Minha voz falhou por um breve momento.
Jisoo permaneceu parada na minha frente, com um sorriso tímido nos lábios e o olhar perdido nos próprios pensamentos. Olhei em volta e vi Yoongi parado, na mesma posição em que antes estava. Jin, por outro lado, olhava para mim com os olhos arregaldos.
— Vamos, Nam. — ela falou novamente. — Diga alguma coisa. Por favor.
— Como você entrou aqui?
Foi a primeira coisa que me veio na mente, eu estava lento de raciocínio.
— Yoongi. — ela respondeu simples, me fazendo encarar o branquelo, estreitando os olhos.
— Deixe-me explicar. — o Min largou seu copo de uísque sobre o balcão e cruzou os braços. — Assim que cheguei aqui, Jisoo estava chegando no apartamento dela e me viu. E bom, como você não é burro nem nada, deve imaginar que quando me viu entrando no seu apartamento, ela automaticamente deduziu que você voltaria para Daegu.
— Eu vi os noticiários na TV sobre você e a empresa do Taemin-sshi... — a mulher completou.
— Minha empresa, Jisoo. — a corrigi. — Minha empresa.
— Enfim — ela deu de ombros. —, quando vi o Yoongi chegar, eu soube no mesmo momento que você viria também.
— E já fazem dois dias que ela não larga do meu pé. — Yoongi revirou os olhos. — Hoje mais cedo, quando eu estava saindo para ir buscar vocês no aeroporto, Jisoo entrou no apartamento e disse que não sairia até você chegar. E é claro que eu não ia tirá-la daqui a força.
— Nam — ela tocou meu braço. —, nós precisamos conversar.
— Hoje não, Jisoo. — me afastei dela e caminhei até o balcão de bebidas. — Eu estou cansado, nervoso e sem saco para conversar. Sem contar — me sentei em um das banquetas. —, que eu deixei bem claro na última vez que nos vimos, que eu não queria mais nenhum tipo de contato com você.
— Eu sei, Nam. Eu sei. — ela suspirou. — Mas eu preciso mesmo conversar com você.
— Jisoo...
— Eu não vou implorar para nós reatarmos, Namjoon. — ela revirou os olhos. — O assunto vai muito além disso...
— Jisoo, minha querida. — Jin que até então estava calado, se pôs na frente da mulher. — O Namjoon está muito estressado ultimamente e precisa descansar, então, façamos assim...
Jin me olhou brevemente e eu assenti com a cabeça, permitindo que ele prosseguisse.
— Vai para o seu apartamento — ele continuou. —, durma bem essa noite e amanhã, Namjoon estará disposto para vocês terem uma conversa bem calma, seja lá sobre oque for o assunto.
— Jin tem razão. — me levantei. — Podemos almoçar juntos no Mentawai amanhã, e então, conversamos.
— Por mim tudo bem. — Jisoo suspirou satisfeita. — Nos vemos no Mentawai.
— Combinado. — concluí.
Depois de breves despedidas, Jisoo finalmente saiu dali e eu pude respirar em paz por um momento. Eu realmente precisava descansar e ter uma boa noite de sono, ou então, eu perderia o juízo.
— O que será que ela quer? — Jin pôs a mão no queixo, pensativo.
— Não sei, e sinceramente — me coloquei de pé. —, não estou com cabeça para pensar nisso agora. Boa noite para vocês.
Sem muita cerimônia, deixei os dóis rapazes na sala, peguei minha mala e fui diretamente para o meu quarto. Estava exatamente como eu o deixei á três anos atrás. Tudo no mesmo lugar, inclusive o retrato meu e da Jisoo, no dia do nosso noivado.
Peguei o objeto da estante e o coloquei em uma gaveta, até por que, eu não queria me dar ao luxo de ficar olhando para ele todas as manhãs quando eu acordasse.
Separei algumas peças de roupas e as deixei sobre a cama, ansiando por um belo banho quente e bem demorado. Eu merecia.
Depois de quase duas horas dentro da banheira, meus dedos começaram a se enrugarem e então, mesmo relutante, sai da água e me sequei rapidamente com a toalha. Vesti uma calça moletom acompanhada a uma camisa larga e finalmente, me joguei na cama.
Posso afirmar com convicção que a maioria dos meus ossos - se não todos. - estavam doloridos. Minhas costas doíam, meus braços doíam, minhas pernas doíam e minha cabeça então, estava a ponto de explodir.
Peguei meu celular para chegar algumas mensagens e ligações perdidas. Algumas da minha mãe, uma da minha secretária Wheein, outras da minha advogada Chungha. Mas oque fez o meu coração palpitar, foi ler no visor do celular o nome a (s/n).
Não demorei a abrir a mensagem;
•Pirralha•
Nossa
Você mau saiu de casa e já estou sentindo tudo muito vazio por aqui.
Não que eu esteja sentindo sua falta
Porquê eu não estou.
Mas estou me sentindo meio sozinha
Sabe?
•21hrs34min•
Sorri daquilo.
O jeito que a (s/n) sempre negava que gostava da minha companhia era engraçado. Ao invés de responder a mensagem, cliquei no ícone de ligação e esperei que ela me atendesse;
— Alô? — a voz sonolenta da garota ecoou do outro lado da linha.
— Te acordei, pirralha? — me ajeitei entre a cobertas com o celular no ouvido.
— Ah, oi Namjoon. — ela suspirou. — Eu estava tentando dormir, na verdade. — ela sorriu soprado.
— Me desculpa. Se quiser, posso ligar amanhã.
— Não! — pude ouvir ela se remexer. — Eu não estava conseguindo dormir mesmo.
— Você está bem?
— Tirando o fato que estou morrendo de cólica, sim, estou bem. — acabei deixando um sorrisinho escapar.
— Ora, pois então tome um remédio. — soei óbvio.
— Não, obrigada. Prefiro sentir dor.
— (s/n), você é uma mulher esquisita. — gargalhei.
— Não sou não. — ela sorriu também. — Apenas não sou muito fã de remédios. Prefiro o meu método tradicional de deixar as minhas dores passarem sozinhas.
— E esse seu método tradicional funciona? — ergui a sobrancelha.
— Na maioria das vezes, sim.
— Certo. Se você está dizendo. — dei de ombros.
— Mas me diz, como foi a viagem? Você e o seu irmão chegaram bem?
— A viagem foi cansativa, estou literalmente quebrado. — estralei o pescoço. — Mas sim, chegamos bem.
— Que bom saber. — ela suspirou.
— E — me remexi na cama. — a sua mãe, aonde está?
— Dormindo, eu acho. — percebi que ela deu de ombros. — Ela chegou tarde hoje. Disse que teve um paciente de última hora e que teve que ficar no consultório até mais tarde.
— Não tive tempo de falar com ela hoje. Liguei mais cedo, mas ela não atendeu, então deduzi que ela estaria ocupada e não insisti.
— Ela anda bem ocupada ultimamente. — a garota suspirou novamente. — Namjoon, posso te fazer uma pergunta?
— Claro.
— Sem querer ser invasiva nem nada, mas, como anda a sua relação com a minha mãe?
Mal.
Aquela pergunta me pegou desprevenido. Fiquei surpreso sim, mas fiquei ainda mais surpreso com à rapidez com que a minha mente respondeu um "mal", no mesmo momento.
— Bom — pigarrei. —, vai bem. Quero dizer... Eu acho que vai bem. — continuei. — Ultimamente Alexa e eu não estamos tendo muito tempo um para o outro.
— E como você está se sentindo com isso?
— Na verdade — pensei por um momento. —, eu não sei. Sei lá. Me sinto um pouco culpado por não ter tempo para ela por causa do trabalho e tudo mais.
— Entendi. — ficamos em silêncio por um tempo. — Se você puder fazer o favor de voltar o quanto antes para me fazer companhia — ela disparou. —, eu agradeço.
— Por acaso você está admitindo que sente a minha falta, ou é impressão minha? — sorri soprado.
— Impressão sua. — ela deu de ombros. — Só não curto ficar sozinha e a minha mãe não anda tendo muito tempo para mim, então...
— (s/n), você não vai morrer se admitir que gosta da minha companhia. — ditei convencido.
— Cale a boca. — nós rimos juntos.
— Eu odeio dizer isso mas... suspirei. — eu vou ter que desligar agora.
— Mas já?
— Infelizmente sim. Amanhã eu tenho um compromisso e preciso descansar.
— Ah, claro. Eu entendo. — ela pareceu desanimada. — Então, durma bem.
— Você também, pirralha. — sorri minimamente. — Boa noite.
— Boa noite, Namjoon...
E mesmo contrariado, desliguei o aparelho. Soltei um suspiro pesado e larguei o celular sobre a escrivaninha ao lado da cama.
Não sei dizer se é normal, mas de certa forma, quando eu conversava com a (s/n), eu conseguia me desligar dos meus problemas por um tempo. Eu conseguia pensar em algo mais do que só trabalho, trabalho e mais trabalho.
A pergunta da garota ficou rondando a minha cabeça durante toda a noite, me fazendo repensar sobre a minha relação com a minha noiva.
Alexa era sim uma mulher linda, muito inteligente e bem sucedida - oque não era para menos já que ela era cirurgiã chefe no Seoul National University Hospital. -, porém, algo tinha mudado entre nós nos últimos dias.
Ela estava distante, nunca parava em casa e sempre que chegava tarde, me vinha com uma desculpa diferente. Eu preferi não questionar, afinal, eu já tinha muita coisa na cabeça para me preocupar.
Mesmo que inconscientemente, o nome da Jisoo me veio na cabeça enquanto eu pensava no quanto meu relacionamento com a Alexa tinha mudado.
Jisoo fez parte de uma fase muito conturbada da minha vida...
Nos conhecemos no ensino médio, a pouco mais de dez anos atrás. No ultimo ano escolar, nós começamos a namorar e sim, eu era perdidamente apaixonado pela Jisoo. Ela era simplesmente tudo para mim na época.
Nosso namoro era um tanto quanto conturbado, já que a minha mãe nunca escondeu o fato de não se dar bem com a Jisoo e não confiar nela, oque eu achei bobagem na época e jurava que era pura implicância.
Namoramos por cinco anos até eu decidir que estava mais do que na hora de dar o próximo passo e avançar na nossa relação. Pedi a Jisoo em noivado e claro que ela aceitou na mesma hora.
Eu jurava que ela era a mulher da minha vida.
Ao final da minha faculdade, fiz questão de comprar esse apartamento para ela poder morar comigo e para que fosse o nosso lar depois de casados.
Tudo estava indo bem, até aquele maldito dia, há três anos e sete meses atrás...
[...]
•FlashbackOn•
- Você está linda, darling. - abracei minha noiva por trás e a olhei pelo reflexo do espelho.
- Nam, assim você vai amassar a minha roupa! - Jisoo sorriu largo.
- Eu não me importo. - a virei de frente para mim e beijei seus lábios com ternura.
- Joonie - ela resmungou assim que nos separamos. -, eu já estou atrasada, amor.
- Não tem problema, eu te levo para a faculdade hoje. - voltei a me inclinar sobre ela mas Jisoo virou o rosto.
- Eu realmente preciso ir, meu bem. A Sooyoung ficou de passar aqui para irmos juntas.
- Claro. - suspirei tristonho.
- Meu amor, não fique assim. - Jisoo tocou meu rosto e beijou meus lábios. - Prometo que quando eu voltar, vamos passar a noite toda grudadinhos.
- Está bem. - sorri minimamente.
Enquanto eu observava minha noiva terminar de se arrumar para ir a faculdade, ouvimos o interfone tocar e quando atendi, o porteiro disse que a Joy já estava esperando pela Jisoo no saguão.
Jisoo se despediu brevemente de mim com um selinho rápido, pegou sua bolsa e saiu, indo encontrar a amiga para enfim, irem juntas ao campus.
Aproveitei o dia para trabalhar em algumas pendências da Kim's Productions que meu pai havia me deixado como o responsável. Ele andava muito mau de saúde nos últimos meses e havia deixado a empresa sub a supervisão do meu meu irmão, até que ele melhorasse.
A tarde havia passado voando, eu havia perdido totalmente a noção do tempo. Só me toquei que já estava no fim do dia, quando meu celular tocou e eu vi o nome da Jisoo iluminar a tela;
- Oi, meu amor. - atendi.
- Namjoon, preciso que você venha ao Soap. - ela disse séria, muito séria.
- Na cafeteira atrás do campus? - ela murmurou um "hunrum". - Aconteceu alguma coisa?
- Só venha para cá, o mais rápido possível. - ela insistiu, me deixando muito preocupado.
- Certo. Já estou indo. - respondi enquanto pegava as chaves do meu carro sobre a escrivaninha.
Desliguei o meu celular e o guardei dentro do bolso da minha jaqueta, enquanto caminhava até o elevador. Andei apressado pelo estacionamento do edifício até encontrar o meu carro.
Antes de mesmo de parar em frente ao Soap, pude ver a Jisoo sentada em das mesas mais para o fundo da cafeteria, com o celular em mãos e uma expressão facial totalmente conturbada.
Aquilo me preocupou ainda mais.
Estacionei o veículo de frente para o estabelecimento e caminhei apressado até aonde estava a minha noiva, e então, me sentei de frente para ela.
- Desculpa a demora. - disse eu, um pouco sôfrego. - Eu acabei pegando trânsito.
- Tudo bem. - ela respondeu séria. - Eu também acabei de chagar.
- Meu bem, aconteceu alguma coisa?
Segurei sua mão por cima da mesa, mas Jisoo se afastou, oque me deixou confuso e muito, muito triste.
- Namjoon, nós precisamos conversar. - seu tom de voz era frio e distante.
- Pode dizer, então.
- Primeiro preciso que você saiba que eu não fiz por mal... - ela fechou os olhos com força, segurando o choro.
- Jisoo - engoli em seco. -, você está me assustando. O que aconteceu?
- Nós não podemos nos casar, Namjoon.
- O que? - franzi o cenho. - Por que? Eu... Eu fiz algo de errado?
- Não, claro que não! Você não fez nada de errado. - Jisoo suspirou. - Eu fiz.
- Do que você está falando? - senti um aperto no peito.
- Eu não fui sincera com você, Namjoon. - ela remexeu os dedos, visivelmente nervosa. - Hoje eu passei a tarde com a Joy e ela me incentivou a ter contar a verdade de uma vez por todas.
- Que verdade, Jisoo? - franzi o cenho.
- Depois de muito ponderar sobre isso, eu cheguei a conclusão de que seria melhor eu mesma te contar do que você descobrir por outras pessoas.
- Seja mais clara. Por favor.
- Namjoon. - Jisoo me olhou nos olhos , suspirou e então, prosseguiu. - Eu tenho outra pessoa.
Aquilo me soou como um soco na boca do estômago. Aquela afirmação me pegou totalmente despreparado, desprevenido. Fiquei alguns segundos, encarando a mulher a minha frente boquiaberto, até encontrar forças para dizer;
- Você o que? - aquilo saio como num sussurro forçado.
- Me desculpa, Nam. - ali, Kim Jisoo já não segurava mais a lágrimas. - Eu fui uma péssima mulher e entendo caso você me odeie...
- Você me traiu. - afirmei, sentindo um ódio imenso crescer dentro de mim. - Nós estamos juntos a seis anos e você teve à coragem de me trair. - cerrei os punhos. - Estamos a dois meses do maldito casamento e você vem me dizer agora que tem outra pessoa? Porra, eu fiz tudo por você e é assim que me agradece? Eu sai da casa da minha mãe por você, Jisoo...
- Nam, deixe-me explicar...
- Explicar o que, Jisoo? - acabei falando mais alto do que eu mesmo esperava. - Que eu fui um grande otário por sei lá quando tempo? Que enquanto eu fazia planos para o nosso futuro, você estava com outro homem?
- Namjoon...
- Não. - a interrompi. - Poupe-me das suas lamentações, Jisoo. Não precisa dizer mais nada. - me levatei. - Espero que você seja feliz com "a outra pessoa" - fiz aspas no ar. - e por favor, esqueça que eu existo!
- Namjoon, espera!
Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, me virei de costas e sai dali, soltando fogo pelas ventas, sentindo o meu coração se desfazer em milhões de pedacinhos.
Fui direto para o meu apartamento arrumar as minhas malas e pedi para o Yoongi me providenciar uma passagem urgente para Seoul e, antes de sair, fiz questão de deixar as coisas da Jisoo arrumas com um pequeno bilhete escrito:
"Saia do meu apartamento, o mais rápido possível e faça o favor de não me procurar nunca mais.
Ass, Kim Namjoon."
•FlashbackOff•
[...]
Olhei em volta do Mentawai Restaurant e logo avistei a Jisoo na mesa combinada. Ela acenou para mim e eu me pus a caminhar até lá. A cumprimentei com uma breve reverência, sem toques, e me sentei de frente para ela.
— Que bom que você veio. — ela sorriu.
— Tínhamos um combinado, certo? — respondi sem muita emoção.
— Nam. — Jisoo suspirou. — Eu sei que errei com você no passado e que você tem todos os motivos do mundo para me odiar...
— Sim, eu tenho mesmo. — dei de ombros.
— Mas, por favor. — ela segurou minha mão cima da mesa. — Precisa que você ouça com muita atenção oque vou dizer.
— Olha, Jisoo. Eu não tenho tempo e muito menos paciência para rodeios, então por favor, vá direto ao ponto.
— Certo. — a Kim largou a minha mão e assentiu com a cabeça. — Antes de dizer, eu quero que veja uma coisa...
Jisoo remexeu algumas coisas em sua bolsa e finalmente, tirou de lá uma pequena foto 3por4 e a deslizou sobre a mesa até mim. Peguei pequena fotografia, a qual tinha uma criança sorridente que aparentava ter um pouco mais de dois anos.
— O que é isso? — a encarei de cenho franzido.
— Namjoon, esse é o SungHe. — e então nossos olhares se cruzaram. — Seu filho.
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