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História O Que Eu Não Sabia - Capítulo Único


Escrita por: monsxtay

Notas do Autor


Minha primeira fanfic do OTP YEYYYYYYYYY

Esse é um presente de aniversário ~atrasado~ para uma pessoa que eu amo MUITO, e por isso, Lory, eu espero que você goste do que eu fiz com os nossos filhos <3

Nos vemos nas notas Finais.

Capítulo 1 - Capítulo Único


Para Lorraine, com todo o amor que ela me ensinou a sentir por alguém que mora tão longe.

Feliz aniversário, mamãe.

 

 

Eu sempre soube que havia algo em Changkyun que me atraía. Mesmo com todo seu silêncio e extrema maturidade apesar da pouca idade, ele sempre foi uma pessoa ridiculamente acessível, e por isso é estranho lembrar-me de que tudo começou de um jeito muito torto.

Após a expulsão de Gunhaee da equipe de basquete da Seuta bae, o treinador apenas precisava de um novo lateral. Im era pelo menos dois anos mais novo que o restante da equipe, recém-chegado tanto no colégio quanto no país e possuía aquela irritante postura calma, apesar da hostilidade do ambiente atlético.

O garoto novo não possuía culpa alguma no fato de Gun ter levado pó para o colégio, ninguém sabia que ele usava aquilo, mas, apesar de tudo, ele ainda era nosso amigo, extremamente próximo de todos nós e perdê-lo ainda era dolorido. Não existiria nada de errado em uma substituição de um jogador expulso, se o aluno em questão não fosse... meu melhor amigo.

O primeiro treino sem Gun, com Im compondo a nova equipe titular mesmo sendo apenas um pirralho foi um verdadeiro inferno. Todos estávamos muito travados, e parecia uma imensa ofensa colocar qualquer pessoa no lugar que pertencera apenas à Gun. Porém, o que mais nos chateava era ele ter entrado diretamente para a equipe titular, quando nós tínhamos excelentes jogadores e amigos nos bancos.

A notícia não foi fácil de engolir. Nem para mim, nem para nenhum dos outros garotos, que também se mantinham distantes, ignorando completamente a existência do novo jogador. Às vezes Changkyun tentava conversar conosco, e eu certamente não tinha absolutamente nada contra ele, mas tudo era muito difícil. Todos nós havíamos sentido muito a saída e Gun e soava quase como uma traição trata-lo bem naquele momento.

Mas ele nunca reclamou.

Nem para o treinador, tampouco para nós. Ele era sempre compreensivo com nossas esquivas, tentando parecer sempre tranquilo mesmo que eu sentisse que às vezes ele ficava extremamente magoado com nossas atitudes tão infantis.

Demorou um pouco até que eu tivesse uma conversa de verdade com Im, mas eu havia me decidido muito antes não ignorá-lo. Eu não sabia se ele havia feito amigos no país, e a forma com a qual todo o time o tratava passou a ser incômodo.

Foi por isso que eu passei a cumprimentá-lo e oferecer água. Ainda não queria me manter muito próximo, mas Changkyun sempre sorria de um jeito tão bonito quando eu falava com ele, que eu passei a ser totalmente incapaz de trata-lo como nada.

A culpa não era dele.

Então, antes de tomar qualquer atitude, eu o chamei um dia, depois do treino. Faziam aproximadamente quinze dias desde que ele havia chegado, e a relação com a maior parte do time não havia evoluído. Shownu era o mais racional, maduro e ajuizado de todos nós, mas ainda assim não sabia como reagir.

Nós nos sentamos nas arquibancadas, ele de frente para mim com os dedos entrelaçados no colo e a bolsa de ginástica nas costas, suado pelo treino e com o olhar distante, como se quisesse criar uma bolha entre nós, evitando aquela conversa depois de duas semanas de pouco ou nenhum contato.

— Você sabe por que te aceitaram tão rápido na equipe? — Perguntei, depois de um tempo de silêncio mórbido.

Changkyun me olhou nos olhos durante um tempo e confirmou com a cabeça, comprimindo os lábios e juntando as sobrancelhas em uma atitude que eu não soube identificar como sendo  confusão ou tristeza.

— Um garoto foi expulso. — Eu confirmei levemente.

— Sim. Gun estava conosco desde o fundamental. Ele era meu melhor amigo e sonhava em jogar profissionalmente. Ele era muito bom. — Comento, sem olhar para o rosto do garoto, mantendo meus olhos fixos na cesta de basquete. — O que aconteceu com ele foi muito difícil para todos nós, e foi muito rápido. A culpa não é sua, isso não tem nada à ver com você, mas parece muito traiçoeiro da nossa parte ver um amigo indo embora e aceitar você tão rapidamente depois de estarmos como uma equipe há mais de cinco anos...

— Eu entendo vocês. — Sua voz era baixa, embora grave. Seus dedos se apertavam uns contra os outros em um entrelaçar apertado. — Eu entendo, e acho que faria o mesmo se fosse um de vocês. Tudo bem, de verdade. Levem o tempo que precisarem. — Nesse momento, eu o olhei. Como um ser humano poderia ser tão compreensivo depois de ser cruelmente ignorado durante semanas? — Mesmo com tudo isso, eu fico... quando vocês falam comigo, eu... fico mesmo muito feliz. — Ele tinha um sorriso pequeno e os olhos molhados, e eu fiquei me sentindo estranho em saber que também era muito difícil para ele. — Eu me mudei faz pouco tempo e sou meio quieto. Jogava basquete nos Estados Unidos enquanto estive por lá, então logo que cheguei quis fazer o teste para o time, por que eu queria jogar e... fazer amigos. Eu nasci na coreia, mas nunca morei aqui, não conheço ninguém.

E foi isso.

Depois dessa conversa eu falei com o time. Expliquei que havia tido uma conversa com Changkyun e que não me sentia mais confortável tratando-o como se fosse invisível. Minhyuk ficou puto, e se recusou à ter um relacionamento normal com ele, mas o restante do time, embora ainda um tanto desconfortáveis, prometeram tentar agir naturalmente.

As coisas passaram a ser mais fáceis, embora não totalmente dado o pouco tempo. Apesar disso, eu me permiti reparar em Changkyun e procurar nele qualidades de jogo à serem exploradas. Embora Shownu fosse o capitão da equipe, eu e ele nos ajudávamos na observação dos pontos fortes da cada um dos jogadores junto do treinador, para que pudéssemos utilizá-las em campo nas formações de estratégia.

O jogador novo não possuía um bom equilíbrio e nem jogadas realmente efetivas, mas tinha bons passes, era rápido, aprendia fácil e dificilmente cometia os mesmos erros novamente. Observar a forma como ele evoluía rápido me deixou curioso, e eu descobri que seu estilo de defesa completava o meu ataque.

Não demorou até que o técnico nos colocasse em posições complementares e nós começássemos a trabalhar juntos. Ele defendia a bola, utilizava um de seus passes incríveis e eu finalizava na cesta.

Im era um gênio.

Eu notei, então, algo que não havia tido mesmo com Gun: reflexo conjunto. Eu sabia onde a bola dele estaria, e ele sempre notava quando precisava estar lá para defender meus arremessos. Nós conseguíamos mudar de estratégia sem trocar mais que um olhar, nossas jogadas passaram a ser, de fato, complementares, e não demorou muito até que nosso companheirismo dentro de campo passasse para fora dele.

Um mês depois da entrada de Changkyun na equipe, ele não era mais um estranho. Até mesmo Minhyuk, antes totalmente contrário à união do mais novo à equipe, agora não poupava toques e abraços à cada mini acerto do caçula em seus passes fantásticos.

E, eu não sabia, mas ao mesmo tempo que ele ganhava a equipe, também me ganhava. De repente, passou a ser natural estarmos sempre juntos, mesmo que Im estivesse um ano atrás de mim no colégio. Os intervalos eram sempre passados junto da equipe de basquete, e embora ele tivesse feito alguns amigos, nunca trocou nossa companhia por qualquer um deles.

E, todas as vezes, era ao meu lado que se sentava.

Tornei-me particularmente responsável por ele, não por que alguém me havia atribuído aquele cargo, mas por que existia entre nós um pacto silencioso de ajuda recíproca. Ele não precisava me dizer que estava preocupado com as provas, eu sabia, e, da mesma forma, eu jamais precisei dizer à ele que meus pais estavam à apenas um fio do divórcio. Ele sempre soube que eu não estava bem, antes mesmo que os outros garotos notassem.

Im se infiltrou na minha vida aos poucos, tomando um espaço que eu sentia que sempre havia sido dele. Não havia o que falar sobre, pois naqueles primeiros cinco meses eu notei que, mesmo totalmente diferentes, nós ainda éramos parecidos, e eram as coisas em comum que nos tornaram tão perceptíveis um ao outro.

Ele era minha outra metade, e, até aquele momento, tudo isso era extremamente fraternal. Mas, mesmo sempre sendo extremamente observador e atento, ainda havia algo que eu não sabia. 

~

Naquele dia eu estava animado. A temporada de jogos havia sido muito boa, e faltando apenas quatro meses para o fim do ano letivo, nós havíamos sido convocados para o campeonato regional, que ocorreria entre todas as escolas de Mulbang-ul* e região. Era algo completamente novo, e eu me sentia confiante com a formação atual do time.

Mulbung-ul é uma região formada por onze cidades, todas próximas e pequenas no interior da Coréia do Sul. Os jogos se dariam entre os colégios classificados, e na nossa região, Jageun-sae, haviam sidos classificados três times: Nós do Monsta pelo colégio Seuta Bae, os Pentagon, pela Kyubeu e os Bangtan, pela Maebag. Todos nós já havíamos jogado em algum momento e conhecíamos uns aos outros, e eu me encontrava ansioso pela minha revanche. Os campeonatos duravam cerca de uma semana, então seríamos instalados em uma locação junto dos outros times participantes.

Por isso, quando eu subi no ônibus que nos levaria até Susaseum, o centro de Mulbung-ul, minha barriga dava voltas. Era surreal e novo estar ali, e cumprimentei todos os garotos que já estavam dentro, um tanto bobo enquanto procurava um lugar para sentar. Nesse momento, Im levantou os braços no fundo do veículo.

— Aqui, Hyung. Guardei para você.

Foi estranho imaginar que o fato de ser ele em vez de Gun não me incomodava mais nem um pouco. Im está tão enraizado à nossa equipe que eu sei que todos os outros garotos também o veem como uma peça essencial, mesmo que todo nosso relacionamento tenha tido um começo tão triste.

E é por isso que eu me sento ao seu lado logo depois de ele me estender a mão em um cumprimento. Eu bati as palmas juntas e ele sorriu, daquele mesmo jeito radiante de sempre, e nunca noto quando meu sorriso o acompanha, em retribuição à todo cuidado que ele sempre tem com cada um dos integrantes do time, mesmo que ele seja o mais novo.

— Ansioso? — Perguntou, depois de já estar acomodado. Chang tem um sorriso idiota na cara e não para de rir, e eu sei que aquilo tudo é uma mistura de ansiosidade com felicidade, por que eu também sinto.

— Um pouco. — Ele encosta a cabeça ao banco, sorrindo para o teto do ônibus enquanto fala. — É meu primeiro campeonato nesse nível aqui. Eu estou nervoso, mas muito feliz em poder compartilhar isso com você.

Me sinto um pouco mais ansioso.

— Comigo?

Ele ainda sorri, e os olhos bonitos se voltam para mim em uma expressão calorosa e íntima.

— Você é a pessoa mais próxima que eu tenho fora da minha família, Jooheon. — O sorriso diminuiu um pouco, mas os olhos continuam brilhantes. — É importante.

Eu acho que coro um pouco, por que sinto o rosto quente. Meu coração está acelerado e eu soco seu ombro antes de rir, fugindo de meu próprio embaraço com uma piada aleatória, devolvendo de forma vaga sua declaração.

E, embora eu tenha transformado tudo em uma piada, o que ele disse me martela a mente durante a viagem, e eu o observo enquanto ele dorme. Im está recostado ao vidro do ônibus, o rosto bonito se balançando levemente junto à movimentação do veículo.

Deveria ser tão interessante observá-lo?

A viagem tem cerca de cinco horas, e nós fazemos uma pausa para comer durante o percurso. Eu quase o acordo com uma carícia no rosto, mas no último minuto minha mão desce para seus ombros e eu o chacoalho levemente.

— Chang, paramos para comer. Você vai descer? — Ele está com a cara amassada pelas cortinas do ônibus onde seu rosto estava pousado, e ele acena afirmativamente com a cabeça enquanto coça os olhos.

A pausa é rápida. Nós estamos em um fast food e todos pedimos os lanches para viagem. Im parece extremamente feliz com seu pacote imenso, e quando nós nos sentamos novamente, ele começa a comer as batatas.

— Quanta coisa você comprou? — Eu estou observando o volume da sacola, visivelmente curioso com o quanto de comida ele havia pedido.

— Um combo de lanche, batata e coca, uma torta de maçã e um milk-shake. — a voz sai abafada pois ele ainda está comendo as batatas, e eu solto uma risada alta.

— Você come muito para uma pessoa do seu tamanho.

— Você é quem come pouco. A gente nem tem tanta diferença de altura. — Ele aponta com o queixo para Shownu, que está tomando bronca de Kihyun naquele exato momento. — Ele sim come por todos nós.

O líder do time estava desembrulhando seu segundo lanche, e eu sabia que pelo tamanho de sua sacola, a comida ainda estava pela metade.

— Ok, você está certo. — Eu rio e volto para minha comida, enquanto nos permitimos o silêncio para que nosso lanche não vire uma bagunça protagonizada nossa falta de cuidado.

Algum tempo depois eu já estava terminando meu refrigerante quando passamos em frente à uma plantação imensa de flores. O cenário é tão colorido e tão bonito que eu apenas não consigo parar de olhar. As flores se estendem por quilômetros e eu sorrio quando passamos pela parte da plantação onde se encontram as rosas.

— Eu nunca tinha visto tantas rosas assim. — Comento, ainda observando o lado de fora.

Im sorri.

— Estou olhando para uma agora.

Eu congelo no lugar e fico observando-o durante o que me parece muito tempo. Eu procuro em seu rosto um motivo pelo qual aquilo havia me feito sentir assim, e ele está rindo e fazendo graça enquanto me cutuca.

Eu sorrio de canto, sem graça, enquanto ele está fazendo alguma piada em um tom muito alto, que chama a atenção dos outros membros, e logo tudo se transforma em uma bagunça de vozes e risadas enquanto eu tento miseravelmente parar de pensar, pela segunda vez em apenas quatro horas, no quão estranho meu coração fica quando Im resolve soltar essas informações aleatórias acerca de seus pensamentos sobre mim.

~

Eu quis chorar, o que é muito raro, uma vez que eu não sou uma pessoa que chora. Entretanto, ali, enquanto eu rolava pelo chão com meu braço latejando, eu vi as lágrimas como uma possibilidade gritante. Não pela dor, mas pelo fato de que eu sabia que não ia mais poder jogar naquela temporada.

Era tão frustrante.

Nós tínhamos tudo a nosso favor. O time estava preparado, estávamos em sincronia, dez pontos à frente do adversário e eu estava tão orgulhoso da gente... mas, naquele lance, quando o jogador do time adversário se jogou sobre mim para defender o lance, eu caí sobre meu próprio braço, sentindo a dor agonizante de ter um membro quebrado.

A força do impacto foi tanta que todo o jogo parou com o barulho.

Eu estou com o rosto contra o chão enquanto seguro o braço, mordendo a boca para conter o grito de raiva, frustração, dor e tristeza. Eu percebo uma sombra se mover pela visão periférica, e em menos de três segundos Im está ao meu lado, junto de Shownu e Hyungwon. Eles me viram de barriga para cima, aguardando os paramédicos chegarem, e eu tampo meus olhos com o braço tentando engolir o choro.

Eu sinto meu corpo ser movido para uma maca, sei que eles estão conversando, mas eu quase não ouço. Estou tão concentrado na minha batalha interna, tentando não me deixar parecer tão mal quanto estou de fato, que eu apenas ignoro tudo o meu redor, exceto aquela voz grossa que parece embargada.

— O que está acontecendo com ele? Ele vai ficar bem?

Nessa hora as lágrimas caem, misturadas ao suor depois de tanto tempo jogando. A partida ainda continua, eu posso ouvir a bola batendo, mas Changkyun não voltou para o campo, me acompanhando para dentro dos vestiários quando eu sou colocado sob uma nova maca, não me dirigindo palavra alguma até que ambos ouvimos a sentença.

— Eu acho que quebrou.

E eu soluço. Eles estão me dando os primeiros socorros e falando sobre me mandar para o hospital, mas eu só quero poder voltar no tempo e não fazer aquela jogada, não ter caído no chão e não ter perdido a oportunidade de jogar logo no segundo dia de jogos.

Estou ali, chorando com o rosto escondido enquanto eles avaliam meu braço, perguntando o quanto dói e eu não sei exatamente sobre qual dor eles estão falando. Eu recebo os cuidados básicos enquanto as lágrimas não param de cair e Im não sai do meu lado por um único minuto sequer, mesmo que não diga nada.

Quando a ambulância chega, eu posso ouvir sua voz novamente.

— Eu posso ir com ele?

E é o treinador quem responde.

— Os jogos de hoje ainda continuam, Chang. Vou precisar de você aqui.

E ele parece muito chateado quando responde.

— Mas não vai ser a mesma coisa...

~

Eu tive que voltar para casa.

Meu braço por sorte não quebrou, mas trincou, o que me fez passar boas horas no hospital. No fim do dia, quando eu já possuía gesso subindo pelo meu antebraço, o treinador achou que seria melhor me mandar de volta para Jageun-sae, já que o campeonato ainda duraria mais cinco dias e não tinha motivo algum para eu estar ali, até porque não possuía nenhum ânimo para ver os jogos naquele momento e ainda sentia muita dor.

Os jogadores do time foram muito cuidadosos comigo, e eu podia não apenas ver, mas sentir a tristeza que cada um carregava por eu não conseguir levar o troféu de volta para casa. Eles sabiam o quanto eu havia sonhado com aquilo, e parecia ser frustrante para todos.

Changkyun falou muito pouco, permanecendo ao meu lado durante as poucas horas que ainda permaneci em Susaseum. Ele parecia muito chateado, e embora eu tenha tentado fazer piadas com o assunto, nenhuma delas funcionou. Eu tinha medo de que o clima ruim os afetassem nos jogos.

Estar naquela situação, com Im caminhando ao meu lado enquanto eu me dirigia até o carro de meus pais (que haviam se prontificado à dirigirem durante cinco horas para me buscarem), eu sentia o peso de uma responsabilidade que eu não sabia até o momento que tinha. Eu e Im éramos uma equipe. Nossas jogadas sempre eram combinadas, sincronizadas e arduamente aperfeiçoadas, mas agora eu estava indo embora.

Ele me deu um abraço que eu já havia recebido quando os outros garotos se despediram, mas ele me aperta mais dessa vez, chegando perto do meu ouvido.

— Eu sinto muito, hyung... — Sua cabeça está na junção entre meu pescoço e ombros, e eu sei que ele está chorando pela voz mole. — Não vai ser bom sem você.

Eu o abraço de volta, dizendo palavras de apoio que eu já havia dito várias vezes nas últimas horas, mas dessa vez eu quis chorar de novo, porque eu também senti tanto.

O carro se afasta, e eu observo Changkyun esperar do lado de fora do alojamento. Eu acenei com a mão boa e ele acenou de volta, mas ainda podia vê-lo, mesmo quando o carro já estava longe o suficiente para ele se tornar apenas um pontinho preto ao longe.

O caminho de volta me trouxe lembranças do que havia acontecido na noite anterior ao segundo jogo. Nosso dormitório era uma grande sala com chão de madeira e paredes amareladas pelo tempo, com apenas uma mesa baixa sem cadeiras e algumas almofadas. Nós dormimos em colchonetes lado a lado, olhando para o teto enquanto o sono não vinha.

Eu estava tão ansioso que às duas e meia ainda não havia pregado os olhos, mesmo contando quase trezentas abelhinhas como eu fazia quando criança. Nesse momento, uma voz rouca sussurrou.

— Hyung, você também está acordado?

Eu me viro para a voz, reconhecendo-a instantaneamente. Im estava deitado logo ao meu lado, de perfil, olhando para mim apenas com o rosto para fora das cobertas naquela noite fria.

— Estou.

Ele não diz mais nada quando se move, escorregando de seu colchonete para o meu, se espremendo de baixo das cobertas, cobrando espaço. Eu vou mais para a ponta, permitindo que ele se deite, virado em minha direção com os dedos frios.

— Por que não consegue dormir?

— Estou ansioso. — Respondo, me acomodando ao segundo corpo de baixo de meus cobertores, dando espaço para que ele se acomodasse confortavelmente debaixo deles. — Eu sempre quis estar aqui, Chang. É surreal.

Ele está sorrindo.

— Seu sonho é o basquete?

Nossos olhos estão grudados naquela troca estranha que vem acontecendo com muita frequência e faz meu estômago gelar pela proximidade de nossos rostos. Eu fico pensando se Im também compartilharia seus sonhos comigo, assim como eu estou prestes a fazer.

— Não. Eu quero entrar em uma boa universidade, fazer um curso legal... quero ser um bom profissional, que faz as coisas diferente. — Sorrio. — Eu quero... talvez, mudar um pouco o mundo, quem sabe?

Ainda estamos presos naquele olhar, e Im acompanha meu riso quando pega meus dedos entre os seus, entrelaçando-os e pousando a mão sob a barriga.

— Quero estar lá para te ver realizar isso.

Nossos rostos estão tão próximos que eu sinto sua respiração contra minha boca. Eu estou confuso com a sensação, com a vontade que sinto de acabar com aquela distância, e luto bravamente para não descer meu olhar dos olhos castanhos para a boca rosada e rachada pelo frio.

Apesar de minha luta pessoal, naquele momento eu também quis que Im fizesse parte do meu futuro.

Muito.

~

Eu estava em casa, deitado em minha cama enquanto olhava para o teto cheio de pôsteres de basquete. Meu corpo estava ali, mas meu coração permanecia em Susaseum com os meninos.

Eu não conseguia parar de pensar que não podia ajudá-los, que estava inútil para fazer qualquer arremesso e que as jogadas de Im seriam incompletas. Eu colocava fé nos meus amigos, mas eu não conseguia me sentir confortável estando tão longe e parado enquanto eles se esforçavam.

E estava prestes a ir atrás de informações sobre eles quando meu telefone tocou e a cara de bobo de Changkyun brilhou na tela. Eu demorei apenas dois segundos antes de atender.

— Alô?

— Hyung? — A voz de Im era um tanto ofegante, e eu soube que ele estava saindo de um jogo. Eu podia ouvir sua voz entrecortada e a respiração pesada durante as pausas. — Desculpe te ligar do nada, eu apenas precisava falar com você.

— Você está bem, Chang? Aconteceu alguma coisa?

Houve um silêncio na linha, e eu podia saber que ele ainda estava ali apenas pela respiração do outro lado.

— Eu sinto sua falta.

E dessa vez o silêncio foi meu. Meu coração estava batendo daquele jeito louco, da mesma forma que batia quando eu corria muito, da mesma forma que era quando eu fazia uma cesta, e era uma batida que me tirou um pouco o foco e me fez ter um sorriso muito idiota na cara.

— Eu também sinto sua falta. — Digo, por que é verdade. Talvez grande parte da minha melancolia se devesse ao fato de eu não poder estar lá para vê-lo ganhar a primeira medalha.

— Não é a mesma coisa sem você, sempre parece que há um buraco. Às vezes eu me perco, não sei para que lado correr e eu só queria que você estivesse aqui... — Ele suspira. — E tem outra coisa...

— Tem? — Incentivo, quando o silêncio se prolonga por tempo demais.

— Eu te amo, Hyung. — Eu travo, mas não deveria. Aquelas palavras eram constantemente trocadas entre os garotos o tempo todo, e não deveria fazer meu coração bater desse jeito.

— Eu sei, Chang. Eu também te amo.

Sua risada, no entanto, é diferente. É baixa, contida, e parece até um tanto falsa.

— Eu sabia que você ia me dizer isso.

Eu ouço vozes no fundo, enquanto meu coração continua batendo desenfreado contra o peito. Ele responde rapidamente à voz, depois volta para a linha.

— Eu estava no intervalo do jogo. Vou ter que voltar agora, o jogo está complicado sem seus lances. — Ele ri, de verdade dessa vez. — Eu te mando mensagem depois.

— Tudo bem. Até depois. — Respondo, já um tanto perdido em ter que desligar.

— Melhoras. Até.

A linha fica muda quando ele desliga, mas eu continuo com o telefone no ouvido por um tempo, com aquele "eu te amo" me prendendo à qualquer coisa que me faça lembrar Changkyun.

Nós perdemos.

Na sexta feira Changkyun me ligou durante a tarde com a voz trêmula, dizendo que havíamos perdido com uma diferença de pontos ridícula. A dor em sua voz passou por cada mini pedacinho do meu corpo, e eu quis chorar também; se eu estivesse lá, poderia ter ajudado. Se meu braço não tivesse quebrado, Changkyun não estaria chorando pela derrota por ridículos quatro pontos. Aquelas eram duas cestas.

Duas ridículas cestas que eu poderia ter feito.

Eu teria me martirizado mais se não soubesse que logo eles estariam de volta, totalmente frustrados pela derrota. Depois da desclassificação, era pouco comum que os garotos ficassem muito mais que 4 horas nos alojamentos, então eles apenas passaram a noite e voltaram para casa na sexta feira de manhã.

Durante todo esse tempo, eu me policiei em ser um bom amigo e ajudar o treinador à acalmar os ânimos. Eu sabia que Shownu seria o mais chateado com a situação, então eu compreendi que não era o melhor momento para que eu estivesse tão culpado por ter me machucado tão cedo.

Foi por isso que eu me vesti e estava à ponto de sair de casa para conversar com Shownu, que morava a apenas 4 quadras de mim, quando ouvi a campainha tocar; eu teria chegado lá e conversado sobre os jogos, convencido meu amigo de que a culpa da derrota não era dele, principalmente por ter sido por tão pouco, mas eu não pude, por que quando abri a porta, Changkyun me esperava olhando para os próprios pés, com uma minúscula embalagem entre os dedos.

Imediatamente eu fico tenso.

— Chang? — Chamo, vendo seus olhos virem para mim e se prender por um instante. — Eu não sabia que você vinha.

Ele sorri levemente, um tanto sem jeito, e afirma com a cabeça.

— Eu também não sabia que vinha.

— Você está bem? — Pergunto ao notar a voz baixa demais e a notória falta do sorriso que ele comumente me direcionava. Eu me preocupava com Changkyun, e isso não deveria ser um evento tão grande à ponto de fazer meu corpo formigar desse jeito.

— Não muito. — Ele sorri, sem graça, e logo depois me estende o pacote. — É para você. Eu ia te entregar na escola, mas não consegui esperar.

— Isso é um prêmio de consolação? — Eu sorrio, tentando deixar a situação mais leve do que de fato parece. Tudo ao nosso redor parece ter ganho alguns quilos, e eu não consigo identificar exatamente o motivo, embora desconfie.

Eu abro o pacote de papel com um pouco de dificuldade pelo gesso no braço, mas quando a embalagem colorida finalmente cede, eu posso ver o chaveiro com uma pequena bola de basquete feita de borracha, e o número um pregado nela.

— Você ainda é nosso número um. — Ele diz, sem me olhar diretamente, mas eu mantenho meus olhos atentos no rosto que está parcialmente escondido pela franja. — Eu tive medo de você se culpar por não ter jogado, mas não é culpa sua. Nós somos uma equipe, trabalhamos juntos, somos bons, mas ainda é uma droga jogar sem você.

Eu fico em silêncio por alguns segundos, sem saber como reagir e desviando meus olhos dele para o chaveiro que tenho entre os dedos, completamente atônito por tê-lo tão próximo dizendo aquele tipo de coisa.

— Senti sua falta, Hyung. — Eu poderia ter dito muitas coisas quando aquela frase deixou seus lábios, dado o estado que meu coração ficava sempre que Changkyun me dizia palavras como aquelas. Ele estava me olhando e o vento do lado de fora abanava seus cabelos, deixando-os ainda mais bagunçados do que já eram, e eu não poderia achá-lo mais bonito para seu próprio bem.

Tudo em Im vinha me tirando reações ridículas, e eu sinceramente estava começando a ficar preocupado com minha integridade mental. Então, quando o silêncio me parece longo demais, eu sorrio.

— Sentiu minha falta por causa dos pontos que eu não marquei?

Há uma pausa; um curto momento onde eu avalio suas expressões tornando-se sérias, antes que um sorriso pequeno demais surja em seu rosto.

— Senti sua falta por que eu amo você.

Eu sinto frio. A sensação gelada se inicia no peito e desce até o estômago, que parece se remexer demais. Eu culpo o frango apimentado que comi no almoço, culpo os ovos do café de manhã, o chá da noite anterior e até mesmo a posição da terra de dos planetas quando tento me convencer, de todas as maneiras possíveis, de que era impossível estar tão ridiculamente apaixonado por cada pequena ação daquele garoto.

O elefante branco na sala caminha ao nosso redor, e eu uso um sorriso nervoso para ignorá-lo quando seguro os ombros de Changkyun.

— Eu sei disso, também amo você. — Eu estou forçando uma expressão tranquila enquanto observo o elefante ganhar uma grande estampa de poás vermelhos. — Muito obrigado pelo presente, eu gostei muito. Vou colocar na mochila.

Im continua me olhando, depois mira as mãos que deixei displicentemente em seu ombro, embora eu possa estar machucando-o por causa do peso do gesso, então sua expressão molda um sorriso que eu sei que é falso.

Eu posso ver o elefante me olhando com a cara feia.

— Eu fico feliz em saber disso, hyung. — Ele olha a tela do celular por um segundo, depois tira meus braços de seus ombros. — Tenho que ir. — É mentira. — A gente se vê.

Então, quando ele vai embora, eu percebo que sou covarde demais para enfrentar o tamanho daquela situação e do elefante branco cheio de bolinhas vermelhas.

~

Eu não teria recorrido àquilo se não estivesse sentindo tanto medo. Hyungwon e Wonho me olhavam plenamente confusos enquanto eu buscava coragem para contar à eles que eu estava apaixonado por um cara. E, como se aquilo já não fosse estranho o suficiente, eu teria que contar que esse cara é Changkyun.

Hyungwon mantinha a face neutra, embora eu soubesse que ele perderia logo a paciência; e, apesar disso, eu simplesmente não conseguia abrir a boca e comia os amendoins da mesa do restaurante à quase dez minutos, sem dizer absolutamente nada desde que chegamos ali. Wonho basicamente roía as unhas em expectativa.

O mais novo bufou.

— Olha, Jooheon, faça o favor de desembuchar. Hoje é sábado, eu poderia estar dormindo, fazendo sexo, terminando minha série, mas estou aqui olhando para a sua cara por que eu sou um bom amigo, então retribua minha amizade e fala logo o que inferno está acontecendo, por que eu 'tô ficando preocupado. — Sua voz é calma e baixa, mas eu sei que ele realmente está se controlando por que eu sei que se importa comigo. Hyungwon é cuidadoso demais com todos nós para não se importar.

Eu costumo ser muito mais expressivo e brincalhão com as coisas, e ficar em silêncio por tanto tempo realmente é algo preocupante. Até mesmo para mim.

— Eu acho que estou apaixonado por alguém. — Wonho entreabriu os lábios em surpresa ao mesmo tempo que Hyungwon revirou os olhos.

— Você acha? — Ele mantinha uma careta debochada. — Volte novamente quando tiver certeza.

— Deixa ele falar. — O mais novo recebeu um cutucão do namorado, que permanecia com aquele olhar chocado. — Eu estou curioso, ele não faz o tipo de pessoa que nos chamaria aqui para falar isso.

— E que é por um cara...

Nesse momento os dois ficaram em silêncio pelo que me pareceu tempo demais. Eu olhava para todos os ângulos possíveis para fugir dos olhos do casal que me escaneava, buscando qualquer indício de piada em minhas atitudes. À esse ponto eu deveria estar tão vermelho que não podia ser mentira, de qualquer forma.

— E o Changkyun sabe? — Aquele foi o momento que eu achei que iria derreter, de tão quente que eu sentia a vergonha passar pelo meu corpo, junto de um susto ao ter aquele nome citado. — Por que se não for dele que nós estamos falando, talvez alguém saia chateado dessa história.

— Jooheon tá apaixonado pelo Im?

— Wonho, você é muito lerdo.

— Como você sabia? — Eu disse, me endireitando na cadeira, buscando seus olhos como se fossem uma tábua de salvação. Eu estava tão confuso com o que vinha sentindo que sua descoberta aparentemente óbvia sobre eles me deixava ansioso.

— Vocês agem estranho quando estão juntos. — Hyungwon apoiou um dos cotovelos contra a mesa, sorrindo levemente para mim. — Me lembram como eu e Wonho éramos antes de entendermos o que sentíamos. Éramos amigos demais, próximos demais, sempre existiam gestos e frases que, nas entrelinhas, já podiam ser interpretadas como sentimento, mas nós não queríamos entender aquilo por que era cômodo estarmos como estávamos. O Wonho tinha acabado de se assumir enquanto homem bissexual, e eu tinha certo preconceito com gente assim por que já tinha tomado muito na cabeça com recém assumidos. Mas eu estava apaixonado e eu sabia que ele também, então chegou um momento que não fazia mais sentindo fingir que eu não sabia o que estava acontecendo com a gente.

"Você e o Chang tem uma proximidade que vai muito além do que você tinha com o Gun, Jojo. É o tipo de cuidado que eu tenho com o meu namorado, e nós já estamos juntos à quase dez meses. Eu não vou te dizer que é fácil sair do armário, por que não é, mas é libertador aceitar o amor de outra pessoa que você também ama.

O Changkyun não parava de falar de você durante o período que ficamos em Susaseum para o campeonato, e ele parecia uma barata tonta sem você lá. Você também tinha jogadas combinadas com o Gun, mas nenhum de vocês ficava com essa cara de loser igual você e ele ficam quando precisam jogar sozinhos. Vocês são ridículos, não enganam nem a si mesmos".

Aquilo se pareceu muito com uma bronca, mas Hyungwon sorria, e eu acredito que nunca vou me acostumar com sua objetividade. Wonho possuía um sorriso tranquilo enquanto seu olhar vagava do namorado para mim, confirmando a concordância com suas palavras. Em seguida, ele se inclinou sob a mesa e segurou minhas mãos.

— Eu acho que você devia tentar. — Começou, tranquilamente. — Eu não me arrependo por um único minuto em ter tentado com o Hyung, e hoje eu sou tão feliz que não sei te explicar direito. — Ele não conseguia ver, mas eu podia visualizar Hyungwon sorrindo na direção de Wonho enquanto ele falava. — Analisando a situação, dá para entender que ele também gosta de você...

— Ele disse que me ama algumas vezes. — Respondo, menos tímido que no começo, mas ainda sem levantar o olhar em sua direção. — Eu respondi que também o amava, mas ele nunca... pareceu feliz.

— É por que ele sabia que você não estava entendendo o peso que essas palavras tinham para ele. — Hyungwon entrou de novo na conversa, para logo depois estender o braço e acariciar os cabelos de Wonho. — Ele dizia que te amava enquanto homem e você respondia que o amava enquanto amigo, são amores diferentes e eu entendo que deve ter sido muito frustrante para ele. — O mais alto ri. — É divertido ver duas pessoas que se correspondem não conseguindo se acertar, parecem a gente, amor.

Wonho se vira e lhe rouba um selinho, e eu me sinto segurando um castiçal imenso, com cinco braços e uma vela em cada uma delas. Entretanto, enquanto os observo e vejo o tamanho da intimidade que eles reúnem, eu desejo em silêncio que eles estejam certos, e que um dia eu possa alcançar Changkyun com a mesma facilidade que eles tocam os lábios um do outro.

~

Eu estou batendo na porta de Im com um pacote imenso de salgadinhos e várias latas de energético. A ideia era virarmos a noite vendo filmes ruins e zerando jogos de videogame, mas eu estava nervoso e sabia o porquê.

Depois da conversa com Hyungwon e Wonho, eu havia decidido que o elefante branco no meio da sala que era meu relacionamento com Changkyun teria que sair. Eu precisava falar com ele sobre sentimentos, pois os meus estavam me matando e eu tinha muito medo de que o silêncio sobre aquele assunto prejudicasse a amizade que já tínhamos.

E, no fundo, eu pedia para que eles estivessem certos e Chagkyun realmente me correspondesse.

Quando ele abre a porta, eu consigo ficar ainda pior. Ele usa um samba canção com pequenas estampas com a cara do Naruto e uma blusa branca simples. Seus cabelos estão bagunçados como sempre, mas de longe eu posso perceber o quão cheiroso ele está, e o quão apaixonado eu sou por aquele cheiro.

Eu sorrio quando percebo que estou analisando-o por tempo demais, e logo em seguida estendo a sacola em sua direção.

— Trouxe energético. Hoje você não vai dormir, definitivamente. — Ele ri e pega a sacola, me dando as costas em direção a cozinha, e me chamando com uma das mãos. Meu braço engessado coça um pouco, e eu quase enfio um dos dedos para dentro das faixas que o recobrem, se não fosse o fato de eu ter notado o quão marcada a bunda de Changkyun ficava naqueles shorts, e o quão fraco eu ando quando se trata dele.

Eu quase me bato quando noto com estou sendo tarado, então o sigo. Ele está colocando as latinhas no freezer, de depois deixa o pacote de salgadinhos sob a bancada.

— Minha mãe falou pra gente pedir pizza. A gente pode comer os salgadinhos mais tarde, tudo bem? — Eu sorrio e aceno afirmativamente, sem me impedir de juntar meus olhos aos seus e encará-lo durante alguns segundos. Seus pais haviam saído para uma curta viagem, então estávamos sozinhos

— Vamos zerar o que hoje? — Eu estou puxando qualquer assunto para quebrar o clima que pesa rápido demais entre nós, e eu posso, mais uma vez, ter o vislumbre do imenso elefante com estampa poá. Tenho vontade de dizer a ele "você vai embora hoje", mas eu pareceria idiota demais se Im me ouvisse.

E, com esse pensamento, eu me lembro do por que estou ali, e logo fico nervoso novamente. É muito mais fácil planejar coisas e ter certezas quando Chagkyun não me olha enquanto sorri, com aquela cara ridícula de quem não faz a mínima ideia do que acontece comigo.

— Eu pensei em jogar rpg... — Ele comenta, despretensiosamente enquanto vem em minha direção, antes de me puxar para o quarto, onde seu videogame fica. — Mas também tem a versão recente de final fantasy...

— Você sabe que eu odeio esse jogo. — Ele solta uma risada.

— Por isso pensei em rpg...

— Por que a gente não faz maratona de House Of Cards? — Faziam pelo menos dois meses que ele estava tentando me convencer à ver aquela série, e eu sabia que ele não seria contra.

— FINALMENTE! — Comenta, animado, e liga a televisão diretamente na Netflix, sorrindo como uma criança enquanto coloca o primeiro episódio para passar. — Você pede a pizza.

E eu peço meia franbacon e meia quatro queijos de uma pizza gigante de dezesseis pedaços, que eu sabia que não duraria mais que quarenta minutos pois tanto eu quando Chagkyun comíamos como dois animais.

A série está passando eu poderia dizer que ela é muito boa se de fato eu prestasse atenção à ela e não à Im sorrindo como um idiota enquanto faz comentários sobre sua série favorita. Então, depois de três episódios e uma pizza pela metade, eu começo à notar que minha ansiosidade tem limite, e que meu limite chega muito rápido quando o envolve.

— Eu quero falar com você. — Comento, quando a transição para o episódio quatro está sendo contado na tela. Im franze o cenho e pausa o vídeo antes de me olhar com a bochecha suja de molho, e eu sorrio. — Sua cara está toda suja.

Ele faz um bico adorável e passa um guardanapo de papel amassado pela cara, para logo depois limpar os lábios e me olhar, confuso.

— Eu percebi que você estava estranho. — Comenta, um tanto reticente. — Eu fiz alguma coisa? Você está bravo comigo?

Eu arqueio minha sobrancelha, ficando momentaneamente confuso.

— Por que eu estaria bravo com você, Chang?

Agora eu noto que ele também está nervoso, e avalio toda a nossa noite até ali. Eu estava tão ansioso com minhas expectativas para aquela noite que não havia notado que ele parecia incomodado com alguma coisa, e agora está mordendo os próprios lábios com as sobrancelhas crispadas enquanto evita me olhar diretamente.

— Olha pra mim. — Puxo sua mão, e ele pondera um pouco antes de levantar o rosto. — Por que eu estaria bravo com você? — Ele continua me olhando, em silêncio, como se buscasse dentro dos meus olhos uma resposta para as próprias perguntas internas. Eu engulo à seco. — É por causa da conversa que tivemos quando você voltou do campeonato?

Ele arregala levemente os olhos, como se meu chute tivesse sido certeiro, então se encolhe, afirmando. Eu me lembro da conversa com Hyungwon e Wonho, e pela primeira vez durante aqueles últimos dias de agonia eu não estou nem um pouco nervoso, certo da reciprocidade de sentimento e tranquilo para conversar sobre o assunto como eu nunca achei que poderia.

Changkyun é fechado, e na maior parte do tempo fica tímido com quem não conhece, mas isso se dissolve em um garoto extremamente sincero e transparente quando você presta mais atenção. Conseguir lê-lo com tanta intimidade deixa meu coração tão cheio de bons sentimentos que eu levanto seu rosto para mim mais uma vez, como se tivesse muita noção do que estava fazendo e toda certeza do mundo, embora meus dedos tremessem.

— Você gosta de mim, Chang?

Nossos olhos estão grudados e meu coração está batendo rápido demais. Ele está suando um pouco e eu posso sentir pelo toque de mãos que mantenho. Não sinto a mínima vontade de me afastar, e aquilo é o suficiente para mim.

Eu imaginei muitas reações diferentes que meu corpo teria se realmente fosse recíproco. Eu achei que sorriria, que o abraçaria, que falaria coisas bonitas, mas, quando o rosto de Changkyun fica vermelho, os olhos se enchem d'água e ele afirma levemente com o rosto tornando a esconder-se logo em seguida, tudo que eu consigo fazer é mergulhar em um rio profundo de sentimentos gostosos que fazem com que eu me aproxime ainda mais dele.

— Olha pra mim...

— É agora que você diz de novo que somos só amigos e que me ama assim, e depois nós fingimos que nada aconteceu? — Ele pergunta baixinho, ainda sem me olhar, e meu coração quebra um pouco por que eu nunca o havia visto tão frágil assim.

— Olha pra mim, Chang. — Ele esfrega o rosto com as mãos e me olha; a face está vermelha pela vergonha e choro dolorosamente engolido, e eu não resisto à passar o polegar sob as bochechas para limpar qualquer resquício de umidade. — Sim, agora é o momento que eu digo que eu te amo e que nós somos amigos... — Ele morde o lábio e ameaça virar o rosto, mas eu deixo um beijinho em seu nariz antes que isso aconteça. — E que foi exatamente por isso que eu me apaixonei por você.

A frase sai tão facilmente por meus lábios que eu quase não acredito no que disse. Changkyun está me olhando e eu permaneço observando-o, com a face tranquila por que era como eu me sentia enquanto via o elefante ir embora de nossas vidas. Eu afago o rosto bonito enquanto ele procura no meu qualquer sinal de piada, e eu não evito o pequeno sorriso que toma minha face quando vejo seus olhos se arregalarem minimamente.

— Você tá falando sério? — É um quase sussurro desconfiado, e eu quero rir. Eu havia ido até ali para me declarar, e por fim Im havia feito isso antes. Talvez, de fato, eu nunca pudesse contar com minhas pressuposições pois sempre existiriam coisas que eu não sabia.

Mas existia aquilo que nós havíamos descoberto.

— É sim.

— Então eu posso te beijar agora? — A pergunta é quase inocente e eu dou uma risada enquanto permaneço acariciando seu rosto.

— Você pode.

Ele aproxima minimamente o corpo e segura minha cintura, me puxando automaticamente mais pra frente. É messe momento que eu fico com vergonha da proximidade, por que ele mexe tanto comigo que me custa acreditar que aquilo está acontecendo de verdade.

Então, eu o seguro pela nuca e junto nossos lábios de uma vez, respirando fundo e quase gemendo de satisfação quando sinto a textura macia dos lábios pequenos sob os meus, e o calor da língua que não demora muito para se encontrar com a minha. O beijo é lento. Im puxa meu lábio em uma mordida fraca apenas para me provar que eu não vou acordar de nenhum sonho, por que aquilo é real.

Eu estou beijando meu melhor amigo, e isso é muito melhor do que eu imaginei que seria.

Nossas línguas se encontram em um ritmo de descoberta que manda sinais nervosos para todas as partes do meu corpo, e eu quero me afastar quando noto que sou sensível demais à ele. Im me deixa com a mente fértil, e imaginar sua boca macia descendo pelo meu pescoço até a clavícula, depois até lugares que ameaçam despertar fazem com que eu me afaste minimamente, puxando-o para um abraço e respirando fundo enquanto expulso aqueles pensamentos para fora da minha mente

Ele suspira.

— Você não pode respirar assim perto da minha orelha, hyung. — Ele está apertando os dedos ao meu redor e eu me arrepio. — Não depois de ficar fantasiando esse beijo por meses e você ter me dito que também é apaixonado por mim. É covardia.

Eu passo a língua pelos lábios.

— Covardia é você me dizer isso usando essa voz. — Belisco suas costas, e ele ri. — Eu amo você. Tô falando do jeito certo dessa vez.

Ele se afasta minimamente para me olhar, e seu sorriso é tão lindo que eu poderia morrer.

— Que bom. — Ele junta nossas testas, e nós estamos rindo por que a euforia é compartilhada e real. — Por que eu estava cansado de me declarar para você toda hora e você não estar nem aí.

— Idiota. — Ele ri antes de me beijar de novo, e eu me perco mais um pouco naquela sensação que de tão nova, parecia antiga conhecida, me fazendo pensar que enquanto eu tivesse Changkyun saberia que não importava se eu era muito bom com estratégias, sempre existiriam coisas novas e eu era tão louco por compreendê-las quanto era por poder tê-lo, finalmente.  


Notas Finais


Agora isso vai ficar extremamente íntimo, então leiam se quiserem HAUEHAUHEUS

Lory, eu te amo.

Essa definitivamente não é uma novidade e VOCÊ SABE QUE EU TE AMO MUITO, mas eu nunca, nunca, nunca vou perder a oportunidade de falar de novo. Você é a melhor pessoa que eu conheci na internet e eu sou tão, mas tão grata por te ter na minha vida que eu tenho vontade de chorar de felicidade e gratidão por você existir. Eu já te fiz um textão á algumas semanas, e basicamente falei tudinho lá, mas eu queria te dizer de novo o quão amada você é e o quão grata eu sou por te ter na minha vida, por seus conselhos e todo o seu apoio.

Eu acho que teria surtado muito antes se você não estivesse aqui

Eu te desejo toda a felicidade do mundo, paz, amor, viados e kpop e Im. E eu te amo de novo. Te vejo muito em breve.

Feliz aniversário atrasado, meu amor. Todos os dias são seus.


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