História O ninja da vila - Cartas na mesa, dois milkshakes e a conta com...

O ano seguinte também passou depressa, e nada de muito importante mudou, fora as apresentações do grupo de Chan, que ficaram mais frequentes, e de que Pucca começara a fazer curso de inglês (depois que ficou inspirada em um evento de grupos covers em Soul em que acompanhou os amigos e ficou entusiasmada pelas várias pessoas de diferentes países participando).

Talvez o fato mais impactante que tenha acontecido, antes do choque de realidade, foi a volta de uma antiga conhecida da cidade: Ring-ring, que tinha ido para a França com os pais, havia retornado à cidade, e apesar dela ter voltado com a personalidade mais metida e forte do que antes, não incomodava Pucca nem seus amigos - na realidade, ela não se importava, e vice-versa.

Agora sim, o choque de realidade:

- Sunbaes, eu preciso contar uma coisa para vocês… - e o garoto dos olhos rosados começou a fungar e coçar o nariz.

- Nossa, alguma coisa grave aconteceu? Respira primeiro antes de falar, Yoosungie.

- Eu… Vou me mudar no final do meu sexto ano.

- O quê? Vai para onde? Vai sair do país?

- Não, eu vou para Incheon. Vou terminar o ginásio e o ensino médio por lá, porque meus pais querem que eu vá para uma boa faculdade.

- Você já sabe o que quer fazer da vida, Yoosungie?

- Eu? Não.. Mas acho que seria legal ir para a melhor, né?

- Do jeito que você é inteligente, Yoosung - disse Ching, acariciando a cabeça do pequeno - Vai conseguir e ainda vai ter uma excelente performance.

- Isso significa… Que nunca mais vamos nos ver?

- Que isso, Pucca! Ele só vai pra uma cidade mais longe, ele não morreu ou foi para o exterior! - cortou Abyo, apontando seus palitinhos para ela - E você deveria ficar feliz por ele, porque vai ter uma excelente base para a prova do vestibular.

Pucca ficou quieta, porque ela tinha chegado a realidade: mais um de seus pseudo-amores iria partir, porém dessa vez, ela não poderia tentar intervir mesmo e nem seria como no caso de Garu, em que ele voltaria. O Yoosung, de que tanto protegeu e cuidou, iria seguir o seu caminho.

- Você está feliz porque vai embora, Yoosung? - todos olharam para o garoto, menos Ching, que ficou observando a garota de vermelho apertar seus punhos.

- Bem… Eu queria ficar com vocês, mas… - ele derramou algumas lágrimas - eu preciso ir com eles.. também quero ir para a melhor faculdade e ser o melhor... pelos meus pais.

- Acho que qualquer um de nós tivéssemos a mesma chance, também faríamos essa escolha, Yoosung. - comentou Abyo - Vai ser bom para você… m-mas Pucca, você está chorando?

Ela não tinha como esconder a frustração. Secou as lágrimas e deu um leve abraço no seu pequeno.

- Nós.. vamos continuar sendo amigos né, Pucca noona?

- É óbvio, moleque. Que dia que você vai embora?

- Ah, eu vou ficar até a terceira semana de julho.. Vai dar para passar seu aniversário juntos, sabia? Fiz questão de pedir pros meus pais se não daria para passar perto de você.

- Ahhh então assim, menos mal! Vai ter que me dar um excelente presente, viu, vou cobrar!

- Só se você der um pra mim primeiro! Meu aniversário é daqui a um mês também, se esqueceu noona??

*/*

Durante as aulas seguintes e o clube de dança à tarde, a garota não conseguia esquecer que ele partiria. Que seria deixada ‘de lado’ de novo. Porém ela mesma sabia que o sentimento que ela tinha pelo Yoosung não era um ~amor~ como sentiu no passado com Garu.

Sooyoung percebeu que a colega estava distraída e abatida no clube, e a chamou para conversar no canto. Mas por algum motivo, suspeitava do que poderia ser.

- Eu fiquei sabendo que o Yoosung Kim, aquele garotinho da grana, vai se sair da nossa vila.

- Pois é, ele nos contou hoje sobre isso… Mas isso é por um bom motivo, ele vai estudar numa das melhores escolas de Incheon. Ele é inteligente e os pais dele podem pagar um cursinho preparatório pro vestibular, então ele vai ficar bem.

- Mas e você, vai ficar bem?

- Bem… - a garota suspirou, hesitou um momento em falar, mas decidiu ser sincera - Acho que continuarei na mesma né. Só não terei mais alguém para ficar de olho..

- Pucca… Você gosta do Yoosung? - Sooyoung percebeu que Pucca engoliu seco e suas mãos ficaram mais tensas - Apesar dele ser um hoobae nosso, eu o acho bonitinho. Se ele não fosse tão diferente dos meus gostos, iria gostar de sair com ele um dia só para me divertir como você e a Ching fazem.

- Ah, então você gosta dele, Sooyoung.

- Na verdade não, só o acho fofinho... mas eu acho que você gosta. Por que você não tenta falar para ele seus verdadeiros sentimentos?

- Eu acho que você sabe o porquê também, Sooyoung.

- Ah, você gosta mais do Garu?

- Não! - Pucca colocou as mãos na bochecha, com vergonha. Deu um suspiro e comentou - O sentimento que tinha por… ele... meio que morreu. Mas não é isso que me irrita, porque eu quero falar pro Yoosung, mas tenho medo de acontecer a mesma coisa que quando revelei meu amor antes: Ser ignorada e rejeitada!

- Bem, isso realmente é uma coisa difícil. Se você não sabe, ele já rejeitou muitas meninas da sala dele, até sunbaes nossas.

- Nossa, é sério?

- Sim. Mas você tem uma vantagem: o Yoosung vai embora de qualquer maneira, e tu não vai perder nada porque vocês são amigos. O ‘não’ é garantido, mas ao menos ele parece ser do tipo de pessoa que não vai perder o contato contigo, diferente de outras pessoas. Acho que se falar que o acha bonitinho, só isso, já tá valendo.

Sooyoung estava certa, concluiu Pucca. Ela não poderia, novamente, intervir na despedida dele assim como antes, mas pelo menos já deixaria sua consciência tranquila. Já tinha perdido a batalha de qualquer maneira.

Ela então mandou uma mensagem de texto para o garoto, falando para se encontrarem depois da aula em frente à mesma lanchonete que tinham ido no ano anterior.

*/*

Já eram umas 20:30, e Pucca havia chegado primeiro ao local pois seu treino de dança acabara cedo. Conforme as mensagens, ela já havia feito o pedido de ambos para adiantar a conversa, pois sabia que toda a camaradagem que tinham antes poderia ir por água abaixo por conta daquilo. Ao pagar a conta, suspirou tanto pelo preço que tinha pago quanto ao fato de que iria realmente falar tudo o que achava.

Por estar distraída, acabou esbarrando no garoto que estava atrás em sua fila, e por conta do impacto, deixou cair a bolsinha de moedas que estava em sua mão. Todas poderiam ter voado para diversas direções do chão, porém nem ela entendeu direito, só percebeu que ele conseguiu colocar todas de volta em sua bolsinha numa velocidade sobre-humana. Ele devolveu a bolsinha segurando as duas mãos.

- D-desculpa… Espera, você não me é estranho.

- E nem você, pequena Pucca!

A garota já estava surpresa, e quando o olhou, só conseguiu dizer isso. Ela reconheceu parcialmente o rosto do garoto, porém estava mais alto se comparado a última vez que o encontrou. O cabelo estava curto e loiro, usava brincos e um piecing na orelha, e mesmo sabendo que não fosse natural, por algum motivo ele parecia estar mais jovial do que nunca. Ela o esperou fazer o pedido e continuava o analisando.

- Se você me chamou de pequena Pucca e não alguém tão velho, só pode ser…Youngbae-ssi!

- Olá Pucca-ssi… Eu disse que um dia ia ficar mais alto que você, logo posso te chamar de pequena direito hehe. Ah, obrigado! - Ele pega o troco e os dois vão para longe da fila.

- Na realidade - ela dá mais uma olhada nele - Eu diria que você só deve ser uns 5 ou 6 centímetros mais alto que eu, viu? Mas… Você não estava em treinamento ninja na academia Roteu desde sempre?

- Ah, meu treinamento acabou. Fiquei uns quatro anos estudando e fazendo treinamento lá, e antes que me pergunte, foi muito proveitoso! Posso dizer que sou um ninja melhor agora.

- Isso eu notei.. Meu coração quase parou ao pensar que as moedas se espalhariam para todos os cantos e teria que catar sozinha.. Obrigada.

- Que nada, foi bom porque tive o prazer de te ver!

- Oh… - ela não soube o que responder, então continuar o interrogatório - Você voltará a estudar na nossa escola de novo?

- Vou sim, pretendo me formar nela mesmo.

- Número 43, seu pedido está pronto!

- É o meu pedido! Um momento!

Ao pegar as duas bandejas, ela deixou levemente a da esquerda balançar, e ao perceber o loiro pegou rapidamente e apontou uma mesa vazia para deixá-las.

- Não sabia que você aguentava comer tanto, pequena.

- QUÊ?! Esse lanche que você pegou não é pra mim.

- Ah não, então você está esperando alguém?

- Na verdade… Sim. Mas não crie expectativas, só estou esperando um amigo.

- Entendi… Então significa que está.. solteira. - ela abriu os olhos, surpresa, e apesar de ter concordado, ele ficou envergonhado - Bem, só supus né.

- E você, está esperando alguém também? - levantou uma sobrancelha.

- Eu? Só vim comprar milk-shake pra mim e pro Jiyong hyung - apontou para o amigo, que estava do lado de fora da lanchonete - Ele está conversando com umas amigas próximas sabe, então decidi deixá-lo sozinho, sabe como é...

Ela ainda continuou com a sobrancelha levantada, e nisso viu Yoosung entrando na loja. Ele ficou surpreso ao ver um garoto mais velho falando com a Pucca, e correu para o lado dela, supondo algo mais grave.

- Noona, cheguei! Quem é esse garoto aí?

- Yoosungie, olá! Não se preocupe, esse é um antigo colega de escola, Youngbae-ssi.

- Ah, agora entendi o que está acontecendo… - Pucca deu uma encarada feia nele - Prazer em conhecê-lo, Yoosung-ssi. E já vou indo também, os milk-shakes parecem ter ficado prontos.

- … Bem, foi muita sorte termos nos encontrado hoje, Youngbae-ssi.

- Igualmente! Então, fique bem vocês dois, e até mais!

Ele foi no caixa e pegou os milk-shakes, que coincidentemente tinham ficados prontos no momento em que eles estavam se despedindo. Yoosung não conseguiu dizer uma palavra até o garoto sair do estabelecimento, mesmo com Pucca tentando conversar com ele, ou puxar algum assunto. Ao reparar em que ele estava relutante, decidiu ser direta.

- Você não foi com a cara dele, Yoosungie?

- É que ele não parecia ser um menino daqui da nossa vila.

- Ele voltou de um colégio em que tinha treinamento ninja. Acho que por ficar tanto com regras, ele decidiu arriscar logo agora que voltou. E como foi seu reforço escolar hoje?

- Ah, foi a mesma coisa de sempre… Matemática, perímetros, equações e bháskara. Muito chato! Mal esperava sair da aula.

- Entendo perfeitamente seu sentimento com matemática haha.

- Mas então, noona, por que você me chamou para jantarmos juntos, hoje?

- Então…. (foco, Pucca, você consegue!) É que…

- Humm? - e continuou a beber refrigerante.

- (DROGA, por que ele foi fazer essa carinha de bebê ao chupar o canudinho? Aff, francamente.) É que, na realidade…. - ela suspirou - Eu gosto de você.

- Ah, mas eu também gosto de você, noona!

- É, mas acho que gosto muito mais do que um dongsaeng…

- Você tem certeza? Eu também te vejo mais do que uma amiga noona, quase como uma irmã mais velha! - Ela dá um tapa em seu próprio rosto - Pucca noona, eu tô mais confuso do que você parece estar. Se a gente se gosta, está tudo bem!

- Na realidade! Eu não sei se gosto de você tanto assim! Quero dizer, se te amo!

- Ah, amar?

- Sim, Yoosungie… Eu não sei se te amo! - Ela falou com as duas mãos no rosto.

- Ah, eu te amo como se você fosse minha irmã mais velha. Porque você sempre cuidou de mim e me ajudou. Mais do que isso, acho que o Garu hyung ficaria chateado…

- O Garu não gosta de mim, Yoosung Kim. E por causa disso, eu achei que poderia sentir a mesma coisa contigo. Mas é impossível.

- É claro que é! Nós somos pessoas diferentes… E você ama ele..

- Eu não amo o Garu! - bateu na mesa, fazendo as pessoas das outras mesas olharem para os dois. Ela notou, e voltou a falar com um tom mais baixo - Só sou colega dele atualmente porque não conversamos mais.

- Ah.

Ela estava revoltada. Não bastava já estar indecisa com seus sentimentos, lá vem seu precioso bebê que tanto cuidara e mencionar o nome daquele idiota de novo. O que ela fez para merecer isso, pensou? Por que o Yoosung era daquele jeito, tão inocente?

- Quando eu me mudar, eu vou continuar falando com você, noona. O Garu hyung é um idiota de ter deixado de mandar mensagem, porque você é tão legal e atenciosa. - Ele deu uma pausa e ao perceber que ela não respondeu de volta, continuou - Mesmo que eu não ame nenhuma menina aqui na vila, posso dizer que você é a que sou mais chegado. As outras só querem namorar, e eu não tenho saco pra isso. Elas só conversam de beijos e compras, e roupas e cabelo, e eu só quero saber dos Rengers super poderosos e meu Conte Strike. E pra outras coisas, converso contigo porque você tem mais cabeça que as outras meninas. Saber que posso confiar em ti é o motivo que me sinto tão próximo.

- Não sabia que pensava assim dessa maneira.

- Não sei se é o que você queria ouvir, mas é como me sinto. Mas que dor de cabeça de conversa, não acha? Tão chato…

- Também acho… E obrigada por ter quebrado a cabeça um pouco pra mim, com isso. Eu te amo, Yoosungie.

- Eu também te amo como minha primeira noona, Pucca noona! - e dá um abraço nela.