História O rapto de Perséfone - Eterno amor

Perséfone estava muito preocupada com as consequências que suas escolhas poderiam trazer. Uma dor tremenda dominava seu frágil coração. Não queria ser irresponsável pelos seus atos, seria de forma tão injusta permitir que sua mãe a visitasse. Zeus tinha plena consciência de que Hades amava sua filha e talvez Deméter tenha dado ouvidos. Quem sabe ela não teria se arrependido do que fizera e quisesse pensar melhor sobre o assunto.

            Mas teria algum outro motivo para a mudança brusca de comportamento que havia em Hades. Ela precisava descobrir, e esse seria um bom motivo para falar com ele.

            A deusa percorreu os corredores apresada, subiu com dificuldades todo aquele lance de escadas. Cada passo que dava ela ficava mais cansada e aflita. Não gostava de ver Hades daquela forma e por algum motivo algo cantava ao pé de seu ouvido, implorando para não deixa-lo sozinho.

            Perto de seu quarto encontrara um serviçal e aproveitara para pedir onde Hades estava. Sua única informação era que ele não se encontrava no quarto. Havia apenas mais um lugar, se não desse de cara com o senhor dos mortos, ela desistiria e retornaria para o quarto.

            Assim que dobrara pelo corredor, ela fez o máximo de silêncio possível e tentou não fazer barulho ao tocar no trinco da porta e empurrá-la.

            Por alguns rápidos segundos, a deusa se demorou ao vê-lo em pé, em um canto escuro. Ele segurava um livro pesado nas mãos e parecia divagar nos pensamentos. Havia algo nele que a fazia querer desistir de tentar alguma coisa. Mas faria por amor, mesmo não tendo total certeza de que desse certo.

            Um narciso amarelo ela fez surgir, bem na frente dos olhos escuros de Hades. A flor continha uma luz própria que trazia uma chama quente ao lugar. Ele pega o narciso com a mão livre e solta um suspiro desconfortante, mas sua face havia suavizado um pouco.

_____Senti seu maravilhoso aroma antes mesmo de dobrar o corredor. ____ele pousa seus olhos em direção a porta entre aberta.

            Ela havia perdido o ar de seus pulmões, sentia um arrepio percorrer pela extremidade de sua pele. Apenas ouvindo o som daquela voz fascinante, seu coração derretia.

            Perséfone fez um grande esforço para se mover, entrando no escritório e fechando a porta em suas costas. Mantendo o máximo de concentração que podia fornecer, para que conseguisse formular alguma resposta.

_____Não encontrei sua atenção no jantar, então resolvi procura-lo. ____ela apoia suas costas contra a porta e leva os braços ao peito cruzando-os.

Ele solta uma risada suave.

____Eu sempre estou observando você.

Aos poucos o narciso traz uma aparência levemente acinzentada nas mãos de Hades. E por mais que ele olhasse para Perséfone, ela sabia que tentava matar a flor. Mas a deusa da primavera não deixaria que ela murchasse e morresse. Ela brilhava com intensidade, cada vez mais, até seus olhos não poderem mais fita-la devido a dor que trazia.

____Algo o está incomodando? ____ela pergunta como se o narciso fosse normal. Mas ele continuava o mesmo, sem dizer uma única palavra.

____Gostou da nova decoração?

Ele coloca o livro em cima da mesa e põem o narciso junto ao ramo de flores.

____Nunca esteve tão belo. ____ele percorre o rosto de Perséfone com os olhos, ela conseguia diferenciar as faíscas que haviam neles. ____Então amanhã sua mãe virá nos visitar.

O mundo girava em volta dela.

____Como ficou sabendo?

____Sou os olhos e ouvidos deste lugar. ____ele caminha para perto dela. ____É raro quando não fico sabendo das coisas.

____Me escute. ____ela tenta esclarecer. ____Não podia negar um pedido como aquele. Eu tenho medo do que minha mãe é capaz, mas eu não vou sair do seu lado. Eu amo você.

A risada que saia daqueles lábios enchia seu coração de medo, mas Perséfone compreendia a frustração do marido.

____Você não entende Perséfone. ____ele fala furioso. ____Sua mãe me despreza, não quer você aqui e ainda deseja passar um tempo conosco. Não vou deixar ela destruir tudo o que eu construí, não permitirei que ela faça algo contra o meu reino. Se ela se passar dos limites, ela nunca mais colocará os pés aqui.

            Perséfone nem se dera por conta de que lágrimas rolavam por sua face. Ela respirou fundo e não foi contra as palavras do senhor dos mortos.

____Ela com certeza está planejando alguma coisa, mas ninguém me engana. Sua mãe não me passará a perna. ____ele continua apontando um dedo para ela. ____Você é minha e vou protege-la porque você, Perséfone, é a minha razão.

Hades aproxima-se mais da deusa e a prende com cuidados em seus braços, entregando levemente um suave beijo nos lábios da deusa. Ela amava tanto aqueles olhos, poderiam ser tão doces e gentis e eram apenas brilhantes para Perséfone. Seus delicados dedos contornavam a boca de Hades. Estalando um beijo no queixo macio de rosto dele, ela diz sem desviar o olhar.

____Se eu não puder amar você, não poderei ser quem eu sou. Se meu plano falhar, faça o que tiver que ser feito para me ter do seu lado. ____então ela mergulhou na escuridão que ele vivia, na essência nebulosa que ele possuía e no amor profundo que ambos sentiam um pelo outro.

            Naquela noite, todas as carícias haviam sido diferentes, a cada toque que ele percorria sobre o corpo dela, uma chama se acendia e nos cantos mais desertos daquela imensidão de pensamentos, eles dedicavam todo o amor. O medo de se perder aquilo que os completava e os tornavam felizes era tão maior do que qualquer outra coisa que Hades já havia enfrentado. De forma alguma ele a machucaria, mas nada podia conter sua força de vontade, e era daquela forma que ele a amava.

            Deuses comuns mantinham milhares de relacionamentos entre imortais e seres mortais, mas existiam apenas dois deuses que sabiam o que era o valor de se tornarem um só. A luz e as trevas quando se uniam eram intocáveis, mas eram intensos e profundamente consumidos pelo sabor e ardor que produziam.