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História O Olho de Jade - Eve


Escrita por: xPrimrose

Capítulo 13 - Eve


A cabeça de Eve ainda doía por conta da visão. Era a mesma: Shae subia ao trono e logo em seguida era decapitada por um ser misterioso. Os detalhes estavam ainda mais vivos do que antes, dessa vez Eve conseguira reparar em quadros espalhados pela sala do trono, nos detalhes do tapete vermelho. O baque que conseguiu ouvir quando a cabeça de Shae bateu no chão não saiu de sua mente por horas.

O pior de tudo foi acordar desse pesadelo apenas para ver a garota de cabelos escuros a encarando. Ela não tinha segurado as lágrimas naquele momento e já não segurava agora.

Eve sempre tivera problemas para confiar nas pessoas, colocava a culpa disso em sua mãe que decidira selar seu destino sem ao menos se perguntar se a garota iria algum dia desejar algo diferente daquilo, mas com Shae havia sido diferente. Com pouco tempo de conversa tinha percebido que a garota não faria nada pelas suas costas, era impulsiva demais para arquitetar planos contra Eve e, apesar de isso irrita-la muito, acabava a fascinando.

Ela transbordava energia, era encantador olhar para ela enquanto planejava sua vingança. Eve se perguntava se um dia conseguiria ser assim, sempre desejara ser cheia de vida como a outra, mas sempre fora tranquila demais.

Apesar de se preocupar com Shae, não era isso que mais a atormentava. No momento, acreditava que ainda faltava algum tempo para que sua visão se concretizasse, mas, por outro lado, dessa vez havia sido muito mais vívida do que das outras vezes, as cores saltavam diante de seus olhos, era como se ela estivesse realmente lá. Geralmente sabia de cara se algo era uma visão ou não, mas dessa vez havia ficado atordoada e por um momento chegara a acreditar que aquilo realmente estava acontecendo.

A ira de Cersey havia começado, ela tinha certeza. Estava em pleno mar, há quilômetros e quilômetros do Segundo Reino, mas não conseguia fugir do seu destino. Havia sido a visão mais forte que ela tivera em toda sua vida e sabia que a tendência era piorar cada vez mais a partir dali. Cersey não daria descanso para ela, não a perdoaria, não teria misericórdia. Eve não tinha certeza se aguentaria viver daquela forma por muito mais tempo.

Suas visões normais já estavam acabando com ela lentamente, mas se não fosse capaz de distinguir o que era real do que era uma projeção do futuro, então não poderia confiar no que seus olhos estavam vendo e não haveria mais nada para fazer.

Ela lutaria com todas as suas forças contra isso, ou, ao menos, tentaria. Porque, sendo sincera consigo mesma, não sabia se era capaz. Podia ser um oráculo, podia ser conhecida por todo o Segundo Reino como O Olho de Jade, mas não era nada se comparada à uma deusa, ainda mais à rainha dos deuses.

Sua mãe uma vez dissera que Cersey era a mais vingativa das deusas, que as pessoas que a traiam chegavam a pedir para morrer, mas que ela dificultava até mesmo isso. Eve começava a imaginar o que seria tão ruim para que uma pessoa implorasse a morte. Tinha algumas ideias, mas não queria nem pensar na possibilidade de isso acontecer. Porém, sabia que aconteceria e, pelo jeito como as coisas estavam indo, não demoraria muito.

Quanto mais pensava sobre o assunto, mais desesperada ficava. Tinha certeza que esse desespero seria uma das coisas que mais contribuiriam para sua insanidade. Não queria mais focar nisso, se realmente fosse enlouquecer queria aproveitar seus últimos dias conscientes da melhor forma possível e não se preocupando.

Pegou o livro de Shae, ainda achava a história de gigantes absurda, mas a outra garota estava certa: se ela podia espiar o futuro, se uma deusa podia influenciar tanto sua vida ao ponto de trocar a cor de seus olhos e bagunçar sua mente, homens de mais de dois metros de altura não era algo tão absurdo assim para acreditar.

Não havia muito mais para ler, o General Ming havia reunido um exército e marchado contra os gigantes. No meio da luta, após perder dois terços de seus homens ele havia sacado sua espada mágica e criado um exército sobrenatural. A partir daí venceu todas as batalhas, procurou cada gigante em suas cavernas e os derrotou. Depois desse ponto ninguém mais viu a espada, diziam que ele havia saído da última caverna sem ela, mas Eve não sabia até em que ponto podia acreditar no livro.

— Aposto que a espada quebrou — disse para si mesma.

Seria uma boa ideia se isso tivesse realmente acontecido. Shae se daria por vencida, entenderia que jamais conquistaria o trono sozinha e voltaria para casa.

Eve riu de si mesma, sabia que a outra garota jamais daria o braço a torcer desse jeito. Ela não era como Eve, ela não aceitava o que os outros escolhiam para ela, trilhava o próprio caminho e fazia as coisas que tinha vontade.

Eve sentiu inveja, por que não podia ser desse jeito também? Por que aceitou o que sua mãe disse? Por que aceitou servir a Cersey? Por que aceitou fugir do Terceiro Reino?

A única coisa que fizera em sua vida por vontade própria fora aceitar Kaylan, ainda assim levara anos nesse processo, mas de todas as coisas que já tinha feito, aquela havia sido a melhor. Quando finalmente se sentira confortável em algum lugar — ainda que esse lugar fosse os braços do garoto — tivera que fugir.

Era uma ideia horrível pedir para que garotas de doze anos decidissem seu destino dessa forma, o que Eve sabia da vida com doze anos? Mas o que ela sabia da vida agora? Teria feito alguma diferença se ela tivesse que escolher seu destino já com dezenove anos? Sabia que não, não se ainda houvesse toda aquela pressão de sua mãe.

 

[...]

 

Foram dias e dias no mar, uma viagem ainda mais longa do que do Segundo Reino para o Terceiro. Ela odiava cada segundo naquele navio, por que ficava abandonada com nada além de seus pensamentos para distrai-la. Vez ou outra Shae vinha conversar com ela, mas Eve achava difícil encara-la e falar sobre seus planos quando sabia para qual destino eles a levariam, além disso a outra garota parecia assustada depois que Eve desmaiara duas vezes por causa de suas visões.

Os outros tripulantes do navio mal falavam com elas, e Eve agradecia muito por isso. Eram todos homens mal-encarados, a maioria com grandes barbas malcuidadas. Elas eram as pessoas mais novas a bordo e as únicas mulheres. Isso assustava Eve, tinha medo do que eles podiam fazer, mas Shae nem pensava na hipótese de eles tentarem algo e sempre tentava se enturmar durante as refeições. No fim das contas todos as olhavam com desdém e ignoravam a presença das garotas.

Quando desembarcaram em Mich, Eve não aguentava mais olhar para as paredes pintadas de cinza do navio e para o mar.

— Uau, isso é muito diferente do que eu pensei. — As palavras de Shae foram abafadas pelo barulho alto das ondas.

Eve tinha de concordar, era realmente muito diferente do que ela pensava. Ao contrário do que elas imaginavam, Mich era uma cidade enorme. As construções eram antigas e baixas, tudo tinha um ar velho, empoeirado e queimado do Sol, que parecia mais forte a cada segundo.

O porto era menor que o do Terceiro Reino, e ficava numa área um pouco mais elevada. Dali, Eve distinguiu mercados e feiras ao ar livre, enormes prédios circulares que atraíam multidões. À Oeste havia um declive na cidade e as casas iam ficando cada vez mais pobres. O lado Leste era cercado por uma enorme cadeia de montanhas.

Montanhas Maly”, pensou impressionada.

Eram tão altas que mesmo dali, olha-las lhe causava certa sensação de vertigem.

— Isso é incrível! — disse para Shae, mas a garota já não estava mais ao seu lado.

Olhou por todos os lados, ela estava ao seu lado há poucos minutos. Começou a ficar desesperada, e se nunca mais se encontrassem?

— Olhe, Eve! — A voz da garota morena finalmente alcançou seus ouvidos, dando-lhe um susto.

— Onde você estava?

— Pedindo informações. — Shae apontou para um pescador um pouco mais jovem que os demais que lhe lançava um sorriso de dentes tortos.

— Você me assustou, achei que tivéssemos nos perdido uma da outra.

Shae deu de ombros, como se não se importasse.

— Ele me explicou o caminho mais fácil para chegarmos as montanhas, se tivermos dinheiro o suficiente podemos alugar uma pequena carruagem no centro da cidade, acredita que aqui eles utilizam carruagens dentro da cidade? É incrível. — Ela sorria, parecendo maravilhada com tudo aquilo. Eve não podia culpa-la. — Se sairmos agora conseguimos chegar as montanhas antes de escurecer.

Eve franziu a testa.

— Sua ideia é ir para as montanhas agora?

— É, por que não? Já perdemos tempo demais.

— Precisamos descansar, Shae.

— Acho que já descansamos demais, ficando dias deitadas em nossos quartos naquele navio.

Eve tentou controlar a voz, não queria começar uma briga, mas não iria dar o braço a torcer.

— Não é a mesma coisa, você mesma passou mal diversas vezes. Precisamos comer e dormir um pouco. Além disso, mesmo que cheguemos lá cedo não vai demorar muito para anoitecer. Amanhã podemos ir pra lá de manhã.

— Mas não podemos perder mais tempo.

— Não é perda de tempo, se estivermos descansadas vamos fazer um trabalho duas vezes melhor. Também podemos procurar um museu no caminho para alguma estalagem. De qualquer forma se quiser ir agora, pode ir, mas eu me recuso a fazer qualquer coisa antes de tomar um banho de verdade e descansar.

Shae revirou os olhos, mas concordou. Eve sorriu, pelo menos dessa vez ela tinha ganhado.

 


Notas Finais


Espero que tenham gostado <3


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