Era mais uma daquelas manhãs onde é possível ver as ondas de calor exalando do asfalto quente das estradas. Eu fiz o caminho para o laboratório na maior velocidade que era possível naquele carro, e quando finalmente estacionei na vaga designada para os funcionários abri a porta e saí. Enchi meus pulmões algumas vezes com o ar seco daquela cidade antes de caminhar até a entrada da ong. Havia algumas pessoas desconhecidas ali que me olhavam e se sentiam obrigadas a me cumprimentar num sorriso exagerado e desnecessário para o momento, eu apenas acenava sem me dar o trabalho de parar para falar com cada um. Encontrei Max na entrada do meu escritório, encostado na porta e com uma expressão que refletia a minha.
-Olá pra você também. -Disse sem olhar para ele enquanto pegava a chave no meu bolso e abria a porta.
O ar condicionado da sala aumentou o meu humor uns 50% naquele momento, então Max entrou e fechou a porta atrás dele. Eu não tive tempo para dizer algo sobre a produção daquele dia porquê ele já havia começado o seu sermão diário sobre os meus atrasos.
Ergui um dedo em sinal para Max parar de falar, e ele obedeceu como se fosse um cachorro com medo de seu dono.
-Viemos para cozinhar ou pra conversar?
Entramos em uma porta estreita perto de uma velha estantes com alguns livros sobre alcoolismo e drogas que fazem parte da ong, não pude deixar de pensar em como todo aquele plano para esconder o que eu realmente faço soava tão perfeito e simples.
-Alex! -Max interrompeu meu silêncio enquanto eu olhava se a limpeza do laboratório estava em dia.
-Sim? -Perguntei enquanto arrumava os últimos detalhes para dar ínico ao um longo dia.
-Enfrentaremos um grande problema daqui uns dias, e caso não encontremos uma solução, a produção terá que parar.
Parar? isso é sério? eu não pude conter e parar o enorme filme que passava em minha cabeça naquele momento. Como assim parar de fazer a coisa que eu faço de melhor na vida?
-Max, durante todo esse ano trabalhamos todos os dias em busca da perfeição. E eu não deixei que faltasse nada, eu corri, eu batalhei, a minha vida está aqui. -Suspirei e tentei me acalmar, eu realmente estava exaltada, mas quando duvidam da minha capacidade e do meu trabalho, é impossível manter a calma. -Então não me diga que a produção irá parar, nunca!
-Alex... -Max disse lentamente. -Me desculpe, eu só me preocupo com os negócios, e com você. -Ele disse segurando meu braço com força e levando seu corpo de encontro ao meu. Eu já havia notado suas intenções comigo, mas Max sabia que jamais aconteceria qualquer coisa desse tipo.
-Meus negócios, minhas preocupações! Não preciso que cuide disso, preciso que vista seu uniforme e comece trabalhar. A metanfetamina não ficará pronta sozinha. -Disse grosseiramente e me afastando o máximo possível dele.
Fui em direção a uma das duas cabines num canto da sala, e me troquei o mais rápido possível, precisava fazer a única coisa que me dava paz e me deixava calma... Cozinhar!
Os dias não estavam se arrastando como eram de costume, e isso me deixava um pouco preocupada com a metilamina chegando ao fim. Max estava certo, essa sustância era a principal e sem ela não conseguiríamos manter o ritmo da produção. Eu precisava de uma solução, eu precisava pensar em algo. Me olhei no espelho do banheiro ao chegar em casa após um longo dia.
-Vamos, Alex -Eu disse pra mim mesma. -Pense em algo, você já chegou até aqui, não desista. -Voltei para o quarto e sentei em minha cama me forçando a procurar qualquer indicio de metilamina naquela cidade, tudo havia ficado tão difícil após o perder o meu único fornecedor confiável.
Liguei meu notebook e antes que eu pudesse procurar qualquer pista sobre um possível fornecedor, vejo um email sobre um evento beneficente.
-Aqui vamos nós baby. -Disse sem tirar meus olhos da tela, eu não poderia acreditar no que meus olhos estavam vendo. Um evento beneficente de uma das maiores empresas de produtos químicos? Sem dúvidas a minha chance estava alí, e eu precisava agarrá-la com todas as minhas forças.
O quão difícil seria me manter em Phoenix? Eu não estou pronta pra passar tudo que passei alguns meses atrás, quando fugi de San Francisco e usei essa cidade como uma escapatória. Eu preciso e quero me manter aqui. Com todas as idas e vindas, eu me sinto satisfeita com a minha vida, me sinto satisfeita com as minhas viagens, com os lugares que conheço, com as pessoas que passam pela minha vida, e meu jeito de ganhar o meu dinheiro, eu estou feliz, e essa oportunidade só vai aumentar ainda mais isso.
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