História O Torpor da Escuridão (Rakan e Xayah) - Emoções

Endireitei o corpo lentamente ao passo que Soraka me entregou uma toalha para limpar a boca. Vomitar ali, com todo mundo olhando pra mim era no mínimo humilhante, mas eu estava confusa demais com a situação para me preocupar com isso.

- Então… E-ela tá… grávida? - Ahri sussurrou de forma quase inaudível, mas a pergunta não escapou da minha audição vastaya.

- Ao que tudo indica, sim - disse Soraka - Eu já havia notado sinais enquanto cuidava dela, mas…

Soraka e as outras continuaram falando, mas as palavras delas pareciam estar distantes, eu não conseguia processá-las. O pânico apertava minha garganta. Minha visão começou a escurecer e tive a sensação de que tudo girava "Merda, será que eu tô desmaiando?"

- Okay, vamos parar por aqui - Ahri se sentou ao meu lado - Xayah acabou de voltar e é muita coisa para se processar tão rápido. Vamos dar um tempo pra ela.

- Enquanto isso a Soraka pode falar com a Janna e tentar entender melhor o que aconteceu - propôs Sarah.

- Ótimo - respondeu a raposa - Neeko também pode ajudar. Eu vou ficar aqui com a Xayah.

Entrei meio cambaleante no banheiro, Ahri me seguia como uma sombra. Comecei a me despir ignorando a presença dela, eu poderia tê-la mandado sair mas a verdade é que  eu não queria ficar sozinha. Ela pareceu entender que apenas sua presença já era o suficiente e não tentou forçar uma conversa, o que foi um alívio. Ela pegou uma cadeira e se sentou em silêncio de costas para o box.

Deixei que a água quente me reconfortasse, mas até isso me lembrava de Rakan, que sempre tomava banhos frios, já que supostamente faziam bem para a pele.  Eu queria chorar, porém as lágrimas me faltavam.

Encostei no box frio, deslizando para o chão.  Abracei meu corpo como se isso fosse a única forma de me manter inteira, tinha a sensação de que se soltasse iria me desfazer e descer pelo ralo.

Fiquei assim por tempo suficiente até Ahri decidir que já não era saudável. Eu provavelmente teria ficado ali para sempre se ela não tivesse me arrastado para fora.  Quando levantei os olhos, notei que a raposa segurava algumas toalhas e roupas limpas para mim.

- Obrigada Ahri, daqui eu me viro, pode sair agora.

- Tem certeza? Você não me parece muito bem.

- Eu tô ótima - falei com rispidez - já esgotei minha cota de humilhações por hoje.

- Não é fraqueza aceitar ajuda, Xayah.

Me enrolei em uma das toalhas e me sentei de frente para o espelho.

- É sim – suspirei.

- Por favor, Xayah - ela encarou meus olhos no espelho - Me deixa cuidar de você, é o mínimo que posso fazer pra compensar tudo. Você recupera sua dignidade depois.

Ela sorriu, mas não fui capaz de acompanhar.

- Vou encarar seu silêncio como um sim - ela se inclinou sobre a pia para pegar uma pequena escova de cabelos.

Não fiz mais objeções enquanto ela penteava meus fios rebeldes. Aquilo era muito reconfortante e me permiti relaxar enquanto encarava meu reflexo, meio embaçado pelo vapor. Meus ombros estavam bem vermelhos por conta da água quente. Mesmo que eu estivesse dormindo a dias, também podia ver com clareza as olheiras fundas que se recusavam a sumir.

Baixei o olhar para minha barriga e a toquei com cuidado, como se fosse de porcelana, enquanto pensava naquela loucura. Ahri notou meu gesto. Ela parecia duvidar dessa história, tanto quanto eu.

- Xayah, você acha mesmo que…

- Não, eu não quero falar disso.

- Por que não?

"Eu não posso acreditar, nem por um segundo."

- Se eu pensar nisso agora e me permitir sentir qualquer coisa - engoli em seco - eu não vou suportar quando me disserem que tudo não passou de um mal entendido. Não. Eu não suportaria ter mais essa esperança enterrada.

Ahri cerrou os lábios e assentiu, não fazendo menção de tocar naquele ponto novamente. Tentei distrair nossas mentes mudando de assunto.

- Quem é Janna? - perguntei a ela

- Uma das Guardiãs do outro grupo. Logo você vai conhecer todos.

- São tantos assim?

- Você se acostuma.

Ficamos em silêncio por um longo tempo.

- Hey, Ahri.

- Sim?

- Então, você e a Sarah, em?

Ela deu um puxão no meu cabelo enquanto corava.

- Cala a boca.

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Quando voltamos para o quarto, que já estava limpo, Soraka e Neeko estavam acompanhadas de uma mulher de cabelos roxos e orelhas pontudas. Alguém havia trazido cadeiras, onde todas se sentaram, menos eu, já que estava inquieta demais para ficar parada.

Sarah entrou logo depois, ao lado dela havia uma garota que não parecia ter mais de 17 anos, com o cabelo rosa preso em chiquinhas no alto da cabeça, ela estava carregando uma bandeja de comida, meu estômago roncou, não havia notado o quanto estava com fome até aquele momento.

- Bem, Xayah, essa são Janna e Lux - Sarah as apresentou.

Janna acenou com a cabeça em um cumprimento enquanto Lux deixava a bandeja de lado para se aproximar.

- Oi, meu nome é Lux mas pode me chamar de Luxanna - ela estendeu a mão e logo a recolheu - Quer dizer… Han, você entendeu né? - ela estendeu a mão novamente.

Fiquei apenas observando o gesto dela por um tempo, até Ahri me dar uma leve cotovelada como incentivo. Neeko segurou o riso.

- Oi - respondi.

Eu não era boa nisso, conhecer gente nova sempre era um desafio.

- Onde estão os outros? - Soraka perguntou.

- Em patrulha - Lux respondeu engolindo o constrangimento pela nossa primeira interação - Só voltam mais tarde, Ezreal deve ser o primeiro a chegar, já que ele sempre fica com o primeiro turno.

Logo, me aproximei da bandeja e comecei a comer enquanto Soraka e as outras tentavam me explicar suas suposições a respeito da minha suposta gravidez. Teimosa como sempre, eu me recusava a acreditar.

- É verdade, Xayah. Vocês conceberam essa criança antes de serem mortos pela Zoe.

- Tá, eu sei que poderia estar grávida antes, mas como posso continuar grávida até agora? Tenho certeza que nada aconteceu enquanto estávamos sob o domínio de Zoe - senti minhas bochechas queimarem - E tem mais, vocês mesmas confirmaram, Zoe nos matou! Como o bebê poderia ter sobrevivido a um ataque desse tipo?

- Xayah - Janna falou pela primeira vez - Acho que você se esqueceu de um ponto muito importante: você  é Vastaya. Uma criatura feita de magia, praticamente imortal, além de ser muito forte. Sua cria não seria diferente. E claro, você também teve muita sorte, seja lá o que aconteceu com você naquele dia, não atingiu a criança.

- Faz sentido - Ahri balbuciou enquanto raciocinava - o ataque da Zoe te atingiu no peito Xayah, eu me lembro perfeitamente.

Suspirei e levei as mãos ao rosto.

- Supondo que eu não ache que isso tudo é uma loucura, então como esse bebê ainda estaria dentro de mim? Ela já deveria ter saído a muito, muito tempo.

- Tem razão - Soraka concordou - É aí que entra nossa teoria. Neeko, Janna e eu conversamos muito e analisamos as informações que tínhamos, e chegamos a conclusão que tanto a luz quanto as trevas são as responsáveis por isso.

Me sentei na cama, sem interrompê-la.

- O bebê não morreu naquele ataque, mas chegou perto. Você se lembra quando eu disse que alguém estava cuidando da sua luz? - assenti - Mesmo sem saber, Rakan estava cuidando da criança também. As trevas impediam seu filho de se desenvolver, mas o amor de vocês manteve a luz viva, acreditamos que esse foi um dos motivos que te impediram de ser completamente corrompida.

- É como se vocês tivessem parado no tempo! - Neeko completou

Janna apontou para minha barriga.

- E agora que as trevas não estão mais em você, tudo voltou a fluir.

Me senti grata por já estar sentada, do contrário estaria de joelhos no chão. Tudo que elas disseram fazia sentido. Coloquei as mãos na barriga enquanto deixava as emoções transbordarem "É real". Ao meu redor, as outras pareciam se emocionar também.

Nesse momento, um garoto loiro e confuso entrou no quarto, ele pareceu achar graça da situação.

- Será que eu tô atrapalhando alguma coisa? - ele parecia meio sem jeito - Ei, Xayah, né? Meu nome é Ez, a Lux me disse que você vai ter um filhote, meus parabéns! - ele fez sinal de positivo com as mãos - Mas então, você já botou o ovo?

Todas olhamos para ele em silêncio, algumas tentaram segurar o riso, mas ninguém se deu ao trabalho de responder.