu irritava o Nicolas. É, acho que realmente causei essa explosão que o Nick teve.
Apesar de que… Eu estou tão errado assim em querer fazer parte da vida de meu namorado? Eu nunca tive um relacionamento antes, então não sei até que ponto posso ficar adentrando as coisas pessoais dele… Me sinto realmente perdido, amiga. Parece que tudo o que eu fiz para tentar ajudar o Nicolas foi errado. Se eu me aproximo, ele quer que eu me afaste… E se eu me afaste, ele diz que estou piorando tudo!
Mas vou ficar, sim, uns dias longe. Sei lá… Talvez dar esse espaço a ele seja bom.
É que… Ai, amiga… Preciso que confessar uma coisa. Sei que isso é ridículo, mas tem uma parte de mim que deseja que o Nicolas sinta minha falta, sabe? Ele ficou me afastando por tantos dias que minha vontade é que ele sinta, de alguma forma, arrependimento.
Que horrível dizer isso… Parece até que sou o vilão da história desse jeito, né? Mas se eu não contasse isso, não estaria sendo sincero com você.
Bom, apesar de ele ter dito que isso é uma fuga egoísta, a verdade é que eu não estava acrescentando nada aos Belson esses dias. Estava, na verdade, deixando a situação mais sufocante para meu namorado. Eu só seria mais lenha na fogueira para os surtos psicóticos da Sônia.
Amiga, de boa, não sei se aguentaria mais um dia daquele tratamento distante que eu estava recebendo dele. No fim, talvez ele tenha razão sobre eu ser um egoísta.
Já sobre eu estar fugindo… É, talvez.
Não sei mais o que pensar, amiga. Apenas não sei.
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