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História O Rei dos Condenados - Um homem com coração de ouro


Escrita por: Anchovinha

Notas do Autor


Hello amoras, como estão? Espero que estejam bem.

Já faz um bom tempo desde que apareci por aqui... Eu fiquei um pouco dispersa e desanimada para esta fanfic, depois fiquei atolada de coisas para fazer (faculdade + estágio), depois entrei para o Sope de Letrinhas e só consegui olhar agora para o capítulo que comecei a escrever meses atrás. Peço desculpas por isso.
Eu comecei a ler a continuação de um livro que me inspira para esta história e acho que foi graças a ele que percebi melhor quem era Jung Hoseok.

Capítulo 9 - Um homem com coração de ouro


O vento gelado atingia meu rosto com força fazendo o cabelo ir para trás devido ao movimento. Meus olhos estavam semicerrados enquanto o tronco se inclinava para frente a fim de enxergar alguma coisa por cima da colina mais a diante, o cavalo marrom que havia roubado nas docas se obrigava a subir pela grama molhada e cascalho escorregadio, ele trotava e relinchava conforme direcionava-o pelo caminho escuro.

O País Cinzento oferecia longas extensões de grama e desfiladeiros, florestas densas e casas distantes umas das outras eram coisas que só se encontrava naquele lugar. Se olhasse com atenção poderia avistar feixes de luz em moradias ao longe, se tentasse ouvir melhor conseguiria escutar mais sons de cavalos e murmúrios dos guardas que rondavam os lugares mais remotos.

A segurança daquele país era alta e obsessiva. Homens de uniforme vermelho e branco poderiam ser vistos em qualquer horário perambulando do centro da cidade até por entre as florestas. A rainha cinzenta não permitia aglomerações muito menos contrabando, por isso, em qualquer alarde, ela enviava seus guardas para invadir casas e revirar lojas.

Nada de errado era permitido, talvez por isso a taxa criminal aqui seja tão baixa, pois ninguém gostaria de participar de um julgamento da rainha. Ela era conhecida por não ter misericórdia e não economizar nas sentenças.

Puxando as rédeas quando alcançamos o alto da colina, senti o vento dançar no meu encalço mais uma vez enquanto observava a construção de pedra mais à frente, ela estava localizada próxima a um precipício e era monstruosa o bastante para me fazer observá-la por mais algum tempo antes de me aproximar. Era um milagre aquela construção se manter de pé tendo um desfiladeiro logo abaixo, onde pedras pontiagudas esperavam, junto a areia, por algum corajoso tentar sair da prisão.

Ninguém saia sem ter terminado sua sentença, mas mesmo se conseguisse ou seria morto pelos guardas ou pelas pontas dos rochedos. Não havia outra opção.

Engoli seco batendo com os calcanhares nas laterais do cavalo para que ele voltasse a se mover. As trotadas iam calmas como se testassem a terra abaixo da ferradura antes de dar o próximo passo, não me atentei a um possível receio do animal em continuar apenas puxei as rédeas nas mãos enquanto observava a arquitetura pedregosa se aproximar conforme me movia ao seu encontro.

O cair da noite no país cinzento era estranho e parecia guardar coisas perigosas a cada sombra de árvore, o mato alto que me acompanhava até meu destino roçava nos meus pés presos na sela durante o trajeto na qual abríamos caminho. Nosso rastro ficava para trás e o cavalo relinchava em aviso, meu pescoço se inclinava para cima à medida que nos aproximávamos da Prisão dos Sussurros, o uivo do vento parecia mais alto e o ar que se desprendia da boca se condensava.

O País Cinzento tinha noites frias demais para visitantes mal adaptados.

Respirando fundo, puxei as rédeas do cavalo mais uma vez enquanto observava a construção de pedra à frente se erguer em direção ao céu. O animal marrom de crina preta relinchou e bateu as patas no solo conforme eu fazia-o parar, não havia ninguém vigiando a grandiosa porta de metal da mesma forma que não existia ninguém sob a construção para alertar sobre os invasores.

Eles confiavam demais no medo que proporcionavam para serem tão descuidados, pensei enquanto tentava domar o animal a força.

— Fique calmo — sussurrei na orelha do cavalo mantendo os olhos erguidos na direção da construção —, vou te devolver assim que eu terminar. — O animal bufou uma única vez dando passos para trás e para frente.

A prisão do País Cinzento era conhecida por sua grande resistência e segurança, todos que entravam lá não saiam antes de terem acabado suas sentenças ou serem encaminhados para a forca, alguns diziam que era o melhor presídio entre todos os países, outros falavam que a construção era apenas ameaçadora.

De qualquer forma, Kwan estava ali desde que abandonou a Capital e ninguém ouviu notícias suas desde então, isso aconteceu logo depois de eu ter sumido da taverna e ter me lançado em alto mar junto com Namjoon.

Chul e eu não nos vimos tampouco obtivemos notícias um do outro, pelo menos da minha parte. Às vezes, quando me sentia sufocado ou receoso quanto a algo, pensava em possíveis coisas que ele poderia me dizer ou somente em suas palavras ásperas indicando erros na minha forma de conduzir a embarcação. Eram tempos bons e complicados, porém sempre estive ciente de que poderia contar com Kwan quando precisasse.

E este era o caso, eu precisava dele.

— É bom que você esteja vivo. — Sussurrei para mim mesmo enquanto descia do cavalo e caminhava em direção a prisão.

Puxando o ar com força, levantei uma das mãos e segurei a aldrava de bronze que servia como batedor na construção, meus olhos percorriam as imagens forjadas antes te fazê-la bater no metal, homens segurando os braços de um terceiro apareciam gravados na porta junto com a figura de um corpo partido ao meio, algumas inscrições na língua morta despontaram entre as imagens me fazendo franzir o cenho.

Aquilo era obra da rainha Adelaide e sua visão intolerante quanto aos que atrasavam o crescimento do País Cinzento, nada e nem ninguém estava acima da regra: Se não servir para nada, que seja descartado. Nunca vi Sua Majestade Adelaide, porém as atrocidades que ouvia eram suficientes para me fazer desejar não ser procurado por sua guarda, ela não parecia ser alguém que desistia fácil de algo e sem dúvida seria muito simples para ela me encontrar.

Seria realmente simples, caso eu não fosse bom em me esconder.

Sorrindo torto para o pensamento, bati na porta estrondosa com a aldrava de bronze na mão enquanto me imaginava em mais um cartaz num país distante daquele que nasci. Sem dúvida eu havia feito inimigos durante o tempo que tinha vivido como pirata, graças a isso estava sendo caçado por vários reis e aristocratas, meus homens corriam risco de morte súbita se colocassem os pés em determinados territórios, fora o perigo que sofríamos de sermos atacados em mar aberto.

Era isso que eu desejei por toda minha vida, pensei com um sorriso no canto dos lábios, ser alguém temido e procurado, ganhar uma boa aventura estando bem longe da nobreza e suas vertentes.

— Quem é você e o que quer? — Uma voz embargada e desconfiada atravessou a estrutura de metal e chegou até meus ouvidos. — Nenhum cinzento é permitido aqui.

Abaixando a cabeça minimamente em uma reverência, ajeitei a postura como a de um cavalheiro ignorando o desconforto nas costelas enquanto vestia uma expressão de desprezo. Já faziam alguns anos que não agia como meu pai havia me ensinado, o olhar firme e palavras manipuladoras eram coisas que tentei deixar para trás. Porém, em ocasiões como esta, elas serviam como peça chave para uma situação sem saída.

Meus olhos levantaram-se de onde estavam pregados para encarar a íris verde do homem escondido por entre uma fresta, com a barba longa e mal cuidada, o senhor cheirava a bebida e parecia uma pessoa de fácil manipulação. Ninguém livre era permitido entrar em presídios, porém, apenas os oficiais a mando do governante ou o próprio tinham livre acesso aos prisioneiros.

Eu não era um oficial muito menos àquele com o poder, mas sabia fazer uma mentira parecer verdade.

— Peço desculpas pela intromissão, meu senhor, porém fui enviado pela coroa — falei cordial erguendo o queixo —, creio que fará seu trabalho e deixará que eu faça o meu.

O homem continuou me fitando desconfiado pela fresta da porta enquanto exalava um fedor de álcool e cigarro. Nossos olhares estavam medindo um ao outro em busca de um primeiro conhecimento antes de tomar qualquer iniciativa, era uma pena que eu já tivesse feito isso inúmeras vezes em diferentes situações, pois fui criado desde pequeno a fazer algo do tipo.

Não me orgulhava disso, porém era muito útil vez ou outra.

— Preciso da cartilha assinada pelo seu superior. — Disse lentamente deslizando o olhar pelas minhas vestes em bom estado. Tinha pegado algumas coisas de Yoongi e outras que havia roubado em um saqueamento anterior, não poderia contar uma mentira sem demostrar coisas que a tornariam verdade. — A menos que você, meu senhor, não a tenha.

Sorri de canto enquanto aproximava meu rosto da fissura em que sua face se encontrava. O cheiro forte que provinha do homem arranhava meu nariz e fazia o estômago se embrulhar, com o rosto sujo e molhado pela poeira e umidade da construção tive um vislumbre de sua idade, por meio das pequenas informações que tinha a primeira vista tentei formular na mente alguma coisa convincente para que pudesse entrar sem problemas.

O homem estava bêbado, mas deveria ser esperto o bastante para ser colocado num lugar como este. Eu teria que agir rápido e com cuidado para não alertar o restante dos guardas.

— Você não tem medo do que pode te acontecer por me afrontar, não é? Não tem muito a perder, eu presumo. — Comecei falando em um tom baixo e sorrindo de canto. — Sabe, eu não tenho uma cartilha por não precisar de uma. Se meu superior me mandou aqui tarde da noite para conferir um dos prisioneiros é o que vou fazer.

O guarda sorriu com os dentes amarelados.

— Um oficial deveria estar de uniforme, algo que você não está vestindo. Você é apenas um cinzento comum com um pouco de coragem. — Disse ele como se soubesse que eu estava mentindo. Por fim mantive o sorriso e os olhos fixados nos dele. — Muitos cinzentos vem até aqui para tentar resgatar algum prisioneiro, você não é o primeiro que tenta algo assim.

Dei de ombros enquanto suspirava derrotado.

— Sou tão óbvio assim? — Perguntei fingindo estar desapontado.

— Vou te dar um conselho, rapaz, desapareça daqui antes que eu fique irritado.

Não esperava passar logo de primeira, teria que sujar as mãos de qualquer forma.

— Neste caso, nós deveríamos negociar. — Falei humorado movendo lentamente uma das mãos para o bolso do casaco. — Nunca fui muito bom de mentiras, sabe, acho que não tenho o dom.

O homem fez um barulho de deboche com a boca revirando os olhos e ameaçando fechar a porta de metal. Sem que o guarda percebesse, coloquei a ponta da bota entre a fissura e o batente para impedir que o velho me prendesse do lado de fora. Não tinha viajado tanto tempo para não conseguir aquilo que queria, não permitiria ninguém ficar no meu caminho.

Respirando fundo enquanto desviava o olhar para o chão, agarrei um punhal de gume reto e pontiagudo no bolso do sobretudo no mesmo momento que impulsionava o corpo para frente. Minhas costelas reclamaram por todo aquele esforço e ameaçavam deixar a dor pior do que já estava, mas não tive muito tempo para pensar nisso por estar empurrando com toda a força a porta de metal enquanto esticava o braço para a lâmina perfurar o pescoço do guarda.

O velho se assustou brevemente se afastando do punhal. Ele deveria ter lidado com algo como aquilo, pois no segundo seguinte tinha uma pistola em mãos apontada para mim.

— Dê meia volta, rapaz, antes que eu atire em você ou te prenda aqui.

Sorri, forçando minha passagem pela fresta que se expandia.

— Sinto muito, mas não nasci para mofar numa cela. — Respondi com esforço batendo com o antebraço na mão que segurava a pistola e impulsionando o punhal na direção de sua garganta.

Seus olhos se arregalaram, mas antes que conseguisse gritar para alertar seus companheiros cravei a lâmina afiada no pescoço fazendo força para impedir que movesse sua arma e atirasse em mim. A pressão em cima de seu punho com a pistola diminuía conforme apertava o cabo do punhal na garganta, o guarda engasgava como o próprio sangue enquanto seu rosto mostrava a vida se dissipando lenta e dolorosamente.

Se não fosse pelo líquido vermelho viscoso em minha mão, poderia ver os nós dos meus dedos brancos pela pressão que exercia sobre o homem, a mancha escura pintava as vestes de seu uniforme e respingava em meu rosto e casaco. Não havia muito o que fazer quando se matava alguém, você ficaria sujo e sentiria o cheiro da morte por alguns momentos, mas, no fim de tudo, não se sentia nada ao tirar a vida de uma pessoa.

A mente ficava em branco e as veias cheias de adrenalina. Depois de um tempo você se acostumava, e com pensamentos assim poderia ter certeza de que não iria para um bom lugar quando morresse.

— Eu disse para me deixar passar. — Sussurrei terminando de empurrar a porta enquanto retirava a lâmina do pescoço do homem. Este último caiu no chão com um baque, a poeira do cimento se ergueu até chegar ao meu nariz e com uma careta me abaixei. — Você deveria ter me escutado.

Esticando o braço com o punhal, limpei o sangue da lâmina nas roupas úmidas de vermelho do guarda, meus olhos não se ergueram para ver se havia alguém observando a cena por ser convencido o bastante para saber que ninguém viria por ele. Minhas mãos permaneciam com o líquido viscoso e carmesim, assim como meu rosto com algumas gotas.

Levantei voltando a guardar a arma dentro do casaco e pegava um lenço do bolso da calça.

Não poderia ver um velho conhecido em mal estado, pensei risonho tirando o excesso de sangue das mãos. Minhas botas chutaram o velho morto antes de saltar sobre ele, os olhos lançaram um olhar de relance à medida que um sorriso torto brotava nos lábios. Eu nunca disse que era um homem bom, da mesma forma que nunca disse que não gostava de matar pessoas.

Guardei o lenço no bolso conforme puxava o ar para os pulmões e ajeitava a gola do casaco.

 

****

 

As barras de metal das celas estavam enferrujadas.

As linhas espaçadas mostravam que, apesar do tempo e mal estado, ainda conseguiam manter presos àqueles que eram mandados para elas. As paredes de pedras grossas se alargavam nos corredores dobrados com tochas acesas presas por suportes de ferro, poucas janelas apareciam neste meio tempo e, por mais fechado que a prisão fosse, conseguia se ouvir o sussurro do vento e de coiotes das matas próximas.

O barulho externo invadia às paredes grossas e úmidas à medida que dobrava longos corredores, poucas janelas podiam ser vistas no trajeto e os sons das botas dos guardas e gemidos os prisioneiros eram uma espécie de música de fundo comparado com os ruídos de fora da Prisão dos Sussurros.

O chão de cimento empoeirado e sujo era pisoteado pelas botas gastas enquanto meus olhos analisavam cada parte do presídio a procura de guardas. Os ouvidos se aprumaram com os rangidos e murmúrios dos homens ainda vivos, com uma das mãos apostos para sacar a pistola presa no coldre da cintura e outra prestes a escorregar para dentro do casaco, mantive os sentidos em alerta à medida que espiava para dentro das celas.

Silhuetas magras e fortes despontaram da escuridão conforme caminhava corredor a dentro, o som dos guardas cinzentos eram estouros de risadas distantes enquanto as poucas janelas no alto das paredes permitiam que a brisa trouxesse os sussurros noturno para os presidiários.

Deslizando os olhos para uma grade de ferro grosso, estiquei o pescoço para ver um corpo iluminado por uma vela acesa, o homem barbudo e robusto estava com um dos cotovelos apoiados numa mesa de madeira enquanto fitava a parede pedregosa à frente. Sua atenção parecia vidrada nela por não ter notado minha presença do outro lado da grade observando-o com um sorriso aliviado nos lábios.

— Vai ficar aí por quanto tempo? — A voz ríspida e grossa ecoou pela cela solitária até chegar nos espaços do ferro da grade.

Mantendo um semblante tranquilo, levei a mão que estava pairando no coldre com a pistola para o bolso da calça que guardava um molho de chaves. O tilintar dos metais se fizeram presentes enquanto prisioneiros das celas próximas murmuravam coisas incompreensíveis por soarem tão baixas.

Com a chave na fechadura, girei o punho e o trinco da porta com grades grossas e enferrujadas de ferro começar a se abrir. Durante dois segundos, inclinei a cabeça para o lado procurando por guardas ou alguém que pudesse gritar para que eles soubessem de mim, mas os presidiários estavam fracos e rabugentos demais para fazer qualquer coisa, assim como não existia algum responsável por aquela parte da Prisão dos Sussurros, pois eu já havia lidado com todos eles pelo caminho.

Lancei um olhar para minhas mãos que puxando a porta para que fosse aberta, manchas vermelhas de sangue tingiam-nas enquanto os dedos agarravam o ferro com força. Ao todo, três guardas cinzentos foram mortos por minhas mãos, um deles havia sofrido em silêncio à medida que questionava o paradeiro de Chul Kwan, o outro continha as chaves desta parte do presídio e o primeiro, o velho que abrira o portão de metal, estava jogado na entrada.

Alguém iria encontrá-los mais cedo ou mais tarde, mas antes que isso acontecesse eu já estaria longe daqui com o meu velho amigo.

— Você continua como um velho gordo, Kwan. — Falei baixo deslizando o corpo para dentro da cela.

O homem virou a cabeça com cuidado mantendo-se sentado com o queixo apoitado numa das mãos. A cicatriz na têmpora esquerda revelava a pele repuxada e um sorriso torto brincou em seus lábios enquanto puxava o ar para os pulmões.

— Hábitos, Hoseok, é o nome disso. — Respondeu com a voz bradando sobre o local. — Como você chegou até aqui?

Conforme me aproximava a passos largo e firmes, observei meu amigo e primeiro mentor com os olhos opacos e pele enrugada, a roupa furada e amarelada iluminada pela vela que queimava me fazia especular o tempo que o senhor estava aqui.

— Tenho meus segredos, Kwan, você mesmo sabe disso. — Falei humorado quando estava perto o suficiente para esticar a mão e cumprimentá-lo. — Já faz um bom tempo desde a última vez que te vi.

Com a mão livre, Chul apertou a minha com sua força habitual e pele calejada, as unhas pretas de sujeira se revelavam à medida que o cumprimento se largava. Durante alguns segundos ficamos apertando a mão um do outro enquanto nossos olhos mediam o que o tempo havia feito conosco, as orbes, antes escuras e vívidas, agora estavam apagadas como se ele pudesse ver pouca coisa.

Quis perguntar, mas antes que conseguisse falar algo, Kwan se levantou e envolveu meu corpo num abraço apertado. O aperto de mãos se desfez e as palmas alcançaram as costas com batidas de reconhecimento, o cheiro de mofo com suor arranhou meu nariz em meio a sujeira que era seus fios longos e encaracolados.

— Como é bom te ver vivo. — Sussurrou, estreitando o abraço para algo quase paternal.

— Eu digo o mesmo. — Falei baixo em resposta.

Você é a minha última salvação, era o que eu gostaria de ter acrescentado, mas não o fiz por não parecer certo.

— Então, o que te traz ao meu humilde lar? — Questionou se afastando e dando um último aperto em meus braços. — Sente-se e me diga o te trouxe até aqui.

Respirando fundo, joguei o corpo numa cadeira que estava de frente para onde o homem estava sentado, meus olhos deslizaram por alguns segundos para a vela que queimava num suporte torto enquanto o sussurro do vento exterior brincava pela cela.

— Você chama isso de lar? — Falei humorado desviando de sua pergunta. — O que fez para te jogarem aqui dentro?

Kwan sorriu de canto voltando a descansar o queixo na mão, o cotovelo estava apoiado na mesa de madeira e seus olhos opacos encaravam-me curiosos. As rugas em seu rosto se mostravam mais nítidas devido a proximidade, a pele queimada pelos anos em alto mar e no sol estavam num tom mais claro desde a última vez que havia-o encontrado, o cabelo encaracolado e escuro caía sobre os ombros ressecado e embaraçado, como se não tivesse visto água há tempos.

— Depois que você desapareceu com Beija-Flor, fechei a taverna e arranjei uns marujos para uma única viagem — disse relaxado me encarando saudoso —, não consegui ficar no mar por dois meses como tinha pensado e aumentei a estadia na minha corveta, Brainstorm.

— Um nome forte. — Pontuei com um sorriso sarcástico.

— Não teria que ter criado um nome se não tivesse dado Beija-Flor para você afundá-la. — Retrucou ríspido levando as mãos para a barriga protuberante.

Ergui os braços em rendição enquanto me ajeitava na cadeira.

— Depois de mais alguns meses no mar, eu e minha tripulação saqueamos um dos navios do País Cinzento, afundamos a embarcação e partimos para suas terras — continuou, franzindo o cenho —, nós atravessamos o Mar Silencioso e ficamos algumas semanas aqui, até alguém invadir Brainstorm e me prender.

Arqueei as sobrancelhas inclinando o corpo para frente e apoiando os cotovelos nos joelhos.

— Então, você está me dizendo que não fez nada em terra firme para ser preso? — Perguntei desconfiado.

— Eu não disse isso — respondeu sorrindo —, você não me deixou terminar, Hoseok. Como sempre apressado para saber o final.

Ri soprado floreando com uma das mãos que permanecia com o cotovelo apoiado no joelho.

— Continue logo.

— Como eu estava dizendo, uns guardas me prenderam e eu acabei matando eles antes que conseguissem me jogar aqui.

Kwan ficou em silêncio por alguns segundos enquanto sorria para mim.

— Isso não responde a minha pergunta. — Comentei por fim.

— A graça de se contar uma história é prender a atenção do público e parar antes de ser concluída — respondeu —, eu fiz muito isso quando você não sabia nada sobre como ser um pirata. Em todas as vezes o arrogante Jung Hoseok fazia perguntas demais que nunca eram respondidas, acho que funcionou mais uma vez.

— Não funcionou.

Tinha funcionado.

— Tem certeza? — Questionou rindo alto.

Lançando os braços para o alto, bati com as botas no chão de cimento me dando por vencido à medida que Chul murmurava uma canção alegre como se minha breve irritação fosse pouca coisa. A umidade das pedras na cela deixava-a fria, mesmo com tochas espalhadas pelo corredor a quentura não alcançava o interior onde homens gemiam e praguejavam.

— Agora que já tivemos essa introdução, responda-me, Hoseok: por que está aqui? — Sua voz, por ser grossa, soava mais autoritária do que curiosa.

Respirei fundo e engoli seco.

Kwan não gostava de meios termos quando alguém lhe procurava.

— Preciso de sua ajuda. — respondi em voz baixa.

— Eu imaginei — disse, fechando o sorriso mas mantendo o semblante calmo —, ninguém seria idiota o bastante para atravessar o Mar Silencioso e invadir a Prisão dos Sussurros apenas para uma visita.

Fiquei em silêncio escolhendo as palavras.

— Então...

— Certo — sussurrei para mim mesmo —, eu estou com o príncipe da Capital.

Kwan ficou quieto por alguns segundos.

— Eu reconheço seu desgosto pela coroa, mas raptar o filho do rei não foi uma ideia inteligente.

— Chul, eu não raptei o príncipe, na verdade foi ele que me procurou.

Suas sobrancelhas se arquearam com a resposta.

— Estou surpreso, porém curioso. — Disse enquanto se inclinava para frente. — Por que o jovem fez isso?

Suspirei.

— Yoongi no início só queria conhecer o mar e sair da Capital, acabei deixando ele ficar por parecer uma boa oportunidade de conseguir algumas informações sobre o palácio.

— Mas...

— Mas as coisas foram tomando proporções muito grandes e agora Seok Lee ficou encarregado de encontrá-lo e levá-lo de volta. — Respondi amargo, deixando o olhar cair na chama da vela que se tornava menor a cada segundo.

— Se o príncipe for encontrado não irá voltar para a Capital. — Pontuou sério. — Seok Lee irá matá-lo, colocará a culpa em você e assumirá o trono.

— Eu sei — falei —, eu sei muito bem disso.

Levei uma das mãos para a franja preta que caía sobre os olhos.

— Antes de aceitar Yoongi no meu navio, já tinha notado uma movimentação estranha na cidade pelo fato do rei estar deixando o trono mais cedo, porém, à medida que estávamos em alto mar, pensei que seria uma boa ideia parar na Ilha dos Mortos para obter mais informações sobre quem estava chegando na Capital.

— Você procurou Lia, correto? — Questionou com uma das mãos coçando o queixo, mostrando seu interesse na conversa enquanto refletia sobre minhas palavras.

Assenti.

— Ela deu alguma informação relevante?

— Foi Lia que me contou sobre o procurador de Yoongi.

Kwan suspirou alto.

— Isso é um péssimo sinal — sibilou. — Ela viu o príncipe?

Fiquei em silêncio olhando para suas botas como uma criança quando era repreendida pelo pai.

— Mas que merda, Hoseok. — praguejou. — Como você deixou isso acontecer?

— A culpa não foi minha — argumentei exasperado voltando a olhar para seu rosto —, se você o conhecesse veria como ele é teimoso. Eu o levei comigo com a condição de usar uma máscara, mas quando estava quase conseguindo mais informações com Lia ele a retirou. — Relatei o ocorrido esperando retirar o peso das costas. — A culpa foi dele, não minha.

Produzindo um barulho desgostoso com a boca, Kwan sacudiu a cabeça em negação enquanto batucava com a ponta dos dedos na mesa ao lado da vela. Seus olhos opacos miravam diferentes pontos da cela à medida que sua perna se movia ansiosa conforme os pensamentos se ordenavam na mente, o silêncio que havia recaído entre nós não era desconfortável, mas os sussurros do vento invadindo a prisão sim.

Prisão dos Sussurros, pensei, era o um nome bem apropriado.

— Okay, Hoseok, não foi somente para me contar isso que você veio até aqui — começou ele inclinando o corpo para frente e me olhando com atenção —, no que você precisa de ajuda?

Engoli seco.

— Kwan — chamei-o baixo antes de pressionar os lábios um no outro —, eu arrastei meus homens para cá porque não consigo achar uma rota de fuga que não exija tanto deles. — Minhas palavras soavam trêmulas e descompassadas, algo que não se pareciam em nada com um capitão. — Eu... Eu estou perdido.

— Com o que exatamente? 

Entrelaçando os dedos sobre as coxas, abri a boca e fechei-a novamente. Repeti o gesto algumas vezes antes de conseguir me pronunciar.

— Eu irei encontrar com Seok Lee de um jeito ou de outro, nós iremos nos enfrentar e talvez alguém irá morrer — falei com os olhos baixos e a voz pequena —, o grande problema é que agora estou pensando naqueles que me seguem... Eu estou perdido, não consegui pensar num caminho mais longo que irá aumentar a nossa distância de Lee. E agora também tem o Yoongi, não posso deixá-lo enfrentar seu primo, ele será morto.

As palavras escapavam rápidas e aflitas de minha boca, a respiração entrecortada mal dava para ser notada pela voz que atropelava a linha de raciocínio.

O silêncio do contrabandista não era opressor, mas estava me deixando inquieto, por mais que eu não tivesse receio de mostrar minha confusão para ele ainda existia uma parte de mim que era orgulhosa o bastante para exigir uma resposta. Não importava qual, eu só precisava de algo que me mostrasse um caminho para seguir.

— Da mesma forma que os fracos caem, os fortes se levantam, Hoseok — disse ele me fazendo erguer o olhar. Kwan estava sério. — Desde a primeira vez que você colocou os malditos pés na minha taverna, eu sabia que era forte e destinado a grandes feitos. O seu olhar arrogante e atitude petulante me fizeram querer matá-lo várias vezes, mas eu tinha ciência de que se fizesse isso os mares estariam perdendo alguém importante.

Cerrei os dentes apertando uma mão na outra.

— Quando resolvi te treinar, você provou que meus instintos estavam certos e se mostrou capaz o suficiente de comandar um navio sem muito esforço. — Um sorriso afetado ameaçava dançar nos lábios ressecados do homem barbudo e cabelo sujo. — Depois de sua partida, ouvi muitas histórias sobre um jovem pirata que estava atormentando terras distantes, não posso mentir, Hoseok, mas fiquei orgulhoso. Em pouco tempo você construiu um nome, começou a ser reconhecido e procurado, montou sua própria tripulação e arquitetou o próprio navio, não é qualquer um que pode fazer isso, Jung, você entende isso?

Assenti a contragosto, engolindo seco e movendo os dedos das mãos num gesto ansioso.

— Seok Lee pode ter afundado seu navio, mas eu te garanto que desta vez você irá afundar o dele, seus homens irão lutar por isso e você também. — A voz de timbre forte de Kwan preenchia a cela com voracidade, seus olhos quase sem cor me prendiam no lugar como se com isso pudesse me fazer entender seu ponto. — Seok é fraco, Hoseok, ele pensa que tem força o suficiente para manter o mundo sob a sola de suas botas, mas nós sabemos que aquele maldito irá cair, porque você irá jogá-lo no chão.

— Eu não sei como fazer isso — sussurrei —, antes eu sabia, agora não tenho tenta certeza.

Kwan sorriu relaxando o corpo robusto na cadeira.

— Quanto você confia nos seus homens, Hoseok?

— Eu poderia deixar minha vida nas mãos deles que ela seria bem cuidada. — Respondi sem hesitar.

Chul assentiu orgulhoso.

— É com essa tripulação que você irá se levantar.

— Mas...

— Escute, Jung, Seok Lee deve estar a caminho do Mar Negro, ele não se arriscaria no País Cinzento e estará esperando por você pelo tempo que for. — Falou tranquilo e firme me fazendo engolir as palavras que diria. — Não há outro caminho para seguir, você e seus homens irão batalhar contra os dele, o importante agora é descansar. Entendeu?

Encarando seu rosto enrugado por alguns segundos, bati com a ponta das botas no chão enquanto assimilava suas palavras. Os gemidos dos prisioneiros das celas ao lado começaram a se elevar como uivos de lobos em noites de lua cheia, alguns praguejavam, outros tossiam e um bocado grunhiam de dor abafando os sussurros do vento; meus olhos correram para as grades de ferro procurando pelos uniformes vermelhos dos guardas cinzentos, mas nada apareceu.

— Quantos homens estão com você?

— Contando com Yoongi, seis. — Respondi desligado, voltando minha atenção para meu amigo.

O rosto de Kwan estava retorcido em uma careta.

— Pelos Santos, Hoseok, por que raios você só tem isso? — Perguntou espantado.

— Eu nunca precisei de mais do que cinco bons homens para pôr Eleanor no mar.

Com uma das mãos pressionando a têmpora com a cicatriz, o contrabandista murmurava em desgosto.

— O que você faria sem mim, Jung Hoseok?

A pergunta era retórica.

— Às vezes eu também me pergunto isso — sussurrei.

Mesmo assim respondi.

— Fique no País Cinzento por essa semana, deixe sua tripulação descansar e aproveitar a terra firme antes de partirem — alertou —, neste meio tempo um rapaz chamado Dong-sun irá procurá-lo. Aceite ele e os rapazes que o acompanharem como parte de sua equipe, você precisará de toda ajuda possível quando sair daqui.

— Por que você mesmo não o apresenta? Irei te tirar daqui agora e podemos procurá-lo.

Chul começou a sorrir, mas este não aparentava ser feliz ou triste; era um sorriso cansado.

— Eu irei ser enforcado hoje, Jung.

Prendi a respiração por alguns segundos, não ouvindo som algum.

— Mas que droga você está dizendo? — Questionei sério com as mãos no colo. — Por que raios você vai ser enforcado?

— Por que você acha que eu estou aqui, Hoseok? Por ter sido pego fazendo algo ruim ou por que eu quero?

Respirei fundo.

Um.

Abri a boca.

Dois..

Fechei-a pressionando os lábios em seguida.

Três...

— Explique-se.

Ele suspirou alto floreando com uma das mãos.

— Lembra da tripulação que eu havia arranjado? — Assenti com um manear de cabeça. — Um deles, quando chegamos aqui, foi caçar um faisão nas terras próximas do castelo. Ele é um garoto jovem, Hoseok, está começando a vida de condenado agora e não entende alguns limites que precisamos respeitar no início.

— Os guardas o pegaram?

— Oh não — respondeu sorrindo —, eu consegui chegar no local antes daqueles idiotas e mandei-o para as docas antes que alguém pudesse notá-lo.

— Então por que você está aqui?  

Kwan me observou com os olhos ternos.

— Porque eu me entreguei no lugar dele.

Puxei o ar com força fechando as mãos em punhos.

— Você é um maldito imbecil. — Sussurrei irritado.

O contrabandista continuava sorrindo.

— Chung-hee é bom um garoto, não poderia deixá-lo ser morto por algo tão estúpido. — Sua resposta foi calma com uma pontada de humor. Eu quis socá-lo. — Ele é quase como você, Jung, por isso deixei-o fazer parte da minha tripulação, pois o jovem tem um olhar arrogante e é seguro de si.

Balancei a cabeça em negação pensando em sua explicação.

— Não é só por isso — falei amargo —, não pode ter sido apenas por esse garoto que você deixou eles te trazerem para cá.

— Não, Hoseok, não foi só por isso. — A suavidade em sua voz embalava a cela úmida e abafava os gemidos dos prisioneiros. — Eu já vivi demais, Jung, já roubei, beijei, naveguei e matei, não me arrependo de nada, mas agora eu estou cansado. Fiquei aqui, na Prisão dos Sussurros, por quase cinco anos, muitos dos meus homens tentaram me tirar daqui só que eu não quis.

— Isso não está certo — murmurei levando as mãos para o cabelo a fim de puxá-los —, você não pode morrer sem mais e nem menos, Kwan. Não é assim que as coisas deveriam funcionar.

Chul soltou uma risada fraca enquanto sua destra deslizava para o bolso de sua calça.

— Estou cansado de viver, Hoseok, agora só desejo morrer em praça pública. É assim que eu funciono. — Respondeu bem humorado. — Fico feliz de ver você vivo, de ter tido a oportunidade de me despedir e ajudar. Achei que esse momento nunca chegaria, de ter o petulante Capitão Jung me pedindo ajuda.

Soltei o ar me dando por vencido enquanto observava seus dedos retirarem do bolso da calça uma gaita antiga com riscos pelo metal fino. O reconhecimento do objeto me atingiu em cheio, fazendo um pequeno e triste sorriso erguer o canto dos lábios.

— Minha gaita. — falei baixo admirando o instrumento.

— Você lembra quando ficávamos eu, você e aquele metido do Kim Namjoon sentados na praia admirando as gaivotas? — Perguntou manso girando o objeto entre os dedos. — Você sempre tocava Liberdade e Tirania como se fosse uma música muito boa, era ela que escutávamos todas as vezes que descíamos para a praia depois de acabarmos com algo da Capital.

— É — respondi com os olhos na gaita —, eu era bom com ela, depois que você me ensinou a tocá-la não consegui parar mais. Não até esquecê-la na sua taverna quando sai mundo afora com Namjoon em Beija-Flor.

Silêncio...

— Eram bons tempos — murmurou com a mente distante.

— Posso tocá-la? — Perguntei atraindo seus olhos. — A música, eu digo.

Ele sorriu largo esticando o braço e soltando a gaita nas minhas mãos que repousavam no colo.

— Não me faria mais feliz. — Respondeu com pesar. — Mas antes preciso que me prometa uma coisa.

— E o que seria?

A confusão estampou meu rosto enquanto os dedos reconheciam o instrumento.

— Que você irá tomar conta de Dong-su e dos outros — disse, inclinando o corpo grande para frente e fitando meus olhos. — Eles já estão perdidos pela cidade há muito tempo, mas estarão na praça principal quando eu for enforcado. Irei pedir para que te procurem o mais rápido possível, por isso quero que você me prometa que cuidará de cada um deles como se fosse um dos seus.

— O que te faz acreditar que eles irão me procurar?

O homem à frente cruzou os braços sobre o peito e moveu a cabeça, fazendo o cabelo longo ir para trás.

— Eles são bons garotos e muito habilidosos, mas precisam de alguém para guia-los — respondeu como se fosse óbvio —, se eu lhes disser que Jung Hoseok é a melhor escolha, eles vão acreditar. Em breve você receberá uma visita nas docas, então recepcione-os com os braços abertos por mim.

Assenti com a cabeça apertando a gaita nas mãos. Mesmo se eu quisesse, não conseguiria fazer Kwan mudar de ideia quanto ao destino de sua vida, ele iria dar um jeito de morrer de um jeito ou de outro.

— Depois da música quero que você vá embora, pois os guardas logo estarão aqui.

— Certo.

Decidi não discutir.

— Nesta semana que seu navio estará ancorado na cidade, leve seu príncipe e sua tripulação para as festividades, tenho certeza de que será relaxante. — Falou com cautela mantendo os braços cruzados. — Não se esqueça de descansar e aproveitar os dias que ficará no País Cinzento, pois terá uma luta logo à frente.

— Mais algum conselho?

A pergunta saíra com mais sarcasmo do que era necessário, porém Kwan apenas sorriu travesso com os dentes amarelos como se tivéssemos retornado aos dias em que ele me ensinava como ser um pirata e eu dava de ombros fingindo saber de tudo.

— Não — respondeu —, mas tenho uma pergunta.

Floreei com uma das mãos esperando.

— Por que realmente você deixou o príncipe fazer parte do seu navio?

Silêncio.

— Porque ele se parecia comigo.

 Kwan assentiu com a cabeça aceitando a resposta.

Com os olhos semicerrados, o velho me encarou enquanto erguia o queixo analisando algo em meu rosto. A vela estava nos seus momentos finais e a escuridão já começava a tomar posse da cela, o vento ainda sussurrava no corredor embalando as vozes dos outros encarcerados à medida que minhas mãos levavam o instrumento até os lábios.

Chul deu uma risada soprada como se tivesse descoberto algo conforme me olhava com atenção.

— Você gosta dele.

Não era uma pergunta.

Abri um sorriso de canto aproximando a gaita da boca.

— Estou aprendendo a gostar. — Sussurrei divertido.

Comecei a tocar. 


Notas Finais


Navegantes, irei voltar a vê-los muito em breve.
Tenho certeza de que muitos de vocês devem ter ficado um pouquinho irritados por não ter nenhuma cena Yoonseok, mas vejam bem, a história não estava pedindo isso. Precisava mostrar Chul Kwan para vocês, porque eu fiquei maluca com ele por alguns motivos.

Estejam apostos agora em dezembro, porque pretendo visitar cada uma de vocês com meu navio.

Bjocas amoras, fiquem bem.


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