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História O primeiro grande amor. - Capítulo Único.


Escrita por: Takkano

Capítulo 1 - Capítulo Único.


– Keith, é uma nave terrestre, será que poderia lidar com ela, por favor?

Era só outra nave. Já faziam dois anos desde que uma daquelas pousou por ali. Aquela provavelmente seria a última da temporada. Demoraria uma eternidade para que outra nave vinda da Terra passasse por aquele planeta.

Keith não se importava em ser o responsável por elas, não mesmo. Ele era terrestre, aliás, o único que pertencia à Terra, naquele planeta distante. Por essa razão, Keith estava sempre preparado para recebê-las.

A nave desceu suave, aterrisando na base da plataforma de pouso. Keith esperou os motores se desligarem e entrou. Automaticamente, ao invés de se dirigir ao compartimento de carga, Keith acabou sendo atraído para a cadeira do piloto. Durante anos, aquele lugar lhe trouxe muita alegria, bem ao contrário de agora, onde até mesmo as lembranças eram vazias.

Vazia. Estava vazia.

Keith conhecia bem aquela sensação. Desde que decidiu ficar definitivamente em Daibazaal, nunca mais se sentou em uma cadeira como aquela. Perdera a paixão pela pilotagem; assim como o motivo que o levou a ela.

Nostálgico, acabou não resistindo e se sentou ali. Era tão acolhedor, que poderia jurar que a poltrona ainda parecia quente.

– Vazia, como sempre. - falou alto, mais para si que para qualquer outro.

A porta de compartimentos se abriu e, antes que Keith tivesse tempo para se virar, algo o desestabilizou.

– Não está vazia, só no piloto automático.

Naquele instante, Keith sentiu como se faltasse oxigênio naquele lugar, ou, talvez, ficar tanto tempo longe da Terra o tenha feito se esquecer de como era respirar. O ar ficou pesado, o corpo quase cedeu e os olhos arderam de uma forma horrível. Keith, pela primeira vez na vida, teve que usar toda a sua origem galra para não sucumbir aqueles sentimentos tão dolorosos e frágeis que seu lado humano ainda alimentava.

– A Terra anda me decepcionando muito ultimamente. Não tem chegado nada de bom dela já faz um tempo; hoje não foi diferente. – Keith encarou Shiro, que pareceu decepcionado com aquela recepção tão fria.

– Nem mesmo o piloto? – Shiro pareceu levemente esperançoso.

– Principalmente o piloto, que parece não ter mais capacidade para pilotar uma simples nave de carga. A nave está completamente danificada.

– Me perdoe por isso, acho que acabei perdendo um pouco o jeito.

– Ouvi dizer que parou com as missões.

– É eu me aposentei já faz um tempo.

– Sério? Há quanto tempo mais ou menos; uns dois anos? - Shiro pareceu querer responder, mas parou no meio do caminho. – Estava ocupado não é? Soube que se tornou um homem comprometido recentemente. – dessa vez, Shiro demonstrou medo e culpa. – Por que não me convidou; não ia me contar?

– Eu não podia, você sabe. – o tom de Shiro era súplico.

– Não, eu não sei. Qual o problema Shiro? A minha presença seria indesejada no seu casamento? – Keith se levantou da cadeira e se aproximou um pouco de Shiro. – Ou será que você me desejava tanto lá, que o seu noivo proibiu que me convidasse. – Keith voltou a se afastar fingindo algum interesse pelos controles da nave. – Há cerca de dois anos chegou uma outra nave da Terra aqui. Ela trazia algumas tralhas, coisas velhas e um tanto inúteis, mas que poderiam ser usadas em uma emergência. Também alguns papéis e documentos de pesquisa, e junto, vieram também algumas informações mais recentes sobre os ex pilotos da Atlas. – Keith riu desgostoso. – Tinha que ter visto a cara de pena que a Acxa fez, depois que encontramos as fotos do seu casamento.

Keith olhou em direção à mão direita de Shiro, mas viu que ela não estava lá.

– Ah, a aliança. Eu tirei, para não causar interferências ou coisas do tipo.

– E que tipo de interferência a sua aliança pode causar aqui?

– Keith…

– Por que você veio, Shiro?

– Eu não tive mais notícias suas. Só queria ter certeza de que estava tudo bem.

– Comigo ou com você? Veio pessoalmente ver o estrago que esse seu relacionamento repentino causou em mim?

– Não foi repentino.

– Não? E a quanto tempo exatamente você o conhece? Há meses, anos? Você treinou ele desde criança e depois vocês viveram uma aventura no espaço, salvando todo o universo? Ah, desculpe, acho que esse sou eu. – Keith viu os olhos de Shiro lacrimejarem. – Você mal conhece esse cara. Como é mesmo o nome dele? Acho que nem você sabe.

– Curtis. - a voz de Shiro falhou miseravelmente – O nome dele é Curtis.

– Que nome ridículo. E porque veio sozinho, porque não trouxe a sua ‘esposa’ pra conhecer o universo? Teve medo de que algum monstro galra malvado e ressentido o jogasse no espaço?

– Não fale assim, Keith, esse não é você.

– Eu nem sei mais quem eu sou. Quem eu sou pra você, Shiro?

– Desculpe, eu não devia ter vindo.

– Eu estava errado. - Shiro o encarou com atenção – Você é exatamente igual a ele. - Shiro sabia que Keith se referia ao seu pai. Keith nunca aceitou o fato do pai ter morrido para salvar tantas vidas e se esquecer da sua, o deixando sozinho. Keith odiava quando as pessoas diziam que Shiro era como um pai para ele. Keith costumava dizer que Shiro não era como seu pai, e que nunca o deixaria sozinho. – Você também vai me abandonar, não é? Você salvou todo o universo e agora que não precisa mais do paladino negro, vai me deixar também. Sabe, eu sei que pode ser até insano eu dizer isso agora, mas, eu entendo um pouco o que a Honerva sentia. Ela só queria ficar com as pessoas que ela amava. Às vezes, eu tenho vontade de pegar uma nave e ir até lá, atravessar o véu, e procurar no início um fio de uma outra realidade. Uma onde você esquecia todo o seu passado e se preocupava só com o futuro; um ao meu lado. Uma onde a gente ficasse presos, sozinhos, em um lugar bem distante do universo; só nós dois, para sempre. E por mais que doa, talvez uma onde eu jamais tivesse te conhecido. Mas aí eu acordo dessas loucuras e vejo que eu não sou a Honerva e que isso seria apenas egoísmo. E eu não sou egoísta Shiro, não como a Honerva; não como você.

– Eu?

– Você sabia que eu te amava esse tempo todo, não sabia? Desde o primeiro dia você soube. E mesmo assim, você me manteve por perto. Me alimentou com esperanças. Deixou que eu acreditasse em você, que eu te admirasse, mas o pior, deixou que eu me apaixonasse por você. Por isso você partiu daquela vez, não é Shiro? Você não foi porque estava doente, você foi porque queria ficar longe de mim. Eu entendi isso depois que o Adam começou a me culpar pela sua partida. E assim, você continuou a oscilar, entre o altruísmo e o egoísmo. Voltando à Terra para salvar o mundo, e me arrastando pelo universo com você, alimentando de novo aquele sentimento que só existia na minha cabeça.

– Mas éramos paladinos do leão negro, precisávamos manter aquele elo mais forte do que todos.

– Mas eles precisavam ser físicos, Shiro? Ou agora você vai negar que nos beijamos aquele dia, no castelo dos leões, e na estação Galra; ou que fizemos amor dentro do leão negro?

– Eu nunca fiz nada disso com você e você sabe muito bem disso. Não era eu Keith. Eles só bagunçaram tudo o que sentíamos um pelo outro pra machucar a gente. Eu jamais te tocaria daquela forma.

– Acha que eu não sabia disso? Como se o fato de você sempre ter me evitado fosse alguma novidade pra mim. Eu sabia, sabia que tinha algo de errado, mas aquilo era tudo o que eu tinha de você; o seu corpo, Shiro. Eu sentia a frieza, a falta de carinho e cuidado que eu sempre imaginei entre a gente. Mas eu já estava tão ferido, que eu me agarrei ao que restou; a vontade de te ter ao menos uma vez.

– Eu não tinha mais o direito de te prender a mim. Você conheceu a Acxa, se tornou o paladino negro no meu lugar, a Espada precisava de você, a sua mãe voltou; foi tudo de uma vez, Keith. Eu sentia cada vez mais que você não precisava mais de mim. Você poderia finalmente começar a sua vida. Ai o Curtis apareceu e se confessou pra mim. Foi um choque, porque eu não imaginei que eu poderia me envolver com outra pessoa novamente. Mas eu resolvi dar uma chance a ele. O que esperava que eu fizesse, que eu simplesmente ignorasse os sentimentos dele?

– Assim como fez com os meus?

– Eu nunca ignorei os seus sentimentos, Keith.

– Não, tem razão, você nunca os ignorou, você brincou com cada um deles. Você só brincou comigo durante todos esses anos, Shiro. Você brincou de pai, de irmão mais velho, de companheiro de equipe, de professor, de melhor amigo; de meu primeiro grande amor. Não exatamente nessa ordem. Sabe Shiro, antes de tudo, você sempre foi o meu primeiro grande amor; o resto foi se encaixando aos poucos.

– Não sabe o que está falando, Keith. Você era só uma criança.

– Eu tinha 12 na época.

– Não, eu não quero falar sobre isso.

– Mas você sabia que eu te via com outros olhos, certo? Naquela época, eu não tinha exatamente nenhum tipo de desejo por você, mas eu já sabia que queria estar ao seu lado, mais que tudo. Shiro, você se lembra quando eu fiz 15 anos?

– Eu não quero ouvir.

– Naquele dia, você chegou em casa e me pegou no flagra. Você ficou com tanta vergonha, que saiu correndo, embaixo de toda aquela chuva. – Shiro colocou a mão nos ouvidos, demonstrando que não queria ouvir nenhuma daquelas palavras. – Eu estava me tocando, Shiro. Mas, o que eu nunca te contei é que eu fazia isso enquanto cheirava a sua jaqueta; aquela preta, a que você mais gostava. Na verdade, eu fazia isso com quase todas as suas roupas, desde que elas estivessem usadas o suficiente pra estarem impregnadas com o seu cheiro. O seu perfume sempre me tirou do sério, Shiro. Eu me sinto um pouco mal por te contar isso agora.

– Eu já sabia - Shiro estava a beira das lágrimas. – Eu sempre soube que você fazia esse tipo de coisa com as minhas roupas. Eu encontrava vestígios nelas. Você nunca conseguia se livrar direito das provas.

– Eu nunca quis me livrar das provas, Shiro. – Shiro ficou assustado. – Eu queria que você visse. Eu queria que você soubesse o quanto eu te desejava, o quanto eu te queria pra mim.

– A primeira vez que eu entendi o que estava acontecendo, eu chorei. Eu chorei a noite toda, porque eu me sentia sujo. Eu me sentia culpado pelo que você estava sentindo, e eu não podia fazer nada para parar aquilo. Eu nem podia te ajudar; você era só uma criança.

– Eu sei Shiro, eu sabia que você se sentia mal por mim. Mas na época, eu não me apegava ao fato de que eu ainda era só uma criança pra você. Eu achava que você estava se afastando de mim porque sentia nojo, por eu ser homem como você. Então, eu descobri que você tinha alguém; o Adam. Mas o Adam era um cara, assim como você; assim como eu. E foi aí que meu mundo caiu. Foi ali, Shiro, que eu devia ter entendido que você nunca me amaria. Eu já não era mais uma criança e você gostava de garotos também. Nós éramos próximos. E mesmo assim, nada acontecia. Você continuava a escolher todos, menos à mim. Exatamente como você fez agora. E foi por isso, Shiro, apenas por isso que eu decidi ficar aqui, no último lugar do universo, onde eu sabia que eu nunca mais teria que apodrecer ao seu lado, enquanto via você escolher qualquer um que não fosse eu. – Keith limpou uma lágrima que teimava em cair. – Não importa mais. Agora que você já sabe como eu me sinto, pode voltar pra aquela sua vidinha ridícula e perfeita.

– Então, eu devo esperar até a próxima nave passar, certo?

Keith finalmente encarou Shiro, parecendo mais confuso que magoado.

– Shiro, essa foi a última nave, ela nem deveria estar tripulada.

– É eu sei.

– Por isso estava no piloto automático. Shiro… você não pode mais voltar.

– Eu não pretendia.

– Shiro, você…

– Sabe Keith, você não estava enganado, eu não sou mesmo nada parecido com o seu pai. Eu não conseguiria me sacrificar pelos outros; pelo menos não deu certo com o Curtis. E é verdade, não fui um bom professor, já que eu deixava você matar aula pra pilotar no deserto comigo. Também não seria um bom irmão, eu sempre gostei de ser filho único. Quanto a amigo e companheiro de equipe, eu acho que foi razoável. Bom, eu mais tive que ser salvo que ajudei a salvar qualquer um de vocês. Mas eu espero ter sido um grande primeiro amor, pelo menos o suficiente pra também poder ser o último. – Shiro se aproximou cauteloso, tocando o ombro de Keith, que ainda permanecia de costas pra ele. – Se você ainda quiser, é claro.

– Bom, como sempre, acho que não me resta muita escolha, já que você se tornou um péssimo piloto e acabou destruindo a única nave que poderia te levar de volta. – Shiro puxou Keith para um beijo, mas foi impedido pelo ex paladino negro. – Shiro, vai com calma, aqui não é o Castelo dos Leões, nem a Estação Galra, sabia.

– E o que me diz do Leão Negro?

– Desta vez é você?

– Deixa eu provar que sim.

Daquele dia em diante, Keith realmente passou a não se importar de verdade com as naves terrestres.

Muito menos com as vazias.

 

 

 

 

 

 



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