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História O Silêncio Dos Lobos - Porta de vidro


Escrita por: DoctorCase

Capítulo 10 - Porta de vidro


Sehun ouviu o uivo há quilômetros. Olhou para o lado, para Tao, que também o encarava.

-Quem vai atrás dele?

-Eu.

Sehun jogou as calças para Tao, a camisa.

Tao fez uma careta.

-Que diabo.. ?

-Eu odeio ficar comprando roupa toda vez.

-Frescurento.

-Vai se fuder.

Sehun foi para fora, com os olhos se colorindo de preto, ele rosnou e em seguida, se pôs em quatro apoios, com os pêlos cobrindo todos os poros de seu corpo.

Ele respondeu o uivo, totalmente transformado.

Farejou Kai e correu para o meio da mata.

O lobo negro balançava o coelho morto entre os dentes.

-Eu pensei que você fosse controlado. Acho que me enganei.

O lobo negro olhou para ele. 

Sehun farejou o ar. 

-Opa... O que aconteceu?

Os olhos amarelos piscaram.

-Você viu o Kyungsoo?

Kai largou o peso morto, com os caninos e o focinho sujos de sangue.

-O que houve?

-Eu quase beijei ele.

Sehun sentou sobre as patas, esperando por mais, querendo saber o porquê do descontrole.

-E o que mais?

-Eu quase perdi o controle perto dele.

-Quase?

-É.

Tecnicamente, Kai tinha o beijado no pescoço, mas ele queria beijar outro lugar. 

Sehun o encarava.

-Você tem um autocontrole bem maior do que qualquer um de nós tivemos nos primeiros meses da nossa transformação. Se tivesse sido eu, ou qualquer um de meus irmãos, no seu lugar, teríamos matado o Kyungsoo.

Kai abaixou o focinho.

Sehun sentiu o cheiro que exalava dele.

-Você já perdeu os sentidos uma vez, Kai? Acordou e não sabia onde estava?

Kai não queria dizer que sim.

-Isso já aconteceu com você, não é?

-Sim.

-Foi por isso que fugiu?

O lobo negro estava estático na frente do castanho, encarando os olhos escuros.

Sehun se movimentou, circulando ele, o analisando, sentindo o cheiro de medo.

-Foi por isso que fugiu? Porra, responde.

O lobo preto o olhou de lado.

-Foi.

Sehun parou de repente.

-Quem você matou?

Kai continuou imóvel.

-Você não sabe?

-Foi em uma festa. Eu acabei sendo um suspeito em meio de muitos outros.

-Mas você não se lembra de nada?

Kai respirou forte pelas narinas.

-Não.

-Não se culpe. Todos nós passamos por isso. Tao matou dezenas de pessoas em uma chacina há anos atrás. Não falamos mais sobre isso. Mas saiba que todos passamos pelo mesmo. Você tem sorte de ter um autocontrole agora.

-Mas eu não tive naquele dia. Acho que fui eu.

-Se foi você, nós entendemos. Não julgamos ninguém. Você está seguro conosco.

-Sehun, eu matei uma pessoa.

- não sabe se foi você.

-Você disse que todos já passaram por isso. Eu apaguei naquele dia. Acordei no hospital coberto de sangue.

-Não tem mais nada a ser feito. Se martirizar não vai trazer a pessoa que você matou ou não, de volta. Você pode aprender com isso para nunca mais acontecer.

-Eu pensei em me entregar.

-Pra que? Você ia ficar sem instrução lá dentro, não ia saber o que aconteceu contigo. Tecnicamente, não foi você. Foi seu lado selvagem. Você só precisa controlar isso. Aliás, você consegue fazer isso bem, mesmo sendo novato.

Kai olhou para cima, para as copas que bloqueavam sua visão do céu azulado e as nuvens brancas.

-Posso avisar que estamos voltando?

-Vocês tem certeza que querem me acolher?

-Por que você é um criminoso?

Sehun mostrou os dentes.

-Kai - ele se aproximou. - todos nós somos pecadores. Somos feras. Somos todos fudidos. Só nos deixe te ensinar o que sabemos sobre nossa maldição. É tudo que peço. Seja parte de nossa família. Nos aceite.

Kai queria entender como tinha virado aquela coisa. Porque se sentia tão poderoso e sem controle, a fome exagerada, a luxúria, algo se remexendo dentro dele, sempre querendo sair, o dominar.

Ele abriu a mandíbula.

-Está bem.

Sehun sorriu por dentro. E uivou.

Dizendo que estavam voltando, que Kai pertencia a família agora.

Um lobo respondeu. Em seguida, formou-se um coro.

Outro lobo se juntou.

E o coro diminuiu.

Era o alfa respondendo.

Sehun abaixou a cabeça, olhando para Kai.

-Melhor voltarmos.


Era noite. Kyungsoo preparava o jantar. Seu pai havia avisado que ficaria na delegacia. Tinha acontecido uma chacina na floresta, na noite anterior e ele o alertava constantemente para ficar em casa. E também acusava Chanyeol.

Claro que o filho não acreditava em nenhuma palavra que ele dizia, acreditava que a sanidade do xerife estava por um fio.

Não o culpava. Por ter os filhos assassinados tão recentemente e a esposa morrendo do coração, Kyung não imaginava que alguém ficasse em sã consciência.

Kyung chorava às vezes, com saudade da mãe, das ligações dos irmãos mais velhos que moravam longe. Mas nem imaginava a dor do pai, que viu os corpos mutilados dos filhos.

A investigação havia sido arquivada há algum tempo. E o xerife fazia uma paralela tentando provar que a família Park tinha sido culpada pelos assassinatos. Até pela morte precoce e natural da mãe.

Era insensatez, loucura da parte de Kang-Ta.

Kyungsoo suspirou, colocando água na chaleira e pondo no fogo.

A cena de tarde passava e repassava em sua mente. Kai beijando seu pescoço, o excitando, o instigando. 

Ele olhou para frente, para a janela, para a luz amarela que iluminava a varanda. Algo o incomodava e ele franziu a testa, não compreendendo o que tanto olhava no jardim escuro. O pequeno espaço deserto, coberto por plantas daninhas e folhas secas e mortas. Há anos, aquele ambiente era vivo, com plantação de legumes, com brinquedos que Kyungsoo adorava brincar.

Agora só tinha coisas mortas e a lembrança dolorida e doce. O sabor do luto.

Encarou a janela mais uma vez. Suspirou. Um frio correu-lhe a espinha. Fechou as cortinas. Continuou cortando os legumes para o omelete. Pegou os ovos na geladeira os colocando em cima da pia de mármore.

Alguém bateu na porta de vidro.

Kyung ficou imóvel, seu coração batendo rápido. Não largou a faca, nem muito menos deixou de sentir medo.

Caminhou lentamente até a porta de vidro e a sombra enorme o assustou.

Ela apontou para baixo, para o trinco da porta.

Kyung negou com a cabeça.

Chamaria a polícia.

-Sou eu.

Kyung engoliu a seco.

-Kai?



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