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História O não dito - Despertando de verdade


Escrita por: invisiblewall

Notas do Autor


Boooooooa noite, povão!

Gente, eu espero que quem esteja lendo escondidinho aí esteja gostando muito muito, de coração. Tudo que eu escrevo, edito e posto pra vocês é feito porque eu GOSTO, então só de imaginar que esteja entretendo vocês, já me faz super mega feliz.

Esse provavelmente vai ser o penúltimo capítulo porque a ideia era que ela fosse uma fic bem curtinha mesmo, bem boba, só que eu me empolgo sempre e nunca consigo fazer uma oneshot kkk

Quero agradecer as pessoinhas que favoritaram até agora e dizer que vocês estão no meu <3

Boa leitura, chuchus! Se divirtam!

Capítulo 3 - Despertando de verdade


Cerca de uma semana se passara.

A banda quase não se reunira naquele período, e Ruki não comparecera a nenhum dos escassos compromissos em grupo. Depois daquele dia, tentei contatá-lo, inúmeras tentativas frustradas e sem sucesso. Pensei que pudesse ser porque ele estava em um daqueles períodos de ódio mortal por tudo que eu já o tinha feito passar, mas quando eu o vi, por um espaço muitíssimo curto de tempo na sala de reuniões, soube que estava enganado.

Ele não estava simplesmente magoado, e sim furioso. Dava pra ver no fundo dos seus olhos que ele não queria me ver nem pintado de ouro, e algo me dizia que tinha a ver com o encontro desmarcado.

Sabia! Pensei. Ele com certeza ficou muito puto com o fato de eu dar

outro

um cano nele. Sei que provavelmente foi a coisa mais sensata a se fazer, um lapso de iluminação vindo da direção que eu menos esperava, só que agora eu estava ligeiramente arrependido.

Foi um encontro muito curto; na verdade, o mais curto que já tivemos. Ninguém perguntou porque ele não vinha comparecendo aos ensaios, mas todos pareciam saber o porquê. Nem um dos meus amigos veio “me dar um toque”, aconselhar a falar ou ficar quieto, embora todos soubessem que agora eu estava ficando lúcido em relação aos sentimentos dele e tentando resolver aquela bola de besteira que eu tinha deixado se formar. Nós discutimos algumas coisas pontuais - como a data de alguns shows, e ideias paras os visuais dos produtos e roupas, departamento que era de responsabilidade dele -, o tipo de coisas para as quais nunca precisamos fazer uma reunião oficial.

O que quero dizer é que aquilo era tão banal e simples que estava me deixando preocupado. E mais preocupado ainda me deixava aquela falta de intensidade na voz dele, a falta de cor na pele, a falta de qualquer traço de ânimo nos movimentos do seu corpo. Ele parecia

morto

dopado.

E eu disse que o vi por breves instantes porque literalmente não o vi sair. Estávamos conversando e de repente ele sumiu, em um desses momentos em que minha mente não estava realmente ali. Isso me fez pensar que eu talvez fosse mesmo um desligado, que a possibilidade de eu ter ignorado inconscientemente seus sentimentos era real.

- Alguém pode me explicar, dessa vez? - Todos me olharam, ninguém disse nada, exceto por Kai.

- Tem certeza que você não sabe? - Me encarou, arqueando a sobrancelha, debochado.

- Não, Kai, eu não sei. Se é tão óbvio pra você, por que não me explica?

- Tsc, tô cansado dessas suas merdas.

Kai se levantou para sair da sala, mas antes que ele fizesse, eu o fiz.

Porra, qualquer um deles podia dizer algo, nem que fosse o mais mínimo dos comentários, e a única - e inútil - coisa que eu pude ouvir foi da boca dele, que eu já sabia estar envolvido com Ruki. Não só envolvido, mas apaixonado, pelo que eu pude ver. Não é como se eu estivesse com ciúmes...

Será que você não está com ciúmes?

É só...

Hum, parece que temos alguém incomodado aqui.

Olhaaa, pra quem passou TANTO tempo cego, ele até que está bem atento agora.

...preocupação

Ele estava quase na porta de saída quando o encontrei e continuou caminhando em direção a ela mesmo quando eu já o havia alcançado, o que me fez correr mais ainda para conseguir pará-lo. Quando já estávamos na rua, perguntei:

- Será que temos um minuto?

Ele parou, o carro estacionado esperando por ele bem na nossa frente, e ajeitou o chapéu de abas bobas sobre a cabeça. Não pude ver seus olhos, pois estavam guardados pela véu blindado dos óculos escuros e, no entanto, soube que não me agradaria ver o que estava escondido ali.

- Não, não temos. E na verdade, não estou no clima pra falar com você.

- É sobre meu furo?

Ele pensou sobre a minha pergunta. Eu estava aflito, e o tempo transcorrido entre a minha pergunta e sua resposta pareceu muito mais longo do que de fato fora. E se você já passou por alguma situação semelhante à minha sabe que, nesses momentos em que o tempo para, você nota os mínimos detalhes: os lábios se entreabrindo, ensaiando uma fala, pareciam muito maiores, quase devoradores; os cabelos balançando ao sabor do vento chicoteavam o nada e me hipnotizavam; os dedos batiam nervosos na calça jeans sem fazer sons reais, mas em minha imaginação, emitiam ondas tão poderosas quanto aquelas que voavam para fora da bateria de Kai.

- Você tem algo para me dizer, algo que tem te afligido? Algo que fica flutuando na sua cabeça? Que não te deixa dormir à noite, nem pensar de dia?

É claro que havia. Mas como poderia eu ter certeza assim, tão rápido, de que eu já tinha colocado meus pensamentos no lugar? E se eu fosse precipitado e piorasse tudo?

- Não. Bem, é claro que existem coisas que quero te falar, muitas delas, mas não é algo insuportável.

- Ótimo. - Ruki deu um meio sorriso de doer. Por debaixo da carne, ele estava decepcionado, provavelmente o topo da insatisfação que alcançaria em toda sua vida. Ele queria, ele precisava que eu dissesse, mas eu não podia fazer nada disso. - Você não precisa mais mentir pra mim.

- Do que está falando?

- Estou falando daquela garota com quem você se encontrou no dia em que eu estava esperando do lado de fora da sua casa. Estou falando das besteiras que você inventou pra me despachar só porque se arrependeu, na última hora, do que ia fazer. Estou falando do que você tem tentando fazer por pena de mim. Estou tentando te dizer que não me importo mais com porcaria nenhuma e que por mim você pode ir pro inferno sem a passagem de volta.

Ruki me deu as costas, e eu segurei seu braço. Uma resposta rápida do seu reflexo fez com que a bolsa de mão pequena - mas surpreendentemente pesada - viesse em minha direção, acertando o ombro em cheio. Doeu, mas não impediu que eu continuasse na tentativa de mantê-lo ali para conversarmos daquela maneira totalmente desesperada que só eu sei fazer. O corpo dele é menor que o meu: não que ele não tenha suas curvas, nada disso, é só que eu tenho mais massa. Então não foi difícil trazê-lo para dentro de um abraço confortável, quente e cheio de raiva.

O corpo relaxou dentro do meu aperto depois de uns segundos de luta, e o motorista provavelmente teria intervindo imediatamente se não me conhecesse. Queria ver seus olhos, queria que eles me dissessem tudo que os lábios rosados e contraídos de ódio não conseguiam me contar. Retirei os óculos enormes de sol dos seus olhos e encontrei ali o olhar como uma agulha, pronta para me perfurar.

- Que mentira você acha que estou contando pra você?

- Eu vi ela lá. Meus olhos estão muito bem, obrigado.

- Qual é a mentira, Takanori?

- Ela estava lá, pulando seu muro. Agora me solte. - E o tom de voz ficou brando.

- Ela é maluca e não aceita ser rejeitada, portanto pulou meu muro, o que apenas confirmou que vocês estavam certos sobre colocar uma grade maior, mas que não é mentira nenhuma.

- Por que deixou ela entrar, então?

- Porque eu queria dar um basta nisso de uma vez por todas. Quero ela longe de mim. Mas não você. - As orbes desviaram das minhas e foram pra além, muito além, à direita. Eu aflouxei o abraço, tomando a bolsa de suas mãos e chamando sua atenção. Ele voltou pra mim, inteiro, mas aos pedaços por dentro. Dava pra ver mesmo que eu não quisesse enxergar. Lentamente, seus braços envolveram minha cintura e sua cabeça parou no meu peito, escondendo o rosto.

- Não quero ficar perto de você - disse com a voz abafada. Pensei que talvez ele quisesse chorar.

- Por quê? - Acariciei seus cabelos com a mão livre.

- Você mente. É um mentiroso profissional, dos melhores, com graduação e todas as especializações.

Eu ri daquilo, sabendo que era sério, mas não conseguindo evitar de pensar que ele achava que eu estava tentando enganá-lo de verdade, quando tudo não passara de um mal-entendido, por mais inacreditável que isso fosse.

- Que mentira eu contei pra você, Ru? - Ele apertou um pouco minha camiseta quando me ouviu chamá-lo pelo apelido. Uma forma carinhosa que só eu costumava usar com ele.

Senti o tecido da blusa começar a ficar molhada aos poucos. Uma, duas, três gotinhas e o estrago estava feito. Devolvi a ele os óculos escuros, sem deixar que seu rosto ficasse visível, e o mantive perto do meu abraço, levando tanto ele quanto a bolsa para o carro. Ele manteve a postura elegante, como sempre, embora eu soubesse que ele estava despencando.

O manobrista perguntou a ele se estava tudo bem, e ele acenou que sim com a cabeça. Peguei as chaves da mão do senhor e disse que não se preocupasse, o que novamente foi aceito com facilidade, já que ele me conhecia. Coloquei Ruki no banco do carona e assumi o volante. Depois de entrar, joguei a bolsa pra trás e ajeitei o banco.

- O que está fazendo?

- Te levando pra casa. A não ser que tenha outro lugar aonde você queira ir. Tem?

Ruki não respondeu mais nada e permaneceu quieto durante todo o trajeto. Eu também não quis iniciar outra conversa, não achava o que dizer. Nem eu mesmo sabia o que estava acontecendo, mas eu estava inquieto, muito mais do que eu gostaria de admitir. Talvez a solução fosse deixar as coisas seguirem seu curso natural, e a vida daria um jeito. Era nisso que eu comecei a acreditar depois daquele abraço.

Não demorou muito mais do que vinte minutos pra chegarmos até a porta da cobertura do edifício Aoishi, nos arredores de Tpkio. Antes disso, lidei com um pequeno momento de impaciência de Ruki, que ficou indignado com a minha demora pra ir até sua vaga no estacionamento. “Desce do carro e deixa que eu faço”, ele disse, antes de entender que eu não ia acatar suas ordens coisa nenhuma. Ele ficou puto da vida porque eu decidi carregar sua bolsa e tentou arrancá-la de mim, impaciente, ficando instantaneamente mais nervoso quando, ao invés do acessório, eu lhe dei a mão. Subimos de elevador assim, juntos, enquanto eu sentia cada uma daquelas pulsações de emoções diferentes vibrarem da sua palma.

Ele estava entregue.

Porta número 1001, madeira escura bordô.

O toque fora desfeito, a bolsa estava em seus braços, e a mão vasculhava com agilidade aquele poço de objetos em busca das chaves de casa. Ela entrou, girou e estalou, dando acesso para dentro do cômodo sem luz.

Mas ele permaneceu ali, embaixo dos óculos escuros.

Eu tirei o chapéu daquela cabeça cansada, revelando os fios cheirosos e bagunçados, trouxe os óculos para cima, enganchados na cabeça, e toquei as bochechas macias, observando os olhos fecharem com prazer, degustando o carinho.

O coração bateu forte,

A mão desceu pelo pescoço e o circulou, memorizando cada centímetro de pele. O polegar circulou a orelha e retornou pelo queixo, ondulando os lábios. Seus olhos abriram, dopados pela sensação.

pulou,

Dei um passo para frente, e ele, para trás. Suas costas tocaram de leve a parede, e o meu peito quase alcançou o seu. Seus lábios se entreabriram e os olhos ficaram apreensivos com a aproximação dos meus.

atravessou meu peito,

A ponta do meu nariz tocou o seu, fez o mesmo caminho das mãos, (re)conheceu o cheiro da pele no pescoço alvo, retomando o espaço anterior. Os lábios tremeram, os olhos ficaram perdidos nos meus, um misto de transe e apavoramento, e as mãos foram parar no meu peito, quase saltando quando sentiram o jeito como coração esmagava o espaço dentro da carne.

e pulou pra dentro do dele.

As dunas secas que foram nossos lábios antes do toque se encontraram e, devagar, assim como o mar toma de volta o espaço da praia, se engoliram, resbalaram, tornaram-se úmidos como uma fonte d’água. Depois as línguas mornas se experimentaram, tão lento que fizera o mundo girar lento também, e as mãos amoleceram no meu peito, ao passo que o chapéu em minha mão caiu para que eu pudesse enlaçar sua cintura gentilmente.

Dentro de mim, um vendaval passava e demolia tudo. Dentro dele, provavelmente não era muito diferente.

Eu estava o beijando, e era bom.

Tudo começou a girar e ficar mais urgente, como caso de vida ou morte: ou nossas peles se uniam, ou padeceríamos. O óculos e a bolsa fizeram barulho quando caíram no chão como um tiro para o início da corrida, que começou com Ruki saltando para cima de mim, erguendo os pés para me alcançar e rodeando meu pescoço com os braços. Eu saí um pouco do eixo, mas voltei, segurando seu corpo em um abraço e o deixando em cima das minhas botas pra que ele não precisasse se esticar. O beijo não findou, agora intercalado por pequenas mordidas nos lábios, depois no queixo, pescoço.

Ele foi além: tocou minha pele, minhas costas, por debaixo da blusa, e a região ficou tão quente que chegava a arder. Eu suspirei por conta daquilo, e isso só pareceu aumentar a vontade dele me tocar, me descobrir, me deixar mais e mais quente. Ele contornou o abdômen e parou em cima do meu umbigo, e por algum motivo, sentir os músculos ali o fez suspirar também.

Ele estava me tocando e gostando do meu corpo. E aquilo me deu tesão.

As unhas negras - sempre negras - arranharam até o cós da calça, na beirada do cinto, e um arrepio partiu meu corpo em dois, como um trovão divide o céu durante uma tempestade de verão.

Ele é uma tempestade de/para todas as estações.

Eu apertei sua pele com força, tentando achar algum ponto de equilíbrio, e ele respondeu com outra onda intensa de passeios pelos músculos. Eu tentei repetir o mesmo que ele fazia, porque parecia ser muito bom para ele sentir, então eu também queria. Encontrei sua pele fervendo, e o choque de temperaturas fez com que eu ficasse zonzo. Quando ele me beijou no pescoço, do jeito mais molhado que eu tive o prazer de experimentar, eu despertei, seu corpo afundado entre o meu e o concreto da parede.

Foi quando suas mãos ultrapassaram a barreira da minha calça que um pensamento pulou na minha cabeça, diante dos meus olhos, quase como um alarme de emergência:

E se der errado?

Segurei seus braços, impedindo que ele continuasse, e seus olhos encontraram os meus devagar, nossas respirações alteradas, o peito subindo descompassado.

- O que foi? Akira, o que houve? - Ele estava nervoso, mordendo os lábios e me observando com atenção. - Você vai desistir?

- Tenho medo, Ru. Medo das razões que estão me movendo na sua direção. Eu não quero… Não posso..

- O quê? - Suas mãos contornaram meu rosto, macias, suaves, os dedos se embrenhando entre os fios descoloridos do meu cabelo, um carinho que me fez fechar os olhos aos poucos. Quando ele me tocava assim, era como se um pouco de paz fosse injetada dentro da minha pele, se espalhando por cada veia. - O que é que você não pode?

As palavras foram sussurradas repetidamente por entre meus lábios, até que o hálito quente se fundiu ao meu de novo em um beijo delicado. Fiquei perdido outra vez, como se eu estivesse entrando em uma dimensão diferente. Beijá-lo era completamente diferente de tudo que eu já havia feito. Por não ter comparativas, eu não sabia o quanto aquele trem descarrilhado teria forças para se por novamente em cima dos trilhos e seguir uma rota segura, ou simplesmente sairia do rumo.

Mas talvez descarrilhar fosse bom.

Antes mesmo que eu conseguisse dizer alguma coisa, exteriorizar minhas preocupações, ele apoiou sua cabeça na minha e disse as últimas palavras que me lembro antes de ter completa certeza de que eu, de fato, estava ali porque queria.

- O depois a gente decide. Agora não é hora de dizer o não dito, mas de sentir o que sempre esteve dentro da gente. Se você tem algo aí dentro pra me dar, então simplesmente me dê. Se não, vá embora, e eu posso ir embora de você também.

 

A porta do apartamento se fechou atrás de nós.

Os objetos ficaram no corredor.

Nossos corpos atravessaram a noite.

 

Em meio àqueles lençóis, tirei-lhe a roupa, provei seu gosto, sorvi-o inteiro.

Por entre a pele branca, o sangue fluindo, vermelho intenso debaixo da carne, meu corpo respondeu àqueles cinco anos melhor do que qualquer palavra poderia fazer.

XX

Borrões.

Tentei abrir os olhos, tendo dificuldade de focalizar qualquer lugar que fosse. A princípio, tudo pareceu calor: as cores que meus olhos conseguiam capturar eram quentes, como naqueles sensores de temperatura.

Desisti.

Enquanto reunia forças para tentar outra vez, outros borrões surgiram, só que dessa vez como memórias.

A primeira delas era seu corpo. Uma duna exposta sob a cama, fazendo duvidar de que ainda estávamos em um apartamento nos arredores da cidade. Veio e foi como um flash, deixando a intensidade das curvas gravada por detrás dos meus olhos.

Uma lavagem cerebral psicodélica.

Tentei vencer a escuridão das pálpebras cerradas pela segunda vez, encontrando apenas o calor de novo, com um pouco mais de forma, delineando já os contornos de um quadro imenso que pendia na parede em frente a cama. Não pude ver o que ele mostrava, mas sabia que estava lá.

Alguns outros instantes de espera, e o segundo flash.

Os lábios róseos, carnudos com mangas, separavam-se e libertavam a voz entregue, a qual não pude ouvir no presente, mesmo sabendo que ela estava lá, naquele momento. Uma onda varria seu corpo e fazia com que ele vibrasse, sacudisse, convulsionasse. Do som, nada me recordo. O gosto, no entanto, permanece até agora na ponta da língua.

Ainda posso sentir a textura da pele nos meus dedos, a maciez gravada em minhas digitais, fazendo parte de mim.

Antes que eu conseguisse abrir os olhos, o que aconteceu na terceira tentativa, o cérebro trabalhou para me entregar o terceiro flash com velocidade.

A areia desmoronava.

Montada sobre mim, ondulava com força, deixando-se invadir pela água profunda, mergulhada no mar revolto.

E ela desmanchava.

Caía feito uma construção milenar, anunciando ao mundo que finalmente estava pronta para partir. Derramou em mim sua quentura, transformou-se em barro líquido, misturada àquela água violenta, agressiva, impetuosa.

Dilacerou, a areia.

Cortou-me o peito com as unhas afiadas, aflitas, procurando por uma base até se dar conta de que não era hora de ter apoio, e sim de voar.

Assim que meu olhar finalmente se adaptou à todas as cores, e as formas, encontrei a me observar àquela criatura arenosa, movediça, que conseguira me engolir por completo. Simples ela me observava, com um sorriso nos olhos, a beleza eterna como deveria ser.

Outra vez, fiquei mudo.

Mesmo depois de 5 anos de silêncio, eu continuava incapaz de pronunciar uma palavra sequer. Agora não porque estava inconsciente do que acontecia, mas porque ele me roubava a voz.

Virei-me para encará-lo, tentando expressar meu incômodo com as expressões, tentando

mostrar o quanto eu queria dizer algo. Franzi o cenho, e ele deslizou os dedos curtos por ali.

Ele confirmava que não era necessário. Compreendia que eu finalmente tinha despertado, dessa vez de verdade, um despertar em que meus olhos estavam completamente abertos, meus poros, escancarados, minha carne, exposta. Meu coração, exposto.

E eu estava contente por expô-lo.

Aproximei-me um pouco e o trouxe para cima de mim, sentindo o peso gostoso relaxar com o carinho que eu dedicava às suas costas. Estacionei-as em sua cintura, trazendo-o para mim, para beijá-lo lento e demorado.



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