Todos se mantêm em silêncio durante todo o percurso. Thiago, vez ou outra olhava Liz e os rapazes pelo retrovisor, preocupado com os três. Do seu lado estava César, segurando Elena em seu colo. O esguio olha sem parar para trás, preocupado com todos, sobretudo com Joui, que foi gravemente ferido por suas mãos. Sua atenção se dividia entre o ginasta e a garota em seus braços.
Lágrimas de desespero escorriam sem parar dos olhos de César. Olhando para trás, ele mal sabia se Joui ainda respirava e se voltando para frente, ele sentia a respiração cada vez mais fraca da garota. Se a cabeça de Elena não estivesse encostada em seu peito, o esguio jamais sentiria respiração alguma. Enquanto toda essa preocupação o consome, a culpa também vem forte.
Thiago dirigia o mais rápido que conseguia. O trajeto dura cerca de oito minutos. Quando finalmente chegam no hospital, é cerca de 2 horas da manhã. O jornalista rapidamente sai do carro e corre para dentro do hospital, para pedir por ajuda. Liz finalmente termina os pontos no rosto de Arthur e apenas deixa a cabeça dele deitada em seu colo. O baixinho começa a acordar aos poucos.
-Arthur? – Liz olha para ele preocupada.
O baixinho apenas olha de volta para a perita e começa a chorar e fecha os olhos. Liz apenas faz um carinho no cabelo dele, sentindo seu coração partir por saber que Arthur havia perdido todos os Gaudérios.
Thiago chega com uma enfermeira até o carro, ao ver a situação de todos, ela chama desesperada pelos médicos e outras enfermeiras. Um grupo grande se aproxima correndo até o carro.
-Quanto sangue, Jesus! – uma das enfermeiras diz assustada.
-Isso foi o quê? Um acidente?! – outra pergunta.
-Só ajuda a gente, por favor. – Thiago diz rapidamente.
Mais três enfermeiras chegam com três macas. Os médicos também estavam ali, examinando os feridos do jeito que dava.
-Essa moça está em condição crítica! – um dos médicos diz, examinando Elena.
-Os daqui de trás também! – o outro médico diz.
-Vamos, rápido. – o médico olha para César que ainda segurava Elena no colo. – Precisamos leva-la para a sala de cirurgia! – diz puxando a maca para perto. O esguio e o médico colocam a garota na maca, duas enfermeiras, juntamente com o médico, correm para dentro do hospital.
As outras enfermeiras, junto de Thiago e o médico restante, tiram Joui e Arthur do carro e os colocam na maca.
-Vem, Liz. – Thiago ajuda Liz a sair do carro. No momento, toda a adrenalina havia passado e a perita sentia uma dor muito intensa na costela.
-Tá doendo... – a perita reclama.
-Rápido, tragam mais uma maca! – uma das enfermeiras grita.
-Vem. – o jornalista coloca um braço da Liz ao redor do seu pescoço e depois a ergue em seus braços, caminhando rapidamente para dentro do hospital. César vai junto dos dois.
Chegando na recepção do hospital, outra maca já estava pronta para Liz. Thiago a deita na maca e as enfermeiras rapidamente a levam para dentro.
Na recepção ficam apenas César e Thiago, preocupadíssimos com os amigos. Alguns instantes depois uma enfermeira se aproxima deles. Ela olha para Thiago e depois para o esguio, em seguida, se vira para César.
-O que foi que aconteceu? Só você que tá bem! – ela diz enquanto o olha de cima a baixo.
-Eu não tô nada bem. – César responde ainda com lágrimas nos olhos.
-Mas o que aconteceu? Foi acidente de trânsito?! A gente precisa saber pra tratar. – ela diz rapidamente.
-Foi ataque de Graxaim! A gente tava no mato, caçando! – é possível ouvir a voz da Liz ecoando pelos corredores.
-Querida, pelo amor de Deus, só ajuda eles. – Thiago se vira impaciente para a enfermeira.
-Eles já estão sendo tratados. A garota já está na sala de cirurgia. – diz a enfermeira. – Mais alguém precisa de tratamento? – ela olha preocupada para Thiago que tinha alguns machucados leves.
-Não, minha querida. Só se concentra neles. – Thiago suspira pesadamente.
-Tá, agora podem me dizer o que aconteceu? Por que chegaram tão feridos assim? Foi briga de bar novamente?
-Olha só, se viesse ao caso saber o que aconteceu, a gente falava. – César se aproxima dela irritado. – Se fosse qualquer coisa que ajudasse vocês no tratamento, garanto que a gente falava. Por favor, só cuida deles, o que aconteceu não vem ao caso.
-Tá bom, senhor... Desculpa. – a enfermeira diz um pouco assustada com o tom de voz que o esguio usou.
César apenas se vira de costas e vai até uma das cadeiras de espera. Thiago caminha para o lado de fora do hospital e fica parado na entrada. Respirando pesadamente, sentindo-se muito culpado por ter ferido a Liz.
Liz é levada para um dos quartos no segundo andar e uma das enfermeiras começa a examiná-la.
-Você tomou um tiro?! – olha preocupada.
-Então... – Liz olha para o crachá da enfermeira com o nome “Mariana”. – Mariana, lembra da briga de bar? Pois é...
-Meu Deus! – Mariana diz enquanto limpa o ferimento.
-Mas tá tudo bem, a bala saiu. – Liz diz enquanto se esforça para não fazer caretas de dor. Só de se mexer já doía muito.
-Menina, você tomou um tiro e tá falando que tá bem?! – a enfermeira olha surpresa para ela.
-Pois é né...
-Fica em repouso. – a enfermeira diz enquanto ajuda a perita a tirar as roupas e colocar a vestimenta de paciente. – Já solicitei um médico, o primeiro que terminar a cirurgia vem te ver. – diz enquanto ajeita a Liz na cama do hospital. – Eu não sei como que vai ficar o rosto dos meninos... Tá muito machucado. – diz preocupada. – E a moça vai ganhar uma baita cicatriz...
-Como é que eles estão?
-A menina e o rapaz mais alto foram para a cirurgia. Os dois médicos estão cuidando deles, eles são muito competentes. – Mariana diz na tentativa de tranquilizar a perita. – O outro rapaz, com o rosto machucado, já foi medicado e está estabilizado, pronto para a cirurgia.
-Certo... – Liz suspira um pouco aliviada.
Na recepção, Thiago se aproxima do esguio, que permanecia sentado em uma cadeira de espera.
-César, vou para uma loja de conveniência, quer alguma coisa?
-Não, não... Valeu. – o esguio diz. – Vou ficar aqui esperando por notícias, eles precisam de um responsável.
-Certo, vou lá rapidão e já volto, ok? – Thiago diz.
-Beleza.
Ambos estavam preocupadíssimos, os dois foram controlados pelo lodo e feriram seus amigos. O jornalista tenta disfarçar o nervosismo, mas não consegue. Nenhum dos dois conseguem.
Thiago sai do hospital, vai para o carro e dirige pelo centro, buscando a primeira loja de conveniência aberta. Ele dá algumas voltas e encontra uma pequena lojinha ainda aberta. Thiago estaciona o carro em frente e vai em direção à loja.
Pouco antes de entrar, recebe uma mensagem da Liz.
Liz: “Thiago, onde vc tá?”
Thiago: “Tô aqui fora, pq?”
Liz: “Compra um Whiskey pequenininho”
Thiago: “(emoji de carinha rindo) pode pá!”
Liz: “Show.”
Isso faz com que Thiago esboce um pequeno sorriso. Para mandar mensagem pedindo bebida, ele sabia que a perita estava melhor.
O jornalista entra na loja de conveniências, compra o cigarro e pede pela garrafa de Whiskey, entretanto, só tem da garrafa grande. Ele compra mesmo assim juntamente com alguns copos de plástico.
Thiago dirige de volta para o hospital e vê que César ainda continua sentado, esperando por notícias.
-Nada ainda? – ele pergunta para o esguio.
-Não... – César suspira.
-Vai dar tudo certo, eles vão ficar bem. – Thiago diz tranquilizando-o. – Sabe onde é o quarto da Liz?
-Uma das enfermeiras que passou por aqui disse que é o quarto 302.
-Beleza. – o jornalista diz enquanto caminha em direção ao corredor que leva para a área de internação. Ele pega o elevador para o terceiro andar e se dirige para o quarto de Liz. Quando ele abre a porta, Liz está deitada olhando alguma coisa no celular. Ao perceber a presença do jornalista, a perita abre um grande sorriso.
-Opa.
-Aqui o que me pediu. – Thiago balança a sacola com a garrafa de Whiskey. O sorriso da perita aumenta ainda mais.
-Você comprou “João Daniel”, né?
-Mas é claro, minha querida. – ele sorri e se aproxima dela.
-Que ótimo. Serve um shotzinho aí pra mim! – pede com um sorriso no rosto.
-É pra já. – Thiago diz enquanto vai até a pequena cômoda do lado da cama de Liz, pega dois copos de plástico e serve uma dose para ela e outra para ele.
-Brinde, por favor. – a perita diz enquanto estende seu copo em direção ao do jornalista.
Os dois brindam e rapidamente viram o conteúdo de uma vez, sentindo o líquido queimando enquanto desce pela garganta.
-Liz... Me desculpa. – Thiago diz se sentindo culpado.
-Tá tudo bem. – ela sorri. – Nada aconteceu, ok? – ela segura na mão do jornalista e aperta forte.
Thiago e Liz conversam por um tempo, o rapaz verifica como a amiga está. Ele ainda se sente culpado, mas agora estava mais aliviado ao ver que ela estava melhor. Depois de um tempo, o jornalista sai do quarto para deixa-la descansando.
No hospital, na mesa de cirurgia, o médico trabalha minunciosamente no pescoço de Elena. A garota foi atingida num ponto vital, a artéria aorta estava muito danificada.
-É impressionante que ela esteja viva. – o médico comenta. – Quase impossível. – diz impressionado.
-A pressão dela está estabilizada. – diz rapidamente uma enfermeira auxiliar, que monitorava os batimentos cardíacos e a pressão.
-Isso é extremamente raro. – o médico diz enquanto aloca um pequeno stent¹ no local danificado da artéria.
¹Stent: prótese cilíndrica, geralmente metálica, colocada de forma intravascular (dentro dos vasos sanguíneos), indicado no caso de obstruções de artérias. Quando inserido, o stent é expandido, abrindo espaço para o fluxo sanguíneo.
Elena escuta algumas vozes distantes e embaralhadas conversando sobre algo que não consegue discernir muito bem, junto delas havia um bipe similar ao monitoramento cardíaco por máquinas. A garota se vê em um lugar escuro, rodeado por sombras. É um local familiar. Ela já esteve ali uma vez, quando ainda era uma criança.
-A sala escura. – suspira cansada.
Sua voz ecoa por todos os lados diversas vezes. Ela sabia exatamente o que estava acontecendo.
-Estou morrendo, não é? – diz esperando por uma resposta.
Nenhuma resposta. Nada. Apenas o silêncio.
A garota começa a andar pela sala escura em busca de alguma coisa. Qualquer coisa. Conforme caminha pela “sala escura” sem rumo, no completo escuro, suas mãos tateiam um objeto similar a uma maçaneta. Um pouco hesitante, por saber o que provavelmente vai encontrar, ela gira a maçaneta e uma porta se abre.
Uma luz fraca ocupa sua visão, atrás da porta se revelava outra sala escura, todavia, esta possuía um pequeno feixe de luz atravessando a sala, como se houvesse algum tipo de fresta pelas paredes. Elena adentra aquele lugar e escuta a porta fechar atrás de si com violência. Ela se vira para trás e tateia rapidamente em busca da maçaneta, mas suas mãos apenas seguram o nada. Não tinha mais maçaneta alguma ali. Sentindo um calafrio na espinha, a garota sente uma presença assustadora atrás de si. Ela fica paralisada de costas para a presença até que sente uma respiração ruidosa e pesada em sua orelha, como se alguém estivesse com o rosto bem próximo da sua nuca.
Com o medo horripilante preenchendo todo o seu ser, a Veríssimo se vira rapidamente para encarar qualquer que seja aquela coisa atrás de si, mas não vê nada. Diferentemente da primeira visão que teve da sala, agora ela se via em um quarto bem velho e empoeirado, iluminado por uma luz muito fraca advinda de uma lâmpada velha. Era capaz de sentir um odor pútrido misturado ao mofo.
-Mas que porra... – murmura confusa e assustada.
-Acha mesmo que vou te deixar morrer, garotinha? – uma voz bestial rouca e com uma estranha entonação feminina diz atrás da garota. Uma mão com os dedos longos e extremamente magros toca seu ombro ao mesmo tempo em que a voz continua falando. – Da primeira vez, não consegui me apresentar para você. – a voz macabra entoa com um hálito nojento.
Elena sente seu estômago se revirar. Seus braços e pernas ficam tensionados, como se não conseguisse mais se mover. Os dedos longos, estreitos e gelados começam a acariciar seu pescoço. Um sentimento de terror se apodera da garota. A criatura começa a dar a volta ao redor dela e, com a fraca luz do quarto, ela consegue ver o que era aquela coisa que passava os dedos ao redor do seu pescoço.
Elena grita aterrorizada ao ver seu próprio reflexo, mas de uma forma completamente distorcida e deformada. Ela estava cara a cara consigo mesmo, mas em uma versão apodrecida e decomposta, com ossos, arcada dentária e crânio expostos. Alguns fios de cabelo branco saíam do crânio. É como se ela visse a si própria morta em estágios avançados de decomposição.
A criatura apenas começa a rir desenfreadamente de Elena.
-Não gosta do que vê? – pergunta aproximando seu rosto do dela. Seu hálito apodrecido permeia pelo rosto da garota. – Hahahahahah – ela abre os braços.
-Q-Quem caralhos é você?! – Elena pergunta assustada.
-Eu? Eu sou você! Sua ezeru. – a criatura diz com sua voz rouca e bestial. – Nós já nos vimos antes, não se lembra zag? Você era apenas uma coisinha pequena. – O reflexo morto de Elena começa a caminhar pelo quarto.
-Eu te selei. Você está bloqueada. – Elena diz rapidamente.
-Acha que se livrou facilmente de sua ezeru assim? – começa a rir. – Você precisa de mim, zag.
-Não preciso! – diz rapidamente fechando as mãos em punho. O medo estava tão grande que a garota cravou suas unhas nas palmas das mãos tentando conter o nervosismo.
-Precisa. Você sabe disso, zag. – a criatura se senta de forma despojada na cama e cruza as pernas, adotando uma postura de superioridade.
De repente, o quarto começa a tremer. A criatura solta um suspiro longo e ruidoso e olha para Elena com seus olhos vermelhos.
-Nosso tempo acabou, zag. – diz enquanto permanece sentada na cama. – Eu ainda vou te alcançar. – sua voz gutural ecoa pelo quarto enquanto ele se desmancha. – Afinal, sou sua ezeru. – entoa a palavra enquanto cantarola de forma macabra.
Elena vê seu reflexo monstruoso e todo o cômodo se desmanchando perante uma luz forte e cegante. Quando ela abre os olhos, avista um quarto branco com uma luz igualmente branca. Ao seu lado, escuta o bipe de anteriormente. Ela tenta virar a cabeça em direção ao som, mas não consegue, sente algo impedindo-a de mover seu pescoço.
Além do bipe, a garota começa a escutar o som de vozes femininas por perto. Ela começa a reparar ao redor, apenas movendo os olhos, e nota que o lugar em que se encontrava era muito semelhante com um ambiente hospitalar. Muito similar ao quarto do hospital em Carpazinha. Ao se lembrar do nome “Carpazinha”, uma forte lembrança toma seus pensamentos. A caveira, os Assombrados e os Gaudérios.
Seus olhos começam a lacrimejar ao se lembrar de Murilo, ela o viu morrer duas vezes, uma delas foi pelas próprias mãos. Se lembra de ouvir um tiro no segundo andar da casa e depois o grito desesperado de Liz gritando por Joui. As memórias da situação traumática começam a voltar de uma vez, e conforme ia se lembrando, mais rápidos ficavam os “bipes” que escutava.
As vozes femininas rapidamente ficaram mais altas e um rosto ocupou sua visão. Era uma mulher loira de cabelos curtos, olhos castanhos com enormes olheiras embaixo e uma roupa de enfermeira.
-E-Ela está acordada! – diz rapidamente para alguém que também estava no quarto. – Chama o Dr. Anderson! – se vira rapidamente para a pessoa que também estava ali, provavelmente outra enfermeira. – Oi, preciso que se acalme. – a enfermeira fala de uma forma mais tranquila na tentativa de acalmá-la, mas Elena apenas começa a chorar desesperada. Os bipes aumentam cada vez mais, a enfermeira continua tentando acalmar a garota, mas sem sucesso.
Depois de alguns segundos, ela escuta passos apressados vindo em sua direção.
-Aplique o sedativo! – uma voz masculina grita para a mulher loira.
Aos poucos, os olhos de Elena começam a se fechar, tomados por um sono forte. Não demora muito para que ela caia nos braços de Morfeu².
²Braços de Morfeu: Morfeu é o Deus grego dos Sonhos. A expressão “cair nos braços de Morfeu” é utilizada para indicar que alguém está em sono profundo.
Enquanto isso, Thiago volta para a recepção do hospital e vê que o esguio continuava ali, na mesma posição, com as mãos no cabelo, o semblante preocupado e as pernas inquietas.
Mais uma vez o jornalista vai para o lado de fora, já com o cigarro em mãos. Ele acende e fuma seu primeiro cigarro depois de muito tempo.
Na recepção, uma enfermeira vai até o esguio.
-Você é o responsável pelo pessoal que chegou acidentado? – ela olha para a ficha que tem em mãos - Duas mulheres e dois homens.
-Sim. – o esguio rapidamente se levanta. – Alguma notícia? – pergunta apreensivo.
-A garota do pescoço já saiu da cirurgia e está estabilizada, mas em uma condição muito crítica ainda. O rapaz asiático também já saiu da cirurgia, está estabilizado e apresenta sinais de melhora e o mais baixinho, o fortinho... Ele está indo para a sala de cirurgia agora, mas ele já está bem estabilizado.
-Vai ficar tudo bem com eles?! – pergunta preocupado.
-Os rapazes estão todos estabilizados. – a enfermeira diz. – As garotas também, uma ainda está em uma condição delicada, precisando de observação e a outra já está descansando em seu quarto, se recuperando. Todos eles vão precisar ficar um tempo em recuperação.
-Certo, leve o tempo que precisar... Só toma conta deles, por favor. – César diz.
-Quanto ao tratamento, sabe me informar se eles têm plano de saúde? – ela diz enquanto pega um formulário.
-Não... Pode colocar o pagamento no meu nome.
-Certo, depois enviamos o boleto. – a enfermeira diz enquanto anota alguma coisa. – O valor é 7.890, tudo bem?
-Sim. – o esguio responde rapidamente.
-O nome do senhor é César, não é? Lembro que o senhor já esteve aqui.
-Isso.
-Confirma o nome todo, por favor.
-César Oliveira Cohen. – o esguio diz.
-Cohen? – ela acrescenta no formulário e parece se lembrar de algo. – Ah, é... Como é que tá aquele senhor que veio aqui daquela vez? – pergunta curiosa. -O grandão. – sorri. -Muito engraçado, o pessoal adorou ele. Figura demais.
César sente um aperto no coração ao lembrar de seu pai.
-É... Figura mesmo. – o esguio diz pensativo.
-A Cibele não parava de falar dele. – a enfermeira sorri. – E nem do senhor. – ela lança uma piscadela para o esguio.
-É... Ele tá bem. – César diz.
-Manda um beijo para ele. – a enfermeira sorri. – Enfim, vou mandar o boleto depois. Está tudo bem com seus amigos. – diz calmamente. – Queremos que eles fiquem, no mínimo, uma semana de repouso.
-Tá bom. – o esguio responde um pouco mais aliviado.
-Tudo bem então. – ela diz. – Com licença. – a enfermeira anda em direção a um dos corredores do hospital e entra em uma sala.
Agora sabendo da situação dos amigos, o esguio vai para a entrada do hospital, onde Thiago estava. Ao se aproximar do jornalista, César o vê terminando um cigarro e jogando no chão, logo em seguida, pisando em cima.
Nesse momento já estava quase amanhecendo, era possível ver o sol nascendo.
-Tá de boa aí, Thiago? – César olha para o jornalista.
-A gente tem que ir enterrar os corpos que ficaram lá. – Thiago diz pensativo. – É o mínimo que podemos fazer pelo Brúlio.
-É isso o que eu estava pensando. – o esguio suspira. – Sobre o pessoal aqui, estão estabilizados e precisam de recuperação.
-Eles são fortes. – Thiago sorri. – Mas agora quero voltar lá na casa para enterrar os Gaudérios.
-Você quer ir agora? – César pergunta.
-Por mim a gente vai agora, não vou conseguir dormir bem depois do que aconteceu, sabendo que os corpos ainda estão lá...
-É, eu também não. – o esguio concorda. – Será que é seguro ir nós dois?
-Não importa. – Thiago dá de ombros.
-Certo, vamos então. – o esguio começa a caminhar até o carro. Thiago o acompanha em silêncio. Os dois entram no carro e seguem em direção à casa de Virgulino.
Quando passam pelo centro da cidade, César se lembra de algo muito importante. A pá.
-Thiago, como vamos fazer? Não temos uma pá com a gente. – o esguio comenta enquanto procura por alguma loja aberta. Agora eram 5:40 da manhã, nenhum comércio estava aberto.
-Puta que pariu... – Thiago diz pensativo. – Deve ter naquela casa, não é possível.
-É... Tomara. -o esguio comenta.
-Tinha uma cova lá, com certeza deve ter uma pá. – diz.
-É verdade. – César concorda.
O trajeto até à casa na floresta leva cerca de dez minutos. Rapidamente avistam o velho outdoor de cerveja, entram na estrada de terra, passam pelos crânios de caveira e chegam no terreno da casa, com diversas motos ao redor dali.
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