História O que resta de nós? - Ciúmes?

Kara:

O almoço no McDonald's foi um alívio. Kat estava melhor e eu percebi que a reação dela realmente foi por não estar acostumada a ficar sem Lena. Tenho visitado elas todas as noites, quando não estou atuando como Supergirl. Lena ainda não quis ter a conversa que prometeu que teríamos, então decidi esperar e deixar ela falar no tempo dela.

É sexta feira e eu chego a CatCo 7 minutos atrasada, torcendo para a Srta. Grant não perceber. Caminho até minha mesa e desabo na cadeira. Menos de dois minutos depois, Cat grita de sua sala.

- KIRAAA - As vezes penso que ela erra meu nome de propósito.

- Sim, Srta. Grant - Digo adentrando a sala.

- Eu quero uma exclusiva com Lena Luthor. Essa mudança na empresa está sendo um dos assuntos mais comentados e eu quero a CatCo cobrindo tudo- Ela me encara - E você vai dar um jeito de conseguir isso.

- Eu? - Pergunto com desdém - Mas...

- Não me questione, Kira - Ela gira em sua enorme cadeira - Eu sei que vocês já foram muito próximas no passado - diz com sarcasmo - Não vai ser difícil pra você fazer ela falar.

- Certo - Digo duvidosa e saio de sua sala.

Chego na Luthor-Corp, ou melhor, L-Corp, rapidinho, graças a minha habilidade de voar. Paro em um beco qualquer e me arrumo antes de entrar na empresa. A secretária loira, que pelo que me lembro chama-se Eve, me leva até a sala de Lena que não está sozinha.

Por um segundo, tenho o vislumbre de que a mulher de cabelos castanhos estava segurando as mãos de Lena, que ao me ver fica sem reação.

- Kara? - Ela levanta apressada e sem jeito - O que faz aqui?

- Eu queria falar com você - mexo inquieta nos meus óculos - Mas acho que cheguei em um momento ruim.

- Não, nós só estávamos repassando algumas coisas dos últimos anos da empresa. A propósito, essa é Samantha Arias, ela assumiu como chefe interina até eu vir pra NC. Foi com ela que jantei aquele dia, lembra? - Lena revela e vejo Samantha me analisar lentamente da cabeça aos pés - Sam, essa é Kara. Kara Danvers. Repórter da CatCo e uma...velha amiga.

- Olá - Samantha fala de forma seca - Bom, vou indo Lena, a gente termina a conversa depois - Afirma enquanto passa a mão no braço direito de Lena, me deixando com ciúmes, e então sai da sala, nos deixando a sós.

- Mas então - Lena inicia - O que te trouxe aqui?

- Bom, na verdade preciso de um favor - Digo me recompondo e retomando o foco, ao mesmo tempo que sento no sofá. Só nesse momento reparo que a sala está diferente. Há menos preto e mais branco. Há também mais harmonia nos detalhes. Uma decoração simples, aconchegante e ao mesmo tempo chique. A cara de Lena Luthor - Gostei da nova decoração - elogio.

- Que bom, eu também - Lena sorri simpática - em que posso te ajudar?

- Eu sei que você não curte muito - Faço uma cara de pidona - Mas eu preciso muito de uma exclusiva. Cat Grant colocou na cabeça que a CatCo precisa cobrir essa mudança na L-Corp e que eu consigo fazer você falar.

- Tudo bem - Lena da risada - Vai ser bom falar com a imprensa. Acho que vai ajudar a ter uma boa visibilidade pra empresa. E eu vou estar falando com minha repórter favorita, então tudo certo.

- Assim eu fico sem graça - Mexo novamente no óculos, mas dessa vez por estar tímida.

Lena: 

- Então é isso! - Kara encerra a entrevista, fechando seu bloco de notas - obrigada por colaborar. 

- Imagina Kara - Me levanto e sirvo um copo de whisky - Como eu disse, vai ser bom pra nossa imagem estar de bem com a imprensa. Vai gerar mais transparência.

- De qualquer forma, ajudou a Cat Grant não cortar fora meu pescoço - Ela fala divertida e eu dou risada.

De início havia ficado um clima estranho entre nós. Tenho quase certeza de que ela viu Sam segurando minhas mãos. Mas porque ela se importaria com isso se ela também tem outra pessoa? Pessoa essa que eu ainda nem sei quem é. Será que ela sentiu ciúmes?

- Certo, então... -Ela se levanta e me encara - Eu vou indo, você deve ter muitos assuntos pra conversar com a Sam - O apelido de Samantha soa irônico e eu tenho certeza de que ela sentiu ciúmes. Não posso evitar sorrir, mas tento não demonstrar tanto.

- Você vai no hotel a noite? - Pergunto com esperanças - Kat fica pedindo por você o tempo todo, daqui a pouco vou começar a sentir ciúme.

- Eu vou sim - Ela sorri genuinamente - Também sinto vontade de ficar o tempo todo com ela.

- Até mais tarde então - Me aproximo dela pra me despedir, mas paro no caminho por não saber se estendo a mão ou se lhe dou um abraço.

Kara também dá um passo pra frente e com isso ficamos a centímetros uma da outra. Fecho meus olhos ao sentir seu perfume e sinto sua respiração perto de meus lábios. Tenho quase certeza de que vamos nos beijar, quando de repente um forte vento balança meus cabelos. Abro meus olhos e tudo que resta dela na sala é seu perfume.

Suspiro frustrada e saio para almoçar. No corredor, Sam me alcança e entramos juntas no elevador. Desde o jantar tem rolado um clima entre nós. Não ficamos mais, mas sempre há flerte e piadas de duplo sentido. Confesso que é muito bom ser cantada e me sentir desejada. Em Paris eu tive pouquíssimos "rolos", nada além de sexo. Ela me ligou preocupada naquela noite, querendo saber de Kat e passamos horas conversando. Tem sido assim desde então e as conversas vem sempre carregadas de muito toque e carinho. Ela vem ganhando um enorme espaço na minha vida e eu ainda não estou pronta pra encarar esse fato. Passei tanto tempo pensando na Kara e em tudo que aconteceu, que a possibilidade de me apaixonar por outra mulher até assusta. Será que é possível eu me apaixonar por outra mulher?

Ao pensar nisso lembro da nossa conversa de mais cedo, na hora que Kara chegou, e sorrio. Ela estava me contando sobre a primeira impressão que teve de mim, dizendo que me achou uma "nojenta". Gargalhei com a expressão. 

Nós vamos até um restaurante Italiano no fim da rua e o almoço é tranquilo e descontraído. 

- Aquela mulher - Sam começa a falar - a repórter... É a outra mãe da sua filha, não?

- Como...- A olho surpresa.

- Não sou boba, Lena - ela interrompe - Vi o jeito que vocês se olharam. Ainda gosta dela?

- É complicado, uma longa história - suspiro ao dizer.

- Bom, temos tempo - Ela sorri amigável.

- Então resumindo - Ela tenta entender - Kara é intersexual, vocês namoravam, você engravidou e por algum motivo misterioso teve que ir embora sem nem dar a chance de ela conhecer a sua filha. O primo dela matou seu irmão e agora você está de volta e ela tá tentando recuperar o tempo perdido com Katherine.

- Exatamente! - sorrio - falei que era complicado.

- E eu pensando que engravidar no início da faculdade foi difícil - Ela solta e nós caímos na risada.

- Sou uma Luthor, afinal - Afirmo - nada nunca foi fácil.

- Acho que eu aguento - Ela encara meus olhos.

Kara:

- Você tinha que ver, Alex - Digo andando de um lado para o outro no DEO - A cara de deboche que ela me olhou. Elas estavam até de mãos dadas na hora que eu entrei.

- Oh Kara...- Alex me segura - Se acalma. Elas são apenas colegas de trabalho. É tipo, sei lá, eu e Maggie.

- Você e Maggie namoram, Alex - Falo brava - Caramba, você não tá ajudando.

- É, tem razão, mandei mal - Ela torce o nariz - Você ta parecendo uma ex ciumenta hein.

- Não é ciúme - Cruzo os braços emburrada - Só tenho receio de quem ela coloca perto da minha filha.

- Aham...- Alex diz falsa e eu reviro os olhos.

- Será que as Maria Fifi podem deixar a conversa de lado um pouco - John surge no ambiente - Tá tendo uma revolta de Aliens na Praça Ringstone, há vários civis.

- Esse é meu! - Alex e eu falamos ao mesmo tempo.

- Falei primeiro - Ela aumenta a voz.

- Não importa, eu chego mais rápido - Faço deboche e saio voando.

- Isso é jogo sujo! - Ouço ela gritar antes que eu saia da instalação.

Quando chego na praça, nada é como eu imaginava. Há uma mulher no centro, usando uma visão de calor muito parecida com a minha. Ela tem feições humanas. Usa uma roupa preta e uma máscara da mesma cor. Pessoas gritam e correm para todos os lados. Me aproximo calmamente, para não deixar a situação pior. A mulher então se vira para mim e sorri.

- Imaginei que você fosse aparecer quando visse civis em perigo - Ela fala.

- Quem é você? - Indago - O que você quer?

- Quem é você? O que você quer? - Ela me imita e logo em seguida solta uma gargalhada medonha - Eu quero você, Supergirl. Quero você...morta.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, sinto uma dor terrível no maxilar. O soco faz meu corpo voar alguns metros para trás. E ainda caída, vejo a mulher puxar duas espadas de Kryptonita. Minhas veias ardem e é como se meu coração não conseguisse bater. Meu ar fica pesado e meus pulmões parecem secar. Ela olha no fundo dos meus olhos e os encara.

- Você vai pagar por tudo. Nós somos Reign!

E essa é a última coisa que ouço antes da espada ultrapassar minha pele e eu apagar.