Minúsculo. Aquele cômodo feito de cimento era ridiculamente minúsculo. Para uma pessoa com seus normais aspectos físicos humanos, seria pequeno, mas para Kai, aquilo era uma caixinha de fósforo. Em um passo, ele estava de frente para o vaso sanitário, virando o quadril, bem de frente ao colchão preso a um bloco de concreto, que era tão pequeno que não conseguia sentar sem ficar com a maior parte do corpo para fora. O topo da cabeça ficava à um centímetro de bater no teto.
Kai estava acordado há pouco tempo. E a dificuldade de organizar seus pensamentos o irritava. A falta de paciência também o fazia se sentir estranhamente nervoso. Parecia que a raiva tinha crescido dentro de suas veias. Sido injetada. E parecia que, bem, a raiva controlava ele. Ele era movido por uma sensação incansável de destruir tudo que entrasse na sua frente.
Entretanto, a pequena parte humana que restava em sua mente, tentava pensar racionalmente, estabelecer algum tipo de cronologia desde que fugiu dos laboratórios das Indústrias Cavill, depois misteriosamente no deserto até acordar naquela viagem numa pequenina caixa de aço ambulante.
Os rombos nessa linha de tempo o faziam ter uma dolorosa dor de cabeça. Desembaraçar as linhas em seu cérebro não é nada fácil. Principalmente quando uma parte de seu ser gritava para destruir as paredes de cimento com os punhos.
A imagem do seu amigo, Tommas Ross, começou a lhe atormentar desde que lembrou que o tal Agente Griffin o citou no interrogatório.
Kai se lembrou como conheceu o melhor amigo.
Tommas estava bem radiante no gramado da Universidade de NY, conversando com outras duas meninas. Aquele momento, aquele instante quando os olhares de ambos se cruzaram, foi cravado na memória de Kai para sempre.
"Segundo dia de aula.
Kai estava à caminho da sala de teoria e história da medicina veterinária, quando, não tão momentaneamente, descobriu que não sabia onde ficava o prédio 17. Eram tantos prédios, tantas pessoas novas, que Kai ficava tonto e perdido. Mas, se tinha um instante que Kai não se sentia assim era quando esbarrava com o moreno alto. Pelo que tinha visto, ele era um dos mais populares, não só do curso de veterinária, mas de toda a instituição. O nome Tommas Ross tinha sido escutado por Kai diversas vezes só no primeiro dia. E no segundo não era diferente.
-Com licença, pode me di di di...
Ele virou. Os olhos de Kai se arregalaram. Era Tommas Ross bem à sua frente.
-Oi! Posso te ajudar em alguma coisa?
-Eu-Eu...
Tom continuou sorrindo e pela falta de comunicação de Kai, olhou para as mãos trêmulas dele, com o papel onde continha o número da sala.
-Sala? Você é calouro, não é?
-SiSisisim.
Tommas riu.
-Qual é sua grade horária?
-Veterinária.
Tommas continuou rindo.
-Suas aulas. Eu vi o curso no seu jaleco.
Kai olhou para o próprio peito, o símbolo da instituição e seu nome bordado abaixo.
-Jong In? Esse é o seu nome?
-Sim.
-AHHH. Igual o nome do ditador norte-coreano?
-NÃO! -Kai negou com a cabeça rapidamente. - In, termina com In.
-Mas parece.
-O dele é Un.
-Ahhhhhhhh. Eu sou péssimo em coreano, você poderia me ensinar, não é?
Se o rosto de Kai já não estava vermelho...
-AH, o que é? Você é um calouro muito ocupado que não pode dar umas aulinhas para um veterano?
-Eu posso, posso sim.
Tommas abriu um sorriso. Os lábios vermelhinhos se contrastavam com o sorriso branco e os dentes bem alinhados.
-Bom, o que eu posso te ajudar, afinal?
Perto dos armários metálicos e grafitados, Tommas e Kai começaram a conversar.
E foi assim, nesse momento mágico e perfeito que Kai se lembra de Tommas Ross. Foram momentos felizes como aquele que se contrastam com o último instante que Kai se lembra de Tommas Ross.
Dilacerado."
Kai chorou. Com as algemas pesadas nos pulsos, ele levou as palmas no rosto corado e desabou. Quis morrer, mais uma vez e a culpa lhe encheu o peito. Em todo esse tempo, Kai não teve tempo sequer para pensar em seu erro que lhe trouxe aquele lugar. Ele merecia toda a dor que lhe infligiram.
Ele merecia.
-Onde tá o Soo? -Tae Hyung finalmente perguntou e as conversas cessaram. O silêncio reinou. Chanyeol olhava para baixo, nem havia tocado no prato de comida. Baekhyun empurrava as ervilhas e olhou para cima, para todos que encaravam o humano. - Vocês tão tentando fingir que nada tá acontecendo, mas eu sei, eu sei o que tá acontecendo!
-Baby... -Jeon tocou o pulso sobre a mesa de Tae.
-Me solta, Jungkook! - Tae Hyung se levantou, olhando para cada rosto que conhecia pouco. - Eu quero saber... Não, não, eu exijo, saber onde está o Soo e as crianças! O que vocês FIZERAM?
Namjoon, na ponta da mesa, com os dedos cruzados perto da boca, olhava tudo atentamente.
-Taehyung, sente, por favor. -Jin disse.
-Por que vocês estão deixando QUE ELES fiquem com a liderança? -Taehyung falou diretamente com Chanyeol e Baekhyun. - POR QUÊ?
Chanyeol continuava com a cabeça para baixo.
O silêncio que predominou, a falta de resposta dos garotos que antes dariam a vida pelo alfa Kai, fez a raiva de Taehyung borbulhar.
-VOCÊS SÃO UNS COXINHAS! ESSE CARA TÁ PEGANDO TUDO PRA ELE, VOCÊS NÃO TÃO VENDO? - Taehyung apontou com a mão para Namjoon. - FAÇAM ALGUMA COISA!
Silêncio.
-Eu acho que você deveria se sentar, Taehyung. -Namjoon disse, com a voz rouca. Os olhares se jogaram para Nam. - Alguém acha que eu estou tentando pegar o poder do alfa? É claro que não. - ele riu. - É uma bobagem um humano falar sobre isso. É estupidez, aliás.
Taehyung engoliu em seco, esperando que Jungkook o defendesse.
-Você não tem propriedade aqui, Taehyung. Não tem voz por simplesmente não ser como nós. Não há o porque opinar sobre nossos problemas.
-Problemas? Eu só tô perguntando do KYUNGSOO!
Namjoon deslizou os lábios ásperos no dedo.
-Falando nisso, onde está o Kyungsoo? -Namjoon questionou-os.
Kris parecia bem irritado e fungou violentamente. Nam Joon direcionou os olhos para ele.
-Kris? Quer falar?
-Quero, chefinho, adoraria falar contigo. - Kris se levantou. - Lá fora. -soltou ele.
Chanyeol ergueu o olhar.
-Eu não vou brigar com você. Não precisamos disso.
-NÃO PRECISAMOS? Não somos como Taehyung, não foi isso que disse? Somos lobos! -Kris bateu no peitoral. -Somos lobos e agimos como lobos.
-Não não, não Kris, somos lobos e agimos como humanos. Temos que ter um pouquinho de consciência e racionalidade. Vamos conversar, se algo te incomoda.
Chanyeol mordeu o lábio inferior e dessa vez, Baekhyun não conseguiu contê-lo.
O prato cheio foi lançado na direção de Nam Joon. A comida se espalhou pela mesa, pelo chão, pelos cabelos de Nam Joon e Jin.
Chanyeol, agora descontrolado, respirava ofegante. O peito subia e descia velozmente. Ele chutou a cadeira e Baekhyun se levantou em seguida.
-FICA. -Chanyeol apontou para o chão, olhando diretamente nos olhos de Baekhyun. As sobrancelhas erguidas e a mandíbula tensa. Não disse mais nada, além de seguir em direção a ponta da mesa, onde Nam Joon o encarava. Taehyung se sentou, com medo das reações de Chanyeol. E ninguém, absolutamente ninguém que conhecia o Chanyeol de antes, o cabeça quente, tentou impedi-lo de fazer aquilo. Nem mesmo Jin, o companheiro de Nam Joon, tentou fazer alguma coisa.
Chanyeol se aproximou de Nam. E ele se levantou, o encarando, o desafiando.
Não deveria ter feito isso, realmente. Talvez fosse sua estratégia, vendo a falta de controle de Chanyeol.
O mais alto agarrou o colarinho de Namjoon e o puxou para perto. Cara a cara, Chanyeol encostou a testa na dele.
-Saia. Agora. Dessa. Cadeira.
Namjoon levantou as palmas, se rendendo. Mas disse não.
-SAIAAAAA! - Chanyeol gritou. Namjoon fechou os olhos, absorvendo o barulho bem perto de seus ouvidos.
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