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História O piano e o mousse de maracujá - Alfredinho


Escrita por: tali-ta

Capítulo 1 - Alfredinho


— Onde é que eu estava com a cabeça quando achei que seria uma boa ideia isso aqui? - Violeta fala, tentando não bocejar, não queria ter ido ao evento, mas ela e o marido foram convidados por um cliente antigo da tecelagem e não podiam recusar. O sujeito insistia que o filho era cantor e resolveu fazer um show particular para alguns convidados - Esse tal show não vai começar nunca?

— Aparentemente querem suspense. - Eugênio respondeu, aproximando o rosto do ouvido da esposa

— Isso já passou dos limites, meu bem. Já estamos aqui há horas e nada desse rapaz começar a cantar. 

— Alfredo me disse que o rapaz canta como um canário.

— Ele é pai do rapaz, Eugênio, quero só ver. Até parece que estão com medo do rapaz abrir a boca para cantar.

— Imagine só se a voz do rapaz for medonha? - os dois riem, sentados à mesa, que foi especialmente escolhida para eles. 

— Nós poderemos levantar e ir embora ou não seria de bom tom?

— Alfredo é um de nossos mais antigos clientes, não sei se seria uma boa ideia.

— Então se o rapaz cantar mal, teremos que aguentar o martírio? - Eugênio confirma com a cabeça - Papagaio, onde foi que nós fomos amarrar nosso burro, Eugênio? Era melhor ter dito que tínhamos outro compromisso ou que eu estava com dor de cabeça - ela fala, olhando para ele e os dois caem na risada. - O que foi? - ela pergunta, enquanto ele a observa de perto.

— Eu adoro quando rimos juntos assim. Adoro o som da sua risada junto com a minha.

— Você é o maior motivo das minhas risadas e sabe disso. Principalmente quando você fala algum dos seus absurdos. 

— Você ama o seu avoado, não ama?

— Mas que convencido, meu deus.

— Eu amo a minha irritadinha. 

 

De repente uma voz nada agradável e estridente interrompe o momento romântico do casal. Os dois se olham inconformados, detestando a trilha sonora 

 

— Não vá me dizer que essa voz….

— Eu acho que sim, é a voz do tal rapaz.

— Eugênio, o Alfredo pode ser pai dele, mas deveria reconhecer que esse rapaz tem uma voz horrível. É até injusto com o rapaz que o façam acreditar que ele tem futuro nessa carreira. - Eugênio não consegue se controlar e solta uma risada - Eu não consigo virar a minha cabeça para olhar pra ele porque eu vou cair na risada e isso é pecado.

— Nós deveríamos ir embora.

— Você disse que nós não poderíamos ir embora.

— Minha flor, eu não vou aguentar esse rapaz destruindo meus tímpanos. Eu prefiro ouvir o barulho das máquinas da tecelagem, elas são mais afinadas. Aliás, eu acho que quem deveria estar cantando ali é uma certa flor do meu jardim, que tem a mais doce das vozes que eu já ouvi na vida.

— Às vezes eu acho que você exagera…

— Não, eu não exagero…… - a voz do rapaz interrompe o raciocínio de Eugênio - Meu deus, esse rapaz precisa parar, alguém precisa avisá-lo. - Violeta ri 

— Eu não vejo a hora de ir embora, estar na nossa cama, eu preciso da sua massagem, meus pés estão em pandarecos. 

— Só seus pés precisam de massagem?

— Você pode começar pelos meus pés.

— E aí eu posso ir subindo e subindo…. - ela sorri, mordendo os lábios. 

— Era exatamente isso que eu est…..papagaio, esse moço é horrivel! Eugênio, vamos embora. 

— Mas como vamos sair daqui?

—Meu bem, estou passando mal - Violeta começa a falar de repente, colocando a mão na testa e falando um pouco mais alto, tendo certeza de que o anfitrião está vendo e ouvindo - Acho que minha pressão está caindo. 

— Meu amor, vamos, vamos tomar um pouco de ar. 

 

Os dois deixam o local. Eugênio avisou o cliente de que Violeta não estava bem e eles teriam de ir embora. Assim que entram no carro, os dois suspiram aliviados.

 

— Meu deus, finalmente, estamos livres daquela voz! Pobre rapaz, alguém, realmente precisa falar a verdade para ele. Ele não pode continuar sendo enganado, acreditando que é um cantor. Eu tenho certeza de que todos ali, ou, pelo menos, os que tem bom senso, estavam detestando aquela tortura. Eugênio? - ele estava calado, olhando para o volante - Meu bem?

— E se fizéssemos um sarau.

— Como assim?

— Com música, dança, sua voz……

— Pare de loucura, Eugênio. Eu nem canto tudo isso.

— Você não acredita em mim?

— Tudo que eu fizer, você vai dizer que é lindo e perfeito.

— Nem tudo. Seu mousse de maracujá não é bom e eu já lhe disse isso.

— O problema era a receita.

— Mas não há receita para mousse de maracujá. Enfim, se não acredita em mim, escute sua irmã. Heloísa também já disse que ama quando você canta e o quão linda é a sua voz.

— Ela é minha irmã.

— Vamos tentar apenas e se você não quiser, juro que não insisto mais. Apenas acho que todos merecem ouvir sua voz doce e aveludada. - ela faz carinho no rosto dele e sorri

— O que eu faria sem você?

— Continuaria sendo a mesma mulher incrível que é.

— Mas triste e infeliz, como se estivesse ouvindo aquele pobre cantar todos os dias nos meus ouvidos. - os dois caem na risada 

— Como iremos olhar para o Alfredo novamente?

— Não sei, mas aposto que no fundo, ele sabe que o rapaz deveria procurar outra profissão.

— Talvez devêssemos dar algumas pistas a ele. Convidá-lo para o sarau, acho que assim ele entenderia o que significa cantar e a diferença com aquilo que Alfredinho faz.

— O rapaz ainda é conhecido por Alfredinho. - ela ri ainda mais - Não há salvação ali, meu bem.

— Pobre Alfredinho.

— Pobres dos nossos ouvidos, isso sim. Papagaio, pagamos pecados hoje. 

— Me prometa que irá pensar sobre o sarau

— Eugênio….

— Por favor, apenas pense com carinho no que o seu maridinho está pedindo.

— Patife, usando de chantagem emocional para me fazer mudar de ideia.

— Vai pensar?

— Vou porque sei que você, meu maridinho, não irá me deixar em paz e ficará me enchendo as medidas. - ele sorri, enquanto dirige. - Meu Deus, meus pés estão me matando, acho que até eles sofreram com a voz do Alfredinho. 

— Já vamos chegar em casa e eu cuidarei de você do jeito que você merece.

 

Ela sorri, acariciando o rosto dele. Minutos depois, eles finalmente chegaram em casa.


 

******

 

— Mas eu adorei a ideia! 

— Porque é doida feito o Eugênio. - Violeta diz, enquanto as duas caminham pelo Centro da cidade 

— Violeta, eu sempre disse que sua voz é linda e que você deveria cantar mais vezes. 

—Heloísa, eu apenas gosto de cantar às vezes. Não sou cantora. Eugênio está me enchendo as medidas com isso porque fomos a um evento de um de nossos clientes da fábrica, era pra assistir ao show do filho do homem, mas aquilo foi um martírio. Minha irmã, o rapaz não sabe o que significa cantar , acha que é só abrir a boca e deixar as palavras saírem. Meus ouvidos sofreram muito naquela noite, paguei pecados que nem sabia que tinha. Desde então, Eugênio está insistindo  nessa ideia estapafúrdia. 

— Não acho a ideia absurda. 

— Mas é.  Você e Eugênio são suspeitos para falar qualquer coisa sobre mim. 

— Ah não, Violeta, eu lhe digo a verdade quando você não é boa em algo. O seu mousse de maracujá, por exemplo. 

— Mas papagaios, o que tem de tão errado com meu mousse de maracujá? 

— Não é bom, minha irmã. Já lhe disse isso várias vezes. 

— Vou trocar a receita. 

— E lá tem receita pra mousse, Violeta? 

— Já entendi o recado. 

— Agora essa ideia do sarau, eu acho que pode dar super certo. 

— Vou te colocar pra tocar acordeon, quer?

—Eu lá sei tocar acordeon? Já você sabe cantar e sabe cantar muito bem. 

— Tudo bem, já entendi que você e o Eugênio não vão me deixar em paz. 

— Todos merecem ouvir sua voz, minha irmã. É um alento para todos. Papai também dizia que você cantava como um rouxinol. 

— Exagerado. 

— Ele gostava muito quando você se sentava ao piano, tocava e cantava. - Violeta muda a expressão. - O que foi? 

— Foi em uma dessas vezes que eu estava ao piano, que Matias me viu. Em um dos eventos na fazenda. 

— Ô Violeta, me perdoe, eu não queria trazer essa lembrança.

— Está tudo bem. Só me fez lembrar que eu não toco piano há muitos anos. 

— Você sempre foi tão musical. Sempre foi a luz daquela casa. Não era à toa que mamãe lhe chamava de meu raio de sol. - Violeta sorri 

— Você era a luz da estrela. Me lembro disso, mamãe te chamando assim.

— Você está tão feliz ao lado do homem que ama, vivendo o melhor da sua vida. Você é a luz do sol, minha irmã. Deixe que todos vejam isso. Todos merecemos um pouco da sua luz. 

— Eu detesto isso.

— O que? 

—O que você e Eugênio fazem comigo, sempre me pegando pelo lado emocional. 

— É que nós conhecemos você muito bem.

— E tiram proveito disso. 

— Apenas tente, por favor. 

— Vou continuar pensando, mas disse ao Eugênio que o sarau deve acontecer, independente de mim. 

— Eu ainda vou te ver cantando. 

— Tudo bem, Heloísa, agora vamos que eu ainda tenho que ir pra fábrica porque o seu cunhado não sabe fazer nada sem mim. 

— Mas isso eu sempre soube. - as duas riem.

 

*****

 

Violeta chega na tecelagem e já é parada por Dona Iara

 

— Dona Violeta, Doutor Eugênio me pediu para avisar a Senhora que ele está na sala dele com o Senhor Alfredo.

— Alfredo? Eugênio está com ele há quanto tempo?

— Uma meia hora.

— Ele está sozinho?

— Não, trouxe o filho com ele.

— Alfredinho. Ó céus, pobre do meu marido, deve estar fazendo um esforço do tamanho de um bonde para se controlar lá dentro. 

— Está tudo bem, Dona Violeta?

— Não, Dona Iara, não está nada bem. - ela tenta não rir - Me faça um favor. Vá até lá e invente uma desculpa para tirar Eugênio da sala e aqui fora lhe diga que eu estarei esperando por ele na minha sala.

— Tudo bem.

— Obrigada. - ela segue para sua sala.

 

— Com licença, Doutor Eugênio, mas preciso da sua ajuda, é urgente. - Eugênio pede licença e sai da sala com Dona Iara - Dona Violeta está esperando pelo Senhor na sala dela.

— Ela está bem?

 

Eugênio entra na sala de Violeta desesperado, mesmo com Dona Iara dizendo que ela estava bem.

 

— Violeta! Você está bem?

— Alfredo está aqui?

— Está e com Alfredinho.

— Papagaio. Como está se controlando lá dentro?

— Nem eu sei, mas cada vez que olho para cara do rapaz, me vem a voz dele na cabeça de novo e eu me lembro de nós dois rindo e quase caio na risada.

— Eu não vou até lá. 

— Ele já perguntou por você, quer saber como você está depois do seu “mal estar”..

— Diga que eu não estou aqui. Eugênio, você não me faria ir até lá, faria?

 

Na sala de Eugênio:

 

— Violeta! - Alfredo diz, se levantando da cadeira para cumprimentá-la - Sempre é um prazer revê-la.

— Prazer é todo meu, Alfredo.

— Hoje trouxe meu filho, Alfredinho. Disse a ele que a vida não é feita só de cantar, tem que tomar pé dos negócios da família.

— Claro.

— Mas como você está? 

— Bem, aquele dia foi apenas um mal estar, nada de preocupante, mas uma pena que não pudemos ficar até o fim.

— Realmente uma pena, mas faremos outros. - O casal arregala os olhos 

— Que maravilha! - Eugênio fala, tentando quebrar o silêncio 

— Faremos na semana que vem, na quinta feira. Estão convidados. 

— Uma pena realmente, pois já temos um compromisso com amigos e é inadiável.

— Uma pena, mas haverão outras oportunidades.

 

Violeta sorri com um sorriso amarelo, fazendo uma força absurda para não cair na risada ou dizer algo inapropriado. Quando os dois, finalmente, saem da sala e o casal se vê sozinho, Violeta solta uma risada enquanto olha para Eugênio que acaba caindo na risada junto com a esposa. 

 

— Meu Deus, nós somos pessoas horriveis. - ela diz se apoiando na mesa e parando de rir.

— Horrível é a voz daquele rapaz.

— Eugênio! - ela dá um tapa de leve no braço dele, quando ele já está próximo dela - Que evento é esse que temos e que é inadiável? Você respondeu tão rápido e firme que até pareceu verdade.

— O sarau.

— Mas eu achei que não tínhamos uma data ainda. 

— Não era oficial, mas quando ele nos convidou para mais um martírio, foi a primeira coisa que me veio à mente. - ele coloca as mãos na cintura dela - Heloísa conversou com você?

— Claro que sim. Eu entendi muito bem esse complô de vocês dois. 

— Meu amor, nós só queremos ter o privilégio de ouvir você cantar.

— Como se eu não cantasse sempre pra você, não é, seu cabeça de bagre?

— Mas isso é diferente. Eu amo quando você canta só pra mim, no meu ouvido, quando estamos juntos na cama e você começa a dedilhar nas minhas costas e cantar, olhando nos meus olhos, quando você me acorda, cantando quase que num sussurro no meu ouvido, mas eu adoraria ver as pessoas sorrindo ouvindo você cantar.

— Você é um bobo. 

— Sou mesmo. 

 — Hoje eu me lembrei que há muitos anos eu não toco piano, algo que eu sempre adorei fazer. Em casa, quando éramos mais jovens, meus pais pediam para que eu tocasse piano, durante os eventos na fazenda. Heloísa nunca gostou de tocar piano, mas eu sempre adorei - a expressão dela muda e ele percebe.

— O que foi?

— Matias me viu tocando piano uma vez, foi a primeira vez que nos vimos, durante um jantar em minha casa. 

— Ô meu amor, me perdoe por te fazer pensar nisso novamente. 

— Shh. - ela coloca o dedo nos lábios dele - Está tudo bem. Isso só me fez ver que eu me afastei de algo que eu sempre gostei tanto e, de algum jeito, você me fez ver isso também.

— Se você preferir, você pode tocar piano e não cantar, se isso te deixar mais confortável. Minha flor, não quero que você faça algo porque está se sentindo obrigada. Quero que você faça porque, de fato, quer fazer. 

— E se só você e Heloísa gostarem da minha voz?

— De jeito nenhum. Eu tenho certeza de que todos irão se encantar pela sua voz e sabe por que? Porque é linda, assim, do mesmo jeitinho que você. - ela sorri.

— E se…eu tocar piano e cantar?

— Meu amor! Isso seria lindo, Violeta! 

— Acho que eu me sentiria mais segura nesse primeiro momento.

— Do jeito que você quiser, você manda. 

— E você obedece. - ela sorri, roçando os lábios vermelhos nos dele 

— Sempre, prontamente, a não ser que você queira sair na chuva atrás de alguém. Aí eu mando e você obedece. - ela sorri 

— Te amo.

— Te amo. 

 

Após as juras de amor, os dois se beijam apaixonadamente. 

 

*****

 

Violeta estava sentada à frente do piano há aproximadamente 15 minutos. Ela olhava para as teclas e as teclas olhavam de volta. Eles costumavam ser bem próximos quando ela era adolescente, nunca houve esse estranhamento entre eles, era seu maior e melhor amigo, mas após tantos anos, ela precisava estar familiarizada com seu velho amigo novamente. Detestava a ideia de que Matias havia, de alguma maneira, destruído aquela lembrança também. O piano na sala da fazenda sempre foi o símbolo dos momentos em família em que Violeta e Heloísa se reuniam na sala com os pais e todos apreciavam o talento de Violeta ao piano. 

Ela respirou fundo, fechou os olhos e seus dedos tocaram as teclas do piano suavemente, como se estivessem fazendo um reconhecimento e aos poucos Violeta voltou a sentir aquele mesmo sentimento de anos atrás. Ainda com os olhos fechados, aos poucos e lentamente, ela começou a dedilhar as teclas e tirar sons do piano. Sons que por muitos anos ela se esqueceu do significado, mas ao ouvir as notas novamente, rapidamente se familiarizou. Ela estava em casa de novo e nem a imagem de Matias iria afastá-la daquele sentimento. 

Heloísa ouviu o som do piano e sabia quem iria encontrar ali e mesmo antes de chegar na sala, já estava sorrindo. Quando se deparou com Violeta sentada ao piano, tocando uma de suas músicas favoritas, Heloísa não tinha coragem de interrompê-la e ficou observando a irmã em silêncio, emocionada por, finalmente, vê-la ali, fazendo algo que ela sempre adorou, mas que se esqueceu por muitos anos. 

Ao fim da canção, Violeta é surpreendida pelos aplausos de Heloísa, que se aproxima da irmã ao piano. 

 

— Heloísa.

— Que saudade que eu estava desse som, de te ver sentada aí, fazendo algo que você sempre gostou tanto. 

— Eu também estava com saudade, agora eu sei disso. - Heloísa se senta ao lado da irmã, que deita a cabeça em seu ombro

— Tão bom te ver assim, voltando pra você. - Violeta levanta a cabeça, olhando para a irmã

— É bom me sentir assim novamente. Sem medo de ser quem eu sou, de sentir o que sinto, de amar quem eu amo. Ai, minha irmã, eu poderia muito bem dizer que não sei se mereço essa felicidade, mas eu estaria mentindo para mim mesma, porque eu mereço. Depois de tudo que aconteceu na minha vida, quando eu olho pro meu lado na cama e vejo o Eugênio -  os olhos dela ficam marejados - O quanto eu amo aquele homem, o quanto ele me ama, tudo que nós fizemos para estarmos aqui hoje, pra sermos felizes do jeito que nós dois merecemos. Me dá uma paz tão grande quando o Eugênio me olha sem medo do que vão pensar, quando ele pega na minha mão, me abraça, me beija - ela sorri - É como se tudo fizesse sentido novamente e que, finalmente, eu me sinto inteira de novo pra sentar aqui, nesse piano e tocar as mais lindas canções de amor, porque eu sei o que elas significam, eu sinto cada uma delas, minha irmã. - Heloísa encosta a testa dela na testa de Violeta, as duas fecham os olhos e aproveitam aquele momento de cumplicidade 

— Eu fico feliz por saber que você sabe que é merecedora dessa felicidade. 

— Você me ajudou e sabe disso. Eu jamais teria conseguido sozinha. 

— Eu sempre vou estar aqui pra você. Vou ser sempre a sua fiel escudeira. - Heloísa beija a testa da irmã

— Se você tivesse levado a sério as aulas de música, poderia tocar comigo.

— Nunca levei jeito pra isso, Violeta. Mamãe tentou me ensinar centenas de vezes a tocar violino, piano, viola, tudo e nada dava certo. 

— Uma vez ela tentou te ensinar flauta também.

— É e eu terminei usando a flauta pra te perturbar.

— Meu Deus, que ódio daquela flauta maldita, Heloísa! Nem sei quantos sustos eu levei com você assoprando aquilo no meu ouvido. 

— Meu passatempo favorito era irritar você.

— Cheguei a conclusão de que as pessoas que eu amo, amam me irritar!

— Isso é uma verdade. 

— Vou te ensinar a tocar piano.

— Mas não vai mesmo!

— Não é difícil, Heloísa. 

— Eu não quero, Violeta!

— Chata de galocha. 

— Você que é.

 

As duas estão rindo quando Leônidas aparece.

 

— Leônidas, estou tentando ensinar sua esposa a tocar piano.

— Ô minha rosa!

— É mentira, Leônidas! 

— Eu quero ensinar, ela que não quer aprender.

— Mas por que não?

— Porque não gosto, não quero e não levo jeito.

— Puro fricote dela, meu cunhado.

— Violeta!

 

*****

 

Eugênio está sentado no sofá, lendo o jornal, quando Violeta surge, vindo da cozinha e tem em sua mão uma pequena tigela e uma colher. 

 

— Abre a boca.

— O que? O que é isso, Violeta?

— Abre a boca pra provar..

— Provar o que, meu Deus?

— Meu mousse de maracujá.

— Violeta…

—Você já me disse que me ama e não vai provar o meu mousse de maracujá, Eugênio?

— Eu acredito que eu já tenha provado meu amor por você inúmeras vezes, incontáveis vezes, pra falar a verdade.

— Porque vocês implicam tanto com o meu mousse de maracujá? - ela se senta ao lado dele no sofá, colocando a tigela e a colher em cima da mesa de centro 

— Vocês quem?

— Você, Heloísa, Isadora, Augusta, mas ninguém nunca me diz o que tem de errado.

— Meu amorzinho, você precisa entender que às vezes isso acontece. 

— Eugênio, é um maldito mousse! Não há segredo algum e, no entanto, o meu é horrível!

— Não, não que seja horrível…

— Intragável é melhor?

— Violeta, meu benzinho, você sabe fazer tantos outros pratos deliciosos.

— Viu só? Admitindo que é horrível. 

— Por que não falamos de todos os outros pratos….

— Por que eu não consigo fazer um simples mousse, Eugênio?

— Vem cá. - ele a coloca em seus braços - Porque você não pensa em todas as outras milhares de coisas que você é tão incrível fazendo? Você é tão talentosa para tantas coisas, meu amor.

— Mas eu queria conseguir fazer um mousse. 

— Por que não um mousse de morango? O seu é delicioso. - ela sorri - Aquele bolo de nozes que você fez no meu aniversário, porque sabe o quanto eu amo bolo de nozes e estava maravilhoso. Não ligue para um simples mousse de maracujá. - ela levanta a cabeça para ele - O que é um mousse de maracujá perto de um bolo de nozes, hein? - ele dá um beijo nos lábios dela 

— Me deixa provar isso. - Eugênio observa atento quando ela prova o doce - Meu deus isso está horrível!

******


 



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