1. Spirit Fanfics >
  2. O Nosso Amor de Ontem >
  3. A "Verdade"

História O Nosso Amor de Ontem - A "Verdade"


Escrita por: Miss_Vintage

Capítulo 20 - A "Verdade"


Artêmio resolvera ficar em Greenville os dois dias que Santa Maria lhe pedira. No entanto, mais uma feroz briga com Helena fez com que ele mudasse de ideias. Escusado será dizer que essa decisão encostou Santinha ainda mais na parede. Desesperada, mais uma vez ela insistiu para que ele ficasse. Porém, Artêmio mostrou-se irredutível.

- Não tem nada me prendendo aqui. – Justificou. – Pra vocês, eu sempre fui um peso, um fardo, um pobre coitado, que foi largado na porta de casa e que vocês aturam por piedade.

- Florência lhe tem tanto amor, Artêmio. – Lembrou Santinha.

- Mas ela não é minha mãe.

- E o afeto que eu tenho, não conta?

- Conta, - Artêmio olhou-a, com um imenso carinho estampado nos olhos azuis. – Conta, sim, Dona Santinha. E eu já lhe agradeci por isso. Mas a senhora não tem nenhuma obrigação comigo. A senhora é o quê de mim? Nada. E o que eu preciso é muito mais. Eu sinto falta de uma família, do amor de pai, do amor de mãe… - Baixou os olhos, fixando o chão, triste. – Eu sou um largado mesmo. E como sei que não vou achar esse amor nem aqui nem em qualquer outro lugar, vou me danar por aí, vou esquecer vocês, vou pra onde o diabo me carregar.

- Artêmio, pelo amor de Deus, cala essa boca!! – Gritou Santinha, indignada. – Não fale assim!

- Eu falo do jeito que eu quiser! – Artêmio era, de fato, muito arisco e insolente, apesar da sua boa índole. – Se não tenho ninguém para amara, também não tenho ninguém pra me cortar as rédeas.

- Tem, sim! – Alvitrou Santinha, incomodada. – Tem… tem Florência, tem… tem Helena! – Queria falar-lhe de si mesma, mas não tinha coragem.

Artêmio sorriu, amargamente:

- Florência, tá certo, que gosta de mim e eu gosto dela. Agora, Helena… Não mangue de mim, Dona Santinha. Respeite a dor que eu tou sentindo aqui dentro.

Santa Maria segurou as lágrimas que, mais uma vez, teimavam em tornar os seus olhos mais verdes. Engolindo a saliva, aproximou-se do sobrinho, que agarrou pelos ombros, falando:

- Artêmio, acredite em mim, tem alguém aqui dentro dessa casa que lhe quer como um filho!

- É mentira! – Gritou o rapaz.

- Eu quero que você fique! – Exaltou-se Santa Maria, também subindo o tom de voz.

- Mas eu tou indo embora agora!

Os ânimos foram ficando cada vez mais exaltados. Os dois iam discutindo, gritando em desespero. Santinha não sabia mais o que fazer para impedi-lo de ir embora. Foi então que, totalmente fora de si, gritou a plenos pulmões o que Altiva tanto queria:

- EU SOU SUA MÃE!!!

O silêncio que se seguiu foi sepulcral. Largando um Artêmio completamente chocado, tentando assimilar o que acabar de ouvir, Santa Maria afastou-se, pregando os olhos no chão. A pouco e pouco, foi ganhando coragem para falar:

- Fale alguma coisa. Diga, ao menos, que você ouviu o que eu disse!

- Eu ouvi… - Murmurou Artêmio, confuso. – A senhora… é a minha mãe?

Santinha respirou fundo. Não dava mais para voltar atrás. Já que começara, agora, iria até ao fim, embora não soubesse muito bem como:

- Artêmio, eu sei que você tá chocado. Eu só quero que você entenda. Eu era criança demais quando… quando eu conheci o seu pai…

- Quem é ele? – Interrompeu o rapaz, angustiado.

- Ele?!

- O meu pai!

Santinha gelou. Não estava preparada para uma pergunta daquelas. O que fazer? Como Altiva repetia constantemente, ela não sabia mentir. O que haveria de responder? Não podia envolver Richard numa embrulhada daquelas. Afinal de contas, o pobre homem nem sabia que tinha um filho. E a verdade era tão diferente… Santinha limitou-se a gaguejar, em busca de uma resposta minimamente convincente:

- Ah, o seu pai… Eu… eu não sei…

- Eu quero saber quem é o meu pai!

- O seu pai… O seu pai… ele não está mais entre nós. – Tentou falar sem mentir.

- Ele morreu?

- É, digamos que… Artêmio! – resolveu desviar o assunto. – Artêmio, eu preciso que você entenda. Eu era uma menina, eu não tava preparada…

Mas o rapaz não estava nem um pouco disposto a ouvir as suas justificações atrapalhadas, sem nexo. Limitou-se a explodir, exteriorizando os seus sentimentos. O que ela acabara de lhe contar fora como se um balde de água fria tivesse caído em cima dele.

Como era possível? Uma pessoa tão doce e bondosa como Santinha, que não fazia mal a ninguém, como poderia, afinal, ser tão desumana a ponto de conviver com o próprio filho, escondendo que era mãe dele? Tinha agido como uma mãe em diversas alturas da vida dele, mas nem aí resolvera contar a verdade? Pelo contrário. Fugia frequentemente de Greenville (provavelmente, para não ter de encará-lo), deixando que ele fosse maltratado e humilhado por Altiva e vivesse naquela casa como um criado!

Arrasado, gritou para Santinha que jamais a aceitaria como mãe e saiu, revoltado, deixando-a desesperada e arrependida.

Totalmente lavada em lágrimas, Santinha chorou as suas mágoas junto de Florência, enquanto Altiva exultava de alegria e triunfo, provocando a ira e a revolta da empregada, que logo ameaçou contar a “verdade verdadeira”, se ela não deixasse a irmã em paz.

O mais irônico de tudo é que nada daquilo teria sido necessário: Helena acabou por conseguir convencer Artêmio a ficar, afirmando precisar dele para ajudar a reativar a usina Monguaba, que era o seu maior sonho.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...