História O Perdedor - Um

PRÓLOGO

Sasuke

Um ano antes...

O SUOR ESCORRIA FRIO PELO meu corpo enquanto eu posicionava os lotes de fruta na mesa de tábuas velhas que eu tinha improvisado alguns dias atrás.

O sol estava me castigando naquela manhã e meu cansaço não ajudava. Não foi fácil passar a noite acordado olhando a bebê de trinta dias que não parou de gritar um só segundo. Ainda que minha mãe tenha me ajudado, apesar de não poder se esforçar devido as suas dores constantes, não foi uma noite positiva. Ela estava doente a meses, mas eu não podia negar sua ajuda, estava necessitando dela, porém nada funcionou com a minha filha.

A mãe de Kiera faleceu logo após seu nascimento, nós não estávamos juntos, mas eu tentava ajudar em tudo o que podia quando era relacionado ao bebê. Até mesmo gostei da ideia de ter uma filha quando me contou radiante a novidade. Ainda que não fôssemos um casal, éramos amigos, contávamos com o apoio incondicional um do outro.

Felizmente não cheguei a tempo de acompanhar o parto, pois não suportaria vê-la morrer diante dos meus olhos. Tínhamos desenvolvido um forte laço por causa da gravidez inesperada, e ainda que minha presença não fosse mudar o inevitável, meu egoísmo não suportaria conviver com a ideia que não pude fazer nada para mudar sua tragédia. 

Sua mãe foi quem me contou com detalhes dolorosos tudo o que aconteceu mesmo que eu tenha lhe pedido para não dizer, e naquele momento vendo sua dor, deixei meu amor paternal de lado para me colocar em seu lugar. Pretendia deixar Kiera com a mãe de Karin para que assim ela pudesse preenchesse parte do seu coração partido com a perda da filha, no entanto, a mulher que um dia quis ser avó nem mesmo quis pegá-la no colo, alegando não querer tocar naquela "coisa" que lembrava sua filha.

E Kiera era realmente a cópia de Karin, com cabelos ruivos bem ralos e pálida como qualquer recém nascido. Cada traço era perfeito e absurdamente semelhante ao da mãe, e se não fosse pelos seus olhinhos negros como os meus, ninguém diria que é minha filha. 

Foi então que minha responsabilidade como pai teve início, mesmo não sabendo cuidar de uma criança. E minha mãe fez seu ótimo papel de mãe prestativa e avó coruja, me ajudando até quando não precisava de sua ajuda.

Deixando de lado os sentimentos conflitantes que estavam me atormentando, forcei um novo grito ignorando a garganta seca.

— Aqui você encontra as melhores promoções. Cada lote saindo pela metade do preço. Tem banana, tem maça, tem mamão, tem pêssego, tem ameixa. Vamos, vamos, são dois lotes pelo preço de um.

Essa era minha vida. 

Trabalhar três dias na semana na feirinha com a tia Kushina, mãe do meu melhor amigo, que me chamou para ajudá-la depois que abandonei a escola para ajudar minha mãe que estava desempregada. Na época senti a necessidade de não deixá-la passar por dificuldades, e apesar da vida desgastante após minha decisão, poder auxiliar em seu tratamento era o que me reconfortava quando tudo parecia um grande caos.

Não era a vida que eu queria para mim, todos os meus anos da escola mesmo odiando eram dedicados a minha mãe. Eu queria conquistar o melhor para nós dois, mas esse sonho foi desmoronando quando completei dezesseis anos e não pude concluir meus estudos. A tendência foi piorar depois de uma noite de bebedeira na casa de Naruto. Karin era sua prima, de segundo grau, mas ainda assim era, e assim ele se tornou o tio e padrinho escudeiro de Kiera.

No entanto, agora era tudo diferente. 

Kiera tinha somente a mim, a minha mãe, a Kushina e a Naruto. Deveria ter também o meu pai, o meu irmão e o Minato, pai de Naruto, mas um trágico acidente de carro os tiraram de nós durante uma viagem para o estado vizinho onde meu irmão participaria de competição de matemática.

Ele era um gênio, e eu não fiquei atrás, mas ainda assim nunca pude alcançá-lo.

— Sasuke, Mikoto está dando conta de ficar sozinha com Kiera? Se não você pode ir para casa, eu me viro aqui. — Falou Kushina me encarando com certo pesar.

— Kiera é quietinha, dorme de dia o que não dorme a noite. E no momento só quero que essas vendas aumentem, sinto que não vou dar conta da quantidade de gastos, esse mês só serviu para me mostrar essa fodida realidade.

E era verdade. 

Kiera usava tantas fraldas que me perguntava de onde surgia tanto cocô. As pomadas caras só duravam alguns dias e ela mamava infinitamente. A lata de leite que deveria durar duas semanas de acordo com a receita do pediatra mal foram suficientes para uma, mas eu tentava não reclamava, pelo contrário, estava satisfeito, pois ela ficaria bochechuda e gordinha do jeito que minha mãe dizia que deveria ficar.

Eu não imaginava que conseguiria me adaptar tão bem a vida paterna antes de cuidar daquela menininha, mas estava me saindo melhor do que certamente esperavam de mim. Meu problema era o que o futuro tinha reservado para mim. Com vinte e um anos, sem o ensino médio ou um curso profissionalizante, sem dinheiro, com contas para pagar, remédios do tratamento da minha mãe para comprar, compras para fazer que certamente aumentariam gradualmente, entre outras tantas dificuldades que poderiam surgir.

O fato de está afundado em necessidades estava bem a minha frente, mas nunca estive tão disposto a fazer o impossível dar o melhor para minha filha e minha mãe. 

Um filho decidido e um pai protetor jamais deixaria faltar o essencial para as mulheres da sua vida, nem que para isso eu precisasse me matar de trabalho.

— Vai dar tudo certo querido, acredite. — Me encorajou Kushina apertando meu ombro.

Só não contava que o tempo fosse virar minha vida do avesso de forma tão insana um ano depois quando eu estava começando a acreditar que as coisas poderiam realmente dar certo.