1. Spirit Fanfics >
  2. O Sabor do Veneno >
  3. Capítulo Único

História O Sabor do Veneno - Capítulo Único


Escrita por: kerley

Notas do Autor


Hello pessoas!
Primeira fanfic original que faço e posto aqui no site.
É para o concurso Insaniam, no qual me inspirou a historia, e que eu achei o tema bastante interessante.
Também é o primeiro yuri que escrevo, a cena está bem leve, e não sei se essa parte tá boa, mas espero que gostem.

Capítulo 1 - Capítulo Único


Sinto algo gelado e úmido em minha bochecha.

“Uma pessoa, só consegue ser pura dessa forma”

“Beba, beba”

“Eu disse para beber! Anda sua imunda! Beba logo de uma vez!”

 

- Sam! Acorda. – uma voz baixa vem de mansinho invadindo minha mente.

Então abro os olhos vendo uma luz forte que fazem eles arderem, e logo um rosto angelical de uma garota surgi aos poucos, com seus cabelos marrons em cachos longos, e eu a reconheço como minha melhor amiga, Isabel.

- Temos que ir, minha mãe está voltando do plantão a qualquer instante.

Queria lhe perguntar do que ela falava, mais ainda estava meio zonza pelo sono pesado. Percebo que minha mochila, da qual eu mais gostava, estava estufada encostado a uma preta -       que eu sabia ser de Isabel - perto da porta. Mesmo estando em confusão eu troco de roupa, botando uma calça jeans clara e uma blusa branca, Isabel fazia um rabo de cavalo em seus cachos, e meus cabelos continuavam soltos e esvoaçantes ao redor de minhas costas.

A luz do quarto estava forte, mas quando saímos, a madrugada brilhava escura e deserta.

Pergunto-me como fomos para ali. Flashes de nós duas nos encontrando na rua a caminho da escola rodeavam minha mente, então eu chorando em um canto do seu quarto e ela levantando meu rosto e me encarando com lágrimas nos olhos.

- Bel, porque estamos fazendo isso? – algo me dizia que não era responsabilidade dela.

- Você sabe que eu nunca ia permitir que algo de ruim acontecesse com você – ela me olhou profundamente.

Então partimos na madrugada e nas ruas desertas. Antes mesmo de o sol nascer, nós entramos escondidas em um trem de carga, Isabel estava como eu sempre lembrava, destemida e animada, como se estivesse em uma aventura, o que de certa forma era. Eu tentava sorrir enquanto minha cabeça latejava, meus pés formigando estranhamente gélidos dentro das meias e do par tênis preto.

Isabel dormiu com sua cabeça em meu ombro, sua mão ainda tocando a ponta de meus cabelos pretos, tombei minha cabeça para trás sentindo a abaixo de mim o trem vaguear sem rumo. A escuridão por trás dos meus olhos, gosto metálico de algo conhecido pelo meu paladar escorrendo pela minha boca.

 

“Só mais um pouco, seja uma boa menina” – a voz era asquerosa e eu não queria escutá-la.

“Isso vai lavar toda sua alma imunda”

“Beberá isso todos os dias”

A escuridão, aos poucos, foi dando lugar a uma menininha com cabelos escuros como pluma de um cisne negro, e olhos verdes como jades. Penas escuras espalhadas pelo chão, sua garganta formando um bolo.

“Não vá vomitar” – a voz asquerosa ainda dizia, a voz de uma mulher cujo o rosto não se via.

O nó em sua garganta pequena era difícil demais de agüentar, então tudo se expeliu, tudo saindo de sua boca, e em poucos instantes uma poça vermelha se espalhava pelos seus pés.

“Olha o que você fez sua inútil! Terei que matar outro animal.”

 

- Achei uma macieira aqui perto.

Meu corpo tremeu ao escutar a voz de Isabel, que me despertara. Iria lhe agradecer imensamente quando percebi que não estava mais no trem, e sim no chão gelado, do que parecia ser uma caverna.

- Onde estamos? – perguntei, sentindo algo pinicar o lado do meu rosto.

- O trem nos deixou aqui perto, nem precisamos andar tanto. Sabia que aqui já foi um quilombo? – andei mais para fora da caverna, a luz indicando a entrada.

Estávamos numa colina, onde se espalhava o verde da grama, árvores ao redor, e se prestasse mais atenção, ainda da para escutar o barulho da queda d’água de algum riacho. Borboletas pousavam em alguns girassóis que tinham por ali. O lugar era simplesmente lindo.

- É maravilhoso. –  sorriso iluminando minhas feições. Bel não olhava para fora, e sim para mim.

- Quando achei, vi que era ideal, simplesmente combina com você. – sorri, não me contendo lhe abraçando, seus braços quentes e acolhedores, meu coração se aquecendo de uma forma que não parecia se aquecer a anos.

- Você escutou não foi? – olhamos para o alem das árvores. – Eu estou doida para tomar banho nessa cachoeira.

Pegamos nossas mochilas depois de nos trocarmos, eu apenas substitui a calça por um short de lycra azul, Bel trocou tudo, botando um top branco e um shortinho de pano mole preto. Sua pele morena ficando dourada contra os filetes de luz que atravessavam as folhas das árvores. Saí do meu devaneio quando ficamos de frente para a cachoeira, Isabel sorriu e jogou a mochila no chão tirando os tênis e as meias. Também fiz o mesmo, ela soltou os cabelos, eles caindo por suas costas em cachos caramelos.

Então ela pulou na água e eu lhe segui gritando pelo frio mais o sol refletindo na água clara, aquecia nossos corpos quando emergíamos.

Jogamos água uma na outra, apostamos para ver quem chegaria primeiro a certo lugar, e então ficamos boiando sobre a superfície.

- Viveremos de maçãs. Maçã ensopada no almoço, caramelada na janta, picada no café da manhã, - ela dizia como se estivesse filosofando. Meu corpo tremeu enquanto eu sorria.

- Não se esqueça que temos peixes neste riacho – falei, e me lançou um olhar surpreso, quase chocado.

- Meu deus! Como eu sou burra, eu nem se quer tinha pensado nisso. – ela gargalhou de si mesma.

- Também pode ter uma mangueira por aqui, eu juro que vi folhas delas quando estávamos vindo. –  ela me olhava admirada. 

- O que seria de mim sem você Samantha? Iríamos virar maçãs de tanto come-las.

- Não seja boba, você está pensando em tantas coisas... – disse por fim. Ficamos a encarar o céu azul com nuvens grosas e cheias.

- Acho melhor sairmos da água, seus lábios estão roxos. – só agora eu percebi que ela me encarava de canto, e eu não sei porque senti minhas bochechas esquentarem, talvez por ela ter reparado em meus lábios, ou pelo modo como ela olhou.

Quando saímos da água um frio imenso me abateu, sentamos em uma rocha que era aquecida pelo sol. Meus cabelos molhados e grudados na lateral do meu rosto, eu abraçando meu próprio corpo, já Bel não parecia estar com tanto frio, suas mãos descansavam em cada lado do corpo. Virei meu rosto quando me peguei olhando para seu top transparente. Tremi quando sua mão tocou meu ombro.

- Céus, você esta congelando! – ela falou.

- E-eu também não sei porque, - falei sorrindo logo em seguida ao notar que gaguejei de frio.

- Você está com medo? – ela pegou no meu pulso, e eu desfiz o abraço em meu corpo, sua mão escorrendo até a minha as entrelaçando.

- Não precisa ter medo, você sabe que nunca vou te abandonar. – sua mão quente na minha, causando mais efeito que o próprio sol.

Seus lábios vieram aos meus primeiro como a brisa na primavera, calmo e manso, mas logo se afundou forte pedindo passagem, sua língua contra a minha. O beijo foi rápido quanto der repente, ainda com os narizes se roçando, ela me encarava com um mistura de constrangimento e receio.

- Seus olhos são tão lindos. – seu sorriso estava sem graça. – Você sabia que só cinco por cento da população mundial tem olhos ver-

Interrompo-a, lhe pegando pela nuca e afundando meus lábios nos seus. Ela sorriu em meio ao beijo, mas correspondeu com a mesma intensidade.

O que se seguiu foi algo instintivo, trocas de caricias tão leves, mas ao mesmo tempo tão intimas. Minha pele suou em meio as roupas molhadas, que logo era tirada do meu corpo sem pressa. Bel me encarou, seus olhos em um castanho profundo, desceram fitando o colo dos meus seios, e quando seus lábios tocaram ali delicadamente, eu fechei meus olhos, sentindo um toque tão quente, do qual nunca senti na vida. Minhas mãos passearam pelo seu corpo, descobrindo suas formas e pontos fracos, seu corpo por cima do meu tão febril como o meu estava.

O céu estava em sua forma alaranjada, nós duas já tínhamos colocados nossas roupas, que ainda estavam úmidas, agora estávamos deitadas, minha nuca em seu ombro, nossas mãos entrelaçadas.

- Vamos fazer fogueira a noite, assar peixes, comer mangas e maças, e termos uma a outra, então não precisaremos de mais nada. – ela disse, enquanto acariciava meus cabelos.

- Estando com você, eu viveria assim para sempre. – falei lhe encarando, ela levantou meu queixo capturando meus lábios.

Pegamos nossas coisas e seguimos de volta para caverna, no caminho pegamos alguns galhos, maçãs e mangas.

- Temos que aprender a fazer fogo, só tem trinta caixas de fósforos, não da pra vida toda. – digo, revirando minha mochila.

- Depois pensamos nisso, ainda temos trinta. – ela disse sorrindo.

Acendemos a fogueira e trocamos das roupas. Enquanto comíamos maçãs, um clima de constrangimento pairava no ar, mas riamos do nada e de qualquer coisa, isso porque depois de muito tempo estávamos verdadeiramente felizes.

“Esta vendo só? Não é tão ruim assim”

Não. Grito em minha mente. Outra vez, não...

“Isso lavará toda imundice que tem em você e nessa sua linhagem”. “Ah sua mãe!”– a voz falou em um tom de desprezo.

“Não fale de minha mãe!” – eu mesmo me vejo gritando.

“Ela era tão suja quanto você. Estava tão podre que quando foi te ter não agüentou” “A carne dela era tão imunda e fede como a sua”

“CALE A BOCA” – eu me vejo ajoelhando e tampando os ouvidos. O meu redor começa a se transfigurar e o que era preto comigo mesma flutuando na escuridão, se transforma em madeira marrom, com o chão rangendo a cada pisada e as paredes descascadas. O rosto desconhecido aparece em uma pele velha e enrugada, a mesma face que eu vi desde sempre, mas eu não quero ver, mas ela continua a me encarar rindo da minha angustia, um copo de sangue a velha me dava com sua mão tão velha quanto os pés de galinhas do seu rosto. Três garrafas transparentes, com sangue nelas, e o que parecia ser restos de um gato estava espalhados pela casa. Eu me vejo tirando as mãos dos ouvidos e estendendo uma delas em direção ao copo, meus olhos opacos em um verde sem brilho e perdidos.

“Você quer que eu beba?” – era eu falando, mas não pode ser minha voz, essa tem um tom neutro, e o sorriso que rasga o canto dos meus lábios também não é meu, porque ele nunca fora tão sinistro.

A velha me encarava com um olhar sábio, o copo que eu seguro deixo cair no chão tão logo que o pego, o liquido se espalha pelo chão escarlate e espesso. Vejo eu mesma me abaixando e pegando o pedaço de vidro maior do copo espatifado. Os olhos acinzentados da velha tremelicaram perdendo um pouco a confiança. 

Pisco escutando o barulho dos galhos sendo queimados. Minha mochila que antes estava do lado da fogueira, agora em meu colo, minha cabeça pesada demais para raciocinar, a ultima coisa que vejo é Bel sentada do outro lado da parede da caverna, de frente para mim, seus olhos fechados, eu tento manter a visão, mas meus olhos me traem me levando de volta para escuridão da minha mente.

O vidro esta em minha mão direita, cortando minha palma enquanto o aperto com força, a velha tenta recuar, mas, eu sou mais rápida, finco o vidro pontudo em seu ombro, seu corpo vacila demonstrando a sustentação frágil que realmente tem, ela geme de dor caindo de joelhos no chão, mas isso não me impede de desferir mais, uma, duas, três, quatro vezes. Passando a ponta do vidro uma ultima vez pela sua garganta onde espirrou uma quantidade grande de sangue no meu rosto escorrendo até meus lábios, com horror eu me vejo lambendo o liquido.

Os olhos da velha me encarando orgulhosos e com um ultimo brilho.

“ Você aprendeu” – sua voz fraca – “ Você foi uma boa garota”

Mas eu não respondi e sim peguei o sangue do seu pescoço molhando minhas palmas de vermelho e passando por todo meu corpo, me abaixei indo até o pescoço dela sugando o que caia ainda em filetes peguei a ponta do vidro e finquei no dedo indicador dela, finquei mais e mais, até a pele está se soltando, e com uma lembrança remota, lembro de tal dedo fazendo uma leve caricia em meu queixo enquanto tomava um copo de sangue. Quando a pele já estava quase toda fora da base, me vejo puxando o dedo e escuto o creeck do osso.

Então eu me vejo me encarando, toda suja de sangue e andando em passos largos na minha direção, tento fugir de mim mesma, mas estou parada no mesmo lugar. Minha cabeça dói, meu corpo treme como nunca, então eu me encaro.

“ Você precisa disso” “Precisa limpar seu sangue com outro” – sua voz em meu ouvido.

Então ela entra em mim.

Minha cabeça dói ainda mais, é como se esmagassem meu cérebro, flashes de uma pequena faca, de uma fogueira a terminar, de cabelos cacheados, de sangue, do gosto metálico do sangue, de olhos castanhos perdendo a vida.

E eu já não era mais eu.

Sinto uma dor aguda nas costas, meu rosto se contorce em meio ao úmido e gelado da terra, um gosto ruim se espalha pela minha boca, como um veneno. Tudo o que se seguiu foi como um vendaval, lanternas segando meus olhos, homens fardados a minha volta, alguém me levantando pelos cabelos e me imobilizando, meu corpo sujo de terra e liquido espesso, formigas grandes pinicando meus pés, barulhos de sirenes altas, pessoas, vozes. E EU NÃO QUERIA ESCUTÁ-LAS.

“Samantha Dias, de apenas 17 anos, acusada de matar Sandra Dias brutalmente, foi enfim capturada, o corpo da idosa foi encontrado drenado, junto com restos mortais de mais de mil animais enterrados nos limites da residência.”

Porque tinham flashes me cegando?

“Samantha havia escapado com uma amiga de infância, que provavelmente não sabia com quem estava lidando. Uma perda a mais a se lamentar”

Meu corpo foi jogado na parte de trás de uma van branca, onde foi devidamente bem trancada. Eu tentei abrir, mas não tinha mais forças. Onde eu estava? Porque estavam fazendo isso comigo? Minha cabeça não parava de tremer em meio da confusão.

Abri minhas mãos tremulas, que antes fortemente fechadas em punhos, me deparando com fios castanhos, fios cacheados, fios que eu tanto amava. Minha cabeça tremendo cada vez mais, enquanto lágrimas caiam sem cessar.

A van seguia rápido, o motorista conversando com o amigo do lado, ignorando minhas clemências. Tudo o que eu fazia, era bater nas paredes, chamando apenas por um nome.

Isabel.

Onde ela estava? Por que me abandonou?

Eu só não queria mais, viver.

 


Notas Finais


Espero que tenham gostado da historia :)
Beijos, e até a próxima original que surgir na minha mente!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...