História O Silêncio Dos Lobos - Você sabe o que fazer

                 Ele não aparece há muito tempo. Será que morreu?

                Luhan sorriu com a hipótese do mago. Mas não o respondeu. Ele continuou a fazer as flexões. E por um momento, ponderou sobre o que o mago havia lhe falado.

                Os músculos tensos começavam a se encorpar e os círculos perfeitos cravados em sua pele se expandiam conforme sua respiração, O macho estava ofegante dos exercícios. Seus olhos incandescentes estavam fixados em uma das câmeras do canto.

                Deve ter pego outro no seu lugar.

                Luhan parou.

                -Não fale uma coisa dessas, mago. –Luhan retrucou, duramente, coberto pelo suor da intensa frequência de exercícios. Sues músculos latejavam, mas todo aquele esforço tinha um propósito e o melhor de tudo, fazia efeito muito rápido. Porém, com a forma muscular ainda mais robusta, Luhan sentia mais fome e tinha que se contentar com as três refeições por dia.

  Ouviu a voz dele próprio, de repente, ecoando pela sua cabeça. -Eu...procuro á minha família.

  Na sala de monitoramento, o técnico de informática deixou a rosquinha coberta de açúcar dentro da caixa do Mc Donalds, Ele apertou F4 no teclado, mudando para a câmera 2. Olhou para o lado, para seu colega que assim como ele, ficava quase vinte e quatro horas por dia naquela sala.

-Ruben? Olhe. –o técnico apontou para a sua própria tela. Ruben encarou a sua. –Ele está surtando outra vez.

-Três vezes em uma mesma semana. –Ruben proferiu, descansando as costas no encosto da cadeira. –Devemos tentar de novo? –ele balançou o telefone de emergências que o Sr. Cavill lhes deu.

O técnico balançou a cabeça, voltando a comer a rosquinha.

-Não. Ele deve ter outra coisa realmente mais importante que esse animal ai.

Ruben suspirou, cruzando os pés em cima da mesa, plugando o fone no mp3 e colocando-os em seguida, nos ouvidos.

Luhan cobria as orelhas com as mãos mesmo que isso não ajudasse em nada.

A sua família morreu por sua causa.

Com um gemido, ele colocou as mãos abertas na cabeça e apertou com tanta força que os braços tremeram.

-E a propósito, criança, meu nome é Mamoa. Jason Mamoa.

O mago, em meio ao cenário tenebroso, com caveiras espalhadas pelo chão, voltou a se manifestar, enquanto as memórias doloridas de Luhan voltavam.

  Não gosta da minha voz? Você sabe como me fazer desaparecer. Você sabe como parar de lembrar.

-Eu queria, eu queria. –Luhan repetia para si mesmo. Seu tom de voz aumentou. A dor em seus tímpanos beirava o insuportável. Luhan cambaleou em desespero, ajoelhando-se no meio de sua cela, apavorado por tudo o que estava em sua cabeça.

Você sabe o que fazer para acabar com tudo isso.

O mago deixou a caveira de olhos vermelhos que segurava nas mãos no chão.

Você sabe o que fazer.

Com sua túnica preta, o mago deu meia volta, caminhando em direção ao céu cor de fogo.

Os gritos de dor pela perda da única parente viva assustaram os próprios cruéis seguidores de Mamoa, que agora ajoelhavam-se diante ao novo líder. Aqueles gritos tremiam a terra.

Aqueles gritos tremiam a cela.

Os dois técnicos betas se entreolharam. As imagens das câmeras ficaram tremidas.

  -David? –Ruben chamou o outro, se aproximando da tela.

  Ruben escutava a doce e voluptosa sinfonia de Vivaldi, as Quatro Estações.

  Luhan continuava gritando e a primeira câmera falhou. O colar em seu pescoço, repleto de espinhos, ficava menor. Seus olhos oscilavam de cores. A voz do mago havia sumido, mas as imagens de suas memórias corriam por sua mente. Anos de sua vida, os acontecimentos que o deixaram ali naquela cela, passarem-se em segundos. Sua cabeça doía e ele se sentia esmagado por uma sensação desesperadora.

  -David? –Ruben o puxou pela camisa. David parecia acordado de um transe, ao olhar para a tela, gritou:

  -LIGUE PARA O CAVILL, AGORA!

Luhan abriu a boca em dor e em um grunhido de dor, olhou para as próprias mãos tremulas. Os pelos cresciam.

  -Não... não! –Luhan disse á si mesmo, tentando interromper o inevitável.

Se a transformação continuasse, Luhan morreria.

Você sabe o que fazer.

A voz do mago havia voltado.

            -CALA A BOCA! –Luhan gritou com ele e se curvou de tanta dor. De quatro apoios, Luhan manteve a cabeça abaixada enquanto controlava sua respiração. – Cale a boca... –repetia á si mesmo. – cale a boca, cale a boca, cale a boca..

            Ruben, depois de duas tentativas, conseguiu contato com uma das secretárias de Henry Cavill. David já tinha contatado os seguranças, que traziam todo o equipamento para apagar Luhan.

            -Senhorita, eu sei que ele deve estar muito ocupado, mas é muito urgente, pode dizer isso á ele? Ah, eu já disse, é o Ruben, Ruben Williams, faço parte da equipe de... de segurança da casa dele... Diga, diga que é sobre.. ah... –Ruben olhou para David. Como explicaria que o escravo sexual, que por acaso era um lobisomem, estava á beira da transformação em um dos esconderijos subterrâneos de Henry? E que eles não faziam a menor ideia do que fariam?

            David pegou o telefone da mão de Ruben.

            -Olha só SENHORITA, SE VOCÊ NÃO PASSAR O TELEFONE AGORA PARA O CAVILL, VOCÊ, EU, E TODOS AO REDOR DELE VÃO MORRER SE ALGUMA COISA ACONTECER COM ESSE CARA. –David gritou. E não foi preciso nem esperar uma resposta da secretária, que transferiu a ligação. David aguardava a cada toque com o coração acelerado. Os olhos encaravam as telas pretas. As pequenas letras nos cantos indicavam que as câmeras tinham sido desligadas.

            -Estamos sem visão, David. Estamos sem visão. –Ruben estava apavorado. 

            As pontas dos sapatos eram de aço e batiam contra o chão de mármore. E quando o telefone tocou, Henry mataria quem estivesse do outro lado.

            -Katherine, você tá despedida. –Cavill disse, apressando o passo, virando a esquina do primeiro andar. Em contra fluxo, ele desceu a rampa enquanto todos corriam para longe daquela ala.

            -Sr. Cavill, aqui é o Ruben Williams. Ah... temos um probleminha.

            Cavill parou. Enfermeiras, agentes e técnicos esbarravam em Henry.

            E de repente, ele se viu em meio ao impasse. 

            Ele desligou a ligação e continuou avançando para o andar inferior.

            -Alô? Jaden?

            -Big Boss? Precisa de nós?

As luzes estavam apagadas e Luhan piorou. Com as mãos, ele tentava quebrar ao meio o colar. Os espinhos se enfiaram seus dedos e o sangue pingava até o chão. Com os gritos distorcidos, Luhan olhou para o teto enquanto escutava a velocidade absurdamente veloz do seu coração.

-Cale a boca. - Luhan disse. A voz, mais grave e animalesca, se dirigia ao mago.

Luhan. Acabe com esse sofrimento.

Luhan rejeitou ser alfa da matilha que tanto odiava e fugiu para a América. 

-CALA A BOCA! -Luhan gritou mais uma vez, apoiando-se em quatro apoios. Encostou a testa suada no chão frio. As mãos chacoalhavam. As unhas rasgavam as pontas dos dedos. Pêlos cresciam. Os dentes aumentavam. O tamanho do corpo crescia. Os espinhos do colar pinicavam seu pescoço e ele tentou mais uma vez usar as mãos para arrancá-lo. Seus olhos ardiam. Suas mãos sangravam sobre os espinhos. 

Acho que amo você, Luhan. 

As palmas se afundaram nos espinhos e Luhan pôs mais pressão. E com o fracasso, Luhan apenas se pôs a rir, porque sabia que não podia interromper a transformação e portanto, morreria com aqueles espinhos no pescoço. Morreria... 

Você sabe como terminar com isso. 

Luhan abriu os braços. O sistema de incêndio foi acionado, de repente, liberando, ao invés de água, uma substância líquida para anestesiá-lo. 

Luhan abriu a mandíbula, mostrando as fileiras de dentes afiados. 

Ele ria. Ele ria dos últimos momentos enquanto a dor avolumava-se. 

Seus olhos pulsavam em vermelho.