História O Retorno do Uchiha - II. X. Verdades à Vista

— Eu adoro ver as crianças se recuperando, mas eu não vejo a hora de dormir na minha casa, na minha própria cama. — Sakura disse enquanto tomava um longo gole da sua bebida.

— Huh... — Ela me olhou de um jeito estranho, como se estivesse procurando alguma coisa que eu poderia deixar escapar pela minha expressão.

— No que está pensando? — Ela perguntou com sua expressão curiosa em seu rosto.

Ela tinha adquirido a habilidade de me fazer falar sobre qualquer coisa, mesmo as que eu queria esconder. Mas essa não seria uma delas, pelo menos por enquanto não.

— Nada demais. — Respondo olhando na direção contrária da que ela estava.

— Sasuke Uchiha, porque não está me olhando nos olhos? — Ela questionou com um sorriso.

Ela já me conhecia bem demais, isso em alguns momentos era péssimo pra mim. Eu não tinha mais o poder de esconder as coisas dela, não era como se ela não soubesse ler meus sinais.

Por mais que eu quisesse, ela conseguia saber que eu estava deixando de contar algo. 

— Você ainda é muito irritante… — Digo sorrindo de canto. — Eu gosto do fato de você saber ler meus sinais, mas existem certas coisas que eu também gosto de esperar pelos momentos certos

certos. Coisas que eu gosto de adiar porque podem ser complicadas sendo reveladas em momentos ruins.

— Você está sendo muito misterioso. — A travessura em sua expressão tinha sumido, dando lugar a algo mais sério.

— Eu sei, me perdoe por isso. — Ela não parece mais aliviada pelas minhas palavras, certas coisas tinham que esperar.

Eu não gostava de vê-la irritada, mas eu teria que suportar o seu mau humor, era por uma boa causa.

Aquela noite não seria mais tão tranquila quanto eu esperava, mas as coisas teriam que seguir desse jeito por um tempo.

Depois de deixá-la na porta do seu quarto, ela se despediu de um jeito estranho, sequer me olhava nos olhos. Acho que eu levaria esse tratamento de gelo por um tempo, espero que ela não surte comigo quando souber de tudo.

Apenas espero, mas sei que isso vai acontecer. Contanto que ela não desconte a sua raiva violentamente, estarei seguro.

(...)

Em algum determinado momento da vida, você passar por situações estranhas, tão estranhas ao ponto de ver sua companheira completamente fascinada por um eu falso.

Depois de um treino bem intenso, ajudando Akira a controlar seu chakra o suficiente para a transformação durar o quanto fosse necessário, ela era uma aluna

Mas Akira sorria muito abertamente, isso parecia muito estranho para mim, me ver daquele jeito. Sakura não ficou completamente convencida, talvez por já conhecer até as minhas pequenas manias e jeitos de agir.

— Não sei se estou completamente convencida, ainda me parece estranho de alguma forma. — Sakura analisava meu eu falso de cima abaixo, girando lentamente ao seu redor.

— Isso porque você convive com o Sasuke, o conhece bem, então sempre reconheceria alguém que tentasse se passar por ele. — Akira responde, mas parecia orgulhosa do seu trabalho.

— Não, não é isso. Sasuke perdeu o braço direito, não o esquerdo, você copiou isso errado. Deve ter se confundido por ter feito isso frente a frente com ele, mas nada que não possa ser resolvido.

Parece que a análise de Sakura foi muito necessária, eu não estava tão atento a Akira porque me parecia muito estranho encará-la naquele momento. Era estranho ver o meu rosto nela.

— Não sorria tanto. — Sakura continuou apontando os pequenos defeitos do meu eu falso.

— Sakura, ela não vai ficar perfeita e ninguém vai notar tantos pequenos detalhes quanto você. — Eu disse enquanto analisava sua expressão.

Depois de algum tempo, ela finalmente concordou em colocar o nosso plano em prática, depois de treinar algumas vezes e ela não notar nenhum defeito muito visível, a transformação de Akira finalmente foi aprovada por ela.

Observei de longe, do lugar mais alto possível e que as pessoas não pudessem notar. Sakura e Akira andavam pelas ruas, enquanto eu as observava pelos telhados.

Tudo estava indo bem, bem demais. Eu sentia que algo estava errado, tudo pode ser estranho quando uma missão de busca se torna tão imprevisível.

Eu estava me tornando uma pessoa ansiosa, isso era ruim, poderia acabar me atrapalhando em algum momento.

Mas eu tinha que deixar isso tudo de lado, os sentimentos de um shinobi não poderiam entrar de cabeça junto numa missão. Antes a missão, depois o misto de sentimentos que eu vinha deixando crescer dentro de mim.

Continuei a observar, até notar alguém seguindo Sakura e Akira, parecia curioso e analisava elas demais. Tirei minha conclusão quando elas viraram em uma rua quase vazia, as roupas em tons neutros davam um ar quase invisível a ele. Ninguém parecia reparar muito na sua presença.

Logo eu já estava no seu encalço, ele não parecia ter notado minha presença. Apenas quando kusanagi alcançou seu pescoço, ameaçando cortá-lo, em um piscar de olhos ele estava cercado e sem a menor chance de escapatória.

— Ele foi até você? — Sakura perguntou, olhando para Akira.

— Quem é você? — O homem de meia idade perguntou, ainda confuso por estar vendo duas pessoas com a mesma aparência.

— Sim, foi ele. — Ela respondeu sem dar a mínima atenção para a pergunta do homem à sua frente.

Suas mãos estavam se juntando na frente do corpo, mas eu pude impedi-lo com um movimento rápido, ameaçando cortar uma de suas mãos.

— Nem pense nisso, você não tem a menor chance aqui, está em menor número. — Aviso, no tom mais amigável possível.

O olhar no rosto da Sakura me dizia que ela estava esperando que ele reagisse, como se quisesse que ele fizesse algo assim, para lhe dar um motivo para usar a força.

Eu via sua raiva, seus olhos não escondiam isso. E eu também conhecia aquele sentimento muito bem, mas eu também sabia que qualquer atitude que ela tomasse naquele momento faria ela repensar muitas coisas depois.

— Sakura... — Seus olhos chegaram a mim, ainda enfurecidos. — Não...

Não faça algo estúpido, não deixe seus sentimentos atrapalharem, seja racional. Eu queria ter dito essas coisas, mas não queria magoá-la de alguma forma, usando aquelas palavras.

Então apenas olhei em seus olhos, busquei a minha Sakura, a mulher delicada e ao mesmo tempo extremamente forte. Eu busquei por ela, que por mais raiva que ela tenha sentido naquele momento, saberia a decisão certa a ser tomada.

Ela respirou fundo, deu alguns passos para trás e virou de costas, eu imaginava que olhar para ele estava sendo difícil. Ela acompanhou de perto, mais de que qualquer outra pessoa, todo o mal que foi causado pelas ideias egoístas de um lunático.

Afastá-lo dela foi a primeira coisa que me veio à mente, Gaara saberia o que fazer a seguir e eu teria que descobrir o que fazer quando voltasse até ela outra vez.

Nossa missão tinha chegado ao fim, o problema interno teria que ser resolvido por Suna, eu tinha outros problemas internos para resolver. Os sentimentos da minha rosada, agora eles poderiam ser demonstrados e ela poderia extravasar, sem pôr em risco todo o nosso plano para o bem da vila.

O som dos meus passos por aquele beco quase vazio eram os únicos sons por ali, eu avistei ela sentada no chão, parecia bem mais calma do que antes.

Eu não falei nada, não fiz menção de forçá-la a me contar o que estava se passando na sua cabeça, apenas me sentei ao seu lado e esperei o seu tempo.

— Eu queria feri-lo... — Ela disse em um tom de voz avoado. — Queria que ele sentisse a dor que aquela família sentiu, que tivesse de engolir os sentimentos como a minha companheira de trabalho, que mesmo após perder o irmão continuou seguindo firme.

Ela respirou fundo, mais uma vez, eu podia sentir a exaustão emanando ao redor dela.

— Eu sei bem o que é isso... Quando a raiva se sobressai a qualquer coisa, fica difícil enxergar algo além disso, mas você pode fazer muito mais pelas pessoas ajudando com seu conhecimento do que usando a força bruta. — Digo colocando minha mão sob a sua.

Até ela estranhou o meu toque naquele instante, mas eu achei que ela precisava da minha proximidade, do meu apoio.

Ela eu teria que deixar entrar, no meu coração, na minha vida. Eu mergulhei no mar dos seus olhos verdes, agora não tinha mais volta, eu era inteiramente dela e ela precisava saber disso.

— Você tem uma força dentro de si, algo que não consigo explicar, mas sei que admiro imensamente. Você é bondosa, até mesmo quando os pensamentos ruins te cercam. Você não permite que a sua luz se apague, e é por isso que eu te amo. — Seu olhar parecia confuso. — Eu te amo por você não desistir, por mais que tenha diferentes obstáculos no seu caminho, por ter sentimentos tão puros.

— Sasuke-kun... — Sua voz quase inaudível me fez encarar seus olhos.

— Eu admiro quem você é, Sakura.

Ela me ensina o que é o amor, e eu nunca estive tão grato a alguém por me ensinar algo.