História O Silêncio Dos Lobos - Um dia da caça e outro do caçador

As duas bainhas de couro estavam juntas, enlaçadas por um cordão preto. As lágrimas pingavam sobre elas e os dedos que as acariciavam, de repente, pararam. As bainhas foram rapidamente guardadas na gaveta do criado mundo e SeokJin se pôs a limpar as lágrimas de suas bochechas, mas era impossível esconder o rosto vermelho.

            -Jin? –era JHope. E Jin nunca estivera tão feliz por ser ele. Ele fechou a porta e mancou até a cama onde Jin e Nam dormiam. A perna que lhe faltava, fora substituída por uma mecânica. JHope era o único ali que não poderia se transformar, já que não poderia correr com três patas. Ao invés de sentar ao lado de Jin, Jhope sentou-se no chão, com as costas encostadas na cama. Deixou que a perna mecânica ficasse esticada. –Escute-me, sei que não devo me meter, mas... o que exatamente o Nam Joon está fazendo?

            Jin sentiu calafrios ao lembrar, olhou para a porta e sabia que mesmo se falasse bem baixo, os ouvidos apurados poderiam escutar.

            -Podemos... Podemos falar lá fora?

            Algumas noites atrás...

            Seus olhos escuros tinham as pupilas expandidas. Seus braços seguravam as crianças em seu peito. As mochilas tinham sido largadas na corrida. Com as costas grudadas em um tronco de árvore, Soo encarava os olhos.

            -Appa... –Hans proferiu, bem baixinho. Assustados e confusos, eles abraçavam Kyungsoo.

            -Shh, tá tudo bem, querido, está tudo bem. –Kyung repetia consigo mesmo. E seus instintos de caçador o fizeram virar o rosto para a área mais escura da mata. O cheiro era inconfundível. Lobos. Soo largou Hans por um instante, para pegar com a mão direita a Taurus Calibre .380 da cintura.

            -Appa... –Hans o chamou novamente, com a voz tremida.

            -Shh. –Soo podia sentir o cheiro de medo exalando de Hans e Helene. Ele destravou a Taurus. – Hans, se pendure nas minhas costas, está bem? Não solte. –disse Kyung, se abaixando, apoiando-se em um dos joelhos para Hans subir em suas costas. O pequeno pulou e se agarrou ao pescoço de Kyungsoo. –Não me solte. –murmurou Soo mais uma vez. Helene se escondia no peito de Soo, chorando baixinho, depois que Kyung pediu silêncio. – Não chore, princesinha, papai está aqui, ok?

            O lobo se aproximou. E Soo encheu os pulmões de ar. Seus ouvidos capturavam os batimentos cardíacos acelerados das crianças, o dele, e é claro, o do único par de olhos alaranjados que o encarava.

            -Tampe os ouvidos, Helene. Hans, se segure. –Soo se desencostou da árvore e o pôs o dedo no gatilho. A adrenalina foi injetada em suas veias. E ele apertou, sem sequer tirar o dedo do gatilho. Mas, também, se pôs a correr. Segurando bem Helene, Soo disparava para fora da floresta enquanto seu esticado para a direita amortecia o impacto dos tiros simultâneos. O lobo os seguia e Soo sabia que as balas não estavam o atingindo. E isso era ruim.

Longe da mansão e das casinhas onde os lobos resgatados viviam, JHope e Jin caminhavam em direção a mata que os cercava.

            -Nam perdeu o controle. Eu não o reconheço mais. Ficou obcecado pelo poder, Hope. –Jin falou de uma vez, sem rédeas.

            -Por quê? Não... Não consigo entender. - JHope o questionou, mesmo sabendo secretamente a resposta. 

            Jin lembrou-se da pobreza de tempos atrás. De Nam quando não tinha o que comer e onde dormir.Jin parou e respirou profundamente.

            -Ele odeia caçadores. –a voz de Jin ficara embargada. – Eu também devo odiá-los. Mas a única coisa que odeio é ser assim, Hope. –Jin mordeu o lábio inferior.

            Hope engoliu em seco.

            Os olhos dispares brilhavam em meio ás lagrimas.

            -Nam acredita que á uma oportunidade para acabar com eles. Para começar realmente, uma guerra contra os caçadores. –Jin virou o rosto em direção as casinhas. – Ele viu que somos em um grande número e muito mais poderosos do que jamais fomos, já que muitas matilhas estão em um mesmo lugar, agora não mais brigamos entre si, por território ou por motivos fúteis. Estamos ligados por uma única dor. Nam quer aproveitar toda a magoa e fúria que os lobos nutrem pelos caçadores para se rebelar. –ele pôs as mãos para trás.

            Jhope franzia a testa, tentando compreender aquilo.

            -Por que ele tem tanto ódio dos caçadores? Sei que nossa espécie odeia caçadores naturalmente, mas não é comum alguém tão determinado pela extinção dos caçadores bolar um plano assim baseado em ódio natural.

            -É complicado.

            Jhope olhou para Jin, para as lágrimas que desciam até as bochechas.

            -Onde ele está agora?

            -No porão.

            JHope assentiu.

            -Sei.

            -Faz dias que não o vejo. Eu estou cansado de pedir para que ele pare com tudo isso. E também estou cansado de não ser escutado.

            JHope assentiu novamente, diante daquela informação.

            -Eu não sinto ódio pelos caçadores. –Jin revelou. – Pois, naturalmente, o predador pode e deve virar a caça. Éramos predadores no começo. E agora somos a presa. –Jin encarou as copas das árvores, se movimentando por causa do vento de fim de tarde. – Não vamos ser caçados para sempre, esta é a verdade. –Jin encheu os pulmões de ar. – Mas, Nam está tentando fazer de forma incorreta. E... também não está visando o coletivo, entende?

            JHope assentiu, encarando o mesmo lugar que Jin tanto olhava.

            -Temos problemas demais para nos preocuparmos com ele agora. –Jhope disse, mas não era verdade. Ele olhou para Jin, esperando sua reação. – Você não acha?

            -Acho que pequenas feridas não cuidadas, podem infeccionar e eventualmente matar. –Jin disse. JHope fez uma careta.

            -Acha que Nam é a ferida?

            Jin demorou para responder.

            -Acho que... ela já está infeccionada. –Jin olhou para Hope. E Hope o encarou, o calafrio percorreu sua espinha.

            ...Eventualmente matar.