O jardim estava repleto de flores dos mais variados tipos, eu estava deitada na grama verde, Kevin estava com as mãos na minha cintura me segurando com força e enquanto beijava meu pescoço. Voltou a me olhar nos olhos, aqueles olhos verdes penetrantes e lindos, ele trajava uma camisa branca e parecia um anjo, meu anjo. De repente, como sempre, antes de evoluirmos pro próximo nível, Kevin me chamava como se quisesse minha atenção.
— Elisabeth! — Kevin começou a se desfazer na minha frente tomando o lugar da minha mãe me sacodindo até que eu estivesse completamente acordada. Meus olhos demoraram a acostumar com a claridade.
— Perdi a hora do trabalho, mãe?
— Não, Elisabeth. Eu preciso falar com você. — Sabia que pelo tom de voz que eu provavelmente não iria gostar do que eu escutaria, mas talvez fosse implicância por toda aquela coisa da Seleção.
— Não posso dormir mais e depois conversamos?
— Não, Elisabeth! Existe uma certa urgência. — Era perceptível que estava apreensiva, e já comecei a me preparar.
Fiz um esforço enorme para me sentar. Minhas roupas estavam amassadas e meus cabelos se rebelavam para todos os lados. Minha mãe batia palmas, como se isso fosse acelerar o processo.
—Vamos, Elisabeth!! — Perdei a conta de quantas vezes eu escutei meu nome em um intervalo de 10 minutos. Meu nome já tinha ficado irritante. Elisabeth para lá, Elisabeth para cá... Elisabeth! Elisabeth! AAAAAAAAA!!
— O que é? — perguntei. Eu me espreguicei mais duas vezes.
— Você precisa se inscrever na Seleção. Acho que daria uma princesa excelente.
Era cedo demais para aquilo. Droga, Alice! Não da para esperar eu pelo menos começar meu dia? Precisa me encher com essas coisas que quero me manter longe logo cedo? Minha cabeça fervia de raiva, mas não conseguia dizer aqui para ela.
— Mãe, sério, eu... — suspirei enquanto lembrava minha promessa a Kevin na noite anterior de que ia pelo menos tentar. Mas, agora, à luz do dia, não estava muito certa de que queria me submeter àquilo. Mesmo que ele me pedisse para tentar, a única coisa que eu queria tentar era ter um futuro com ele.
— Sei que você é contra, mas pensei em um acordo para você mudar de ideia.
Apurei os ouvidos. O que ela tinha a oferecer? Seria o suficiente para potencializar minha promessa a Kevin?
— Seu pai e eu conversamos ontem e decidimos que você já está madura o bastante para trabalhar sozinha. Você toca piano tão bem quanto eu, e com um pouco de esforço vai ficar perfeita no violino. E sua voz... bem, se você quer minha opinião, não há melhor na província.
Sorri, um pouco grogue de sono. Ela não costumava me elogiar daquela maneira, então resolvi absorver aquela sensação que não envolvia meu nome sendo esgoelado por ela ou por meus irmãos.
— Obrigada, mãe. De verdade.
Acontece que eu não dava tanta importância a trabalhar sozinha. Não entendia como isso seria um incentivo. Mas continuei com os ouvidos atentos.
— Mas não é só isso. Você pode pegar seus próprios trabalhos, ir sozinha e... ficar com metade do que você ganhar — ela disse, meio que fazendo uma careta.
Arregalei os olhos. Aquilo sim era uma virada de jogo.
— Mas só se você participar da Seleção.
Minha mãe sorriu. Ela sabia que assim me ganharia, embora eu achasse que ela esperava um pouco mais de resistência da minha parte. Mas como eu poderia resistir? Eu já ia me inscrever mesmo – maldita hora que prometi isso a Kevin –, e ela dava a chance de eu ganhar um pouco de dinheiro só para mim!
— Você sabe que o máximo que posso fazer é me inscrever, certo? Não tenho como garantir que eles me sorteiem.
— Eu sei, mas não custa tentar.
— Nossa, mãe... — balancei a cabeça, ainda chocada. — Tudo bem. Preencho hoje o formulário. É sério o negócio do dinheiro?
— Claro que é. Cedo ou tarde você ia trabalhar sozinha mesmo. E vai ser bom para você ser responsável por seu próprio dinheiro. Só não se esqueça da família. Ainda precisamos de você.
— Claro, mãe. Como esquecer todas as broncas? Dei uma piscadinha e ela riu. O acordo estava feito. Tinha meu charme quando queria muito alguma coisa.
No banho, tentei digerir tudo o que tinha acontecido em menos de vinte e quatro horas. Preencher aquele simples formulário me garantiria o apoio da família, faria Kevin feliz e me ajudaria a guardar dinheiro para casar com ele!
Eu não me preocupava tanto com o dinheiro, mas Kevin fazia questão de fazer uma poupança para o casamento. A parte burocrática custava caro, e queríamos fazer uma festinha para a família depois da cerimônia. Eu imaginava que não demoraríamos muito para juntar a quantia necessária assim que tomássemos a decisão, mas Kevin queria mais. Talvez ele acreditasse que não ficaríamos sempre apertados agora que eu ia trabalhar mais, acho que por pertencer a uma casta inferior ele sempre queria mais.
Depois do banho, penteei os cabelos e me maquiei o mínimo possível para comemorar. Minha mãe estava na mesa da cozinha com meu pai, cantarolando. Os dois me encararam algumas vezes, mas nem seus olhares foram capazes de me perturbar. Aceitei aquela proposta como uma dádiva dos céus, um sinal que eu e Kevin seríamos para sempre.
Fiquei um pouco surpresa ao pegar a carta. A qualidade do papel era impressionante. Eu nunca tinha posto as mãos em algo assim. Espesso e levemente texturizado. O peso do papel me deixou atônita por uns instantes; lembrava-me da grandeza daquilo que eu ia fazer. Duas palavras pipocaram na minha cabeça: “E se...?”.
Mas eu espantei esse pensamento e pus a caneta no papel.
Era tudo bem simples. Preenchi nome, idade, casta e informações de contato. Também tinha que completar peso, altura e cor de cabelo, olho e pele. Fiquei muito satisfeita ao escrever que podia falar três idiomas. A maioria das pessoas falava pelo menos dois, mas minha mãe fez questão de que aprendêssemos francês e espanhol, já que essas línguas ainda eram usadas em algumas partes do país. Isso também ajudava na hora de cantar. Havia músicas lindas em francês. Era preciso informar também a escolaridade, o que variava muito, porque apenas os Seis e Sete estudavam em escolas públicas, onde se seguiam anos escolares oficiais. Eu já tinha quase completado os estudos. Na seção “habilidades especiais”, incluí canto e todos os instrumentos que tocava.
— Você acha que a capacidade de dormir até tarde conta como habilidade especial? — perguntei a meu pai, fingindo estar indecisa, precisava tirar toda a tensão que estava sentindo por estar entrando naquela.
— Sim, pode colocar aí. E não se esqueça de escrever que consegue comer um prato em cinco minutos — ele respondeu.
Eu ri. Era verdade: eu praticamente engolia a comida.
— Ah, vocês dois! Por que não anota aí que você é completamente desalmada? — explodiu a voz da minha mãe na sala. E pronto! Temos Alice Cooper de volta, ainda bem que aproveitei dos elogios mais cedo.
Eu não podia acreditar que ela estivesse tão brava. Afinal, tinha conseguido exatamente o que queria. Olhei para meu pai com um ar de interrogação.
— Ela só quer o melhor para você, é isso — ele se reclinou na cadeira, relaxando um pouco antes de começar a trabalhar em uma encomenda para o fim do mês.
— Você também, mas nunca fica assim nervoso — comentei.
— É, mas sua mãe e eu temos ideias diferentes sobre o que é melhor para você — ele disse, e um sorriso brilhou em seu rosto.
Puxei a boca do meu pai, tanto na aparência quanto na tendência a dizer coisas inocentes que depois me causavam problema. O temperamento era da minha mãe, mas ela era melhor na hora de segurar a língua quando o assunto era importante. Eu não. Como naquele momento... Elisabeth, a impulsiva.
— Pai, se eu quisesse casar com um Seis ou um Sete e o amasse muito, você ia deixar?
Meu pai apoiou a caneca na mesa e concentrou o olhar em mim. Tentei não entregar nada na minha expressão. Seus olhos pareciam pesados, cheios de dor, mas sabia que não era por causa da pergunta e sim pelo excesso de trabalho.
— Elisabeth, se você amasse um Oito, eu deixaria que se casasse com ele. Mas você precisa saber que o amor às vezes acaba com o peso da vida de casado. E ia ser ainda pior se você não pudesse sustentar seus filhos. O amor nem sempre sobrevive nessas circunstâncias.
Ele pegou minha mão, procurando meus olhos com os dele. Tentei esconder minha preocupação. Aquele parecia um assunto que ele tinha propriedade para falar sobre. Não duvidava do amor dos meus pais, eles se amavam. Mas o peso da casta e de sustentar cinco filhos tinha lhes deixado gastos... Minha mãe, louca por alpinismo social e meu pai cada vez mais cansado da vida que levava.
— Mas o que mais me importa é que você seja amada. Você merece isso. E eu espero que se case por amor, e não por número.
Ele não podia dizer o que eu queria ouvir – que eu de fato me casaria por amor e não por número – mas me deu um pouco de esperança. Então seria com Kevin, eu tinha certeza.
— Obrigada, pai.
— Tenha calma com sua mãe. Ela está tentando fazer a coisa certa.
Ele beijou minha mão e foi trabalhar.
Suspirei e voltei à ficha de inscrição. Tudo aquilo me dava a sensação de que nem passava pela cabeça da minha família que eu tinha vontade própria. Isso me chateava, mas eu sabia que não ia poder deixar isso claro no futuro. Vontade era um luxo que não podíamos ter. Éramos movidos à base de necessidades.
Peguei o formulário preenchido e fui levá-lo para minha mãe, no quintal. Ela estava sentada fazendo a barra de um vestido, enquanto Ana fazia a lição de casa. Kevin costumava reclamar da rigidez dos professores da escola pública, mas eu duvidava que eles superassem minha mãe. Ela estava de férias, meu Deus! Não podia passar o dia pintando, ou brincando como uma criança normal?
— Você fez mesmo? — Ana perguntou, agitando os joelhos.
— Com certeza.
— Por que mudou de ideia?
— Mamãe pode ser bem convincente quando quer — respondi, marcando bem as palavras. Mas minha mãe não sentia nenhuma vergonha de ter me subornado. E eu muito menos de aceitar o suborno. Por Kevin.
— Podemos ir ao Departamento de Serviços Provinciais assim que você estiver pronta, mãe.
Ela deu um sorrisinho:
— Essa é a minha garota! Pegue suas coisas que a gente já vai. Quero que sua carta seja uma das primeiras.
Fui pegar a bolsa, como minha mãe mandou, mas estaquei no quarto de James. Ele estava olhando fixamente para uma tela de pintura vazia. Parecia frustrado. Fazíamos um rodízio de opções com ele, mas nunca dava certo. Bastava ver a bola de futebol gasta em um canto ou o microscópio usado que recebemos como pagamento em um Natal para ficar óbvio que ele não tinha jeito para a arte.
— Sem inspiração hoje, hein? — perguntei, entrando no quarto.
Ele me olhou e balançou a cabeça.
— Talvez devesse tentar a escultura, que nem Chick. Você tem mãos para isso. Aposto que se sairia bem.
— Não quero esculpir nada. Nem pintar, cantar ou tocar piano. Quero jogar bola! — ele exclamou, chutando o carpete velho do quarto.
— Eu sei. E você pode, por diversão. Só que precisa achar uma arte em que seja bom para ganhar dinheiro. Então vai poder fazer os dois.
— Mas por quê? — ele choramingou.
— Você sabe o motivo. É a lei.
— Mas não é justo!
James jogou a tela no chão, o que levantou uma nuvem de poeira, que logo foi embora pela janela.
— Não é culpa nossa se nosso bisavô ou sei lá quem era pobre.
— Eu sei.
Parecia mesmo irracional limitar as opções de vida com base na ajuda que seus antepassados deram ao governo, mas as coisas eram assim. Talvez devêssemos apenas dar graças por estarmos seguros.
— Acho que era o único jeito de as coisas funcionarem naquele tempo — completei.
Ele ficou calado. Dei um suspiro, peguei a tela do chão e a coloquei de volta no lugar. A vida era assim, e ele não podia simplesmente chutá-la.
— Você não precisa deixar seus gostos de lado. Mas você quer ajudar mamãe e papai, crescer e casar, certo? — perguntei, cutucando a barriga dele.
James botou a língua para fora, fingindo estar com nojo, e nós dois rimos.
— Elisabeth! — minha mãe gritou lá de baixo. Meu nome. Irritante. — Por que você está demorando tanto?
— Estou indo! — gritei de volta. — Sei que é difícil, querido, mas as coisas são assim, está bem? — prossegui, olhando para James.
Eu sabia, porém, que aquilo não estava bem. Nem um pouco bem.
Minha mãe e eu andamos até o departamento mais próximo do bairro, nossa renda não permitia o luxo do transporte público, mesmo que público... precisávamos pagar para andar nele. Às vezes, a gente pegava um ônibus para ir a lugares muito distantes ou para trabalhar. Era chato chegar à casa de um Dois todo suado. Eles já nos olhavam de um jeito estranho sem isso. Mas o dia estava bonito, e a caminhada não era assim tão longa, mas eu estava apreensiva, não havia garantia que seria selecionada, mas de qualquer forma a ideia me enlouquecia. Obviamente, não éramos as únicas que queriam entregar a inscrição o mais rápido possível. Quando chegamos lá, a rua em frente ao Departamento de Southside já estava lotada de mulheres.
Na fila, havia um monte de meninas do meu bairro, esperando para entrar. Cada uma delas tinha mais três a seu lado, e a fila já se estendia até a metade do quarteirão. Todas as garotas da província iam se inscrever. Eu não sabia se ficava assustada ou aliviada.
— Alice! — chamou alguém.
Tanto eu como minha mãe nós viramos ao som do nome dela.
Midge e Valerie estavam caminhando até nós junto com a mãe. Ela devia ter tirado o dia de folga. Suas filhas usavam a melhor roupa que tinham e estavam bem-arrumadas. Não era muito, mas elas ficavam bonitas com qualquer roupa, como Kevin. Midge e Valerie tinham os mesmos cabelos escuros e o mesmo sorriso do irmão.
A mãe deles sorriu para mim, e eu sorri de volta. Eu a adorava. Só conseguia falar com ela de vez em quando, mas era sempre simpática comigo. E eu sabia que não era porque eu estava uma casta acima. Já tinha visto a mãe deles dar roupas que não serviam mais nos seus filhos a famílias que não tinham quase nada. Ela era uma pessoa generosa.
— Oi, Luiza. E como vocês estão, meninas? — cumprimentou minha mãe.
— Bem! — elas responderam em uníssono.
— Vocês duas estão lindas — eu disse enquanto jogava um dos cachos de Midge para trás.
— Queríamos ficar bonitas para a foto — afirmou Valerie.
— Foto? — perguntei.
— Sim — disse a Sra. Keller em voz baixa. — Eu estava limpando a casa de um juiz ontem. Parece que o sorteio não é bem um sorteio. É por isso que eles tiram fotos e pegam um monte de informações. Qual a importância de saber quantas línguas você fala se é tudo aleatório?
Achei estranho. Mesmo. Pensava que toda a informação ia ser usada depois do sorteio.
— Parece que a notícia vazou. Olhe para os lados: está cheio de garotas produzidas.
Passei os olhos pela fila. A Sra. Keller tinha razão. E a diferença entre quem sabia e não sabia era bem clara. Logo atrás da gente havia uma moça, com certeza uma Sete, ainda com as roupas de trabalho. As botas cheias de lama provavelmente não iam sair na foto, mas não havia como esconder o pó no avental. Um pouco mais atrás estava outra Sete, ostentando seu cinto de ferramentas. O melhor que posso dizer sobre ela é que seu rosto estava limpo.
No extremo oposto, uma moça tinha feito um coque e deixara uns fios encaracolados caindo no rosto. A garota ao lado dela – claramente uma Dois, pelas roupas – tinha um decote do tamanho do mundo. Outras tinham tanta maquiagem que para mim mais pareciam palhaços. Mas pelo menos elas estavam tentando.
Minha aparência era razoável, mas eu não tinha me produzido como as outras garotas. Como as Sete, eu não sabia que tinha que me preocupar com isso. De repente, comecei a tremer de ansiedade.
Mas por quê? Parei e refleti sobre a situação.
Eu não queria aquilo. Então não estar bonita era bom. Eu ficaria pelo menos um ponto abaixo das irmãs de Kevin. Elas tinham uma beleza natural e aquele pouquinho de maquiagem as deixava ainda mais adoráveis. Se Midge ou Valerie ganhasse, toda a família subiria na escala. E a minha com certeza não ia se opor se eu me casasse com alguém da Um, mesmo que não fosse o príncipe. Minha ignorância era na verdade uma dádiva.
— Acho que você tem razão — minha mãe disse. — Aquela menina está arrumada para uma festa de Natal — completou, rindo. Mas eu sabia que ela odiava estar em desvantagem.
— Não sei por que algumas garotas exageram tanto. Olhe para Elisabeth. Ela está tão linda. Fico contente por você não ter ido nessa linha — disse a Sra. Keller.
— Eu não tenho nada de especial. Quem me escolheria perto de Midge ou Valerie?
Pisquei para as duas, que sorriram. Minha mãe também deu um sorriso, mas forçado. Ela devia estar dividida entre ficar na fila ou me obrigar a correr para casa e trocar de roupa, conheço o olhar que ela me lança.
— Não seja boba! Toda vez que Kevin volta para casa depois de ter ajudado o irmão ele diz que a família Cooper passou duas vezes na fila do talento e da beleza.
— Verdade? Que gentil! — murmurou minha mãe, podia considera-lo gentil, mas ainda enquanto um Seis, nunca o consideraria um possível genro.
— É mesmo. Eu não podia querer um filho melhor. Ele é muito companheiro e trabalha duro.
— Vai fazer uma moça muito feliz algum dia — comentou minha mãe, sem dar muita atenção à conversa. Ela ainda estava analisando a concorrência.
A Sra. Keller olhou ao redor.
— Cá entre nós, acho que ele já tem alguém em mente.
Gelei. Não sabia se fazia algum comentário ou não. Tinha medo de dar uma resposta que me entregasse.
— Como ela é? — minha mãe quis saber.
Embora estivesse planejando meu casamento com um completo estranho, tinha tempo para fofoca.
— Não sei direito. Ele não me apresentou ninguém. Só acho que ele está de olho em alguém porque parece mais feliz ultimamente — ela respondeu, radiante.
Ultimamente? Faz quase dois anos que Kevin e eu nos encontramos. Por que só ultimamente?
— Ele fica assoviando — foi a contribuição de Midge para o assunto.
— É, e também canta — concordou Valerie.
— Canta? — perguntei espantada.
— Pois é — confirmaram as duas em coro.
— Então ele está mesmo com alguém! — palpitou minha mãe. — Quem será?
— Aí você me pegou. Mas deve ser uma moça ótima. Ele tem trabalhado muito, mais do que o normal, e guardado dinheiro. Acho que está tentando economizar para o casamento.
Não consegui segurar um gritinho de empolgação. Para minha sorte, todos acharam que era só por causa das notícias. Não me importava mais com o “ultimamente”, sabia que era eu e ele estava guardando dinheiro para o nosso casamento, e eu também dentro de alguns dias.
— Nada me deixa mais feliz — prosseguiu a Sra. Keller— mesmo que ele ainda não esteja pronto para contar quem ela é. Kevin está sorrindo; dá para notar a alegria dele. As coisas ficaram tão difíceis para nós desde que perdemos Tom, e ele assumiu muitas responsabilidades. Qualquer garota que o faça feliz já é uma filha para mim.
— É uma moça de sorte! Kevin é um garoto maravilhoso — observou minha mãe.
Eu não podia acreditar. A família estava sempre tentando fazer o dinheiro durar até o fim do mês, e Kevin guardava uma parte por minha causa! Não sabia se dava uma bronca ou um beijo nele. Eu... não tinha palavras.
Ele ia mesmo me pedir em casamento!
Era tudo em que eu conseguia pensar: Kevin, Kevin, Kevin. Fiquei na fila, cheguei ao guichê, assinei os papéis confirmando que as informações eram verdadeiras e tirei a foto. Antes de encarar o fotógrafo, sentei na cadeira e balancei os cabelos uma ou duas vezes para que ficassem com vida.
Acho que nenhuma outra garota de Riverdale estava mais sorridente que eu.
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