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História O Segredo do Príncipe Hendery - Sua mão queimada, minha primeira valsa


Escrita por: ImNinahChan

Capítulo 4 - Sua mão queimada, minha primeira valsa


Fanfic / Fanfiction O Segredo do Príncipe Hendery - Sua mão queimada, minha primeira valsa

parte IV

Sua mão queimada, minha primeira valsa


 

Se existisse algum nobre mais desengonçado do que Hendery, um raio podia cair sobre a Baronesa naquele instante. 

 

— E eu também sei este movimento, ó. — Ele remexia o corpo de um lado para o outro, mas sem tirar os pés do lugar. Movia o pescoço como um pombo e chacoalhava os braços no ar. Se soubesse que iria prestigiar aquele show de horrores, não teria pedido para ele mostrá-la os passos de dança que sabia. — Também sei este, olha.

— Não, por favor. — Ela negou, afastando-se do príncipe para ir sentar no banco ao lado de Chittaphon. — Você disse que ele aprendeu a dançar. — Sussurrou para o rapaz ao piano.

— Mas ele aprendeu... só que depende do ponto de vista.

Suspirou, desencorajada. Hendery era um completo desastre na dança. Como ele iria se comportar no soirée de quinta-feira na casa do Visconde? Argh, não era possível! Agora ia ter que bancar a professora? 

As aulas de dança nunca foram desconhecidas para o Príncipe. Na verdade, ele as conhecia tão bem que as evitava incansavelmente. Quando pequeno, participava das lições, sempre ao meio dia, com as irmãs. Enquanto elas treinavam a polca, mazurca, redowa ou qualquer outra modalidade para se tornarem grandes damas da alta sociedade, ele era obrigado a praticar também, “Por pura pressão”, diria, apesar da mãe insistir que quaisquer cavalheiros que se prezem aprendem a valsar antes de aprender a foder. Ele achava tudo uma bela duma besteira. Depois que partiu em viagem, procurou fugir de absolutamente todas as coisas que pudessem fazê-lo lembrar de sua vida nobre. Preferiu vagar pelas ruas de Constantinopla de pés descalços e estômago vazio do que tentar tirar algum proveito do título inato. Mas ali estava, dançando, de novo… Como a vida gosta de brincar conosco, não é, caro leitor?

— Faça-me um favor, Ten? — A Baronesa recorreu ao jovem. — Busque-me algumas velas, e algo para acendê-las também. 

Chittaphon acatou o pedido sem questionar. Levantou-se do assento do piano, deixou o gazebo e atravessou o jardim do palácio para ir buscar as velas.

No meio tempo em que o casal ficou sozinho, Hendery aproveitou para sentar ao lado da amiga, no banco, e fazer aquela pergunta que tanto estava queimando seus neurônios desde a manhã naquela fila de solteiros na porta da casa da Baronesa.

— Não nutre sentimentos pelo Duque, não é?

Ela riu abafado.

— Por que quer saber isso, Alteza?

— Porque… sim. Porque sim, ora. Não posso?

— E mudaria alguma coisa se eu tivesse sentimentos por ele?

— É claro que sim! — “Eu não gosto dele” foi o que gostaria de ter dito, mas optou por um: — Não é comigo que disse que vai se casar?

— Não acho que é com isso que se preocupa.

— É claro que é. 

— Hm, se diz…

Hendery enrugou o nariz, numa careta.

— Mas seria agradável me apaixonar por ele. — Ela comentou, e o príncipe sentiu a pressão baixar repentinamente.

— Ah, é claro! — Soltou, articulando com as mãos. — O Duque é a perfeição em pessoa. Muito perfeito. Sabe atirar como ninguém, lutar esgrima, pintar, cantar, tocar, dançar… Qualquer uma ia querer se apaixonar por ele. Nossa, como ele é perfeito! Meu Deus, eu morro com tanta perfeição! — Pareceu ter atingido o ápice do drama. 

Ela sorriu.

— É verdade. Nunca ouvi maior verdade sobre o Duque. — Provocou.

Hendery teve que se conter para não revirar os olhos.

— Mas acho que não precisa se preocupar com isso, Alteza. Afinal, é com o senhor que vou me casar, não é?

Se fosse outra ocasião, não teria gostado nada de ter ouvido aquela frase. Porém, ali, naquele momento, se permitiu sorrir, um pouco orgulhoso. 

— Fez parecer que não se trata de uma chantagem. — Não deixou de comentar também, desviando o olhar para as rosas vermelhas no horizonte.

— Nunca deixei de considerar a chantagem em cada frase que lhe digo. Se entendeu de outra forma, o problema é seu.

Hendery riu, incrédulo com a impáfia dela. A Baronesa sempre fora uma garota reservada e responsável até demais com tudo que fazia. No entanto, em algumas situações, ela se entregava aos momentos de brincadeira e ácida como ninguém, arrancava um sorriso de Sua Alteza.

— Portanto — a moça continuou. —, é melhor dar tudo de si nesta aulinha de dança. Ela também faz parte da chantagem.

— Nossa, preciso mesmo dançar? — Fez manha. — Não podemos fazer ceninha só por andar pelo salão não?

— Não.

Ahhh. — Balançou o corpo sobre o banco, feito gelatina. — Eu não entendo isso que vocês tem com dança. — Cruzou os braços sobre a barriga.

— A dança é algo íntimo, Alteza — ela sorriu. — Ou acha que todos os outros casais têm a oportunidade de se encontrarem feito nós dois? — Correu com o olhar pelo carpete sob seus sapatos, começando a perder-se na "romancialização" de dançar. — É a única chance que temos de tocar quem amamos em locais que não poderíamos fora do salão... Nuca, cintura; Ficar tão perto de alguém, que às vezes é possível ouvir o coração da pessoa batendo forte no peito, com tanta euforia quanto você, pelo momento… Sentir a respiração, quente; O cheiro do perfume. Doce, forte — Hendery escutava aquilo tudo sem conseguir tirar os olhos do rosto dela; sereno, que encarava o carpete. Ela parecia tão imersa no que dizia, como se fantasiasse tudo enquanto falava. O Príncipe nunca tinha ouvido palavras tão bonitas sobre o simples ato de dançar —; O resvalar das peles, quando os dedos tocam o seu braço descoberto, suas costas; Enquanto vocês giram pelo salão, valsando ao lado de dez outros casais, mas sentindo como se não estivesse ninguém ali, a não ser você e seu par; Não conseguir deixar de observá-la. Ver sua pupila dilatando, o modo como engole em seco quando a puxa para mais perto… Perto — repetiu. — Tão perto que você chega a ter a vontade de…

beijar. — Ele completou.

Ela virou um pouco o rosto e encontrou Hendery tão perto de si que podia senti-lo expelir o ar pela boca, esquentando sua bochecha.

— É a primeira vez que vou dançar com alguém em um baile, Hendery. — O nome dele escapou facilmente pelos lábios dela, antes mesmo de pensar num “Alteza”. — Na temporada passada, meu cartão de dança ficou vazio. Este vai ser um momento muito especial. Promete que não vai pisar no meu pé?

O Príncipe abriu a boca para responder, porém não teve tempo, porque Ten chegou todo sorridente com uma vela já acesa em mãos, e uma caixa, com outras dentro, debaixo do braço.

— Aqui a vela, gente.

A Baronesa pôs-se de pé logo, correndo os dedos pelos cabelos.

— Então, vamos! — Bateu palminhas seguidas, chamando a atenção do amigo, ainda meio atônito, sentado no banco. — Venha. Vamos ensaiar.

Hendery respirou fundo e foi até ela, como pedido. 

— A valsa é muito simples, na verdade — ela pegou a vela acesa das mãos de Ten, que retornou ao piano. — Os movimentos formam o contorno de um quadrado e a contagem é bem lenta, em três tempos — ficou de frente para o Príncipe. — Mas tem que ser tão suave, mas tão suave que a chama da vela não se apagará entre as mãos dos dançarinos — segurou a mão dele para entrelaçá-la à vela, à meia altura no ar, enquanto a outra foi parar no ombro masculino.

— Ai meu Deus, isso não vai dar certo. — O Príncipe murmurou ao rodear a cintura dela com seus dedos. — Vai queimar a minha mão tudo.

— Se não quiser que aconteça, é melhor fazer direito.

— Vou tombar o fogo em você, se continuar com esse tom aí.

Ela deu um sorrisinho, direcionando o olhar para Chittaphon.

— Vai, Ten — pediu. — Toca alguma coisa, por favor.

Ten estalou os dedos e os depositou sobre as teclas. A melodia suave de alguma provável composição mozartiana ecoou pelo gazebo.

A Baronesa se aproximou um pouco mais de seu par.

— Venha para frente, depois vamos para o lado e retornamos para trás, okay? — O príncipe concordou, mesmo sem saber se tinha compreendido realmente. — Você vai conseguir. — Ela sorriu, tranquila. Assim, ele se sentiu menos desanimado. — Na contagem… Um… — O rapaz avançou, a moça retraiu os passos. — Dois… — Ambos foram para o mesmo lado. — Três… — Retornaram para o ponto inicial. — De novo. — Pediu, suave. — Um… Dois… Três… Um.... Dois… Três…

Hendery franzia o cenho, encarando os próprios pés. Não queria ser desastrado e pisar nos sapatos creme que ela usava. Seu corpo estava tão rijo, seguindo a contagem, que as veias em seu pescoço começaram a saltar sob a pele. Nem mesmo respirava direito, pois prendia o ar por tempo demais, esquecendo que precisava soltá-lo. 

Sua amiga percebeu sua tensão evidente e sussurrou um:

— Relaxe. — Usando a mão sobre o ombro masculino para erguer o queixo do rapaz.

Seus olhares se encontram no mesmo instante. Ela observou os dele, negros como ébano — uma imensidão tão profunda que teve medo de ser engolida. 

Ele relaxou, por um instante. Sua mão na cintura feminina escalou alguns centímetros pelo tecido fino do vestido até a parte exposta das costas. O toque inesperado fê-la arrepiar-se dos pés à cabeça. No vai e vem dos movimentos repetitivos, eles ficaram mais próximos. Perto. Bem mais perto

Ela pôde sentir o perfume doce do corpo alheio. Hendery tinha cheiro de nostalgia. Decerto, ainda usava a mesma colônia de quando pequeno. Ele não tinha mudado nada. O mesmo sorriso, o mesmo olor… 

Por um tempo, o Príncipe esqueceu que Ten estava bem ali do lado, tocando piano. Era como se só houvesse os dois, dançando, os mais simples dos passos entrelaçados com os mais complexos sentimentos… Bom, pelo menos até sentir um líquido derretendo e queimando seus dedos.

Mina nãomenando. — Ele sussurrou, ainda imerso no momento.

— Quê?

MinanãoMinhanã-, tsk — sua dicção falhava como nunca antes. — Ah, merda! — Xingou, jogando a vela para qualquer canto. — Sabia que isso não ia dar certo! — Esfregou a mão na calça. — Não quero mais essa porcaria! Já chega!

Ten parou de tocar e fechou a tampa do teclado. Comprimiu os lábios, observando em silêncio a Baronesa se afastar alguns passos, na direção das rosas fora do gazebo.

— Vossa Alteza! — Um criado se aproximava do jardim, aflito. — A Rainha lhe convoca para uma reunião com o Parlamento!

Hendery arregalou os olhos. Reunião?! Ah, não! Reunião não! Só de pensar nas horas que passaria dentro de alguma saleta conversando sobre política com vinte velhos idiotas, já ficava cansado.

— Não posso, estou dançando. — Trouxe a Baronesa de volta para perto de si, pronto para começar a praticar novamente. — Estou muito ocupado, outra hora vou. — Rezou para que o maldito criado não insistisse mais. — Vai, Ten! Toca um Mozart aí, pelo amor de Deus! — Implorou ao amigo no piano.

Chittaphon sorriu, abrindo a tampa do teclado novamente.

Hendery detestava dançar. Era péssimo nisso também. Mas, se pudesse usar momentos como aquele, com a Baronesa, como escape de seus compromissos reais, iria balançar o esqueleto com vontade de sobra, então. 

É, talvez, aquela chantagem toda ainda tivesse um lado bom.



 

[...]

— Vamos, Ten — o Príncipe apressou o rapaz. — Até parece que vai casar! — Deu de ombros. — Até uma noiva demora menos que você.

Chittaphon balançou a cabeça negativamente, deixando as palavras entrarem por um ouvido e saírem pelo outro. Voltou a ajeitar a gola alta em frente ao espelho de seu quarto. Ao contrário de Hendery, que vestia o uniforme real pela primeira vez desde que tinha chegado de viagem, Ten tinha que usar aquelas calças apertadas, as botas de couro e o paletó (o que era muito diferente do que costumava optar para o dia a dia no palácio). Finalizou com o lenço amarrado ao redor do pescoço e piscou para o amigo pelo reflexo no espelho.

— Está com tanta pressa assim, Alteza? — Prolongou o pronome, caçoando. — Pensava que fosse dar pra trás. Afinal, não disse que não quer se casar? — Foi até a cômoda para buscar seus óculos e guardá-los no bolso do colete.

— Isso não tem nada a ver com o casamento. — Hendery rebateu no mesmo instante. — Não confunda as coisas. Além do mais — pigarreou. —, eu não ensaiei esse dias à toa.

Ten gargalhou.

— É verdade. Acho que estou com calos nos pés de tanto valsar com você pelo quarto. — Lembrou-se dos ensaios amadores que o Príncipe se empenhou em realizar depois de descobrir que sua amiga não viria todos os dias até o soirée para dançar com ele. — Mas essa vai ser uma boa experiência pra você. Primeiro, aprende a dançar. Depois, se casa. Quem sabe não assume o trono e deixa de ser tão infantil?

Hendery fez careta.

— Melhor ficar quietinho, ainda estou com raiva de você pelas flores.

— Ah, não fique bavinho não! — Se aproximou do amigo, brincando com os adornos do uniforme dele. — Eu estou fazendo isso pro seu bem, neném. Okay? — Forçou um tom infantil só para irritar ainda mais o Príncipe.

— Nossa, Ten. Vou socar sua cara.

— Hendery? — Sua mãe abriu a porta do quarto, sem uma expressão muito agradável no rosto. 

Chittaphon fez uma reverência breve à Rainha e deixou o cômodo logo em seguida. Pela cólera nos olhos de Sua Majestade, não haveria espaço para um simples amiguinho do Príncipe naquela conversa.

— Já está pronto para o soirée? — A pergunta fez Hendery revirar os olhos.

— O que acha? — Apontou para o uniforme que cobria seu corpo.

— Então também já deve estar pronto para a reunião com o Parlamento.

— Não vou à reunião nenhuma.

— Vai sim, mesmo que seja preciso levá-lo à força. É seu compromisso.

— Meu compromisso já deve estar me esperando na casa do Visconde, mamãe.

A Rainha sorriu.

— Então, ela vai ter que esperar mais um pouco.


 


Notas Finais


Fui procurar defeitos no novo mini álbum do wayv e não achei nenhum ( ˘ ͜ʖ ˘)


Obg por ler<3


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