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História O som do teu amor - Capítulo Dois


Escrita por: jiejie

Notas do Autor


hey hey~
eu voltei mais cedo doq esperava com esse cap, mas, bem... eu gosto mt dessa au
como eu disse a tristeza é concentrada mais no primeiro cap masss aqui ainda tem umas leve coisinhas aqui e ali entao estao avisados visse?

Capítulo 2 - Capítulo Dois


Jiang Cheng perdeu o medo de altura depois que descobriu que não precisava mais se preocupar com quedas.

Era por isso que Wei Wuxian geralmente o encontrava no parapeito do prédio em que moravam, um pé na frente do outro, equilibrando-se na beirada sem medo algum. E ele sempre tinha um acesso, o agarrava pela cintura e puxava pra longe do perigo. Jiang Cheng nunca conseguiu dizer a ele e a Yanli porque sempre se arriscava dessa forma — e no fundo sabia que mesmo que contasse, eles provavelmente não iriam acreditar. Os dois se preocupavam, entretanto. Tentavam conversar com ele, fazê-lo falar sobre as coisas que o incomodavam ou até mesmo tentavam enchê-lo de comida para preencher o vazio que suas bochechas estavam abrindo. Jiang Cheng nunca amou tanto duas pessoas como amava eles, por isso optou por ficar quieto. Mesmo se eles acreditassem, o que poderiam fazer além de ficarem extremamente preocupados consigo?

Ele era um cara que flutuava e não queria se humilhar em ironia e ser um fardo para os dois. Isso seria mais pesado do que as suas roupas no inverno.

Houve um tempo, entretanto, que ele desejou ter alguém pra se preocupar por ele mesmo que em excesso, mesmo que isso fosse o deixar com a sensação de ser alguém fraco por alguns minutinhos — até porque Jiang Cheng se achava alguém fraco e, sinceramente, realizar isso não machucava mais, portanto ele só queria se permitir tirar os cacos de vidro da pele e ganhar um abraço sem cortar ninguém. Só que sempre que pensava isso, Jiang Cheng acaba realizando o quão irreal soava; ele já tinha atingido um ponto de seu humor que tudo que saía da sua boca soava como uma ameaça, uma provocação, e as pessoas nunca o aguentavam por muito tempo. Ele ficava surpreso que Wei Ying conseguia, ainda mais morando consigo. Yanli nunca diria nada, ela sempre fora a mais gentil pelos dois.

Quando Lan Xichen se aproximou de si com uma proposta para conhecê-lo melhor, Jiang Cheng fraquejou momentaneamente em pensar que talvez ele não estivesse tão perdido.

Se eu cair, você me segura?

Só que era um costume seu alimentar pensamentos ruins, então ele o fez — por uma semana inteira enquanto trocava mensagens sem sentido com o mais velho, pensando, pensando… Até que realizou que, realmente, não tinha chance.

Ele dava a Lan Xichen menos de duas horas. Se o cara durasse isso, era realmente um anjo. Jiang Wanyin se encontrou com ele no centro já esperando ser deixado em pouco tempo. E, honestamente, estava tudo bem. Criar expectativas nunca foi seu forte, de qualquer forma.

“Woah, a neve está tão grossa…” o mais velho resmungou, encarando o céu.

Jiang Cheng assoprou, o ar gelado se materializando através de fumaça. Ajeitou melhor o cachecol na frente do rosto, encarando o homem ao seu lado; Lan Xichen agora tinha os olhos em si e parecia inquieto novamente. As orelhas dele estavam ridiculamente vermelhas, o que era engraçado levando em conta que ele mal parecia preocupado com isso, atento unicamente a Jiang Cheng; ah, sempre tão preocupado, Lan Xichen… Não era à toa que todo mundo gostava dele. 

“Tudo bem mesmo?”

“Eu já não disse que não tem problema? Você é muito ansioso.” resmungou Jiang Cheng, fitando o mais velho com uma expressão beirando a irritação.

Xichen suspirou de forma cansada, assentindo “Eu não tinha ideia que ia nevar hoje, me desculpe mesmo. Você não parece gostar de frio.”

Era verdade que Jiang Cheng absolutamente odiava o frio, mas esse sentimento negativo não tinha nada ligado realmente a estação em si — ao fato de nevar e afins. Ele não gostava apenas porque seu corpo, como o de qualquer outro ser humano, não aguentava temperaturas muito elevadas sem proteção extra, portanto mais roupas eram necessárias e isso acabava adicionando ainda mais no peso cotidiano que carregava pra lá e pra cá. Já era um saco sentir-se completamente exausto todo dia e ter que lidar com suas roupas comuns puxando-o para baixo como correntes, no frio então ele queria simplesmente morrer; e era com muita infelicidade que dizia que estava tudo bem para Lan Xichen, porque tudo que ele queria era estar em casa assistindo TV na sala apenas de cueca.

À essa altura do campeonato Jiang Cheng não sabia mais porque ficava atendendo as graças de Lan Xichen. A desculpa de sentir pena dele por ambos não terem suas almas gêmeas já fora ridícula pra começo de conversa, então agora, depois de ter aceitado ajudá-lo com algo que Xichen certamente não precisava e por fim ainda ter concordado em sair com ele, ela parecia simplesmente uma promessa que fez a si mesmo para poder agir. Ao menos Yanli e Wei Wuxian tinham ficado felizes ao ouvirem que ele ia sair com alguém. “Alguém, A-Cheng?” sua irmã repetiu, sorrindo. É, ele mal conseguiu fingir que Lan Xichen podia ser um amigo ou algo do tipo, porque ele certamente não era — e levando em conta o quanto Jiang Cheng era bom pra manter relacionamentos, não conseguiria ser. Ao menos eles não fizeram muitas mais perguntas.

“Está tudo bem” suspirou, cansado. Xichen já tinha dito a mesma coisa sete vezes agora, o fato dele sentir muito não mudava o fato que já estava nevando e o mais novo realmente queria que esses lamentos parassem “Eu vou conseguir sobreviver, você se preocupa demais.”

Xichen assentiu, puxando-o pela manga do sobretudo até a cafeteria ali perto. O combinado era ir numa exposição de arte, mas como ambos acabaram chegando mais cedo do que o esperado ainda tinham alguns minutos para matar antes de ir na galeria. 

“Vamos tomar algo quente primeiro, eu não consigo te ver andando por aí com essa expressão de quem vai matar alguém e não fazer absolutamente nada.” resmungou.

Jiang Cheng pensou em xingá-lo por causa da insistência, mas Lan Xichen parecia realmente preocupado, portanto deixou-se ser guiado por ele até a cafeteria sem reclamar muito mais. Tentou não notar naquele momento, mas sempre acabava vendo o fio dele quando encarava a mão que o puxava. Podre. Igual o seu. Entendia não ter esperanças quanto a uma alma gêmea, se considerava uma pessoa horrível na maior parte do tempo e pensar no amor o deixava enjoado, mas Xichen realmente não merecia isso. Ele podia esconder algo terrível ou algo do tipo, mas ao menos fingia, ao menos tentava mostrar-se ser bom e ajudar. Jiang Cheng estava na maior parte do tempo desejando que os outros não o notassem, que não jogassem seus problemas em si e que secretamente o odiassem — era fácil lidar com pessoas que não se importam consigo. 

Talvez por isso que Lan Xichen o deixasse tão irritado; porque ele parecia se importar. 

“Ah, bem melhor.” ele sorriu ao entrarem no café, o ar quente os dando boas-vindas.

E Jiang Cheng não queria acreditar que ele realmente se importava porque, no fim, ninguém iria permanecer ao seu lado se descobrissem sobre a maldição. 

“Eu vou fazer nossos pedidos. O que você quer?” 

“Um capuccino.” murmurou, vendo o outro assentir e ir até o caixa.

Assim que retirou o sobretudo, Jiang Cheng sentiu-se imediatamente melhor, mais leve. Suspirou, escolhendo uma mesa qualquer para eles se sentarem. O lugar não estava muito cheio, mas certamente tinha seu movimento. Por causa da neve, eles provavelmente não eram os únicos a se esconderem ali. Jiang Cheng claramente desprezava lugares muito movimentados, mas com o passar dos anos aprendeu a ignorar a existência dos milhares fios vermelhos pendurados por todo lado. O único problema era que, às vezes, por estar acostumado demais com eles como plano de fundo, acabava andando distraído e ao ver pelo canto dos olhos um fio estendido na sua frente achava que ele era físico e tentava pulá-lo ou desviar — e como as pessoas em volta não o enxergavam também, ele acabava passando por um maluco.

Enquanto aguardava Lan Xichen voltar com as bebidas, tirou seu celular do bolso e checou o horário: 18h34m. Quase se parabenizou internamente — estava há trinta minutos fora de casa, quase vinte na companhia de uma pessoa que não tinha nenhum laço sanguíneo consigo. E Xichen ainda não tinha estourado também, o que talvez devesse contar como algo positivo. Tudo bem que Jiang Cheng não tinha dito porcaria nenhuma até então, contudo as pessoas normalmente ficavam irritadas consigo bem rapidamente; sua expressão não era uma das mais gentis. Assim que finalizou esse pensamento, entretanto, o homem fez uma careta desgostosa. Afinal, por que isso importava? Era Lan Xichen que insistiu nos dois saírem, ele que deveria lidar com as próprias insatisfações!

“Aqui.” ele voltou sorrindo, deixando um copo quentinho de café na mesa “Pedi com chocolate extra, eu sei que você gosta de doces.”

Jiang Cheng absolutamente não ficou sem jeito com isso, obrigado.

“Eu não gosto de doces.” resmungou, levando o copo à boca.

Xichen o fitou de forma engraçada, sentando-se em frente ao mais novo.

“Você devora com os olhos todas as minhas sobremesas na sala” cruzou as pernas, sustentando uma expressão vitoriosa ao ver Jiang Cheng quase engasgar no café.

“Você vê coisas.” sussurrou, as bochechas adoravelmente avermelhadas.

Algo que definitivamente não combinava com a imagem que Jiang Cheng tinha criado para si era o fato dele absolutamente amar todo e qualquer tipo de doce. Não sabia exatamente qual era sua coisa com açúcar, mas sempre ficava incrivelmente feliz comendo — e sempre invejava todo mundo que passava na sua frente deliciando coisas que ele não podia, era um invejoso de carteirinha. Também não conseguiu deixar de ficar surpreso com o fato de Lan Xichen ter percebido isso, mas, se pensasse melhor, ele até que se lembrava de uma vez que o mais velho o ofereceu um pedaço de brownie. No dia estava chovendo e Jiang Cheng teve que vestir uma capa e segurar o guarda-chuva a caminho da faculdade, o que deixou seu humor péssimo e o fez respondê-lo bem mais grosseiramente que o normal; ele sabia que era impossível, mas às vezes tinha medo de sair voando quando usava guarda-chuvas. Nesses dias, mesmo com as dores, sempre vestia roupas extras.

“Você age como se tudo que fosse adorável não pudesse ser associado com você.” Xichen disse como se pudesse ler sua mente, suspirando.

“Bom, nós dois temos que concordar que não existem muitas coisas adoráveis sobre mim.” resmungou.

Xichen franziu o cenho, parecendo confuso. Jiang Cheng o encarou com tédio.

“Fala sério.” murmurou, incrédulo.

“Eu posso fazer uma lista, se você quiser.” ele desafiou, não parecendo nem um pouco abalado com seu olhar pouco amigável “E ela é bem, beeeeeeem longa…”

“Lan Xichen, a bolinha de sol entre nós dois e você. A coisa mais adorável que eu consigo encontrar em mim no momento é você agindo como meu chaveiro.” Jiang Wanyin suspirou, enfezado.

O mais velho o fitou um pouco chocado pelas palavras, mas logo começou a rir, levando a mão a boca para controlar o volume. Jiang Cheng o fitou com choque, completamente estupefato pela reação repentina. Ele provavelmente não realizou o quão engraçado soou suas palavras, ainda mais nesse tom de voz tão rabugento. Talvez Xichen fosse masoquista — haviam muitas coisas em Wanyin que ele achava adorável e o jeito dele tão irritado de falar era uma delas. Claro, isso quando ele não estivesse com aquela expressão de quem não aguentava sequer respirar e já queria matar alguém. Nesses dias Lan Xichen o achava um grande idoso muito, mas muito, velho que não conseguia ler a bula do remédio e ficava irritado o resto do dia por ter que pedir ajuda.

Era verdade que, vendo por esse lado, talvez não levasse a comum raiva de Jiang Wanyin muito a sério. E isso poderia ser visto como mal educado também, contudo Xichen não se importava. Tinha quase certeza que a forma dele de reagir às coisas tinha motivo, afinal ninguém simplesmente escolhe viver dessa forma. Os ombros e mandíbula dele estavam sempre tensos, as mãos fechadas em punho, os olhos caminhando de pessoa em pessoa, incertos, nervosos; era óbvio que ele estava sempre desconfortável perto de multidões, contudo às vezes Lan Xichen o via observando de longe e jurava ter a sensação que se não tivesse tão preso a algo, Jiang Wanyin provavelmente a qualquer momento poderia se juntar a um grupo e começar a conversar com facilidade. 

O que você esconde?

“Você é muito esquisito.” resmungou Jiang Wanyin, ainda o fitando com extrema confusão.

“E você é muito engraçado.” Lan xichen riu mais um pouco, limpando os olhos.

“Você deve ser mesmo muito masoquista…” suspirou, fazendo movimentos de negação com a cabeça “Quem gosta de ser chamado de chaveiro?”

“É o seu jeito de falar, Jiang Wanyin. Você diz as coisas de um jeito engraçado.”

“Eu estou sempre irritado.”

“Sim, como uma uva passa desgastada.” Xichen comentou como quem não quer dizer muito, inocentemente bebericando seu café.

Jiang Wanyin o deu o olhar de incredulidade mais vazio do mundo inteiro e isso foi o suficiente para fazer Lan Xichen rir novamente. Percebeu na troca de mensagens que eles tiveram durante a semana que o mais novo adorava usar seu vocabulário extenso de palavras ruins para tentar assustá-lo, mas no fim não realmente queria dizer metade delas. Ah, e se você o provocasse o suficiente, ele provavelmente ficaria muito irritado, mas não de raiva ou com ódio suficiente para socar alguém, mas irritado de vergonha — e pelo o que percebeu, Jiang Wanyin odeia sentir vergonha. Xichen tinha certeza que essa resposta emocional meio raivosa dele a elogios, provocações amigáveis e afins tinha relação com sua vontade de evitar mostrar-se muito frágil em frente aos outros, contudo era bom ver que ele era humano no fundo de tantas camadas de xingamentos e sobrancelhas franzidas.

Eu não faria isso por ninguém.

Lan Xichen duvidava muito disso agora, mas Jiang Wanyin nunca iria admitir que salvaria qualquer um que estivesse perigo bem embaixo do seu nariz. Isso acabaria com a imagem que ele construiu tanto para os outros, como para si. 

“Ah, eu queria te perguntar…” ignorou a expressão ainda meio em choque do outro, iniciando outro assunto “O cachorro na sua foto de perfil, ele é seu?”

O mais novo bufou, mas acabou assentindo.

“É Jasmine.” resmungou, também bebendo seu café.

“Jasmine? Como a princesa?”

“Sim, eu treinei ela especificamente para passar com um tapete em cima das pessoas.” comentou, sorrindo de forma ácida “Claro que não, Lan Xichen, é um nome bonito. Só isso” Xichen rolou os olhos com a resposta, mas acabou sorrindo minimamente com a menção de sua cadelinha.

“Ela é linda.” disse de forma amena, fitando Wanyin nos olhos “Você parece gostar muito de animais.”

Ele assentiu, parecendo mais calmo de repente. Xichen também havia notado que desde que eles entraram no café, Jiang Wanyin parecia menos mau humorado. O frio realmente era algo que o outro não parecia suportar.

“É mais fácil amar animais do que humanos. Quer dizer… Você não pode simplesmente odiar animais de cara.”

“Bom, tecnicamente você também não pode simplesmente odiar humanos de cara.” retrucou, confuso.

Jiang Cheng sorriu de lado, meio arteiro, mas ainda muito charmoso como sempre “Você me conhece melhor que isso. Eu tenho a incrível capacidade de odiar muitas coisas sem precisar conhecê-las de verdade.”

Xichen estreitou os olhos, fitando-o com tédio.

“Você se acha muito malvado…” resmungou.

“Você que tem muita fé nas pessoas.” rebateu, ainda sustentando aquele sorrisinho cheio de superioridade.

O Lan sentiu um arrepio estranho pelo o que ele dissera, mas não disse mais nada sobre o assunto. Jiang Wanyin, tão maduro como era, balançou feliz na cadeira por ter ganhado esse argumento idiota. Bom, pelo menos ele parecia bem mais confortável em sua presença agora — o que era bom, porque Xichen honestamente nunca o viu agir tão livremente perto de ninguém desde que eles começaram a ter a mesma matéria juntos. As respostas ácidas e olhares severos ainda estavam ali, mas talvez ter conversado com ele por mensagens tenha tornado tudo aquilo bem mais fácil para os dois. Claro que ainda ficava um pouco chateado com a forma do mais novo de falar, contudo percebeu bastante cedo que simplesmente não era acostumado com uma pessoa tão sincera. Todos os seus amigos tomavam cuidado com as palavras porque Xichen em si procurava evitar magoar, mas Jiang Wanyin…

Jiang Wanyin era literalmente o que antecede a tempestade e Lan Xichen sempre amou a chuva; por causa disso, talvez, sempre ficasse esperando por algo na companhia dele, aguardando a primeira gota de água, o começo do caos. Ele não sabia explicar, mas mesmo os olhares mais severos dele não pareciam ruins quando colocava em perspectiva tudo que observou no comportamento do outro — a hesitação, a incerteza, as palavras auto depreciativas, a raiva interior. Queria poder ouvi-lo falar sobre seus problemas e então massagear o constante franzir de sobrancelhas dele, afastando a expressão irritada para longe. Queria ver o homem tão bonito sorrindo e o fazendo como se realmente estivesse feliz. Xichen não era uma pessoa de desejar muito, em fato ele era realmente bem humilde em todas as suas vontades, contudo a brecha necessária para se aproximar de Wanyin aconteceu e ele de repente se viu mergulhado de cabeça naquele caos.

E não ajudava que ele era terrivelmente bonito — e que Lan Xichen sempre o tenha achado atraente. 

“Você está viajando de novo.” murmurou o mais novo, a cabeça maneada o fitando com curiosidade “Eu sei que minha presença não é lá essas coisas, mas você poderia ao menos fingir…”

“Não é isso.” Lan Huan se apressou para explicar, suspirando. Jiang Wanyin não podia ficar um segundo sem se odiar? “Eu só estava pensando no que você disse.”

“Sobre você confiar demais nas pessoas?” arqueou uma sobrancelha.

O mais velho fez uma careta.

“Não necessariamente sobre isso…” resmungou, meio irritado.

Bom, era verdade que ele realmente confiava demais nas pessoas, mas se elas acabavam tirando proveito de si, a culpa não era dele por ser bonzinho, eram delas por serem aproveitadoras! Apesar de que, pensando por um lado, isso realmente poderia se tornar um problema caso…

“É bom saber que existe gente como você.” Jiang Wanyin murmurou, fitando a rua pela vitrine, um ar pensativo de repente o rodeando “Faz parecer que esse mundo não é tão podre o quanto parece…”

Xichen o observou em silêncio, curioso. Jiang Wanyin certamente não fazia o tipo esperançoso, tampouco preocupado; se o mundo explodisse, ele provavelmente não iria ligar. Vendo-o naquele momento, entretanto, Xichen se perguntou se por acaso isso não era apenas uma impressão que a imagem fria dele causava — se, assim como os outros, ele também não tinha sucumbido a julgar totalmente uma pessoa pela forma que ela se comporta e dar sua visão egoísta como um fato. Era verdade que teoricamente ele não era praticamente nada diferente das outras pessoas que observavam Wanyin de longe e cochichavam sobre ele, contudo gostava de pensar que enxergava nele algo que os outros não conseguia ver, um lado diferente, algo sensível. Naquele momento, entretanto, sentiu-se levemente incomodado consigo mesmo; será que ele estava mentindo para a própria consciência para se sentir melhor?

Lan Xichen não queria sentir que estava usando a aproximação de Jiang Wanyin como uma desculpa pela própria culpa, por não ter insistido em fazer amizade com ele apenas para logo depois ter sua vida salva e ficar em uma dívida impagável. No fundo sabia que não era realmente isso, afinal, apesar dos pesares, ainda era um homem covarde demais mesmo para tomar tal tipo de iniciativa ainda que pelo peso nos ombros, entretanto…

“Ei, Lan Xichen” o outro resmungou, fitando-o com uma expressão indecifrável “Pare de pensar demais sobre o que eu digo.”

“Huh?” murmurou, confuso.

Jiang Wanyin fez uma careta, logo suspirando.

“Pessoas como eu gostam de dizer muita coisa a fim de machucar. Pode ser intencional ou não. Não pense demais no que eu digo, não vai fazer bem pra você.”

“É intencional?” sussurrou, fitando-o ansioso “Quando é comigo, digo…”

Ele o observou por alguns segundos sem expressar muito, mas logo sorriu de lado. Não soube se era porque o sorriso tinha menos cinismo que o normal, contudo Lan Xichen rapidamente sentiu as orelhas esquentarem pela forma que ele o olhou após abrir esse sorriso atípico. 

“Se você se preocupar demais com o que eu penso e faço, eu vou começar a achar que você realmente se importa.”

“M-Mas eu…” Lan Xichen começou a dizer, mas Jiang Wanyin se levantou.

“Vamos logo, já está quase na hora.” o mais novo resmungou, colocando seu sobretudo.

Quando finalmente conseguiu alcançá-lo, Jiang Wanyin já estava na porta da cafeteria respirando ligeiramente rápido como se tivesse feito um grande esforço para chegar até aquele local. Ele não realmente correu da mesa dos dois até ali, então Lan Xichen franziu o cenho, fitando-o confuso. Não que isso tenha adiantado de nada, porque o mais novo simplesmente ignorou sua expressão e começou a andar em direção à galeria. Sem opção além de segui-lo, Xichen se ocupou em observá-lo em silêncio caso qualquer coisa acontecesse. A parte boa era que a galeria não ficava muito longe da onde estavam, portanto não iriam ter que ficar muito tempo naquele tempo frio. Ainda sim, se pegou levando a mão até o cachecol de Jiang Wanyin, que tinha soltado-se ligeiramente quando eles estavam confortavelmente aproveitando do calor na cafeteria. 

O movimento fez o menor parar, fitando-o um pouco em choque. Xichen ignorou as próprias mãos trêmulas e ajeitou a peça no pescoço dele, subindo-a um pouco mais apenas para cobrir os lábios do outro. Jiang Wanyin emanava um calor confortável o suficiente para fazê-lo querer adentrar os dedos na lã fofinha e ficar por ali, contudo não podia tomar uma decisão precipitada como essa, movido pela atração inegável que sentia ou apenas pela necessidade estranha que agora sentia de querer estar perto dele — do jeito que conhecia o outro, iria levar um soco sem ter sequer a chance de sair correndo antes. Além do que, se fosse sincero, isso seria bem mal educado. Seu tio sempre enfatizou o quanto ele deveria respeitar o espaço das pessoas e não agir pelos próprios desejos, portanto, antes de realmente tocá-lo, ainda que por um breve momento tivesse desejado segurar Wanyin e beijá-lo, iria pedir permissão antes.

Lan Xichen de repente corou com o pensamento. Honestamente, ele sentia-se um idiota na maior parte do tempo quando estava com Jiang Wanyin. Aquela relação que estava criando com o outro era a coisa mais bizarra que já tinha visto na sua vida toda — primeiro não conseguia se aproximar mesmo que quisesse, então foi salvo por ele e de repente… De repente tocá-lo naquele momento tenso o fez perceber que aquilo provavelmente era o que mais quis o ano todo. Tocar Jiang Wanyin, sentir os braços dele, perguntar coisas triviais, conhecê-lo melhor, ouvi-lo reclamar de idiotices, ouvi-lo num geral. Esses pensamentos não só o deixavam envergonhado, mas também ligeiramente confuso. Lan Xichen, apesar de toda a positividade e personalidade carismática, não acreditava muito nessa coisa de amor ou se apaixonar perdidamente por alguém. Claro que no momento era só uma atração, mas sempre que lembrava-se do outro ficava pensando sobre.

Enfim, ele ainda achava que o amor era uma armadilha, isso ainda não tinha mudado.

“Obrigado.” Jiang Wanyin resmungou, fitando-o de forma esquisita.

Só não sabia dizer até quando esse tipo de opinião ficaria apenas no “ainda” enquanto andava ao lado dele.

***

Para sua surpresa, Jiang Wanyin parecia adorar arte. Ele tinha um olhar bastante crítico para as coisas, pontuando observações que Lan Xichen honestamente não notaria se não fosse por ele. A exposição correu bem, ainda mais pelo lugar não estar tão cheio, permitindo-os caminhar por todo o lugar sem problemas. Além disso, o aquecedor ligado também era agradável, deixando a neve cada vez mais longe deles. Apesar disso, Xichen notou que Jiang Wanyin ainda parecia levemente cansado. 

“Eu posso segurar seu sobretudo para você.” ofereceu, estendendo a mão.

Jiang Wanyin franziu o cenho.

“Sabe, entre nós dois, não sou eu que precisa ficar sendo paparicado assim…” resmungou, fazendo birra, como o esperado.

Lan Xichen estendeu a mão, uma expressão de tédio adornando seu belo rosto “Eu não vou oferecer de novo.” 

“Que seja.” murmurou, entregando o sobretudo ainda que a contragosto. Por ser de material mais grosso, ele certamente era mais pesado. Ainda sim, isso não explicava o cansaço anormal… Talvez Jiang Wanyin estivesse doente?

“Você se importa se eu checar sua temperatura?” murmurou, fitando-o com seriedade.

Nem mesmo Jiang Wanyin conseguiu retrucar de imediato ao ver a expressão do mais velho, mas, sendo quem era, ele eventualmente respondeu amável como sempre.

“Que porra… Por que isso de repente?” resmungou.

“Posso?” estendeu a mão, esperando a confirmação.

“Você é insistente e esquisito, não vou me estressar tanto com isso…” murmurou, assentindo.

Xichen ainda sim hesitou por um momento antes de tocá-lo, a mão formigando pelo contato ainda que ele fosse inocente em todos os sentidos. Sabia que conceder esse desejo seu era algo grande para o mais novo, que nunca deixava ninguém se aproximar, portanto permitiu descansar a palma da mão contra a testa dele sem tentar pensar demais sobre, o calor confortável de Wanyin se espalhando pela região junto do arrepio sutil que subiu sua espinha ao tocá-lo. Bom, ele não parecia febril. Na realidade, a temperatura dele estava normal como antes. Então por quê? Não era difícil notar que ele estava ficando sem fôlego rapidamente, ainda mais agora que estavam andando sem parar. Talvez fosse algum tipo de virose que não demonstrava febre inicialmente? Não, Xichen tinha certeza que era justamente pela febre que eles descobriam tais vírus.

“Ei, você viaja demais.” resmungou Wanyin, afastando-se ligeiramente “Pra que isso de repente?”

“Ah, você parece um pouco sem fôlego.” explicou, segurando o sobretudo dele com as duas mãos “Eu pensei que estivesse doente.”

Jiang Wanyin novamente o fitou com aquela expressão indecifrável, logo suspirando “Está tudo bem, não precisa se preocupar comigo.” abriu um sorrisinho, fitando Xichen de forma maliciosa “Bem que você poderia comentar sobre minha falta de fôlego em outro sentido, huh. Não são pra isso que encontros servem? Ainda mais em um museu, que alternativo...” provocou, certamente tentando fazê-lo esquecer do assunto.

Xichen inicialmente teve um choque ao ouvir isso, sentindo até mesmo as orelhas esquentarem, mas logo se recompôs. Ele tinha sido provocado a semana toda, claro que não iria ficar quieto agora! Podia ser péssimo em qualquer coisa relacionada a flerte, mas sabia que qualquer resposta iria deixá-lo em choque porque Jiang Wanyin simplesmente não esperava as pessoas revidarem o que dizia.

“É verdade que me disseram pra não ficarem tocando nas obras de arte,” sem pensar muito, Xichen o pressionou contra a parede próxima, sorrindo de lado arteiro. Se Lan Qiren soubesse do que tinha acabado de fazer, Xichen passaria um ano sendo reprimido “mas alguém precisa colocá-las na parede, não é? Ainda mais uma como você...”

Valia muito a pena ter dito o que disse pela expressão completamente chocada de Jiang Wanyin. E, pra ser honesto, ele ficava realmente muito fofo com o rosto corado, olhos ligeiramente arregalados e boca entreaberta. Tão fofo que se Xichen chegasse um pouco mais perto, ele…

“Essa foi a pior cantada que eu já ouvi na minha vida!” Jiang Wanyin resmungou, empurrando-o para longe com o rosto fervendo.

“Huh, mas você pareceu ficar bem mexido…” Xichen não ignorou as mãos trêmulas dele "Eu não flerto muito, mas você sempre está tentando.. Qual o mal de revidar?"

“Flertar? Com você? Lan Xichen, você é a pessoa mais convencida que eu já conheci na minha vida toda!” ele passou a andar, indo para longe com passos duros. Se fosse possível, estaria saindo fumaça das orelhas dele de tão frustrado que estava.

"Apesar de dizer isso, você sempre acaba me elogiando de forma ou outra..." seguiu ele, fazendo uma expressão inocente.

"Ah, faça-me o favor!" o mais novo resmungou, ainda que, realmente, ele sabia que não podia negar essa parte. 

Xichen o seguiu com um sorriso, feliz por ter arrancado essa reação do mais novo.

“Quer dizer que até alguém como você, que sempre tem todas as respostas na língua afiada, fica sem jeito, hm…” não conseguiu deixar de provocar, rindo sutilmente ao ver Wanyin fitá-lo com irritação.

“Você é terrível, sabia? Terrível. Minha presença claramente torna sua personalidade em algo perigoso, criaturinha irritante.” murmurou, ajeitando o cabelo.

Lan Xichen, contudo, apenas riu novamente, negando.

“Eu acho que é justamente o contrário, Jiang Wanyin. É na sua presença que eu me sinto livre assim pra brincar.” admitiu, não deixando de notar a forma que o mais novo pareceu ligeiramente aliviado ao ouvir isso, os ombros relaxando.

“Que seja.” disse apenas, continuando a andar na frente.

Não conseguindo controlar o sorriso de felicidade, Lan Xichen apenas se permitiu a andar atrás dele para não deixá-lo ainda mais irritado. Era verdade que ele não esperava que os dois fossem conseguir ficar sem brigar por muito tempo, mas ver Jiang Wanyin tão sem jeito e ainda sim relaxado perto de si o dava a esperança que eles tinham realmente uma chance.



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