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História O Silêncio Dos Lobos - Inferno de areia


Escrita por: DoctorCase

Capítulo 127 - Inferno de areia


Kai estava caído de cara na areia escaldante. Ela entra na boca, nariz, deixando-o quase sem respirar. Seus músculos se estimulam involuntariamente, o repuxando para que levantasse. Sem conseguir sequer abrir os olhos, Kai sabe que precisa levantar, tenta se virar, mas os ossos rangem, doem, estalam. Ele fechou os olhos com força, respirando forte pelas narinas para que a areia saia dali. Seus dedos se retorcem sobre a areia fina e quente. E finalmente, Kai reúne suas forças para se erguer, a areia queima as palmas de suas mãos pressionadas e ele cai de novo.

Talvez estivesse ali por horas, já que seus lábios estavam rachados e sangrentos e sua cabeça latejava. Gemendo em dor, ele tenta viajar pelas suas memórias, tentando descobrir como tinha parado naquele lugar quente como um inferno. Com a confusão beirando a falta de sanidade, Kai apela por chamar alguém, clamando em uma mistura de gemidos e sons estranhos.

-Doutora?

Sem resposta. Com a falta de discernimento, Kai simplesmente chama por todos os nomes que lembrava. Sehun, Chanyeol, até sua mãe. Ele ainda não consegue abrir os olhos, mas tenta ouvir qualquer sinal de vida. Ele foca seus sentidos no vento, escutando atentamente se ele traria algum sinal que revelaria sua localização.

-Soo?

Enquanto ele esperava por alguma resposta, recordou-se do ocorrido. Ele viu tudo acontecer outra vez. As sirenes vermelhas e os alarmes gritantes. O desespero de Jolie. A perseguição dos betas da resistência caçadora pelos corredores do laboratório das Indústrias Cavill. Kai soltando Jolie, que iria distraí-los para que ele conseguisse ter uma chance de fuga. E... a doutora dizendo, antes de ir:

"Adeus, Kai."

O sol em cima dele estava tão quente que seus cabelos pareciam um cobertor de fogo sobre o pescoço e ombros. Então, finalmente, ele se virou, colocando à mão na frente do rosto, para conseguir visualizar onde diabo estava. Pouco a pouco, com os olhos piscando e a claridade do sol sobre a sua cabeça sendo reduzida conforme se adaptava, Kai viu que estava numa maldita caixa de areia gigante.

Ele estava num... Deserto?

Com uma descarga de adrenalina, Kai se levantou, ficando com um joelho no chão enquanto olhava para todo o local com o suor grudando sua camisa no peitoral e costas.

Areia. Areia. E... Ótimo, mais areia.

Ele separou os lábios rachados e as feridas começaram a se abrir pouco a pouco.

Kai estava sozinho debaixo de um sol abrasador e um céu sem nuvens. Com a respiração ofegante, caminhando sem rumo, sem ter a mínima ideia de como tinha parado ali ou onde estava exatamente. E bom, também como encontraria outra alma naquele fim de mundo. Caminhar, caminhar, caminhar sem rumo era a sua única esperança de que talvez encontrasse uma estrada ou uma casinha para beber um pouco de água. Sem fôlego, com suor escorrendo pelo rosto e entrando nos olhos, logo Kai se rende. E senta no chão escaldante. Ele sabia que não poderia gastar sua energia daquela forma, portanto, a sua única saída era andar e andar, porque continuar parado e sentado entre as dunas e os milhares de quilos de areia não o tirariam dali. O esforço para levantar e continuar foi o triplo da primeira vez, mas ele conseguiu. O sol batia em seus olhos, o cegava enquanto seu corpo entrava em processo de extrema desidratação.


Os músculos do garoto negro estavam tensos. Enquanto carregava aqueles sacos pelo chão liso e escorregadio do prédio sul dos laboratórios Cavill, ele realmente se questionou sobre o que raio estava fazendo da sua vida? "Eu sou um beta, porra!" , gritou consigo mesmo. "Não faxineira!". A tensão nos ombros aumentou, quando chegou finalmente no topo das escadas. As ordens de Cavill eram claras. Todos aqueles sacos deveriam estar no andar debaixo e serem queimados junto com o restante das coisas. "Coisas" era bastante sugestivo para o BigBoss. Aliás, Jaden escondeu sua curiosidade, já que Cavill não estava nos seus melhores dias. Depois da fuga de Kai e o estrago que fez em todas as instalações, Cavill teve que contabilizar o prejuízo de milhões e mandar para a conta do papai, que não ficou nada contente com a falta de responsabilidade e controle das empresas secretas dos Ômegas Caçadores. Jaden desceu um degrau, respirando fundo e se preparando para descê-los. Eram três lances de escadas. E os sacos pesavam muito.

-Merda.

Ele tirou o celular do cinto de utilidades, para ligar para Marcus ou Kendall, se tivesse sorte e ela atendesse o telefone. Porém, sabia que o trio não era tão unido, e nem muito menos trocava favores, principalmente naquele momento onde era crucial conseguirem pontos para se tornar o beta favorito de Cavill antes da formatura. Trabalhar com Henry sempre foi um sonho para qualquer caçador não iniciado. Mas, Jaden, na pele de um beta treinado pelo Cavill, sabia que não era um mar de flores. Estava mais para inferno. Ou algo pior do que isso.

Quando finalmente tomou coragem para enfrentar seus problemas ensacados sozinho, Jaden os puxou com toda força, aplicando a lei da gravidade.

Ele sabia muito bem o que tinha dentro daqueles sacos pretos, que tinha carregado o dia inteiro para o andar debaixo. No começo, vomitou duas vezes, teve que tomar um lindo e maravilhoso tapa de Cavill para voltar à consciência. E a mandíbula ainda doía depois de tantas horas.

Jaden quis chorar por tratar aqueles que morreram tão indiferentemente, no entanto, não poderia fazer divergente. Ele era um beta e tinha que se comportar como um se quisesse realmente ter um posto como o de seu pai.

Jaden pensou em seus colegas enquanto carregava os corpos enrolados em sacos de lixos pretos degrau em degrau.

Marcus sempre foi o baba ovo de Henry, que claramente o odiava por isso. Tinha algo naquele cara que sugeria que haviam mais intenções para com o professor Cavill, já que Jaden diversas vezes o acabou vendo se masturbar para uma foto de BigBoss no alojamento. Mas isso não era o pior. Marcus odiava qualquer tipo de demonstração de carinho entre homens. Era típico do comportamento conservador, mas Marcus chegava a ser um extremista nojento. Quando lhe foi sugerido, por um funcionário do laboratório em uma das pausas do dia, que Marcus participasse da aposta valendo uma visitinha particular em uma das celas das cobaias masculinas, ele ficou furioso. Chegou a ter um ataque de nervos quando um dos rapazes insinuou que o garoto precisava se divertir às vezes. E essa diversão incluía dopar um dos lobos.

Era bem comum esse tipo de aposta. A maioria dos funcionários que controlavam os lobos eram homens. Moravam nas indústrias Cavill em um alojamento a parte, para se dedicar integralmente ao tratamento e experiências ilegais com lobisomens. As poucas mulheres que ali tinham, não se envolviam com os homens, aliás, nem se alimentavam junto à eles. O cheiro de testosterona era evidente quando todos se juntavam no almoço ou no jantar para falar das torturas e experiências sexuais que tiveram com os prisioneiros. Faziam rankings, rifas e até brigavam para conseguir o "melhor" cobaia que decidiam a cada final de semana. A colônia que contava com caçadores, cientistas, médicos, seguranças e enfermeiros se agitava quando falavam de 515,por exemplo, que era um espécime que nunca tinham visto, já que Henry limitou a entrada de funcionários na cela dele. Eles proibiam a palavra homossexuais, gays, veados, boiolas durante todo o confinamento, se recusavam a dizer que se sentiam atraídos por homens, mesmo brigando para quem conseguia estuprar um lobisomem. Alguns explicavam que era por falta de mulheres. Outros alegavam a punição das feras. E tinha aquele grupo que dizia que fazia por diversão, por gostar de ver a dor em aberrações. Bom... E tinha o grupo do Marcus...

Que fazia as escondidas e negava que tinha feito.

Kendall era uma das únicas garotas que comia no refeitório e de primeiro momento, foi cobiçada por muitos. Até que ela mesmo fez o favor de mostrar à todos eles que não estava disponível. Crayon, um biólogo, tinha ficado cego de um olho por tentar forçar a barra com a beta de Cavill. Kendall era assim, durona e amedrontadora. Henry tinha clara preferência por ela, por mostrar superioridade, força, mas, claro, que nada era perfeito, porque Kendall, no final de tudo, ainda continuava sendo uma mulher.

E sobrava Jaden. Nenhum nem outro. Apenas o inútil que carregava os corpos dilacerados pelo cobaia 515 foragido para o porão.

-Merda.

Um rastro de sangue era deixado pelo caminho e Jaden teria que limpar tudo aquilo depois. Suas costas doíam. Carregar mais de 120 quilos diversas vezes no dia era para pessoas acostumadas com aquilo e o treinamento que lhe era fornecido ajudou-lhe a tardar a dor nos membros, no entanto sabia que ficaria dolorido por uns dois dias.

Ele abriu a porta de aço entreaberta, dando um empurrão com a bunda para que ele passasse com os corpos andando de costas e os juntasse com as dezenas de corpos.

-MERDA!

Uma mão saiu para fora no caminho e Jaden se desesperou, tentando colocá-la para dentro.

-Senhor Jesus, meu Deus...

As unhas pintadas o fez deduzir sem dúvidas de que se tratava de uma mulher. Entretanto, o que lhe chamou mais atenção foi o bracelete, que apenas médicos possuíam para ter acesso ilimitado em todos os setores. Médicos esses, que eram, em geral, diretores de seus setores. Jaden franziu a testa. Quem seria? Será que ele conhecia?

Nenhuma mulher era diretora...

Jolie.

Jaden a descobriu rapidamente e engoliu em seco. Não a reconheceria senão não fosse pelo crachá manchado de sangue ainda intacto no peito. Seu rosto estava comido, deformado, parte de seu cérebro ainda estava lá, mastigado.

-Deus... - ele a cobriu de volta.

Claramente, a cobaia 515 era mais perigosa do que imaginava. Jaden relembrou exatamente o momento que viu o lobo negro pegar um dos seguranças com a mandíbula pingando em sangue e o jogar contra a fileira de soldados como se fosse uma bola leve de boliche.

Um calafrio lhe atingiu a nuca e ele respirou fundo, voltando ao seu trabalho, tentando não recordar da chacina que 515 tinha feito nos laboratórios Cavill antes de fugir.


Depois de um tempo, quando a energia e o ânimo de Kai estão quase ao fim, ele vê montanhas entre as dunas. Elas pareciam estar, a no mínimo, mais dois dias de caminhada e Kai sabia que do jeito que estava, não passaria nem duas horas de pé sem sucumbir de vez. Ele era forte. Suas células trabalhavam rápido, mas sem água, sem comida, ele não sabia mais quanto tempo aguentaria. Isso bastou para abater as esperanças de Kai, que apenas torceu para encontrar um abrigo no meio do caminho, para pelo menos, tomar um gole d'água, apenas para molhar os lábios machucados. Ele sentia gosto de ferrugem em sua boca, da desidratação que ficava cada vez pior. Então, Kai decide subir em uma duna, com a última força que lhe restava. Sua esperança, enquanto subia e enterrava os pés na areia quente, era encontrar uma pequena casinha, uma estrada que o levasse à civilização, uma alma viva que lhe dissesse como sair daquele pesadelo. E estava cada vez mais difícil colocar um pé à frente do outro. Kai começa a vacilar, oscilando para a direita, para a esquerda, quase cai, mas se segurou no último instante. Um pouco depois, enfim no topo, ele levanta os olhos para a miragem. E tudo o que via eram mais dunas.

Quilômetros de dunas.

Não havia nenhuma montanha,  afinal.

Era alucinação.

Kai, por fim, puxa as raízes dos cabelos com os dedos, cheias de grãos de areia.

Ele tinha enlouquecido de vez.

Kai cai de joelhos, depois de lado e, enfim, ficou deitado de bruços, com a bochecha queimando na areia abrasante. Ele se sentia um bife suculento nas grelhas de uma churrasqueira. Ele sentia bolhas se formando em seus lábios. Seus ouvidos ainda escutam um ruído, mas Kai ignora. Sabe que está perdendo a consciência e que sua mente está tentando lhe pregar peças. Mas o ruído mecânico continuava ali e Kai não tinha forças nem para abrir os olhos para verificar o que era. Kai sabia que ia morrer.

Então se prendeu a única memória que o deixava em paz. A de Kyungsoo.

O barulho ficou mais alto, cortante. E então ele sente. Um vento forte que jogou p cabelo no rosto e Kai, mais areia em cima dele e de suas roupas. Kai tentou abrir os olhos...

E sorriu. 

Ilusão.

Ele estava no inferno.

Tinha morrido.

Só podia ser.

Com os olhos abertos, Kai vê quatro helicópteros pretos pairando acima dele. Homens gritam para que ele ponha as mãos na cabeça, mas Kai só tinha forças para fechar os olhos de vez.


Notas Finais


Cachorro numa caixa de areia num dá certo KKKKKKKKKKKKKKKKKKK
sentiram minha falta?


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