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História O teste 3 - Primeiro eliminado


Escrita por: Lehh-Ama-AlanWalker

Capítulo 16 - Primeiro eliminado


Baixo os olhos para nossas mãos dadas e depois os levo até Taehyung, enquanto tento memorizar tudo sobre este momento. Passamos pelo Teste juntos. Para vencermos agora, temos de nos separar.

 — Você está pronta? — Jackson sussurra. 

Engulo em seco e, depois de mais um instante, eu me obrigo a soltar a mão de Taehyung. 

— Mantenha seu rádio próximo. Deixe uma mensagem se tiver problema ou se terminar uma das tarefas.

 Taehyung e Jihyo concordam com a cabeça e viram as bikes para o norte. Observo-os seguindo pelo quarteirão, enquanto aperto o botão de chamada no Comunicador pra avisar Namjoon de que estamos dando início à nossa parte. Quando os dois pedalam para a esquerda e somem de vista, viro minha bike e vou na direção oposta, tentando não pensar no que poderia acontecer a Taehyung. 

Jackson vai à frente. Conforme as sombras se alongam, ziguezagueamos ao redor de buracos, viramos para oeste e continuamos pedalando. Avisto os símbolos brancos na porta de um flutuador a distância. O veículo pertence a um oficial da segurança. Ele não diminui a velocidade, nem se vira em nossa direção. Seja qual for a distração proporcionada por Kwangmin, é o suficiente para manter o flutuador seguindo na direção oeste. 

Jackson continua em marcha acelerada. Avistamos outro flutuador da segurança a distância e diminuímos a velocidade. Ele também passa sem incidente. Eu me pergunto se Namjoon ainda estará na base rebelde e se Taehyung e Jihyo evitaram as patrulhas, quando Jackson vira na próxima rua. Esta é cheia de casas grandes, pintadas em tons claros de azul ou cinza, com ornamentos brancos que se destacam luminosos até mesmo sob a luz mortiça. Cada construção está situada em uma área gramada, que apresenta um saudável tom verde. As árvores aqui são jovens, mas crescem em perfeitas condições. Mais abaixo no quarteirão, crianças correm pela grama, brincando de pega-pega. Alguém grita para que fiquem próximas à casa.

 Uma porta se abre em uma das casas azuis. Jackson acena para a mulher idosa, que sai pela porta da frente até a varanda, depois olha pra mim quando a senhora acena de volta.

 — Aquela é a senhora Haglund. Não está de óculos, então, o mais provável é que não tenha a menor ideia de quem eu seja. Mesmo que tenha, ela ouve mal. Duvido que tenha alguma noção sobre o que está se passando em Tosu, ou que os oficiais da segurança estejam à nossa procura. A casa dos meus pais é por aqui. 

Viramos em outro quarteirão. Aqui, as casas são ainda maiores do que aquelas pelas quais acabamos de passar, e são bem mais afastadas umas das outras, cada uma é cercada de gramado e árvores por todos os lados. Jackson para ao chegarmos à terceira casa. Desce da bike e começa a subir com ela por um caminho largo que acompanha a construção azul, destacada pelos grandes pilares brancos que emolduram a porta de entrada. Caminha com os ombros retos. Seu passo não é apressado. É como se ele pertencesse ao lugar, e suponho que pertença. Tento imitar seu comportamento, enquanto apoiamos as bikes na parede dos fundos. 

— Meu pai sempre está no escritório a esta hora da noite. 

— E sua mãe? — pergunto. 

— Depois que todos nos formamos, meu pai decidiu que eles não precisavam mais usar energia depois das horas determinadas que o resto da cidade obedece. Então, depois do jantar ela vai pra casa de uma amiga, e não volta pra cá até bem depois das nove. Só eles dois vivem aqui. Devemos ter tempo de fazer o que precisa ser feito.

 Jackson dá uma olhada no relógio. Sete e vinte. Dez minutos até a hora programada pra próxima explosão. Checo o rádio de pulso. Nenhuma mensagem. Será que Taehyung e Jihyo estão parados agora na porta dos fundos da casa da professora Chen? Será que Taehyung  está virando o trinco e entrando na cozinha, como nós? Jackson fecha a porta atrás de mim e tira sua arma da sacola. Ligo o gravador e o entrego a ele. Fazendo um gesto de assentimento, ele o enfia no bolso, e espera até que eu apanhe minha arma, antes de continuarmos. Sigo-o pela cozinha até um corredor escuro que dá numa grande área de estar. 

Cada passo que damos ecoa na minha cabeça. Presto atenção em sons que digam que o pai de Jackson está em casa, mas, além da nossa respiração e dos golpes do meu coração, não ouço nada. Jackson me leva por outro corredor escuro. Não liga a lanterna, ao se mover com segurança até uma porta fechada, sob a qual brilha uma réstia de luz. Ouço o farfalhar de papéis e ignoro a tensão dos meus músculos, enquanto penso na estratégia discutida por mim e Jackson. Ao chegarmos à porta, Raffe toca no meu braço. Tateio a parede, procurando a porta que ele disse que ficava logo em frente ao escritório do pai. 

Ali. Acho a maçaneta, giro-a e entro em um banheirinho. Deixo a porta aberta, pra ficar pronta pra agir se for necessário, e espero Jackson dar o próximo passo. Minha respiração se acelera, ao ouvir um trinco se mover, o estalido de uma porta se abrindo, e Jackson dizer: 

— Oi, pai. 

— Jackson. — Na voz grave, ouço surpresa e alívio. — Verna disse... bom, agora não tem importância. Vou ligar pra ela e contar que você está aqui, e não solto por aí, provocando problemas com aqueles estudantes das colônias.

 — Que tipo de problemas? — Jackson pergunta. 

— Não importa. O que importa é que você esteja aqui e que Verna e Jedidiah verão por si mesmos que você não está envolvido nessa bagunça. Claro, você deveria ter mais juízo, e não deixar o campus quando está proibido de fazer isso. Sua irresponsabilidade fez com que as pessoas questionassem sua lealdade. Você faz ideia de como isso se reflete em mim?

 — Sei onde está minha lealdade. 

— Seja como for, Jackson, você não pode achar que a minha reputação te protegerá das consequências dos seus atos. Não vou interferir em qualquer que seja o castigo que o doutor Barnes exija por esta visita.

 — Eu não esperava que você interferisse. Afinal de contas, você não ajudou a Emilie. Por que eu acharia que você me ajudaria? 

— Sua irmã tinha de fazer o exame sozinha. Não havia nada que eu pudesse fazer pra ajudá-la a passar. 

— Você sabia que ela não ia passar, e mesmo assim deixou que ela fizesse o teste. 

— As regras... 

— O doutor Barnes estava disposto a quebrar as regras pra que a Emilie não fizesse o exame de admissão, porque ele sabia o que nós todos sabíamos, que a Emilie não só não queria frequentar a universidade, como não tinha nada a ver com aquilo. Eu ouvi quando ele propôs. Você recusou. Onde está a Emilie agora, papai? 

A pergunta fica suspensa no ar. Quando o oficial Wang responde, soa menos confiante, mais alerta.

 — Você sabe onde sua irmã está. Ela foi designada pra um trabalho na Colônia Cinco Lagos. 

Ouço Jackson rir. O som está destituído de humor e faz meu sangue gelar. 

— Você está ciente de que dois dos estudantes com os quais você tinha medo que eu tivesse deixado o campus são de Cinco Lagos? Até serem selecionados para o Teste, eles nunca tinham conhecido ninguém de Tosu City. 

— Eles estavam enganados. 

— Não, não estavam. O doutor Barnes deu a chance pra você retirar a Emilie, porque estava preocupado que não conseguisse viver sabendo quais seriam as consequências, caso ela fracassasse. Quais são essas consequências?

 Ouço o barulho de uma cadeira raspando o chão. Um grande impacto. Passos arrastados e vidro quebrado. Saio pro corredor, mas não me movo em direção ao escritório — ainda não. Jackson me disse que gritaria por socorro se precisasse, caso contrário, eu não deveria entrar. Seu pai nunca falaria sobre o Redirecionamento dos candidatos do Teste e dos candidatos fracassados da universidade comigo por perto. A parede estremece quando algo pesado é atirado contra ela. Então, tudo fica em silêncio.

 Pela porta aberta, posso ver uma poltrona tombada e a ponta de uma mesa. Prendo a respiração e ouço. Nada. Dou um passo a mais, e ouço Jackson perguntar numa voz baixa e zangada: 

— O que aconteceu com a Emilie? Onde ela está? 

— Está num trabalho importante pra ajudar a revitalizar este país. — A voz do pai de Jackson treme em desafio, mas ouço um medo subjacente. Quero ver o que provocou o terror, mas não quero interferir. Não quando Jackson está tão perto. 

— Onde? E os outros candidatos do Teste também estão lá? 

— Não interessa onde ela está. O que importa é que o doutor Barnes permitiu que esses estudantes contribuíssem para a nossa sociedade de uma maneira significativa. Eles não eram fortes o suficiente pra ser líderes, mas ainda assim são capazes de ajudar nossos principais cientistas a entender as piores degenerações infligidas a nosso mundo e nossa raça. É por causa dela e de outros estudantes que pudemos avançar tanto na reversão de algumas das menores mutações humanas. 

— Emilie não é cientista. Não está trabalhando em algum laboratório secreto, fazendo experiências que consertarão tudo que foi causado pela guerra. 

— Claro que ela não está fazendo experiências. 

Meu peito fica apertado ao entender o que o pai de Jackson está dizendo.

 — Então, o que ela... — A voz de Jackson se perde. Terá ele chegado à mesma conclusão terrível a que eu cheguei? Se os candidatos que fracassaram no Teste e na universidade não estão encarregados dos experimentos, a única coisa que resta a eles é fazer parte delas. — Vocês estão fazendo experiências com eles? 

— Nossos melhores cientistas estão usando as reservas disponíveis para reparar o pior dos danos químicos e biológicos causados pelos Sete Estágios da Guerra. — Reservas. A palavra me faz estremecer, assim como a convicção na voz do oficial Wang, que vai se tornando mais forte a cada sílaba. — Qualquer um que tenha visto a pior das mutações entende por que alocamos algumas das nossas mais promissoras reservas para esse projeto. Com o passar dos anos, aprendemos que indivíduos que conseguem articular as mudanças que eles sofrem são mais úteis do que os que não têm conceito...

 O estopim de uma bala me faz dar um pulo. Eu me encosto contra a parede quando ecoam mais quatro detonações na casa. Depois que os tiros cessam, corro para a entrada iluminada. Com a arma levantada, preparo-me pra atirar. No entanto, paro ao cruzar a soleira e ver Jackson em pé no meio do quarto, olhando para a figura esticada no tapete cinza trabalhado. Jackson não se mexe, enquanto atravesso o cômodo e me ajoelho ao lado do homem que tem o olhar fixo no teto. Eu deveria sentir horror pelo que Jackson fez. Bem de perto, posso ver a semelhança. O mesmo cabelo espesso, a mesma linha quadrada do maxilar e das maçãs do rosto. Contudo, não há nada além de uma sensação de simpatia, enquanto checo seu pulso e confirmo o que soube assim que vi o buraco sangrento no meio da sua testa. Exatamente como a presidente pediu, o oficial  Wang está morto. 

— Eu não queria matá-lo — diz Jackson  com uma voz apática, os olhos fixos no homem de cujo sangue ele compartilha. — Queria acreditar que meu pai não era uma parte tão integrante disso quanto o doutor Barnes e o resto, mas estava enganado. Ele é, e não merecia viver. 

A arma treme na mão de Jackson. Sob a luz acolhedora, seu rosto parece pálido. Cansado. A mesma expressão que tenho certeza de que eu tinha quando minha faca entrou no peito de D.O. Kwangmin me disse uma vez que a decisão de matar é fácil, mas que viver com ela é difícil. Agora, entendo melhor essas palavras do que na época, razão pela qual me levanto lentamente e estendo a mão. 

— Por que você não me entrega a arma, Jackson? 

— Não vou atirar em você, Jennie. — Sua atenção não se desloca do rosto lívido deitado aos meus pés. — Eu não machucaria você. 

Não é comigo que estou preocupada. 

— Eu sei. — Mantenho a voz baixa e relaxante, da maneira que costumava fazer quando segurava um dos filhotes que meu pai ajudava a trazer ao mundo. — Me dê a arma, Jackson. Só por alguns minutos. Você deveria ir até a cozinha e tomar um pouco de água. Isso vai ajudar.

 Vai? Não sei. Se não servir pra nada, fará com que saia do cômodo. Jackson pode odiar seu pai agora, mas, pelo modo como falou, sei que já sentiu amor e admiração por ele. Logo, essas emoções vão se revelar dentro dele, e, quando isso acontecer, não sei o que fará.

 Dou mais um passo para a frente e abro seus dedos para que a arma caia na minha mão. Quando Jackson não percebe meu gesto, deixo de lado a simpatia e a tristeza. É, ele precisa ficar de luto. Precisa aceitar o que fez, mas não agora. Um relógio grande na parede me diz que a segunda explosão de Kwangmin  deveria ter detonado há quinze minutos. Qualquer que seja a proteção que essas explosões nos proporcionaram, ela logo vai terminar. Os oficiais devem ter percebido que as estamos usando como distração e ampliado a área de busca. Raffe conseguiu obter grande parte da informação que precisávamos com seu pai. Se não tivesse atirado, poderíamos ter conseguido mais. Gostaria de ter imaginado o que Jackson  faria ao ouvir a verdade. Se tivesse...

 Afasto os lamentos. Se sobrevivermos a isto, haverá tempo suficiente pra lidar com eles, mas, agora, precisamos partir para a segunda parte da nossa missão — o doutor Barnes. E como conheço apenas vagamente a região onde ele mora, não posso chegar lá sozinha. Sintome insensível por pensar em outra coisa além de Jackson neste momento, mas não dá pra evitar. 

Tiro o gravador do bolso da jaqueta de Jackson, aperto o Off e digo: 

— Fizemos o possível aqui. Precisamos ir.

 Minhas palavras são frias. Duras. A cabeça de Jackson vira-se na minha direção. Seus olhos brilham de choque e lágrimas. Por um instante, tenho medo de não conseguir fazê-lo se mexer; de ter de deixá-lo pra trás e prosseguir sozinha. Seus olhos se fecham. Sua mandíbula se contrai e, quando abre os olhos e assente, as lágrimas se foram. 

— Você tem razão. — Ele dá as costas para o corpo do pai e se encaminha para a porta. — Vamos.

 Jackson não olha pra trás, mas eu sim. Ponho as armas que seguro no bolso lateral da minha sacola, e analiso brevemente o homem no chão. O oficial Wang ajudou a moldar, revitalizar e educar este país. O que ele explicou a Jackson é terrível, mas ele deve ter feito coisas boas ao longo do percurso pra conquistar a posição que ocupava. A paixão de Raffe e sua dedicação à sua irmã são provas de que nem tudo que ele fez foi ruim. Só por isso, ele merece ser lembrado.

 Encontro Jackson lavando as mãos na cozinha. Ele me oferece um copo de água e tomo um gole. Depois, tiro o rádio da sacola. 

A luz de mensagem está acesa. A voz de Kwangmin nos conta que completou sua parte e está voltando pra casa. O resto é com a gente. Não posso evitar a pontada de decepção que sinto porque a mensagem não é de Taehyung. Dizendo a mim mesma que prender a professora Chen e obter informações dela será mais complicado para Jihyo e Taehyung do que foi para Jackson, gravo uma resposta pra Kwangmin, avisando-o de que terminamos nossa primeira parada e estamos nos encaminhando para a segunda. Depois, repito a mensagem na frequência de Taehyung, acrescentando um pedido para que seu time nos contate logo dizendo sua situação. Preciso ouvir sua voz.

 Depois de devolver meu rádio na sacola, encontro a arma de Raffe e a entrego de volta pra ele. 

— Se você não puder lidar com a próxima parte, preciso saber.

 Ele abre a sacola, tira a caixa de munição e carrega as culatras vazias. Depois de fechar o tambor com um estalo, corre a mão pelo cano da arma, e sacode a cabeça: 

— Tenho de terminar o que comecei. 

Eu também. 

O sol se pôs. As casas à nossa volta estão silenciosas, enquanto rodamos nossas bicicletas até a rua e montamos. A neblina no céu dificulta ver a Lua esta noite. A falta de luz é boa pra se locomover sem ser visto, mas tenho de me esforçar pra não perder Jackson de vista, enquanto pedalamos pelas ruas em direção à universidade. O doutor Barnes mora em uma casa próxima ao campus. Vamos procurá-lo lá. Como é noite, há uma boa chance de que o encontremos em companhia da família. Só de pensar no que poderíamos ser obrigados a fazer se todos estiverem em casa, quase basta pra me fazer parar de pedalar. O que me mantém seguindo em frente é pensar no meu irmão, em Lisa e em todos aqueles que morreram no Teste. 

Enquanto seguimos, tento dar uma olhada no rosto de Jackson, para ter uma ideia do que ele está pensando ou sentindo. Após a morte de Momo, Taehyung ficou calado, recolhido. Naquela época, pensei que a causa da sua depressão fosse apenas cansaço ou desilusão com o mundo à volta. Agora que sei o que aconteceu na minha ausência, percebo que era porque Taehyung  estava às voltas com sua consciência. Se eu não estivesse com ele, duvido que tivesse prosseguido com o quarto teste. Tirar uma vida, especialmente uma que ele conhecia e com a qual se importava, foi destruindo sua vontade de zelar pela sua própria, até que seu único propósito era me ajudar a chegar a salvo no final. A necessidade de Jackson de encontrar a irmã deverá mantê-lo focado no nosso avanço pelas próximas horas. Depois disso, sabe-se lá o que acontecerá. Talvez, se Emilie ainda estiver viva, Jackson encontre uma motivação em trazê-la pra casa e ajudá-la a se recuperar do que quer que tenha sofrido.

 Jackson dobra à esquerda. Sigo-o, embora perceba que ele está muito mais à frente do que estava antes. Apesar do que aconteceu, o aumento de velocidade deixa claro que ele não perdeu a determinação. A princípio, esse pensamento me encoraja. Depois, percebo que não foi Jackson quem mudou a velocidade, fui eu. 

Estive tão preocupada com o seu estado de espírito, que não percebi o peso que parece ter me pressionado a cada volta dos pedais. No final da ida até a casa de Jackson estava a morte. Sempre houve a possibilidade de que eu viria em socorro de Jackson, caso ele precisasse de mim, mas não foi necessário. Este percurso é diferente. Apesar de ter as mãos manchadas de sangue, nunca antes me propus a cometer assassinato. Esta noite, estou fazendo exatamente isso. 

Jackson para tão repentinamente que tenho de virar o guidão pra não bater nele.

 — Olhe — ele diz. 

Forço a vista na escuridão, tentando enxergar o que ele vê. 

Flutuadores. 

No final do quarteirão, vindo em nossa direção, com os faróis apagados. A falta de luz é tanto ilegal quanto perigosa. Nenhum desses fatores parece afligir quem pilota os veículos. 

— Por aqui — cochicha Jackson, e me tira da via pavimentada, levando-me pra cima da grama. Dou umas olhadas pra trás, tentando ver se os pilotos dos flutuadores nos notaram, mas é difícil dizer em uma noite tão escura. Para Jackson, deve existir uma chance de termos sido detectados, porque não faz menção de parar, enquanto pedalamos por entre duas árvores altas, a trinta metros da rua. O fato de pedalar num terreno mais acidentado faz com que diminua a velocidade o suficiente para que eu o acompanhe.

 — Por aqui. 

Jackson se precipita para detrás da casa à nossa direita, e para. Levando um dedo aos lábios, espia a rua pelo canto, pra ver se estamos sendo perseguidos. Prendo a respiração. Passa-se um minuto. Dois. Então, ouço o barulho de motores aproximando-se, mas pelo som não consigo saber se estão saindo da rua ou percorrendo sua extensão. Finalmente, vejo uma sombra mais escura do que o resto movendo-se lentamente pela rua em direção a leste. É pequena. Do mesmo tamanho dos flutuadores que usamos durante nossa Iniciação, embora eu tenha certeza de que este é mais rápido e está em melhores condições. Surge um segundo flutuador. Jackson aponta um terceiro. A aparente falta de urgência sugere que eles estejam realizando um patrulhamento de rotina. Três patrulhas em um único lugar parece demais para um dia comum, mas não fico surpresa de vê-las reunidas aqui, uma vez que estamos próximos a tantas moradias de oficiais importantes. Tivemos sorte de não passarmos por mais contratempos no quarteirão de Jackson.

 Será que tivemos?

 Vejo os flutuadores pararem e observo como vão, um a um, dando a volta e se dirigindo para o lugar de onde vieram. Se estivessem num patrulhamento de rotina, continuariam em frente, pra proteger o resto do bairro. Esses oficiais da segurança estão protegendo alguma coisa. Como a casa do doutor Barnes fica só a trinta metros, dá pra imaginar o que seria.

 O flutuador principal passa por nós quando ouço o clique. E mais um. Está vindo do Comunicador de Trânsito na minha sacola. Namjoon. 

Jackson vira a cabeça. Um segundo flutuador aparece. O clique soa mais três vezes. Quando não atendo, uma voz chama: 

— Jennie, responda. — O pedido nervoso de Namjoon ecoa no silêncio da noite. Busco o Comunicador dentro da sacola e a fecho. Meus dedos brigam com o fecho, enquanto Namjoon grita: — Estou chegando, mas Symon está... 

Aperto o botão do Off.

 Tudo fica quieto.

 Não, não tudo.

 O zumbido do motor do flutuador transforma-se num ronco. Os faróis ganham vida, enquanto ele vira e atravessa o gramado, diretamente em nossa direção



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