- Justin, ela está com um bebê no carro, a sua filha, ela está de cabeça quente - minha mãe infernizava enquanto eu tentava não socar uma parede de raiva daquela filha da mãe.
- Ryan está com ela - falei nervoso subindo as escadas e indo até meu quarto. Aquela menina me tirava do sério! Ryan ainda era seu baba ovo, correu a vida toda atrás dela depois de nossas brigas. Os dois tem uma amizade muito inexplicável, assim como a minha amizade com ele, mas não tinha nem meu melhor amigo nessa hora.
- Justin? - a voz de Chris do outro lado da linha tomou conta dos meus ouvidos.
- Fala aí, bro - disse animado, o fazendo rir.
- O que é que está pegando?
- Cassino hoje? - sorri de canto. Sabia que falar em cassino para Chris era como falar de doce para criança, ele topa na hora.
- Com certeza - ri vitorioso e então encarei, pela janela, a rua pouco movimentada perto de casa. - Bro, abriu um cassino novo, vamos para lá?
- É para já! Te encontro as onze e nada de se atrasar, seu viado!
- Bieber, eu não sou você que demora meia hora para arrumar o cabelo - Chris falou na defensiva, me fazendo rir pelo nariz.
- Finjo que acredito. Até de noite! - desliguei o celular e deitei na minha cama. Estava disposto a fazer qualquer coisa para me divertir essa noite e tirar a raiva que estou sentindo de Clarice da cabeça.
Clarice P.O.V
- Por favor, você não vai dirigindo nervosa assim - Ryan apareceu do meu lado. Eu já estava quase colocando o cinto de segurança, mas ele me impediu.
- Ryan, por favor, me deixa ir para casa – implorei. Ainda estava na frente da casa de Bieber e céus, estava me controlando ao máximo para não ir até lá e dar uns bons tapas na sua cara.
- Clarice, eu levo você - me empurrou, fazendo-me sair da frente do volante e ir até o banco do carona, bufando. Se eu fosse um dragão estaria cuspindo fogo nesse momento.
Ryan era um grande amigo para mim. Todos os amigos de Justin eram gentis e legais comigo, mas Ryan é diferente. Ele sempre tomou a frente, não gostava quando eu e Justin brigávamos e sempre torceu para que nós dois desse certo, mas vamos deixar claro: só torceu. Ryan também era padrinho de Lana e Hayley, a madrinha, foram meu braço direito e esquerdo desde que essa menina nasceu. Ele ligou o som e estava tocando "Smoke Weed Everyday".
- Sério, Clarice, você precisa parar de ouvir esse tipo de música, não vai fazer bem para a sanidade de Lana - foi trocando as faixas e parou em uma música do Maroon 5 e nela deixou.
- Eu to explodindo de raiva - coloquei as mãos na cabeça olhando para frente, vendo carros com pessoas normais com seus problemas normais, com vidas normais, e eu era submissa ao Justin. Odiava o fato de tudo em minha vida estar ligado a ele. Meu celular vibrou, Pattie me ligava desesperadamente.
- Pattie está louca atrás de mim - peguei meu celular vendo ela me ligar, desligar e ligar de volta.
- Ela conhece o filho melhor que nós - Ryan entortou um pouco o corpo quando fez uma curva, achei aquilo engraçado.
- Pensei que suportaria passar um almoço ao lado dele, mas parece que ele gosta de brigar comigo. - desliguei meu celular antes que ficasse louca com as ligações de Pattie.
- Relaxa, Clarice, o Justin faz isso para provocar - estacionou na frente da minha casa e ele foi pegar Lana, que brincava com um chocalho animadamente.
- É, eu sei, mas você não percebe que ele me odeia? Eu não sei por que esse cara me causa tanta ira. - me joguei no sofá de minha casa e Ryan colocou Lana em seu cercadinho com brinquedos.
- Tenta se acalmar aí colega, depois te ligo - e saiu.
E lá estava eu sozinha com Lana naquele loft de tamanho médio, confortável e bem seguro em um bairro nobre de Toronto. Meus pais estavam na Inglaterra com a vida e a empresa deles. Eu estava sozinha no Canadá, sem família. E cá estava eu mais uma vez imaginando como seria se essa casa fosse lotada, pensando que Lana poderia ter seus pais unidos e receber um amor em conjunto, mas não.
Eu era ingênua de mais desde pequena.
Flashback On.
Inglaterra, 1999.
Eu tinha apenas cinco anos, mas era inteligente de mais para a minha idade. Era inverno e estava um dia de muito frio, mas o sol ainda fazia questão de brilhar vagarosamente em cima de nossas cabeças. Enquanto algumas crianças se divertiam fazendo bonecos de neve e guerras de bolinhas fora de seus quintais junto com seus pais, eu estava lendo meu livro preferido: "As viagens do capitão Guilber". Um livro feito especialmente para mim. Já estava acostumada com todos esses mimos. Meu primo veio de um acampamento de super dotados depois do verão e trouxe para mim um livro de duzentas e cinquenta e duas páginas, sem figuras, sem desenhos, só palavras. A primeira coisa que fiz ao ver aquele enorme livro na minha frente foi rir da cara de George, ele só podia estar de sacanagem comigo. Qual era a graça de livros sem gravuras? Mas foi quando George abriu o livro e começou a contar as incríveis histórias que havia escrito o verão todo, foi quando eu me apaixonei por Guilber, aprendi a ler rapidamente e com cinco anos já havia lido aquele livro nada mais e nada menos que seis vezes.
Papai naquele dia demorou a chegar de sua empresa, mamãe preparava um chocolate quente enquanto eu lia meu livro concentrada perto da lareira. Estava me tornando a segunda superdotada depois de George na família - o que era um orgulho para meus avós. A neve caia mais forte agora, mas capitão Guilber ainda não tinha encontrado o tesouro perdido no Everest, deitei minha cabeça no canto da poltrona e acabei adormecendo.
Quando acordei havia uma manta cor-de-rosa por cima do meu corpo, a minha preferida. Olhei em volta e meu livro não estava mais lá, Mamãe com certeza havia guardado. Me espreguicei vagarosamente e então me deparei com um menino sentado ali perto.
- Quem é você? - eu estava assustada, nunca tinha visto o menino na vida, e meus pais não estavam ali por perto.
- Meu pai veio jantar com o seu pai, e ele me trouxe - o menino deu de ombros e se levantou indo até a janela.
- Ainda não sei o seu nome - me levantei rapidamente indo para perto do menino.
- Julian - respondeu com um sorriso. - Sua mãe me contou que você tem cinco anos? Eu tenho sete.
- Legal - me sentei no chão aquecendo minhas mãos na lareira
Meninos eram extremamente chatos naquela época, mas Julian era legal. Ficamos conversando sobre jogos e cartas, ele me perguntou sobre Guliber e eu expliquei a história com muito êxito. Julian me disse que um dia gostaria de ter um livro só para ele, para poder compartilhar essa história só com ele. Então me deu um beijo na bochecha, se despedindo, e dizendo que pediria ao pai para ir para casa por que estava com sono. Eu achei um máximo um menino estar me dando um beijo na bochecha. Todos me diziam que eu era uma princesa, mas aquele dia foi a primeira vez que me senti como uma.
E foi aí que veio a parte chata.
Inglaterra, 2002.
Oito anos. Há um pé de terminar o Ensino Fundamental I. Meus pais estavam orgulhos por eu ter passado um ano adiantada no colégio e estar tirando notas incríveis e acompanhando a turma. Estava com os materiais prontos em cima da minha mesa, ainda guardava o livro de Guliber na minha estante de livros, mas ele havia perdido a mesma magia de antes. Escutei algumas pessoas cochichando para lá e para cá, e vi entrando na porta Julian, agora mais alto, com os olhos verdes ainda mais bonitos e com o cabelo arrepiado. O garoto só tinha 10 anos e fazia qualquer menininha mais nova babar, fazia muito que não o via, meu coração começou a bater forte assim que ele atravessou aquela porta, sentou-se na segunda carteira à minha diagonal, e assim começou uma jornada de amores por Julian.
Demorou apenas um mês e meio para perceber que Julian era o amor da minha vida. Ele era ainda a mesma pessoa, mas com uma personalidade diferente, burro igual uma porta, fazia baderna na aula e quase foi expulso, até que um dia meu coração ele quebrou. Disse coisas sobre mim que me deixaram arrasada, eu só queria abraçar minha girafa de pelúcia e chorar no meu quarto. Até que uma notícia surgiu na minha casa, iríamos nos mudar para o Canadá por que papai abriria uma filial de sua empresa lá. E desde aquele dia eu decidi que nunca mais iria me apaixonar.
Flashback Off.
Ri lembrando do meu passado, quando tinha jurado não me apaixonar. Nunca tinha deixado de ser a Clarice Gray, a inglesa inteligente, uma quase superdotada e o orgulho da família burguesa.
A minha inocência naquela época me deixava feliz nos dias de hoje, achava que o mundo era fácil e que nunca mais aparecia alguém igual Julian na minha vida. Pobre Julian, quem poderia imaginar que o coitado foi um abrir de portas para o que Justin fez comigo.
Eu não era mais exemplo na minha família. A única filha dos famosos empresários Gray engravidou com apenas vinte anos. Aquilo era um prato cheio para que o almoço de família fosse um total desastre, falando de como fui irresponsável e seu eu iria criar um filho sozinha, e quem era o pai da criança. Apresentar Justin ao meu pai também não foi algo aceitável. Justin negou a qualquer custo ir conhecer meu pai e, bem, eu também estava negando por dentro, meu pai nunca me aceitaria namorando com um cara igual ao Justin.
Meu pai ainda me sustenta. Eu trabalho em sua empresa aqui em Toronto e ganho alguns bons mil dólares pra levar a vida que tenho. Aceitaram Lana numa boa, mas o problema era que não vinham visitá-la. Eu precisava da minha família mais unida.
- Quer saber, filha, seu pai é um babacão - Lana riu no meu colo me fazendo rir também.
- A mamãe vai cuidar de você para sempre - beijei seu rostinho e ela bocejou. Estava com sono, então a fiz dormir e acabei pegando no sono também.
Acordei levando um susto. Lana estava chorando de fome e precisava trocar a fralda, então primeiro a amamentei e depois dei um banho nela, a deixando muito cheirosa. Meu celular começou a tocar.
- Alô? - atendi meu celular, ainda com Lana no colo e tentando arrumar tudo ali. Ela estava pelada.
- Lembra de mim? - uma voz rouca, grossa e um tanto quanto excitante tomou conta dos meus ouvidos.
- John - sorri de canto e pude jurar que ele fez o mesmo.
- Topa sair comigo essa noite? - coloquei Lana na cama e apoiei meu celular entre o ombro e o rosto, colocando uma fralda nela.
- Desculpa, John, é sábado e meu ex-namorado não vai poder ficar com a nossa filha. Vamos ter que marcar para outro dia.
- Sua filha... Lana? - perguntou esperançoso. Sorri de canto, ele lembrou o nome da minha filha. Um homem que se encontra nas baladas e vale a pena. - Eu sei que a gente ainda está se conhecendo e é meio cedo para ir na sua casa e tal, que tal se eu levar você e Lana em uma pizzaria?
Fiquei pensativa, colocando a camiseta em Lana, fiz uma estalo com a boca.
- E então?
- Ok, pode ser, venha aqui as oito - ele assentiu e eu desliguei o celular. Estava animada para sair com John, com certeza ele não tinha segundas intenções de me levar para a cama.
Faltava algumas horinhas então decidi me arrumar. Eu tinha um closet enorme cheio de roupas de variadas marcas. Decidi ir com uma camisa branca, uma calça azul marinho e um blazer da mesma cor, um sapato de salto alto branco. Vesti uma calça jeans e uma camiseta de ursinhos na Lana, e depois a enrolei em um cobertor, estava um pouco frio naquela noite. Já estava na hora e então escutei alguém bater a campainha. Era ele.
- Você está linda! - disse dando um selinho inesperado. Somente retribuí. - Cheguei muito cedo?
- Não - sorri - Entre por favor, só estou terminando de arrumar a Lana.
- Finalmente irei conhecer essa boneca - sentou-se ao sofá e eu subi rapidamente indo buscar Lana, sua bolsa com fraldas e mamadeira. Peguei meu celular e fui meio torta descendo as escadas.
- Deixa eu te ajudar - John correu em minha direção pegando a bolsa de Lana. - Ela é linda como a mãe.
- Obrigada - sorri envergonhada e ele beijou o rostinho de Lana. - Você consegue instalar isso no seu carro? - apontei para o bebê conforto e ele riu, indo pegá-lo, e depois saímos.
John realmente não sabia como instalar um bebê conforto, lutou mas foi em vão.
- Eu, literalmente, não sirvo para ser pai - eu ri fazendo ele rir também
- Me dê licença - entreguei Lana para ele e num piscar de olhos o bebê conforto estava instalado no banco traseiro do seu carro.
- Você faz tudo isso sozinha? - perguntou incrédulo assim que deu a partida no carro.
- Quando você é praticamente mãe solteira aprende fácil - sorri olhando a estrada, ele me encarou e depois continuou dirigir.
Justin P.O.V
No horário combinado, eu já estava com meu carro estacionado na esquina do cassino. Chris, aquele filho da puta, ainda não tinha aparecido por ali. Atravessei a rua contrária à boate e iria esperar ele lá. Fiquei parado em frente a uma pizzaria. Peguei meu celular impaciente ligando pra Chris, ele atendeu no segundo toque.
- Onde é que você está, caralho? - quase gritei ao telefone.
- Bieber, eu estou chegando, aquieta esse rabo aí - ele riu e eu bufei.
- Estou desistindo de te esperar aqui, chega logo porra! - virei meu corpo, olhando dentro da pizzaria, e não acreditando no que vi. Chris estava dizendo alguma coisa mais eu só desliguei o celular sem ao menos respondê-lo. Clarice estava sentada com Lana dormindo em seu colo, e um cara para lá de metido, fazendo-a rir.
- Vou dar um susto nessa babaca - vi meu sangue ferver. Buscava por adrenalina e por encher o saco de Clarice, ela merecia de vez em quanto.
Entrei dentro da pizzaria sem ser notado pelos dois, então fui em direção a eles.
- Deixa eu ver o meu bebê - falei no ouvido de Clarice e ela arregalou os olhos, o cara nem tinha me visto aparecer ali. Clarice somente me encarou com desprezo.
- John, esse é Justin, pai de Lana.- John sorriu para mim mais eu não devolvi o sorriso, apenas acenei com a cabeça com olhar indiferente.
- Justin, esse é John.
- Seu novo namoradinho? - perguntei rindo debochado e Clarice só faltou tacar um copo na minha cara. Dei um beijo na cabeça de Lana e saí dali rindo sarcástico.
Não havia gostado nenhum pouco daquela cena.
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