História O Mundo De MeroNia - Histórias Emocionantes

Mihael se concentrava em desenhar bonecos de palito em seu caderno, com as mãos um pouco trêmulas, sobrancelhas franzidas e respiração desregulada. Estava com raiva. Seu temperamento não era nenhuma novidade para ninguém, mas em momentos que isso afeta seu bem estar, Mail não conseguia evitar se preocupar com seu amigo. Conhecia Mihael desde a infância, mas nunca realmente aprendeu a como lidar com ele realmente, com as suas emoções sempre a flor da pele, entretanto, sempre fora considerado o melhor em acalmá-lo, tranquilizando e o incentivando. 

Todavia, há mais de uma semana que seus esforços calmantes tem sido totalmente desperdiçados, e apenas serviram como motivo de mais exasperação para o loiro, que andava diferente desde que sairá as colocações do mês. Normalmente, quando ficava abaixo de Nate, sua raiva ansiosa durava apenas alguns dias, então de fato, algo estava terrivelmente desconforme. 

— Mihael... — Baixinho, ele chamou por ele, como se estivesse prestes a contar um segredo. — Se quiser desabafar comigo, ou coisa do tipo, não tem problema nenhum, ou vou te ouvir... — Se movendo um pouco da sua cadeira, ele tenta encontrar suavidade nos olhos azuis dele, mas Mihael prontamente desvia o olhar para algum ponto longe do olhar dele. 

— Tá tudo bem, Mail. — A resposta veio, alta o suficiente apenas para o outro ouvir. Ele não acreditou, mas também não insistiu. 

Faz umas semanas, que Mihael simplesmente não consegue parar de pensar em Nate. Nele, em suas emoções ilegíveis, frias e anônimas. É perturbador, estava pertubando ele sua própria falta de controle de seus pensamentos. Nunca foi a favor de esconder pensamentos, de internalizar eles, mas era diferente com Nate. 

Desde que roubou aquele robô — aquele maldito robô de plástico caro — não conseguia mais pensar em nada fora do assunto principal, que era Nate. Ele geralmente se apegava a brinquedos para substituir a interação social. Mihael percebeu em uma tarde, enquanto encarava o brinquedo em sua cama, ele provavelmente tinha muitos mais como aquele, mas Mihael simplesmente não conseguia se livrar do pensamentos que havia roubado algo precioso, algo que Nate tocou. Aquele robô inanimado provavelmente sabia mais sobre Nate do que qualquer um. 

Mihael meio que invejou isso. 

Uma ânsia inexplicável o dominava sempre que pensava em devolver, e era pior ainda quando pensava em ficar com aquilo. Ele não queria se rebaixar, não queria falar com ele, devolver a ele algo que provavelmente não faz falta alguma. Toda vez que olhava aquele robô, sentia que o mesmo o julgava, que o abominava internamente por seu “pecado”. 

Mihael pensava no quão exagerada era essa reação, e de qualquer jeito, ele já não se lembrava do porquê de ter pegado o boneco para si. 

Não era para ter tanta importância. Não era pra ser problemático. 

— As histórias emocionantes não são cor de rosa, mas manchadas de alcatrão. — Nate ponderou calmamente. Era de um poema, no qual ele não conseguia lembrar o nome. Em momentos como esse, ele estaria movendo seu robô, como este ainda não fora encontrado, ele apenas enrolou uma mecha de cabelo branco. 

Vegetando na biblioteca do último andar, onde sempre ficava nas horas vagas, empilhando livros como grandes Metrópolis, lendo eles posteriormente, mesmo que a maioria não chame sua atenção.

Quem olhasse de fora, poderia deduzir que Nate gostava de ficar sozinho, que ele estava frio por dentro. Mas a grande reviravolta era que ele, por mais que se esforçasse, não entendia os grupos dinâmicos sociais, onde tudo é uma pirâmide cuidadosamente elaborada, onde todos eram obcecados por status, ao que parecia. 

Claro, ele era o primeiro lugar, sua família decidiu isso logo quando o colocaram na Wammy's, queriam um garoto super-dotado, e era isso o que ele era. Entretanto, não era como se ele não quisesse isso, uma grande parcela dele, apenas queria decidir algo por si só, e não ser dependente de seu lugar no Ranking. Ele queria decidir um lugar pra si mesmo, um lugar onde realmente se sinta pertencente, ele não se importa onde, desde que esteja fora do  mundo. 

 Nate pensou em Mihael imediatamente, pensou que ele também iria se odiar se estivesse em segundo lugar, mas que se sentiria no mínimo melhor se não fosse o pedaço oco e vazio que todos sempre acharam que ele era. 

Nate meio que invejava a capacidade de Mihael em ser um sujeito que transparece o que sente com tanta facilidade. 

Ele percebeu isso no primeiro dia em que ficou em primeiro lugar no Ranking, o jeito que Mihael ficou atónito, girando a cabeça freneticamente em busca dele, e finalmente o encarando com a face tão comicamente irritada. 

Foi um acontecimento memorável, mesmo que ele tenha se repetido depois disso, várias e várias vezes. 

Nate suspirou, um sentimento estranho surgindo, talvez seja da solidão, ou a agonia de não está com seu boneco em mãos, ele meio que sentiu falta dele. 

De qualquer jeito, ele tinha uma simples suposição de onde ele estava. 

Se estivesse certo — ele sempre está — ele esperaria, pacientemente, Mihael devolver seu robô do jeito certo.