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História O Som da Música - INTERATIVA - Capítulo IX - Onde presas e predadores não brincam


Escrita por: IamSpartacus

Notas do Autor


Salve peregrinos!

Sei que to sumidona, mas vos garanto que é por vários bons motivos!! Eu acabei me inscrevendo para um congresso da minha área e preciso escrever um artigo enquanto isso, além disso fui surpreendida com uma abertura de seleção para o mestrado do nada, então tenho que estudar e preparar um pré projeto para meados de janeiro. Para coroar a minha desgraça vou fazer um concurso público em fevereiro, então já viram como eu to né?!

Aliás se você tá lendo, curtiu e não tem personagem ainda, chega mais e participa! Não tenho mais condição de aceitar músicos, porém preciso de outros profissionais ligados ao ramo da música como produtores, compositores e etc.

Não me esqueci de vocês não, e é por isso que trouxe um capítulo maior que o habitual, espero que gostem e comentem. Não tive tempo de revisar, então relevem erros de português.

Boa leitura.

Capítulo 10 - Capítulo IX - Onde presas e predadores não brincam


Before He Cheats de Carrie Underwood tocou repetidas vezes até os olhos cansados de Abigail encararem o celular. Parte de si ainda estava chateada com Malekai e não queria nem sair do quarto, a outra parte pensava igual. A música parou e ela rolou sobre a cama, inquieta e impaciente. Não é à toa que dizem que são as pessoas mais quietas que possuem as mentes mais barulhentas.

O som da guitarra soou com o do banjo, a atual rainha da música country soltou seu vozeirão e dessa vez Abigail achou melhor atender. A jovem se esticou apanhando o celular com a mão direita e encarou o visor. Não reconhecia o número e por este fato um misto de curiosidade e temor cresceu em seu interior. Ela pensou duas vezes antes de clicar no botão verde e arrastá-lo para uma das laterais da tela. Abigail levou o aparelho até a orelha com certa tensão.

– Alô? – Disse a jovem ruiva levando-se da cama e caminhando até a parede mais próxima afim de ascender a luz do quarto.

– Boa tarde, falo com Abigail MacGregor? – A voz feminina soou bastante convidativa do outro lado da linha, Abi não reconheceu sua dona e, apesar da desconfiança, não se recusou a nada.

– Sim, é ela. – Sentou-se na cama largando as pantufas que ocupavam seus pés.

– Tentamos falar com você a tarde inteira. Tudo bem senhorita MacGregor? – Abi inicialmente pensou que algo poderia ter ocorrido a seu pai e sua mãe, a ideia lhe causava um arrepio tenebroso. Ela quase se odiou por não ter atendido o celular antes.

– Sim, do que se trata esse telefonema? – Foi direto ao ponto, não gostava de enrolação.

– Bom, me chamo Janne Clark, ligo em nome da Monument Records. Nós temos interesse em conversar com você e com seu parceiro, Malekai Brandon Oswald sobre uma oportunidade.

Aquilo era inacreditável. Ela mal podia esperar para esfregar o fato na cara de Kai e mostrar-lhe que não precisa ser mesquinho e egoísta. O reconhecimento vem na hora certa e algumas coisas são mais importantes que o próprio nariz. Abigail calou-se por alguns instantes, precisou digerir aquilo com calma, por mais animada que tivesse sua cabeça pairava no plano das ideias descrito por Platão.

– Então, podemos marcar o encontro para hoje às oito horas? – A mulher prosseguiu vendo o silêncio de Abigail como uma forma de cumprir rapidamente seu trabalho.

– Cla-claro! – Abi estava nervosa, diferente da chance anterior essa acontecia de forma muito repentina. Surgia do nada como um golpe baixo.

– Ótimo, vocês podem nos encontrar no Sound Emporium Recordin Studio? Fica na Belmont Blvd, esquina com a Avenida Clayton. Se possível levem uma demo. Nos vemos lá. – O telefone ficou mudo depois daquilo.

Abigail ainda estava perplexa enquanto processava a situação. Respirou fundo, olhou para os lados. Instantaneamente pensou em Kai. Ele ficaria feliz demais em saber daquilo. Era a janela que se abria quando a porta havia se fechado para eles. Ela encarou o aparelho telefônico novamente e discou rapidamente o número de Malekai. Nem precisava procurar na agenda, sabia o número dele de cabeça, tão fácil quanto saberia soletrar seu próprio nome. Torceu internamente para ele atender. Rezou por isso para ser mais justo, mas nada. Chamou, chamou, chamou e caiu na caixa postal. Ela repetiu o processo mais algumas vezes, deixou cinco mensagens na caixa postal, uma mais desesperada que a outra.

Olhou para o relógio preso na parede acima do televisor. Eram em torno da cinco da tarde. Ela tinha três horas para se preparar, encontrar o lugar, ir e ainda assim não sabia onde ele tinha se enfiado. Um verdadeiro drama desnecessário.

Num apartamento já conhecido por todos nós a luz do quarto se acende. Entre tudo guardado numa das gavetas da cômoda, as mãos ágeis vasculham em busca de um objeto. Em baixo de livros, cadernos e porta CDs um grande álbum de fotos é retirado. Grace observou bem o objeto e toda a carga emocional que ele carregava para ela. Caminhou até a cozinha, passou pela sala e pegou uma garrafa de cerveja da parte de baixo da geladeira. Sentada na cadeira e apoiada na mesa de vidro, ela parecia apreciar um passado longínquo representado por meio de fotografias. Algumas goladas não foram o suficiente para aliviar seus pensamentos, a mente estava tão pesada. Não havia como fugir daquilo, não havia como encontrar conforto no passado. Grace precisava tomar as rédeas da própria vida e isso incluía muitas coisas.

A campainha tocou. Ela espiou através do olho mágico, dessa vez sem uma enxurrada de fotógrafos, repórteres e fofoqueiros, somente ele. É, era difícil de admitir, mas ela devia alguma explicação a ele também. As coisas aconteceram tão rapidamente que faltou diálogo, a simples troca de conversas. Tinha deixado tanta coisa interferir em seu relacionamento que começava a se perguntar se aquilo era somente entre eles dois. De uma maneira muito diferente eles se aceitavam e combinavam, era justo que Gared sentisse medo de perde-la, afinal ele era bem mais velho, fruto de um mundo completamente diferente. Ele era o melhor amigo dela, talvez o único amigo desde que as coisas mudaram completamente.

– Oi Gared... – Não o encarou diretamente, abriu a porta permitindo que o homem de cabelos longos e negros entrassem.

Gared estava bem mais calmo, graças a Deus. Ele parecia disposto a ter uma conversa racional, como um adulto deveria fazer. Dessa vez não estava abusando da maquiagem negra característica dos músicos do seu gênero. Ele estava de rosto limpo, com os fios negros presos num rabo de cavalo e vestindo nada além de uma camisa de manga cumprida preta e um jeans padrão. Grace amava aquilo, ela não tinha algo contra o uso da maquiagem, mas era que se sentia muito mais próxima de Gared quando ele era somente ele, sem armaduras, sem ornamentos, sem nada. Era por isso que o sexo entre eles era tão, era um momento íntimo em que a troca de carícias ia muito além da pura perversão e safadeza. Vinha de uma conexão profunda, um momento que sentia e acreditava com todas as suas forças que aquilo era muito mais que amor e paixão. Grace amava com intensidade e odiava da mesma forma. Porém com Gared era tudo mais profundo, era verdadeiro o suficiente para ela ignorar o fato de ele gastar bem mais com maquiagem do que ela.

– Grace...olha...eu...eu. – Faltavam palavras para ele conseguir dizer um pedido de desculpas decente. Não que não tivesse se arrependido, mas a situação era bem constrangedora.

– Não precisa se desculpar. – Comentou. – Sente-se, precisamos conversar algo muito sério.

Gared não captou o que poderia estar ocorrendo, tinha bastante receio que Grace poderia querer terminar o relacionamento. Em contrapartida ela temia que a notícia da paternidade pudesse animá-lo exageradamente. Ela ainda vivia um embate. Parte de si queria ter a criança, parte acreditava que não era o momento.

Sabia que seria criticada em qualquer uma das suas escolhas. O sul dos Estados Unidos ainda era bastante conservador. Abortar é algo que, mesmo sendo reservado a somente os envolvidos, parece uma espécie de farol que atrai centenas de pessoas e, de repente, todas sentem que podem opinar ou mandar na sua vida. Se tivesse o filho todos ficariam perplexos, diriam que mais uma jovem se perdeu na vida, que ela teria destruído a sua carreira. Se não o tivesse, Grace poderia virar a própria reincarnação de Satanás, diriam que estava assassinando a sangue frio uma criança.

Gared sentou-se no sofá, Grace logo a sua direita. O silêncio tomou aquilo por alguns segundos. Ela escolhia cuidadosamente suas palavras. Ele parecia pronto para ter um ataque cardíaco. Prevendo que seria algo difícil para os dois, Gared deslizou a mão até encontrar a de Grace. Segurou-a fortemente entrelaçando seus dedos. Os olhares se encontraram por uma breve instante e, com aquele humilde gesto, ela se sentiu pronta para liberar a notícia.

– Gared, eu estou grávida.

Pausa dramática. Uma bola de feno poderia atravessar seu apartamento para mostrar o quão, tensa era aquela situação. Os olhos dela refletiam alguma confusão, os dele confusão ao dobro. Gravidez, paternidade, criança. As três palavras ecoaram na cabeça de Gared. Ele rapidamente começou a se imaginar com uma criança. Viu cenas de si mesmo tomando banho de vômito, trocando fraldas, acordando no meio da noite, dormindo nos ensaios, sujando metade da cozinha na tentativa de dar papinha para a criança. Por mais estranho que aquilo possa ter parecido a visão lhe agradou. Quer dizer, quem nunca se imaginou formando uma família feliz? Era meio que uma das fases principais desse jogo chamado vida.

– Isso é fantástico Grace!! Eu te amo e quero... – Ele mal começava a segunda frase quando Grace ergueu o dedo indicador frente a seus lábios pedindo silêncio.

– Eu to pensando em abortar... – As palavras saíram com um pouco de pesar. –Não acho que seja o momento certo para mim, para nós, termos um filho. – Havia também o fato de que aquilo assassinaria sua carreira, mas isso ela preferiu deixar implícito. – Mas acho que não poderia tomar nenhuma decisão definitiva sem falar com você antes, afinal, o filho é nosso. Não cabe só a mim fazer essa decisão.

Diferenças patogênicas e circunstânciais separavam Grace de Cattleya, mas quem dera a facilidade das situações fosse algo comum com elas duas. Diferente da cantora com contrato já assinado Cattleya ainda se contentava em se sentir realizada apenas com os trocados que ganhava nos eventuais momentos que se apresentava no bar onde também trabalhava como garçonete. Muita coisa era diferente entre Cattleya Von der Rousse e Grace Dominik Lanchester, porém eram essas diferenças que as separavam e outras vezes as aproximavam.

No elevador os fones de ouvido tocavam alto Yardbird Suite de Charlie Parker e Miles Davis. Era uma música triste, porém que também carregava uma gama de esperança. O jazz era algo muito apreciado por Cattleya, mesmo sendo francesa, tendo vivido num circo durante parte da vida e se mudando para os Estados Unidos. Jazz em alguns momentos era a única coisa que conseguia acalmar seu coração mesmo nas piores situações, durante uma época de sua vida o Jazz também foi tudo que lhe fez sair da cama.

As portas finalmente se abriram. Seguindo reto pelo corredor, depois da recepção ela já podia ver o médico que salvou Dave conversando com uma dupla de enfermeiros. Naquele momento ela estava calma, um pouco apreensiva, mas a maior parte de si estava calma. O refrão de Yardbird Suite lhe ajudou a afastar qualquer pensamento ruim da cabeça. Prometeu a si mesma que não ia tirar conclusões precipitadas.

– Doutor. – Falou com um tom de voz tímido, preferia esperar do que interromper conversas, porém tinha que trabalhar dentro de uma hora.

– Senhora Scully. – Não o questionou sob a forma de tratamento, apesar de ela e Dave não serem casados sempre gostou do sobrenome dele. Acabava se lembrando a agente Scully de Arquivo X. – Já tenho os laudos e os resultados dos exames do seu marido, mas antes eu preciso lhe perguntar algo. – O jovem doutor folheou os papéis separando alguns até retomar a palavra. – O David tem algum histórico com o uso de narcóticos?

Aquela pergunta era maliciosa e dolorosa. Ela naturalmente reviveu uma sequência de memorias sobre Dave que Cattleya ainda não sabia como lidar. Ela já sabia que ele tinha tido um problema com drogas no passado, algo sério que até o levou a ter pensamentos suicidas. Não sabia dos detalhes ao certo, Dave apenas uma vez tocou no assunto e não foi de forma muito profunda. Quando eles se conheceram ele costumava fumar usar êxtase antes dos shows ou toda vez que ia naquele inferno de bar onde costumava se apresentar. Uma das condições para o namoro deles era que ele parasse de usar aquilo, e desde então ela acreditava que ele estava limpo, até agora.

– Senhora? – Indagou o médico enquanto a encarava.

– Desculpe. – Ela se recuperou rápido, sacudiu a cabeça e prosseguiu. – Ele me disse que teve alguns problemas com drogas na adolescência, mas parou quando nos conhecemos. – Foi a melhor resposta que ela conseguiu dar.

Um dos laudos foram exibidos para Cattleya. O jovem doutor provava que eficiência e sabedoria não vinham apenas com a idade. Ele apontou alguns índices altos nos exames de David que sugeriam o uso de alguma substância alucinógena. Alguns segundos depois da explicação ele concluiu que, muito provavelmente, David teria misturado algumas garrafas de álcool com altas doses de LSD. Seu corpo obviamente não aguentou e, para piorar, no meio disso tudo ele deveria ter se envolvido em alguma briga de rua a julgar pelos ferimentos espalhados por seu corpo.

– Nós já o livramos do perigo, mas é de praxe dizer que, com usuários de drogas ou alcóolicos, a pior parte é sempre a recuperação. – Tudo fora dito de forma bem clara e séria. – Precisamos que ele fique por mais algum tempo para monitorarmos sua recuperação, porém ele já não precisa mais estar sob supervisão de vinte e quatro horas. Vamos movê-lo para centro de recuperação e acompanhar sua melhoras. – O homem retirou um pequeno folheto retângular do bolso e o exibiu para Cattleya. – Felizmente nosso hospital conta com um abrigo e acompanhamento psicológico para usuários de drogas e encontros do AA. Tudo sem custo, se você puder convencê-lo já podemos encaminhar as coisas.

Catt ficou em silêncio por um breve momento. Ela já tinha visto o que drogas e bebidas podiam fazer com uma pessoa. Roubar sua vitalidade, sua vontade de viver. Ela não queria passar por aquilo de novo. Não queria e nem ia.

O silêncio dela foi interpretado, pelo médico, como dúvida ou preocupação. A notícia a devia ter impactado, afinal era comum esse choque quando a verdade é revelada. Ele não forçou qualquer tipo de interação, apenas entregou o folheto de antes a ela e avisou que, se ela desejasse, ainda restavam uns vinte minutos do horário de visitas e Dave já estava acordado, na real, acordado e reclamando que a comida do hospital não tinha muito tempero e era sem sal. Ele partiu.

Cattleya ficou pouco mais de cinco minutos encarando a porta. Reuniu um punhado de coragem e entrou. Os olhares dos dois se encontraram instantaneamente.Dave estava deitado com a coberta até a sua cintura. Uma máquina monitorava sua atividade cardíaca enquanto soro era injetado diretamente na sua veia.

Um enfermeiro negro que parecia mouro entrou apenas para recolher a bandeja e o prato da janta. Ele teve a boa vontade de avisar que restavam apenas pouco mais de dez minutos do tempo de visitas. Cattleya forçou um sorriso em agradecimento enquanto Dave manteve o silêncio e desviou o olhar abaixando a cabeça. Novamente silêncio. Silêncio fazia um barulho ensurdecedor.

– Você não tem nada a dizer? – Indagou ela.

– Você não vai começar a chorar vai? – Brincou sem notar que não era um bom momento para brincadeiras.

– Não é hora para piadas David. – O fato dela o ter chamado pelo nome e não pelo apelido já sugeria que aquilo era sério. A dose de seriedade que ele evitaria com todas as forças se pudesse.

– Catt eu...eu juro que não é o que parece. – Tentou se livrar da culpa.

– E o que parece? – Encarou-o não furiosa, mas decepcionada.

– Eu... – As palavras lhe faltaram, ele ficou mudo. Ali Cattleya observava o quanto ele estava pálido com olhos avermelhados e olheiras nítidas.

– David, eu não vou passar por isso de novo. Se quiser voltar para esse mundo vá, mas não me arraste junto com você. Eu não vou conseguir suportar isso.

Dave engoliu a seco, pena que a tensão não desceu por sua garganta igual a saliva. O som do relógio na parede e o bip frequente da máquina tornaram-se tão altos quanto a nota mais alta que a Christina Aguillera poderia alcançar. Ele sabia que tinha ferrado tudo, mesmo tendo feito o que fez com a melhor das intenções. Parecia que as piores coisas eram feitas com as melhores intenções.

Ela se aproximou e projetou o corpo na direção do dele. Não houve contato se não por algo gelado que ela depositou em sua mão direita. Ele não sabia o motivo, mas aquilo parecia uma despedida. Seria golpe baixo se ela o abandonasse agora? Ou era apenas a coisa mais sábia a se fazer?

– Se cuida. – Sussurrou Cattleya enquanto uma lágrima teimosa escorreu de seus olhos e caiu no lençol. Mais algumas repetiram o trajeto.

Ela saiu pela porta sem nem olhar para trás. Dave tinha congelado tentando negar a ideia de que tudo tinha terminado ali. Podia jurar que aquilo seria para sempre, podia jurar que eles iam dividir uma casa, uma vida e algumas crianças. Só então ele olhou para a sua mão, onde ela havia entregado um cordão que ele tinha dado de presente a ela pouco depois de firmarem compromisso. Aquilo doeu, mais do que todos os socos e pontapés que já levou até então. Doeu mais do que na vez que cortou os pulsos e pediu para morte levá-lo. O amor machucava, muito.

Garrafa de uísque no chão, alguns maços de cigarro ao lado. Malekai não fazia ideia de onde estava. Para falar a verdade talvez ele nem fizesse ideia de qual era seu nome. Desde que saiu do hotel brigado com Abigail a bebida foi a sua melhor alternativa. Ele não maneirou, afinal quanto mais bebia mais vontade sentia de fazê-lo. Agora estava completamente perdido e a única coisa que conseguia pensar era como a voz da Beyoncé era enjoada.

Em algum lugar tocava Crazy In Love muito alto, ou era apenas o alcool que tinha lhe dado uma super audição. Como não tinha nada melhor para fazer Malekai foi cambaleando e tropeçando em tudo e todos na sua frente até finalmente chegar ao foco do som.

O curioso é que mesmo bêbado ele era Nashville. A cidade poderia ser famosa pela música e tudo mais, mas ninguém falava que o transporte público era uma desgraça e que você ia encontrar mais bêbados na rua do que telefones públicos ou Starbucks. Indignações a parte ele chegou no local onde Beyoncé parecia estar se esgoelando. Era um bar de letreiro vibrante e corea chamativas. O nome Candy Kitchen parecia mais o de um sexyshop do que o de um bar, mas ele não contestou. Como tinha uma garrafa vazia e algum dinheiro na carteira, entrou sem cerimônias.

Malekai ficou um pouco chocado ao notar que tinha entrado num bar gay. Ele nunca teve problemas com isso, estava muito tranquilo uma vez que entendeu que podia dormir tanto com homens quanto mulheres, mas nunca tinha frequentado um local exclusivamente LGBT na vida.

Logo que percebeu já estava envolvido na pista de dança que fazia um mix agitado de Rihanna e Justin Bieber em remix. Não demorou para Malekai pouco se importar com qualquer coisa e começar a dançar entre dois outros rapazes, um pouco mais velhos que conseguiam ser tão lindos mesmo tendo a barba falha e vestindo camisa polo.

Em meio ao ritmo agitado Kai entrelaçou seus braços em volta do pescoço do moreno a sua frente. Não tardou para que o sujeito nas costas percebesse que estava sobrando naquela diversão. Ele saiu deixando os dois sozinho, que dançavam e se beijavam ao ritmo da música.

Malekai foi ao banheiro quando a pressão em sua bexiga era forte demais para segurar. Tudo rodava em sua volta, de repente ele sentiu algo vibrar no bolso. Retirou o celular e teve alguma dificuldade de enxergar exatamente o que estava escrito. Devia ter um milhão de chamadas perdidas, todas da Abigail, mas tudo o que ele conseguia fazer era balbuciar coisas sem sentido. Desligou o aparelho e lavar o rosto na pia do banheiro.

O moreno de antes entrou abrindo um largo sorriso quando encontrou. Eles voltaram a trocar carícias e transaram dentro do banheiro enquanto lá fora tocava alguma música lenta e depressiva da Lana Del Rey. Nenhum dos dois reclamou, pelo contrário, ambos estavam sem fôlego algum quando a segunda música acabou. Malekai subia as calças enquanto o outro homem o observa de braços cruzados com um sorriso de canto.

– Miles, prazer. – Ele estava de pé ao lado de uma cabine onde, outrora, eles dividiram mais do que apenas saliva. – Você, como se chama? – Perguntou.

Para Malekai a resposta daquilo era completamente irrelevante. Tinha feito sexo, tinha sido ótimo, não era como se fossem casar. Claro que, não iria fazer aquela desfeita, ainda mais tendo provado do melhor sexo que tinha feito nos últimos dois anos. A cabeça latejou um pouco, antes que pudesse responder ele jogou um pouco mais de água no rosto e molhou a nuca na tentativa de algum alívio.

– Malekai. – Falou num tom seco e ríspido enquanto massageava as têmporas.

– Quer voltar lá para dentro? – Quando Miles falou ele já tinha se aproximado novamente. Ele havia enquadrado Malekai contra a parede e começado a distribuir uma sequência de beijos ao longo de seu pescoço.

As novas tentativas fizeram Kai revirar os olhos. Aquilo bastou para que ele ficasse novamente excitado. Assim que os beijos cessaram ele puxou o cabelo de Miles obrigando-o a erguer o queixo. Ele mordeu seu queixo e o beijou com agressividade, ao fim mordiscou e puxou o lábio inferior do outro. No meio da performance deixou a mão escorregar por dentro da calça do moreno apalpando-o com propriedade e masturbando-o. Quando finalmente seus estímulos deram resultado o sorriso safado cresceu no rosto de Kai.

– Prefiro terminar isso num lugar mais reservado. – Sussurrou.

Nos instantes seguintes eles dois já estavam dentro de um taxi. O motorista era um cubano careca que arregalou os olhos quando viu os dois homens praticamente caindo no banco detrás aos amassos. O endereço precisou ser percebido umas três vezes até que o cubano entendesse aonde deveria ir. Talvez ele achasse engraçado como o rapaz fransino iria aguentar o moreno alto e forte. Claro que ele não fez perguntas. Para Malekai e Miles a noite seria longa, e animada.

A alguns quarteirões dali Abigail estava um pouco nervosa sentada no primeiro banco depois da roleta dentro daquele ônibus. Ela não questionou a sorte, assim que saiu do hotel o ônibus havia parado no ponto, curiosamente era o ônibus que o google maps apontara que ela devia pegar para seguir até seu destino. Em sua pequena bolsa, feita de tricô, com desenhos de montanhas e silhuetas de lhamas, provavelmente comprada de algum imigrante chileno, ela carregava poucas coisas. Celular, chaves, carteiras, meia barra de chocolate e um pequeno caderno que usava para escrever músicas e poemas.

O coração de Abigail palpitava dentro de seu peito dada a sua animação com aquela oportunidade. As mãos trêmulas seguravam algumas folhas soltas de algumas músicas que ela tinha composto, mas que ela e Malekai ainda não tinha discutido sobre a harmonia. Sem ele ali, ao seu lado, ela não sabia o que cantar. Por sorte tinha um CD demo que eles tinham gravado, eram apenas quatro músicas das quais uma era original e as outras eram covers da The Band Perry ou da Little Big Town.

– Moça, é aqui! – Comentou o motorista do ônibus, um senhor muito simpático, barrigudo e dono de um farto bigode.

Abigail desceu as preças um tanto quanto atrapalhada deixando alguns papéis voarem. Não fazia mal, conseguia compor letras com bastante facilidade, sua preocupação era conseguir falar com Lai e ir bem naquela entrevista, afinal aquilo era uma entrevista de emprego.

Abigail caminhou temerosa até o estúdio. Observou atenta a arquitetura exterior cuja maior parte da construção era feita com concreto armado. Abriu a porta de vidro e seguiu até o Hall. Ali dentro tudo era lindo, desde a sala de espera decorada com diversos discos de vinil de cantores country, fotos de artistas e personalidade que já haviam passado por ali e todo o visual clean e moderno. Ela identificou um homem acima do peso com a tatuagem de um diabo no pescoço e se aproximou, se identificando.

De fato ela era aguardada. Ela guardaria aquele momento eternamente principalmente por até o homem que lhe atendera falar para ela se acalmar. Claro que não tinha como, com Kai era mais fácil, porém sozinha era como se toda a pressão do mundo caísse sobre seus ombros.

De uma porta anexa ao Hall uma mulher loira com cabelos até os quadris saiu. Ela vestia uma saia preta até os joelhos, salto alto e blazer abotoado até a altura dos seios fartos. Abigail a reconheceu de algum lugar, só depois de pensar um pouco juntou a imagem com o nome. Ela era Janne Clark, CEO da Monument Records, uma das mais renomadas gravadoras country da atualidade. Recordou que tinha visto tal mulher numa das capas da revista Forbes de alguma edição do ano passado. A pressão só aumentara.

– Senhores esta é Abigail MacGregor. – A voz da mulher era potente, ela sabia como se importa até mesmo em algo tão rotineiro quanto uma apresentação. – Abigail estes são meus amigos da Monument Records. Mike Murray, nosso principal produtor e diretor criativo e Craig MacDowell, nosso compositor mais antigo e também diretor de marketing. – Mike era jovem para a função, ele sem dúvida tinha menos de trinta anos e parecia do tipo metrosexual que levava até o corte das sobrancelhas a sério. Craig era do tipo de quarentão que ainda faz as meninas suspirarem, tinha ótimo porte, barba baixa e cabelo completamente cortado na máquina, na mesma altura da barba até.

Abigail os cumprimentou engolindo toda a sua timidez, felizmente eles foram formais o suficiente para só apertarem sua mão. Ela sentou-se ao lado de Janne e logo a loira tomou a palavra novamente.

– Ficou feliz que tenha vindo Abigail, ainda mais feliz por conseguir roubar você do Jeff Fordham. – Era o homem que ela e Kai iriam encontrar quando eles se depararam com Dave no beco. – Mas então, nos diga um pouco sobre você.

– Sou do Arizona... – Craig comemorou, provavelmente também era de lá. – Estou no ramo da música, profissionalmente falando fazem uns 2 anos. Eu e o Kai rodávamos pelo Sul tocando em bares e festivais. Todos sabemos como é difícil viver de música sendo um artista pequeno então, fomos vivendo dia após dia, sabendo que uma hora iamos conseguir ter a nossa oportunidade.

– Por mim já está contratada só por ser do Arizona. – Comentou Craig iniciando as risadas. – Brincadeiras a parte, você se encaixa no perfil de artista que procuramos Abigail. Queremos algo jovem, novo, energético. Uma pena seu amigo não poder vir.

– Se os senhores puderem esperar mais um pouco tenho certeza que ele vai aparecer. – Abigail até tentou amenizar, os homens pareciam interessados, mas o tempo não estava a favor dela.

– Infelizmente Abigail, sempre tem trabalho na Monument Records esperando por nós, mas se você tiver interesse em tentar tocar sozinha, acho que todos nós teríamos interesse. – Janne Clarke era completamente polida e profissional, aquela mulher era um exemplo e mesmo sem saber já havia salvado o pescoço de Abigail.

Uma grande dúvida pairou sobre a cabeça da menina agora. Ela não estaria traindo Kai fazendo aquilo? Logo ele que tanto a ajudou e batalhou ao lado dela? Tudo bem que ele tinha sido um escroto, mas eles já tinham perdido uma baita oportunidade antes. Por um lado, ela havia tentado de todas as maneiras entrar em contato com ele depois que discutiram, mas tudo sem sucesso. Ela tinha uma boa oportunidade à sua frente, com sorte tinha algumas músicas de autoria própria prontas para apresentar se decidisse fazer aquilo, mas ainda não sabia se poderia deixá-lo para trás.

Abigail não iria mentir para si mesma. Estava cansada de tocar em bares para bêbados e ainda aguentar suas cantadas nojentas. Estava um pouco desgastada de nunca terem dinheiro além do contado para comer, algumar um quarto e seguir viagem. Ela procurava estabilidade, queria poder provar para os mais que a música seria o seu sustento e muito bem. Não precisava de luxo, mas precisava de garantias de que não iria precisar arrumar um bico só para inteirar nos trocados do cache e assim poder pegar um ônibus para a próxima cidade. A dúvida maiores permeava sua cabeça. O que fazer?

 


Notas Finais


Bom foi isso.
Mas calma que eu tenho muita coisa para conversar com vocês.

Primeiro: A continuação deste capítulo dependerá de vocês, então como acham que a Abigail deve proceder? Ela deve negar e perder esta oportunidade para não conseguir algo sem o Malekai? Ou ela deve ir com tudo e lutar por essa chance?

Segundo: Não teve cantoria nesse capítulo, porém deixei a sugestão de duas ótimas músicas (o toque do celular da Abigail e a que a Cattleya estava ouvindo nos fones). Sugiro que quem tá curtindo ouça as duas músicas, a da Carrie Underwood então é poderosíssima. Prometo que no próximo capítulo haverá pelo menos 2 apresentações!

Terceiro: Como podem ver minha vida tá corrida, então se possível, nos comentários mandem o nome de que cantor vocês acham que possa ser a voz do personagem de vocês. Caso já tenham me mandado, mandem de novo, eu só tenho as vozes anotadas aqui do Seth, Trixie, Abigail e Grace. Os outros não me mandaram ou eu perdi, minha culpa, eu sei, mas me deem uma forcinha aí.

Quarto: O que acharam do capítulo? Tentei colocar algo mais dinâmico, até porque os personagens não estarão juntos a todo o momento então precisei narrar cada um na sua vidinha. Esse capítulo teve mais foco na Grace, Abigail e Malekai, mas é um rodízio mesmo, não dá pra focar em todo mundo igualmente em todos os capítulos.

Críticas, sugestões, mandem brasa ae. Prometo que escrevo o próximo capítulo o quanto antes.

Como diria o menino Neymar: "É tois!"


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