História O Segredo da Lenda - Isolada

Achei muito curioso. A única floresta que tinha ao leste era com uma trilha perigosa, e as pessoas faziam visitas ao local e estudavam pássaros. Ficava à uns 14km da minha casa. Era um pouco distante e fazia anos que não ouvia falar do local. Era raro alguém ir lá por ser perigoso, apesar dos estudos. Talvez fossem em casos de grandes precisões. Bem la no fundo, eu desejava ir lá. Meu pior veneno era a curiosidade, mas estava no meu sangue se aventurar. Eu sentia! Como faria o papai me levar até lá? Missão impossível. Mas eu sabia que tinha algo lá.

Lembrei que eu estudava em aulas particulares todos os dias das 12h às 15h na casa da Sra. Percy, à pelo menos uns 10km da minha casa ao norte. Papai ia me deixar todos os dias lá, e eu voltava de ônibus. Ele nunca tinha tempo para me pegar. Ufa! Nunca entendi porque eles não me botavam em uma escola pública, por isso, eu era bem sozinha. Filha única para minha desgraça. 

Lá estava eu com meus fones de ouvido a caminho da casa da Sra. Percy. Todos os dias a mesma coisa. Observava pela janela do carro, o trânsito, as pessoas, a paisagem. Perdida no meu universo, planejando meus passos.. enquanto soava uma melodia agressiva nos meus ouvidos, as guitarras barulhentas do AC/DC. Para mim, aquilo sim eram verdadeiras melodias.

Chegamos e fui diretamente para o portão, me despedi do papai que alegremente me pediu para me comportar. Ele sabia bem que eu sou uma aluna exemplar. A Sra. Percy era uma boa professora de todas as matérias. Mas sua vocação era a literatura. Era bem adorável, tinha em torno de uns 60 anos mas não aparentava ser velha assim. Cumprimentei-a, ela respondeu com um sorriso formoso:

— Que bom que veio minha pequena, sente-se ali. — Apontou para uma cadeira de frente a sua mesa

Fui silenciosamente. Ao sentar, retirei os livros da mochila enquanto ela me observava através de seus óculos, e olhos esverdeados. Queria perguntar se ela sabia de algo sobre a lenda que vovô me contara. Senti uma leve tensão, estava tão curiosa que não sabia que decisão tomar. 

— Então, Sra. Percy. Respondi todos os exercícios que foi passado. Aliás, amei o romance do Emerson Bertovick. Um bom iluminista. 

— Muito bom, Angel. Vejo que você será uma profissional competente. — Afirmou enquanto revirava seus olhos brilhantes no meu exercício

Eu sorri corada, ela costumava me elogiar muito. A Sra. Percy então começou a me explicar sobre as literaturas e os grandes nomes de Iluministas, Pensadores e etc. Observava cada detalhe, de como seus lábios se moviam, quase entregando seu sotaque Francês que estava escondido ali. Sim, ela era Francesa. Embora que sua família esteja morando aqui há alguns anos, ela ainda não esquecera sua origem. Enquanto ela explicava, eu tive uma ideia. Logo levantei a mão e perguntei:

— Sra. Percy, conte-me sobre as lendas de Boston e Massachussettss. 

Ela franziu o cenho, meio surpresa com minha pergunta e logo respondeu:

— Eu não tenho conhecimento de nenhuma, pois não estudei esses termos, Angel. Apenas sou uma amante literária. 

— Entendi. — Disparei com ar meio decepcionado

Mas eu sabia que isso não passava de uma desculpa esfarrapada. Logo um silêncio devastante tomou conta da sala. Estudei até dar a hora, e me despedi dela com desprezo. Que droga! Peguei minha mochila e cai fora sem olhar para trás. 

Fui diretamente para o ponto de ônibus. Determinada, decidi:

— Quer saber? Vou a essa maldita floresta! — Falei para mim mesma

Peguei o ônibus que ia para o leste, entrei, mostrei minha carteirinha para o cobrador e sentei no banco. Botei novamente meus fones de ouvido e observei pela vidraça do ônibus a paisagem passando, enquanto a melodia tranqüila soava nos meus ouvidos e mil ideias tomavam conta do  meu pensamento. Era uns 17km da casa da Sra. Percy para a floresta, muito distante, mas agora isso não me interessava.