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História O Olho de Jade - Eve


Escrita por: xPrimrose

Capítulo 17 - Eve


Eve não estava preparada para o que veio a seguir: cinco espíritos se materializaram na frente de Shae, não eram translúcidos como ela acreditou que seriam, eram como sombras densas e negras. Eles começaram a marchar em direção a Stev, sem se preocupar em demorar ou não, pareciam certos de que o homem não poderia fugir.

Stev pegou sua espada e correu em direção aos soldados espectrais, atacou o primeiro, cortando-o ao meio. Depois se virou para o que estava ao seu lado e enfiou a espada abrindo um buraco em seu peito. O sorriso no rosto do garoto durou menos de um segundo quando ele finalmente percebeu que os espíritos se regeneravam de qualquer golpe que lhes era desferido. Mesmo o que havia sido dividido em dois se juntou, seus pedaços se colando como se fossem feitos de sombra líquida.

O loiro deu alguns passos cambaleantes para trás quando uma das espadas acertou seu braço esquerdo. Percebendo que os soldados andavam devagar, ele soltou sua própria arma e correu.

Por Eve estava tudo bem que acabasse ali, mas quando se mexia com forças sobrenaturais nenhum assunto podia ficar inacabado. Em um piscar de olhos o maior dos espíritos havia sumido e reaparecido ao lado de Stev. Ele enfiou a espada em sua barriga e a puxou para cima até que saísse pelo topo da cabeça. O grito cortante do garoto foi a coisa mais aterrorizante que Eve já tinha ouvido, não sabia se conseguiria dormir aquela noite, tinha a impressão de que aquele grito a atormentaria para o resto da vida.

A pele de Stev começou a se dissolver enquanto o sangue ainda jorrava. Pouco a pouco não havia nada mais do garoto além de um punhado de sangue e uma massa escura indefinida que logo começou a rastejar pelo chão em direção à Invocadora de Almas, ao mesmo tempo era sólido e translúcido e Eve percebeu que era seu espírito.

Assim que a espada o absorveu, os outros soldados também sumiram.

— O que eu fiz? — A pernas de Shae tremiam, ela se apoiou em Eve.

— Tudo bem, se você não o tivesse matado ele teria feito o mesmo conosco. — Eve tentou consolar a outra garota, mas percebeu que havia entendido tudo errado quando ela começou a sorrir.

— Você viu como isso foi incrível?

— Shae, você matou uma pessoa! — Apesar do que tinha dito no minuto anterior ela sabia que jamais se sentiria bem de verdade com o que haviam feito.

— Foi legítima defesa! E, no fundo, eu precisava saber se conseguiria assistir alguém morrer desse jeito, se não fosse capaz disso como completaria minha vingança?

— E como você está se sentindo depois disso? — Apesar da pergunta, ela já sabia a resposta.

— Bem como nunca estive antes. Eu jamais soltarei essa espada!

Era exatamente o que Eve temia.

[...]

Naquela noite, Eve teve outro sonho com Cersey.

— Essa é a força de NaKagiso! Shae está inebriada pelo seu poder — a deusa respondeu após Eve explicar o que havia acontecido. — Eu disse, aquela espada não traz nada de bom para quem a usa.

— E ainda assim você diz que Shae tem que usá-la!

— Ela deseja vingança, se é o que quer há um preço a pagar. A vingança não é um desejo nobre, só traz destruição para quem a busca e para quem está ao seu redor.

— Eu só queria que tivesse outro modo...

Os olhos de Cersey demonstravam compaixão.

— O único outro modo seria se ela desistisse disso, mas sabemos que ela jamais fará isso. Uma pessoa não pode fugir facilmente de seu destino.

— Facilmente? — Uma centelha de esperança se acendeu no coração de Eve. — Então pode acontecer?

— Sei o que está pensando, meu querido Olho. Mas eu já te adverti sobre isso, não tente mudar o destino de Shae, você não conseguirá! Os laços de sangue e de vingança são fortes demais para você quebrar.

O suspiro que Eve soltou foi alto, ela sabia que não havia nada que podia fazer.

A presença de Cersey estava enfraquecendo, por algum motivo que Eve desconhecia a deusa não podia manter a conexão com ela por muito tempo.

— Apenas se assegure de que ela não se desvie de seu caminho, não deixe que ela use a espada mais que o necessário ou você pode acabar a perdendo para sempre.

Ela não pode responder, tudo já estava se dissolvendo ao seu redor e Eve acordou em seu quarto na pensão.

Já era de manhã e a chuva caia na rua lá fora. Depois do que haviam feito no dia anterior ela não fazia a menor ideia do que fariam agora, por ela descansariam mais um ou dois dias antes de seguir viagem, mas sabia que Shae não aceitaria isso. A outra garota provavelmente iria querer sair em busca de um navio para o Primeiro Reino assim que acordasse.

Eve virou para o outro lado na cama e fechou os olhos, queria voltar a dormir. Havia passado boa parte da noite anterior em claro pensando na Invocadora de Almas e no que Shae havia feito com ela.

Não queria levantar e ser sugada para o mundo real de novo, não queria ter que confiar em alguém apenas para descobrir que ela planejava algo ruim, não que Eve tivesse confiado de verdade em Stev.

Uma batida na porta fez com que ela se encolhesse. Era como se tivesse passado a noite inteira bebendo, sua cabeça doía e cada barulhinho só fazia isso piorar. Cersey havia dito que isso era um efeito de estar na presença do poder de NaKagiso e que as consequências eram piores para Eve por conta de sua visão, e que logo ela se acostumaria a isso, mas Eve desconfiava que essa dor também tinha um pouco a ver com os sonhos com a deusa, ao mesmo tempo que ela precisava se esforçar para aparecer para Eve, a garota precisava se esforçar para vê-la.

— Ainda está dormindo, Eve? — Shae gritou do corredor.

— Espere um pouco.

Lentamente ela se arrastou para fora da cama e destrancou a porta. Shae apareceu na soleira com as energias renovadas. Estava mais bonita do que Eve se lembrava de já a ter visto.

Usava um vestido branco e o cabelo solto, sua pele praticamente cintilava. Parecia normal, mas ao mesmo tempo deslumbrante. Eve se pegou alisando o colar que Kaylan lhe dera.

— Temos um dia cheio pela frente. — Quando a garota adentrou o quarto, Eve percebeu que ela ainda carregava a Invocadora de Almas.

Agora, parando para observa-la percebeu que Shae estava certa: A espada possuía um tom esverdeado e não vermelho como Stev havia dito.

— Precisamos arrumar logo um navio para o Primeiro Reino!

— Hmmm... — Eve passou a mão pelos próprios cabelos, já pensando em como convencer a outra garota de que era melhor esperar um pouco. — Achei que iriamos descansar hoje, você mesma parecia muito cansada depois de usar a espada.

E aquilo era verdade. Na noite anterior, depois de “dar um jeito em Stev” — como Shae gostava de dizer — a garota morena quase desmaiara, insistira que estava bem, mas Eve percebera que não.

— Isso foi ontem, hoje estou muito melhor, sinto como se pudesse enfrentar um exército.

— Vai com calma. É melhor não usar essa arma de forma desnecessária. — Eve se lembrava do conselho de Cersey.

— Não estou usando de forma desnecessária. Mas se eu precisar, não pensarei duas vezes antes de recorrer ao seu poder. Queria que você pudesse sentir isso, Eve. É maravilhoso.

— Deve ser — ela resmungou voltando a se jogar em sua cama.

— Está de mal humor? Ainda é por causa do que viu na casa de Esmée?

A menção ao outro oráculo fez Eve grunhir. Ela tentara de todas as formas afastar aquilo de sua mente e realmente tinha conseguido enquanto elas estavam ocupadas com Stev. Mas quando ficara sozinha em sua casa a imagem de Sanne não parava de surgir em sua mente.

Até ver a mulher ela ainda não conseguia se imaginar nesse estado, mas agora tinha certeza que acabaria exatamente desse jeito. E isso era demais para Eve suportar. Já havia perdido a família, as garotas que viviam com ela no templo e Kaylan. E agora perderia a si mesma.

— Eu já disse, aquilo não quer dizer nada! — Shae se sentou ao seu lado.

Eve manteve a cara enterrada no travesseiro para segurar as lágrimas que ameaçavam sair.

— Acho que era meu destino me encontrar com você. Para fazer algo importante antes de acabar em estado vegetativo.

— Não é exatamente estado vegetativo.

— E qual é a diferença? — Ela soltou uma risada nervosa. — Prefiro morrer a terminar daquela maneira.

A outra garota não soube o que responder.

— Se eu te pedisse uma coisa, você faria?

— Claro! — Shae parecia determinada.

Com dificuldade, Eve verbalizou o que estava pensando desde a noite passada.

— Se você perceber que eu estou louca, se eu tiver perdido a mim mesma. Se não for possível me reconhecer mais... Você me mataria?

— De jeito nenhum! — Shae se levantou.

— Por favor, Shae! — Ela realmente não queria terminar seus dias assim, apesar de acreditar que Shae morreria antes de que perdesse completamente a sanidade, queria ter uma garantia. — Se você não fizer isso, eu mesma darei um jeito.

— Então se mate sozinha! Se jogue de um penhasco ou corte a própria garganta, eu não me importo, só não me peça para fazer isso.

— Shae...

— Não, Eve, Não!

— Por favor!

— Acho que você já perdeu a sanidade, porque não sabe o que está dizendo! Você não vai enlouquecer, a não ser que coloque essa ideia em sua cabeça. Você não pode ser entregar, Eve. Enquanto ficar pensando em se matar e que irá enlouquecer você não vai conseguir viver, não de verdade. Se seu destino for mesmo esse, pretende passar seus últimos dias de consciência dessa forma?

Eve não tinha percebido isso, mas eram exatamente as palavras que ela precisava ouvir. Shae estava ali, a encarando com aqueles olhos castanhos e jogando em sua cara que ela precisava aproveitar sua vida. A mesma Shae que morreria em pouco tempo, apesar de ainda não saber disso. Era quase uma ironia. Eve se sentiu aquecida por dentro, um sentimento estranho e novamente ela estava com a mão no colar que Kaylan lhe entregara.

— Você tem razão.


Notas Finais


Espero que estejam gostando!


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