Cap 26
~ Ella
- Axl, vamos! – já estávamos atrasados uma hora, e o ruivo não parecia se importar nem um pouco, mas pelo menos ele estava animado com a viagem, falando sobre isso durante vários dias antes. Ouvi seus passos na escada, mas o telefone tocou e ele voltou para atender.
Em uns 20 minutos ele desceu, vestindo calças jeans justas e seus snakears, seu rosto estava parcialmente escondido pela aba do boné. Seu humor tinha mudado drasticamente. Até alguns minutos atrás ele estava ótimo, e agora...
Eu geralmente ficava com dor de cabeça quando tentava acompanhar suas mudanças de humor. O carro que a gravadora mandou já estava na porta. Harriet lhe deu um abraço e me desejou sorte enquanto Earl colocava nossas malas na limusine. Entramos e fomos a caminho do aeroporto, em pouco tempo estávamos lá.
Os meninos já estavam jogados no saguão, com Allan, que me dirigiu um olhar muito feio, interrompendo sua conversa com um cara que eu não conhecia.
- Até que enfim vocês chegaram! – ele forçou um sorriso para Axl, que apenas deu de ombros e foi se sentar ao lado de Duff e Izzy. - Mikaella, esse é o novo gerente financeiro do Guns n Roses – Allan continuou, apresentando o homem.
- Marc – ele estendeu a mão pra mim, sorrindo amistosamente. Cumprimente-o
- Mikaella – o sorriso ainda estava lá, e era um pouco desconfortável, na verdade, eu estava um pouco traumatizada com a demonstração de afeto do Lars.
- ehh...você é assistente pessoal do Rose, não é? – ele perguntou, um pouco sem graça, mexendo nervosamente no cabelo. Ele era loiro, tinha cabelos curtos e vestia um blazer azul escuro parecido com o do Allan.
- Sou sim. – respondi, e entendi o olhar que ele me dirigiu depois disso, era geralmente o que eu recebia depois de confirmar essa pergunta, algo como “sinto muito”.
- Eu só o encontrei umas duas vezes, ele é uma pessoa...difícil – Marc tomava cuidado para escolher as palavras certas. Bom, ele escolheu uma perfeita. Ri.
- É, muito difícil. Mas não é tão ruim depois que você o conhece – achei que tinha o dever de defender o ruivo e o meu emprego. Marc riu, obviamente duvidava de mim, mas parecia ser educado demais pra falar. Ele pensou por um instante e abriu a boca, ia começar um assunto, mas foi interrompido pela chegada repentina de Axl, que passou um dos braços pelos meus ombros.
- Ella, nós temos um pequeno problema – ele disse, os olhos nebulosos, mas com um sorriso torto pendurado no canto da boca.
- O que foi? – perguntei. Ele riu sombriamente, nada divertido.
- Slash ficou preso no banheiro de uma das salas de embarque. – O que?! Deixamos Marc lá, com cara de idiota e Axl me levou até a tal sala. Ele estava mesmo preso lá, de algum jeito tinha conseguido quebrar a fechadura por dentro. Era só o que faltava, como é que eu vou explicar pro Allan que nós não podemos embarcar porque o guitarrista está preso no banheiro?
- Eu não posso arrombar, a fechadura quebrou. – disse Duff, rindo. Como ele poderia estar achando engraçado?! Andei de um lado pro outro, tentando encontrar alguma solução. Não podia pedir ajuda, com certeza algum dos seguranças ido aeroporto ria espalhar pra imprensa. Uma luz brilhou em minha mente. Earl.
- Izzy, chame Earl! – pedi pra Izzy, que parecia ser o único em posse de suas faculdades mentais. Axl andava de um lado pro outro, bufando, Duff estava sentado no chão se matando de rir e Matt estava encostado na parede com os olhos fechados. Izzy voltou em alguns minutos.
- O que aconteceu? – Earl perguntou, um pouco assustado.
- Será que você consegue arrombar essa porta? – perguntei meio sem graça, ele me olhou confuso. Big Earl empurrou a porta com força e logo as dobradiças tinham cedido. Slash estava lá dentro, fumando um cigarro sentado no chão e com um sorriso no rosto. Respirei aliviada. Nós voltamos para o saguão, Allan estava bufando de raiva, mas parou quando percebeu que o nível de estresse de Axl era bem mais assustador que o dele. Entramos no avião.
Era um jato particular pequeno, só pra banda e pra equipe pessoal. Matt e Duff se sentaram nas poltronas do meio, Slash ocupou as duas do fundo, Izzy se sentou numa poltrona solitária perto da porta e Allan e Marc nas do meio. A única vazia era ao lado de Axl, e considerando o humor sombrio do ruivo, ninguém se atreveria a se sentar ali, mas infelizmente, eu teria que ser a corajosa. Aproximei-me lentamente dele, Allan, Marc e Izzy me observavam atentamente, sentei na poltrona a seu lado, no corredor. Axl ainda estava com a aba do boné cobrindo seu rosto, então não pude ver sua expressão, mas pude ver os músculos de seu braço se contraindo. Que Deus me proteja. Ele não disse nada, só apoiou sua cabeça em meu ombro e fechou os olhos. Allan respirou aliviado, a última coisa que ele queria era um chilique de Axl, na verdade, era a última coisa que nós todos queríamos. O avião decolou e eu permaneci em silêncio, pensando no possível motivo do mau humor de Axl.
Em meia hora, o ruivo dormiu, ainda com a cabeça em meu ombro, eu podia sentir sua respiração em meu pescoço, mas seus braços estavam em volta de mim em um abraço muito apertado. Eu me sentia um bichinho de pelúcia. Quando sua cabeça desceu mais um pouco e pousou em meus seios e uma de suas mãos se mudou para o meu quadril, mexi-me na tentativa de muda-lo de posição, mas fui repreendida por Izzy.
- Não faça isso de jeito nenhum! – ele sussurrou.
- O que? Mas...
- Se acordá-lo, vamos ter que aturar seu mau humor por duas horas em um avião, não vai ter pra onde correr. – considerei a situação e resolvi deixa-lo dormir. Vai saber o que ele faria acordado! Allan nos lançava olhares de desprezo e Marc, uma mistura de curiosidade e decepção.
O piloto avisou que pousaríamos em 20 minutos. Não sei ao certo quanto tempo foi de viagem, mas pra mim pareceu muito. Algo a ver com o persistente clima tenso. Sacudi cautelosamente os ombros de Axl, que piscou os olhos e os abriu lentamente, olhando em volta.
- já chegamos. – eu disse o mais baixo possível.
- onde? – sua voz estava grossa e rouca, e como de costume, ele esfregava os olhos como uma criança. Tinha a impressão de que ele poderia fazer aquilo mil vezes e eu continuaria achando bonitinho.
- No Rio.
- ah – ele disse se levantando de sua poltrona. Todos já tinham saído e nos esperávamos do lado de fora. Tinham duas limusines. Os meninos foram em uma com Earl. Eu, Allan e Marc fomos em outra.
O lugar era muito bonito, eu não conseguia tirar os olhos da janela. Conforme nos aproximávamos no hotel, a gritaria aumentava.
- Não se assuste muito – Allan disse pra mim, ele não parecia estar brincando. Em alguns minutos chegamos a frente do hotel. Era um caos. Estacionamos atrás do carro dos meninos, cercado por dezenas de seguranças. Duff saiu primeiro, 4 homens altos e largos feito armários o rodeavam. Milhões de flashes disparavam ao mesmo tempo, as pessoas gritavam, corriam, e logo ele desapareceu no meio da multidão. Matt foi depois, seguido de Izzy e Slash, que tropeçou e quase caiu quando saiu do carro. E chegou a vez de Axl. A tensão se espalhou por todo o local, a expectativa era tão densa que dava quase pra segurá-la nas mãos. Axl saiu do carro, cercado por uns 10 seguranças, o boné ainda tapando seu rosto. A multidão explodiu. Milhões de flashes ao mesmo tempo, milhões de vozes ao mesmo tempo, e como os outros, logo foi engolido pela multidão, agora muito mais violenta.
Nós entramos no hotel, a banda estava no saguão e todos foram para os seus respectivos quartos. Allan tinha reservado o último andar todo. Meu quarto era no fim do corredor. Um bom quarto bem grande e confortável. Passei o resto do dia em reuniões exaustivas enquanto os astros do rock dormiam depois de encher a cara.
Escureceu e eu finalmente voltei ao meu quarto. Me joguei na cama, estava cansada. Ouvi batidas leves na porta. Eram educadas demais pra ser de Allan ou de algum dos membros do GNR. Levantei e abri. Marc estava parado com seu cabelo perfeitamente arrumado e suas roupas perfeitamente alinhadas.
Marc era bonito.
- Desculpe incomodar mas...eu estava indo tomar um café e queria perguntar se não aceitaria me fazer companhia. – ele perguntou hesitante.
Marc era fofo.
Eu estava exausta, mas fiquei sem graça de recusar o convite, sem contar que seria bom sair com uma pessoa tão careta quanto eu, pra varia. Peguei minhas chaves e fechei a porta. Axl estava saindo de seu quarto com Slash, uma lata de coca e um maço de cigarros. Lançou-nos um olhar de desprezo antes de entrar no quarto em frente, de Duff, pelo o que eu me lembrava. O moreno acenou e o seguiu.
- Não tem mesmo problema? Sabe, eu não quero atrapalhar nada... – Marc disse.
- atrapalhar?
- É, as coisas entre você e o Rose. – eu estava perplexa.
- mas nós não temos nada – respondi desolada. Como ele poderia pensar que tínhamos alguma coisa?
- Não? Vocês não ficam...ou algo assim?
- Claro que não, somos amigos. – ele parecia confuso.
- Mas no avião... – o cortei.
- Somos amigos. – dei-lhe um sorriso hesitante para disfarçar meu gesto rude. – vamos.
- vamos – ele tentava esconder um sorriso.
~Axl
- Você está com ciúmes – Slash disse assim que entramos no quarto de Duff. Nos sentamos no chão, ninguém queria sentar na cama do loiro, muito menos imaginar o que ele fazia ali.
- Não estou.
- Está sim
- Não estou
- Está sim
- Não estou. Slash, eu tenho dois irmãos menores, posso fazer isso o dia todo. – Slash revirou os olhos.
- Dois irmãos menores e uma psicose. Você não vai aguentar muito tempo, vai se encher e acabar admitindo...ou me batendo, mas de qualquer jeito prova que eu estou certo.
- Quem está certo sobre o que? – Disse Duff, saindo do banheiro.
- Axl está com ciúmes da Ella – Slash respondeu.
- Você está – O loiro concordou.
- Não estou, parem de encher a porra do saco!
- Eu disse que ele não ia aguentar muito tempo – Slash sussurrou pra si mesmo. Dirigi-lhe um olhar nada amigável.
- Nós te conhecemos cara, não pode esconder nada da gente – Duff falou, abrindo o frigobar e pegando uma cerveja. Suspirei, eles não iam me deixar em paz.
- eu não estou com ciúmes e só...ela é minha assistente e tem que me dar atenção, não pode ficar se distraindo com qualquer um. – relações estritamente profissionais. Eu não estava com ciúmes, de jeito nenhum.
Eles iam falar alguma coisa, mas Izzy entrou no quarto com garrafas de vodka, santo Stradllin. Dei um gole na minha coca. Eu estava começando a preferir o Lars.
~ Ella
Sentamos em uma mesa no canto, numa espécie de bar no térreo do hotel. Pedimos nossos cafés e esperamos. Era uma noite quente, mas quente que qualquer noite californiana. Marc começou a tagarelar alguma coisa sobre o clima tropical e bananas.
Marc era chato.
Um típico sabe tudo, como Paul, meu inimigo de infância, como Collin, meu ex-noivo, como todos os outros típicos sabe tudo. Típico demais. O que aconteceu comigo e a minha caretice? Antes eu gostava de papos sobre o clima e bananas, ou não? Agora pareciam tão banais, triviais.
Ah, ele me fez uma pergunta. Estava olhando pra minha cara esperando uma resposta.
- O que disse?- perguntei, não fazendo a menor ideia do que ele falava.
- As mangueiras...só podem ser cultivadas em solo ácido. – Ótimo, mais frutas. Ele sorria pra mim, parecia realmente feliz.
- Interessante – dei mais um longo gole em meu café, não querendo destruir a felicidade dele. Marc começou a falar novamente. Seria uma noite longa.
Encerrei o “encontro” com a desculpa de que teria que acordar cedo amanha. Pelo menos não era totalmente mentira. Ele sorriu e me levou até a porta do meu quarto.
- Essa foi uma noite muito legal – disse ele, com os braços apoiados nos batentes da porta e me dirigindo um sorriso largo.
- Foi sim – menti.
- Espero que possamos sair de novo
- Claro – não era exatamente uma coisa que eu pretendia fazer, mas com sorte ele esqueceria. - boa noite.
- boa noite – Marc me deu um beijo no rosto. Beijo no rosto?! E saiu. Eu entrei no meu quarto e fechei a porta. Suspirei. Decepcionante.
Tomei um banho e olhei a hora. 10 e meia da noite. Resolvi ver se Axl estava bem. Ele não tinha falado comigo ou precisado de alguma coisa o dia todo, não podia ser um bom sinal. Fui até o quarto dele e bati na porta. Nada. Bati novamente. Nada. Na terceira vez que não tive resposta resolvi desistir. Ele ainda devia estar no quarto do Duff, ou desmaiado em algum lugar, e eu tinha certeza que se ele precisasse de algo não hesitaria em bater à minha porta as 3 da manhã, de qualquer maneira.
Voltei pro meu quarto.
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Dois dias haviam se passado rapidamente, e eu estava sentada em minha cama de hotel simplesmente entrando em pânico. Era isso, o primeiro show era hoje. Será que eu conseguiria? Não sabia. Mas sabia que Allan arrancaria o meu couro se algo desse errado, e isso era um bom incentivo. Eram 5 da manhã e eu não tinha dormido nada. Tinha tido reuniões e mais reuniões seguidas nesses últimos dias e pra piorar, Axl não queria falar comigo, por algum motivo que eu não fazia ideia. Ele estava me evitando, e isso estava me deixando mais preocupada.
Meu despertador tocou às seis. Eu estava completamente elétrica.
O dia foi cheio. Reuniões, passagem de som no estádio, na qual Axl nem olhou na minha cara, contratos de imprensa, imagem, propaganda...
Faltavam 3 horas pro show, eu estava simplesmente uma pilha. Juntei algumas cartela de pílulas anti-estresse e coloquei na minha bolsa antes de sair do quarto. Marc estava me esperando na porta.
- Hey! – ele disse, super entusiasmado.
- Hey – respondi tentando usar o mesmo tom, não consegui.
- Eu queria saber se precisa de ajuda
- Ah, não, obrigada. Eu estou bem. – minhas mãos tremiam. Eu precisava de ajuda, mas era psicológica.
Axl saiu de seu quarto, vestindo apenas cuecas e segurando uma lata de coca. Ele abriu a porta, revirou os olhos e a fechou de novo. Eu estava começando a ficar com raiva, então fui até o porta e bati insistentemente.
- Axl! – ele nem ao menos se deu ao trabalho de responder. – Abre a porta ou eu vou ficar batendo aqui a noite toda!
Ouvi um barulho dentro do quarto. Depois de alguns minutos a porta abriu, Marc olhava pra nós com cara de idiota. Eu entrei, Axl se sentou em sua cama.
- Você por acaso lembra que tem um show daqui a algumas horas?! – comecei. – Você pode me ignorar o quanto quiser, mas pelo menos faça isso vestido!
- Você não pode me dizer o que fazer! Eu posso ficar aqui pelado e não aparecer no show se eu não quiser! – ele gritou, se levantando da cama.
- Claro que pode! E também pode ser linchado e processado, e ainda levar todo mundo com você! – me virei de costas, tentando respirar. – Você tem 10 minutos, e depois mando Earl entrar e te carregar do jeito que estiver.
- Earl é meu segurança! – ele rosnou.
- Mas eu decido o que é seguro ou não pra você! – disse e saí, batendo a porta. Podia ouvir Axl bufar do outro lado.
Esperei no saguão. 10 minutos, já estavam todos prontos. 15 minutos...20 minutos. Earl foi buscá-lo.
Engoli uma das pílulas para estresse. Não parecia ter efeito. Marc veio até mim. Era só o faltava.
- Mikaella, será que eu posso falar com você?
- Olha Marc, pode ser depois?
- Não, mas vai ser rápido. – pensei por um instante, ele não de deixaria em paz, então assenti. Ele me levou até um dos corredores mais silenciosos, já que o som das pessoas gritando do lado de fora alcançava quase todo o hotel.
- Fala Marc – o apressei gentilmente quando ele hesitou.
- é que eu estava pensando se...se depois do show de hoje você não aceitaria jantar comigo. – agora mais essa.
- Olha Marc, desculpa, mas eu estou muito focada no trabalho nessa viagem, e realmente não posso me distrair. – menti. Parecia convincente.
- Tudo bem, numa outra oportunidade então? – ele sorria esperançoso. Eu estava em uma estrada sem saída.
- Claro – sorri falsamente, estava com pena de magoa-lo. Ele parecia muito feliz.
Eu estava começando a preferir o Lars.
Voltei para o saguão. Nem Allan nem a banda estavam lá. Fui até a recepcionista.
- Com licença, você sabe se o Guns N Roses já deixou o hotel?
- Você é a Srta Montgomery não é? O Sr. Niven pediu pra avisa-la que resolveu se adiantar e vai encontrá-la no estádio, toda a banda foi com ele.
Ótimo, já estavam todos a caminho. Peguei um carro alugado e fomos, eu e Marc, para o estádio. Ele foi falando até lá, mas eu aumentei o rádio até eu não poder ouvir mais nada. Sorri.
Imaginei que nem em dia de jogo um estádio ficaria tão cheio. Milhões de pessoas caminhavam nervosas de um lado pro outro, tanto na multidão de espectadores quanto nos bastidores. O Megadeath estava tocando e os meninos estavam assistindo pelo telão, mas eu não via Axl em lugar nenhum. Allan me viu.
- Mikaella! Está tudo certo? – perguntou.
- Acho que sim, tudo que poderia ser resolvido antes eu já resolvi.
- Ótimo. Onde está Axl?
- Eu não sei, você que veio com ele – respondi. Allan riu.
- Ficou louca? Ele veio com você, eu só trouxe Slash, Duff, Izzy e Mat...- eu sentia meu sangue se esvair do meu rosto, Allan mal terminou a frase – ele não veio com você? – fiz uma força muito grande pra conseguir falar, eu estava hiperventilando.
- Não, a recepcionista disse que você tinha saído com toda a banda, toda a banda. – engoli mais duas pílulas anti-estresse. – NÓS ESQUECEMOS O VOCALISTA?!
- Você esqueceu o vocalista! – Allan começou a suar e a andar de um lado pro outro.
- Você não pode pôr a culpa toda em mim! Foi você que saiu sem me avisar! – Allan sentou-se num bando, estava ficando roxo. Eu corri para o telefone, precisava ligar pro hotel.
- Boa noite, em que posso ajudar? – a recepcionista disse calmamente.
- Sou Mikaella Montgomery, estou hospedada no quarto 903, sou da equipe do guns n roses, a Sra. poderia me dizer se Axl Rose ainda está aí?
- Axl Rose?
- é, um ruivo muito irritado seguido por um segurança enorme.
- Ah sim, ele perguntou pela senhorita e saiu há pouco tempo.
- obrigada. – desliguei. Pelo menos ele tinha saído. Agora era só sentar e esperar que ele se lembrasse de onde era o show, ou que quisesse vir pro show.
Allan avisou a toda à segurança do local, nós colocamos os meninos a par da situação. Todos nos sentamos e esperamos completamente tensos e quase pirando.
Depois de um tempo, que pra mim pareceu uma eternidade, ouvimos passos furiosos ecoarem através da gritaria. Parecia o som do próprio inferno se abrindo. Engoli em seco. Vi Allan afrouxar seu colarinho.
- VOCÊS PRETENDIAM FAZER UM SHOW SEM O VOCALISTA?! – Axl apareceu ainda só de boxers e botas, mas com infinitamente mais raiva. Seus olhos estavam quase da cor de seu cabelo, e a fúria parecia transbordar de seu corpo. Suas maçãs do rosto estavam vermelhas, praticamente fumegantes. Ele rosnava feito um tigre. Ninguém se atreveu a falar nada. Ele olhou para os companheiros de banda – NEM VOCÊS SENTIRAM MINHA FALTA! COMO PRETENDIAM FAZER A PORRA DO SHOW?! – se dirigiu para Allan – E VOCÊ É PAGO PRA QUE SEU FILHO DA PUTA? – e finalmente olhou pra mim, senti meus músculos enrijecerem. Ele não me lançou um olhar de raiva, mas sim um magoado, que partiu meu coração – você me decepcionou Ella.
Ele saiu batendo os pés e nós ouvimos uma porta bater em algum lugar.
Você me decepcionou Ella. Você me decepcionou Ella. Você me decepcionou Ella.
Essa frase ecoava na minha mente. Senti um aperto no coração. Não me lembrava de ter me sentido tão mal alguma outra vez na vida.
- Deus, e se ele não quiser mais fazer o show? E se ele der um ataque e destruir tudo, e se... - Allan repetia exaustivamente. Eu já não queria ouvir mais nada, não queria saber de mais nada. Levantei e foi até o camarim dele, ignorando todos os olhares repreensivos. Foda-se se ele não quisesse mais fazer o show ou se destruísse tudo, tinha que saber que eu não tive culpa.
A porta do camarim era enorme e tinha um monte de pessoas tensas em volta. Bati na porta uma vez.
- Eu já disse que não quero nada – a voz dele era baixa e rude.
- Axl , sou eu, abre...
- eu não quero falar com você! – a voz era mais alta dessa vez.
- Axl, por favor...10 minutos, depois eu te deixo em paz.
Ouvi-o bufar e depois ouvi passos em direção a porta. Ele a abriu, de cueca e botas, e um olhar triste e raivoso.
- 10 minutos- ele disse- você tem um relógio.
Suspirei e me sentei no sofá branco no meio do camarim, que era simplesmente enorme e lindo, acho que era maior que meu apartamento.
- Axl...me desculpa mas, isso não foi culpa minha, eu nunca te esqueceria no hotel, achei que Allan tinha te trazido com os outros.
- Você não teria me deixado lá se não tivesse ido pra não sei onde com Marc – ele disse “Marc” com desprezo. Ok, ele não estava totalmente errado, com certeza tinha um ponto, por mais insano que fosse.
- Desculpe...Marc é muito insistente, mas você também não ajudou nada...
- O que?! Eu não ajudei?! O que foi que eu fiz?! – ele gritou, seu tom incrivelmente era ácido.
- Você tem agido tão estranho nos últimos dias! Você...fica no seu quarto e não fala comigo, acho que não falou comigo desde que chegamos!
- Você que não falou comigo! Só ia às reuniões com Marc... almoçava com Marc...tomava café com Marc. Você não me deu nem um pouco de atenção desde que chegamos!
- O que?! Eu fui no seu quarto umas duas vezes, você que não quis me atender!
- E o que você queria?! Que eu mais assinasse contratos ou me marcar entrevistas?!
- Desculpa se eu não quero que nada dê errado!
- Você é a única que está estragando tudo! – Ok, essa frase definitivamente me deixou sem palavras. Como ele podia falar uma coisa dessas? Como ele tinha coragem?! Eu estava pirando por causa dele e da banda e é isso o que eu recebo?! Uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Ele percebeu o meu estado. – desculpa é que... estava tudo bem antes de...antes de você e o Lars...e ele começar a ligar e encher o saco...e...
- Lars tem ligado? – infelizmente a curiosidade era maior que a raiva, eu achei que ele só tivesse mandado flores. Axl suspirou e se jogou no sofá ao meu lado.
- Sim...ele já ligou umas 30 vezes. “Onde está Ella”, “ Ela está aí?”, “ Você pode me dar o número da casa dela?”, “ Cara, ele é gostosa”, e blá, blá, blá...ele é chato.
- Por que não me disse nada? – eu perguntei rindo. Ele desviou o olhar.
- eu não quero dividir a atenção com ninguém. – ele disse tão baixo que a princípio achei que não tivesse ouvido certo.
- O que?
- Você ouviu, Ella – ele se virou de costas pra mim fazendo pirraça. Eu não consegui conter uma gargalhada. Ele me lançou um olhar malcriado.
- Você só pode estar brincando! Axl, eu fui com você pra uma estrada deserta de madrugada, pra um bar horroroso e ainda te carreguei bêbado pra casa, eu fico mais tempo na sua casa do que na minha e você me liga até pra procurar suas lentes de contato. Não tem como ninguém competir com isso! – ele tentou esconder um sorriso.
- eu te odeio, sai daqui antes que você estrague o meu momento dramático. – seus olhos eram brincalhões. Verdes, brilhantes e brincalhões.
- Me odeie vestido, anda, coloque pelo menos a sua calça...
Sorte que nós tínhamos levado suas roupas pro estádio na hora da passagem de som. Axl pôs uma calça branca superjusta e sua famosa jaqueta do apettite. Allan praticamente ajoelhou no chão quando o viu fora do camarim e Izzy deu um tapa em sua cabeça coberta por longos fios ruivos, logo depois de Duff lhe acertar uma de suas paletas. Acho que aquilo era algum tipo de demonstração de carinho, ou algo assim. E com algumas horas de atraso, o Guns N Roses entrou no palco, fazendo o público explodir. Eles eram ainda mais impressionantes ao vivo.
Quando se está com Axl, esse é mais um daqueles dias típicos em que tudo dá brutalmente errado e incrivelmente certo ao mesmo tempo.
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