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História O tutor - Dezessete


Escrita por: luzinanda

Notas do Autor


Boa leitura.

Capítulo 17 - Dezessete


Moblit observou o rosto da namorada contorcido em confusão e animação, mesmo que ele próprio estivesse um tanto nervoso, não conseguiu ignorar a felicidade sempre tão característica de Hanji, mesmo que às vezes fosse exageradamente explícita.

-Você não vai acreditar! -Hanji exclamou animada, os braços balançando para o alto. -Levi está apaixonado!

Não houve hesitação ou dúvida em sua voz. Moblit precisou piscar algumas vezes e respirar fundo para se situar, era difícil acreditar que Hanji estava falando sério.

-É por isso que pediu para almoçarmos juntos? Geralmente você o faz com seu irmão.- Precisou de muito autocontrole para que sua voz não soasse chateada, mesmo que os problemas de Levi colocassem uma distância dolorida entre ele e Hanji e fossem óbvios, fazia um grande esforço para não se deixar afetar e acabar chateando a namorada.

-Sim, desculpa te tirar do seu trabalho. -A voz da morena soou preocupada e um pouco culpada, porém Moblit logo descartou a preocupação com um sorriso apaziguador.

-Não se preocupe com isso, linda, estou no meu horário de almoço tanto quanto você.

Algo pareceu ter estalado na cabeça de Hanji, seus ombros caíram e sua postura ficou menos ereta, a animação costumeira ainda estava lá, mas não com tanta força quanto antes.

-Então, como assim Levi fucking Ackerman está apaixonado? Depois do que aconteceu com a Reiss é difícil de acreditar. -Hanji concordou com a cabeça, olhando sem muito interesse para o menu em cima da mesa.

-É um fato, amor, tem alguém muito interessante na jogada. -Mesmo que parecesse feliz e animada com a notícia, Moblit pôde ver o vacilo na expressão da mulher que conhecia e namorava a anos. -Mas…

-Mas?

-Estou preocupada com ele. -Soltou um suspiro um tanto cansado e carregado. -Eu estive do lado dele desde que a História morreu, descobrir que ela tinha outra pessoa não foi nada perto do falecimento, mas é difícil dizer se ele ainda carrega alguma insegurança quanto a isso.

-Você acha que alguém pode estar enganando ele? -Moblit foi direto em suas conclusões, lendo e traduzindo Hanji tão bem quanto ela sabia ser possível. 

-Eu não acredito nisso, Levi é esperto, só tenho medo dele se machucar de novo, de não ser recíproco de novo. Ele esperou tanto pela História e no fim as crianças sofreram junto com ele, não sei como seria se acontecesse novamente, se ele conseguiria se levantar.

A conversa se interrompeu por poucos minutos enquanto faziam os pedidos ao garçom. Moblit respirou fundo quando enfim estavam sozinhos na mesa novamente.

-Levi é adulto, é seu irmão mais velho. -Não queria ser a pessoa a falar aquilo para a Ackerman, mas não podia ficar quieto, sabia ser o único capaz de falar sem machucá-la. -Ele quis ter filhos tanto quanto História, Zoe, é a responsabilidade dele e quando a Reiss morreu você a tomou para você e acabou complicando as coisas, já conversamos sobre isso, se continuar protegendo Levi ele continuará fugindo dos problemas.

Hanji permaneceu em silêncio por um tempo, olhava suas mãos em concentração, quem a via no dia a dia não apostava em ver a mulher tão quieta e pensativa, mas esse era o efeito de Moblit nela, principalmente quando ele usava seu nome do meio, nome de sua mãe, que não era a mesma que a de Levi. Era nesses momentos que ele fazia questão de trazer a individualidade de Hanji a tona, tirando todo o peso que o sobrenome Ackerman trás para sua vida.

-Você tem razão. -Moblit observou, lá estava sua Hanji sempre teimosa cedendo em mais um assunto difícil, admitindo seus erros, era por isso que a amava. -Eu negligenciei você por tempo demais, vida, me perdoa.

Sabia do que ela falava e não era um assunto fácil. Na mesma época havia pedido Hanji em casamento, ela aceitou na hora, porém, logo depois disse não poder assumir um compromisso de noivado pois deveria cuidar de sua família, de seu irmão, seus sobrinhos, sua casa e sua empresa. Não houve data de casamento, não houve planejamento para a casa deles, nada, o namoro foi ficando distante e até mesmo o horário de almoço de Hanji era direcionado para Levi, mas o Berner esperou pacientemente, seu amor por Hanji sempre foi grande demais para ser vencido pela distância ou saudades.

Não respondeu com palavras, estendeu uma das mãos e agarrou a dela por cima da mesa, cruzando os dedos, sabia que muitos pedidos de perdão seguidos de pedidos de tempo viriam depois disso, sua aceitação não diminuiu a culpa de Hanji.

-É sério, amor, eu quero- 

-Está tudo bem, eu te amo.

Os dois pares de olhos castanhos se encontraram com carinho, o sentimento antigo e bem construído bem palpável para os dois.

-Não está tudo bem. -Hanji falou devagar, desviando o olhar. Moblit sentiu o ar faltar por um instante, tentou não se precipitar pensando que ela terminaria, mas também não conseguia controlar tal pensamento. -Eu também te amo, muito. É por isso que não aceito mais essa situação, você tem razão, eu preciso viver por mim mesma.

-O...que?

-Quero ser sua noiva, quero marcar nosso casamento e planejar, quero escolher nossa casa. -O fogo da determinação queimava nas bolas brilhantes dos olhos da Zoe, Moblit não estava menos encantado por conta do tempo de relacionamento, pelo contrário, a cada dia queria mais aquela mulher em sua vida.

-Hanji. -Não soube como responder, então se moveu pegando algo que sempre carregou em sua carteira, três lindas alianças de prata, sendo uma delas delicada e feminina com um diamante caro na ponta. -Isso é seu.

Pegou a mão de Hanji sobre a mesa e deslizou dois daqueles anéis pelo dedo anelar dela, o mesmo foi feito com sua própria mão. Com a surpresa e as emoções chegando de forma tão rápida, não conseguiu controlar as lágrimas que desceram por seu rosto.

-Obrigado, vida. -Moblit beijou a mão com a aliança. -Você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida, sabe disso.

Tendo crescido em um orfanato, Moblit conheceu Hanji quando procurava por emprego em uma cafeteria aos dezoito, depois de um esbarrão que sujou todo o chão e o emprego perdido, Hanji se sentiu culpada o suficiente para levar o rapaz consigo até a empresa de seu pai e convencê-lo a contratar o garoto, ali Moblit conseguiu experiência o suficiente para se apaixonar por jornalismo e mais tarde se formar na profissão, trabalhando atualmente em uma grande empresa televisiva.

-E você é meu alicerce, preciso de você para me manter no lugar. -Fez o mesmo com o noivo, beijando sua aliança com carinho.

Se afastaram apenas quando a comida foi depositada na mesa, comeram em silêncio por pouco tempo.

-Como estão as crianças, linda?

-Ótimas, na verdade. Eu queria falar isso contigo, vida, o novo tutor é um amor, ele é incrível com as crianças.

-Eren, não é? O conheci na festa da Gabi.

-Sim, com ele lá me sinto segura em relação a atenção com os pequenos.

-Mas e aquele problema do seu irmão com as tutoras? Não tem risco?

-Não. -Hanji balançou o garfo como se estivesse descartando aquela opção. -Levi não tem chance com ele, Eren não tem interesse nenhum no baixinho.

Moblit não sentiu segurança nisso, era simples demais.

-Mas e se surgisse algum interesse?

Hanji parou de mastigar, engolindo a comida devagar.

-Não acho ruim, ficaria um pouco chocada mas...acho que se o Levi não estivesse apaixonado, o Eren seria alguém certo para ele, o moreno não quer saber de dinheiro, sabe? Ele só quer trabalhar e provavelmente fugir de alguém.

Moblit suspirou com a última frase.

-Você procurou mesmo pela vida do Jaeguer? Isso não é invasivo?

-É, mas são meus sobrinhos. Eu não deixaria ele ficar naquela casa com tantos segredos pairando. Mas está tudo bem, Eren assim como Levi tem seu próprio passado doloroso, ele não é alguém ruim, só está tentando se reerguer.

-Só tome cuidado no que você se mete, dona Zoe, deixe que seu irmão decida a própria vida.

Hanji moveu a cabeça em concordância silenciosa, não podia garantir, contudo ao menos tentaria.

(...)

Eren estava confuso com seu chefe nos últimos dias, quer dizer, nada estava diferente, mas ao mesmo tempo, tudo estava diferente.

Naqueles dias mal tiveram tempo de se encontrar para os amassos e eventuais carícias, Levi parecia estar com muito trabalho acumulado e preferia não dormir a noite cuidando disso ao invés de não ter seu tempo livre com suas crianças. Eren não conseguia achar ruim visto que ele estava fazendo os meninos felizes, isso os deixava bem e era o que importava.

Porventura o pouco tempo disponível para os dois foi gasto com algo que Eren não conseguia identificar em Levi, ele parecia mais leve, como se um peso tivesse saído de suas costas e sempre carregava uma expressão diferente, como se soubesse algo que apenas ele sabia e fosse muito bom. Seus dedos também sempre demoravam mais tempo em seu rosto ou cabelo e seus olhares, apesar de ainda intensos, pareciam mais profundos. Não queria interpretar aquilo com mais do que de fato seria, então apenas observou e tentou desvendar o pequeno enigma.

Como sempre esteve ocupado, sua atenção não demorou tanto no Ackerman quanto gostaria, tinha que cuidar das crianças, levar Udo na clínica, levar Zofia na avaliação mensal de sua audição e ainda havia a terapia semanal dos dois. Precisava ajudar os mais velhos nas lições, ajudar Falco com sua dificuldade em francês e dar atenção para os três maiores tanto quanto dava para os pequenos, não era tão difícil mas sim cansativo e corrido, sua mente permanecia em constante trabalho em multi tarefa.

As coisas com Armin também não estavam melhores, ao menos o loiro não fazia mais tanta questão de conversar e se mantinha distante, os olhos sempre que podiam atentos em Eren e suas ações, esperando qualquer escorregão, até mesmo Kaya havia percebido uma vez a atenção negativa e perguntado o que tinha acontecido. Eren foi rápido em inventar uma desculpa, não tinha certeza se ela tinha acreditado.

O encontro e piquenique de Jean seria naquela mesma noite e isso aumentou sua carga de trabalho, precisou passar no supermercado e ainda preparar toda a comida para o cara de cavalo, mas mesmo que estivesse cansado Eren não conseguiu ficar irritado, estava feliz em ajudar, queria ver seus colegas felizes. 

Enquanto mexia na cozinha, preparando tudo que podia rapidamente para que Marco não visse, sua mente voltou a correr até o Ackerman, mais exatamente em uma das conversas que tiveram, sobre a falecida mãe das crianças. Historia Reiss Ackerman, é o nome escrito no quadro no escritório, exibido com muito orgulho por quem o mandou fazer. Pensar nisso fez seu estômago embrulhar, era difícil imaginar Levi amando e se doando para outra pessoa, sofrendo depois de tantos anos por ela, seu peito doía e Eren não queria pensar nos motivos disso.

Eles foram casados mas isso não passava de um acordo, foi o que Gabi disse, Levi amava alguém que provavelmente não se sentia assim, Levi a perdeu e não existia nada que Eren podia fazer quanto a esse assunto, tinha chegado depois e conseguido o mínimo de atenção do chefe, isso não significava nada e seria pior ficar se enganado com isso.

Tirou o vinho e as taças da sacola de mercado e ajeitou em uma bandeja com as frutas, as velas, os fósforos e mais algumas guloseimas, por um momento ficou tentado a comer tudo sozinho, mas não o fez, rindo sozinho de seus pensamentos idiotas.

-Do que está rindo? -Mãos fortes apertaram a cintura de Eren e logo se afastaram, ele não precisou olhar para saber quem era. -Quanta coisa.

-É para um encontro. -Eren explicou, terminando de ajeitar tudo antes de encarar Levi, ele usava uma roupa casual e confortável, provavelmente para mais uma noite de trabalho.

-Um encontro… -Eren não percebeu o tom ressentido do mais baixo, concentrado em outra coisa apenas anuiu, concordando. -Eu vim dizer para ir ao meu quarto mais tarde, mas se…

Interrompeu sua fala ao notar a presença de uma terceira pessoa, o motorista, Jean chegava arrumado, cheiroso e bem nervoso, ele olhou sem emoção para Levi antes de falar com Eren.

-Está tudo pronto?

-Sim, pode ir, vou arrumar as coisas lá.

Os dois seguiram porta afora sem perceber Levi no encalço, as sobrancelhas do Ackerman estavam juntas beirando a irritação.

Antes de sair da casa, Jean seguiu para os corredores e Eren praticamente correu para fora, Levi esperou perto da parede enquanto via o Jaeguer arrumar um piquenique a luz de velas em um canto afastado e escuro, longe o suficiente para dar privacidade.

Eren se aproximou do chefe perguntando-se o que raios ele fazia ali parado, como se estivesse esperando algo.

-Senhor Ackerman, tudo bem?

-Você não está em horário de trabalho. -Rosnou, os olhos cerrados. -Está saindo com o motorista?

Direto ao ponto, Eren precisou piscar para entender o que acontecia e ao perceber a situação não conseguiu deixar de rir, principalmente quando a cara de Levi se contorceu em desgosto.

-Eu com a eguinha pocotó? Pelo amor de deus, Levi. -Corou ao receber um olhar interessado. -Fica quieto e observe.

Sem querer discutir, Levi apenas cruzou os braços e esperou, demorou cinco minutos até Jean surgir com Marco, o zelador, em seu encalço, o rapaz de sardas parecia surpreso e muito feliz com o encontro surpresa. 

Levi pareceu constrangido, mas não disse nada, caminhando de volta para a casa, Eren lhe seguiu com um sorriso satisfeito no rosto.

-Você é ciumento demais. -Comentou casualmente enquanto entravam na casa, Levi estalou a língua e continuou a andar.

-Eu não sinto isso. -Bufou com o som descrente que Eren fez.

-Você é possessivo, Levi, admite. -Tentou se aproximar do chefe, mas ele foi mais rápido, parando seu corpo com a palma de uma mão em seu peito, a outra deslizou com carinho até uma das bochechas, agora coradas. O contato com a pele de seu rosto foi breve e quando seus olhos procuraram o azul profundo de Levi, perdeu o fôlego, havia muito naqueles olhos, mais do que estava preparado para ver, mais do que acreditava. 

-No meu quarto, Eren, no meu quarto. -E saiu em direção ao corredor dos quartos.

Eren observou as costas largas sumindo na curva do corredor, seu coração estava acelerado e seu rosto quente, suas mãos tremendo.

Não queria pensar que havia uma conexão, que a atmosfera entre eles não era mais só física, que havia algo acontecendo, não queria se iludir, mas era tão difícil.

Balançou a cabeça e voltou a cozinha, ainda havia muito a fazer.

-Eren? -Rico entrou na cozinha com uma expressão preocupada no rosto, seus olhos azuis pareciam estar repletos de confusão e Eren sentiu-se arrepiar com isso, sentiu que algo de errado estava para acontecer.

-Precisa de algo? -Sorriu para a mulher, que negou com a cabeça e foi até a porta, trancando os dois no cômodo.

-Precisamos de privacidade para falar. -Respirou fundo. -Eu vi você com o senhor Ackerman perto dos corredores.

Eren travou, suas mãos que trabalhavam na louça suja largaram tudo que segurava e seus olhos se arregalaram. 

-Na-não é o que você está pensando. -Tentou, mas o olhar de Rico já entregava que ela havia se convencido com suas próprias conclusões.

-Vai dizer que não transou com ele? -A mulher apesar de firme não parecia repreender o Jaeguer, estava apenas preocupada e apreensiva.

-Não. -Sustentou os olhos azuis frios sobre os seus, desviando apenas quando começou a falar novamente. -Nós só nos beijamos.

Rico parecia surpresa, porém não menos preocupada.

-Isso é novo. -Cruzou os braços sobre os seios médios. -Mas ainda é preocupante, você sabe o que aconteceu com as outras antes de você, não é? -Eren concordou com a cabeça, seus ombros caídos, estava envergonhado.

-Eu sei.

-Não vou contar a ninguém e nem te dar uma lição de moral, Eren, você é adulto e pode tomar suas próprias decisões. -Eren se sentiu uma criança ao escutar isso, o rosto impassível de Rico assustava. -Mas vou te dar um conselho. O senhor Ackerman já esteve com outro funcionário e não faz muito tempo que estiveram juntos, ele não foi embora, contudo vive à sombra de um relacionamento impossível, ele foi iludido e agora sofre com isso, até seu relacionamento anterior foi afetado. 

-Um funcionário? -A boca de Eren se abriu em surpresa, uma dor já conhecida se instaurou em seu peito.

-Armin. -Rico encarou Eren por tempo o suficiente para ver a primeira lágrima escorrer dos olhos verdes, suspirou e deu as costas, saindo dali. - Tome cuidado.

Eren sentiu que desabaria, mas não se permitiu, respirou fundo e tentou controlar as batidas erráticas de seu coração, não podia se deixar levar por sentimentos no meio do expediente, então se esforçou em esvaziar a mente e terminar suas obrigações. Mas mesmo assim, lágrimas grossas e salgadas escorriam livremente de seus olhos, molhando todo seu rosto.

Quando terminou não haviam mais lágrimas, manteve a expressão neutra e a mente vazia, precisava ir até Levi e não sabia se tinha força para encara-lo, para lidar com o fato de que não era nada mais do que uma diversão temporária, doía demais e tudo que podia fazer era se afastar, Levi não tinha culpa, afinal, ele nunca mentiu sobre seus sentimentos, ele nunca prometeu uma relação, ele só tentou ajudar e Eren erroneamente havia interpretado como interesse romântico. Errou em se deixar levar.

Nem mesmo percebeu Hanji passando ao seu lado, indo na direção oposta, o telefone em sua orelha em uma ligação, falava animada sobre algo e Eren não quis prestar atenção, suas emoções e sentidos estavam desligados, estava anestesiado.

-É sério, Erwin, nosso baixinho está apaixonado. -Riu animada, praticamente gritando a informação e fazendo Eren travar onde estava, ele não parou Hanji para perguntar, nem mesmo virou em sua direção, apenas sufocou a nova onda de ansiedade e dor que surgiu, apenas engoliu tudo que estava sentindo, não podia desabar ali.

Ainda estava anestesiado quando deu de cara com Armin.

(...)

Armin estalou os dedos com calma, torcendo um por um em um exercício de relaxamento competente. 

Estava sentindo-se pressionado e acuado, suas opções não eram válidas e não havia muito mais o que fazer. Levi não dava nenhuma abertura, Mikasa parecia estar tendo problemas em conseguir fazer qualquer coisa na empresa e a saudades e carência batia em seu peito de forma dolorosa. Mesmo que a casa estivesse cheia de pessoas, sentia-se solitário, a atenção e carinho que ansiava tanto não estavam disponíveis e admitir isso para si mesmo doía mais do que imaginou. Uma coisa era ansiar por algo que nunca teve, era imaginar Levi em uma situação íntima e o pior era ter tido um vislumbre delicioso do corpo musculoso e das mãos talentosas e não o ter mais, é ter sentido o piercing tentador bater fundo em seu corpo e ter tido tantos orgasmos como nunca imaginou que poderia, isso definitivamente era pior, porque mesmo que tenha provado do Ackerman, nunca o teve de fato.

História era um problema que não tinha meios de lidar mais, ela estava morta e continuava preenchendo a mente de Levi, era o único motivo para o Ackerman continuar mantendo a distância, evitando seus sentimentos. 

Estalou os dedos com um pouco mais de força, precisava ter calma e entrar no jogo de Levi, agir como ele queria e ser o companheiro perfeito, mostrar para o Ackerman que podia ser como ele quisesse, que se adaptaria facilmente aos gostos dele. Para isso, precisava começar por algum lugar, precisava que Levi soubesse disso, que Levi tivesse consciência do quanto estava disposto a fazer por ele.

Eren passou ao seu lado distraidamente, parecia estar indo para o próprio quarto. Não perdeu tempo em alcançar o mais alto e segurar seu braço, conseguindo a atenção surpresa do Jaeguer.

Xingou mentalmente e se esforçou para manter a expressão neutra, não queria soar arrogante e menos ainda falso, então respirou fundo e fechou os olhos em um gesto dramático de calma. Riu internamente quando viu Eren se inclinar preocupado, era um ótimo ator. Eren estava estranhamente silencioso e distante.

-Será que podemos conversar? -Eren pareceu pensar, trocando o peso de uma perna para a outra, ele não parecia inclinado a aceitar. -Pode ser aqui mesmo, só...me escute.

Esperou ele acenar com a cabeça antes de continuar falando.

-Eu queria pedir desculpas pelo que fiz a você, por ter bisbilhotado sua vida e ter desconfiado de suas intenções. Sei que não tem desculpas para isso, mas quero que saiba que eu amo essas crianças e me preocupo muito com elas, eu só fui exageradamente protetor. Me perdoe.

Juntou as mãos e forçou os olhos o suficiente para brilharem marejados, tentou fazer sua melhor expressão de arrependimento e culpa, mesmo que não sentisse tal coisa. Se aturar o Jaeguer fosse necessário para se aproximar do chefe, então o faria. Sabia que o tutor estava conquistando com louvor não só as crianças como todos os outros adultos da casa, todos pareciam confiar e gostar do trabalho do moreno, então calaria seu próprio ciúme e agiria como o doce Armin de sempre, Levi merecia isso.

-Armin...tudo bem. -Eren pareceu que começaria um discurso, mas desistiu no mesmo segundo, cruzando os braços de forma insegura na frente do corpo. -Acho que podemos começar de novo, eu só preciso de um tempo, ok? Está desculpado.

Não era o que queria, mas era o suficiente, moveu a cabeça e saiu do corredor, iria até os fundos tomar ar fresco, precisava disso.

Antes mesmo de virar para o quintal viu Jean abraçado a Marco, suas bocas juntas em um ósculo lento e um tanto romântico. Armin sentiu sua barriga se contorcer e seus olhos encherem-se de lágrimas, não era justo, como o Kirsten tinha coragem de fazer algo como aquilo?

(...)

Levi torceu os dedos de forma nervosa, esperava Eren em seu quarto, naquela noite conversaria com calma com o Jaeguer e se abriria com ele, estabeleceria confiança entre os dois o suficiente para Eren se abrir também e assim se declararia, contaria a verdade e se tudo desse certo mostraria sua vontade e intenção de começar uma relação, de ter algo sólido com o homem de cabelos castanhos. 

As batidas mal soaram na porta e já estava lá abrindo, revelando um Eren com os olhos vermelhos e inchados carregando uma expressão vazia no rosto, a boca vermelha por ser mordida com força e o corpo caído, como se algo muito pesado estivesse sobre ele. Eren definitivamente não estava bem.

Fez o que faria em qualquer outro momento, esticou os braços para puxar Eren para dentro em um abraço de conforto, mas o Jaeguer desviou dando dois passos para trás, juntou as sobrancelhas mas não verbalizou sua confusão, Eren já estava falando.

-Posso entrar? 

Concordou com a cabeça e deixou que ele entrasse e fechou a porta.

-Eren? -Tentou, mas foi ignorado, Eren estava de pé no meio do quarto com a cabeça baixa e as mãos juntas, parecia angustiado.

-Acho que precisamos conversar, senhor Ackerman. -A voz falha de Eren só acrescentou em sua aparência desgastada.

Levi não conseguiu esconder sua preocupação, tentou se aproximar mas novamente Eren se afastou, deixando claro que queria manter aquela distância entre os dois.

-Sim, temos que conversar. -Aquele era o momento, deveria falar de seus sentimentos, contar tudo que guardava apenas para si mesmo durante todo aquele tempo e começar uma relação aberta e de confiança com o Jaeguer, ouvir tudo que ele tinha a dizer e dar seu apoio. -Tem algumas coisas que você precisa saber.

-Eu sei. -Eren suspirou e desviou seus olhos verdes, estavam apagados e não tão vívidos quanto Levi gostava. -Eu já sei de tudo.

Levi concordou com a cabeça, a boca meio aberta, não tinha tanta certeza assim de que Eren sabia.

-Do que está falando, Eren?

-Sobre você estar apaixonado. -Levi arregalou os olhos, como ele poderia saber? -Sobre Armin e tudo mais, não se preocupe, senhor Ackerman, me colocarei no meu lugar e não me aproximarei mais.

-Espera, o que?! -Deu um passo na direção de Eren e dessa vez foi mais rápido, segurando em seu braço. -Como ficou sabendo disso?

-Não importa como, não torne as coisas piores, senhor Ackerman, nós dois sabemos que o que você quer eu não posso dar, não sob essas circunstâncias.

-Eren! -Levi bradou, mais nervoso do que chateado, não estava entendendo o que Eren queria dizer com tudo aquilo. -De que merda você está falando? Eu não estou apaixonado por Armin!

-O senhor está apaixonado por alguém, talvez seja Armin, não sei, eu só não quero estar no meio, sei que dormiu com ele e quer fazer o mesmo comigo, mas eu não...eu não…. -Eren não suportou mais, lágrimas salgadas e grossas desceram de suas vistas como cachoeira, seu peito vibrou com os soluços que vieram, o corpo tremendo.

Levi ficou parado em choque, Eren estava desabando e as informações não faziam sentido, Eren tinha falado rápido e embolado, as palavras se embaralhando na bagunça de lágrimas e soluços.

-Eren…-A voz soou macia, Eren agora estava no chão, encolhido, quando ele tinha caído? Ignorou todo o resto quando o viu, parecia destruído, Eren não estava bem e cuidar dele era prioridade. 

Se sentou na frente do corpo trêmulo, puxado pelos braços até que os corpos estivessem juntos e entrelaçados, agarrou Eren com toda a força que tinha enquanto as mãos vacilantes se prenderam a sua camisa, havia desespero naquela crise e Levi sentiu-se o pior ser do mundo, ele tinha sido a causa daquilo? Ele era culpado por Eren estar tão machucado? Quando é que deixaria de ferir as pessoas ao seu redor?

-Eren…-Não houve resposta por um bom tempo, mantiveram-se abraçados por tempo indeterminado, Levi não ousou soltar o corpo maior entre seus braços, não ousou deixá-lo fugir, eles precisavam resolver a situação, mesmo que a resposta de Eren não fosse positiva, cuidaria dele pelo tempo que fosse.

Devagar os tremores e a sensação impotente foi passando, Eren abriu os olhos sentindo-se sonolento e emocionalmente exaurido, mas infelizmente Levi não estava disposto a esperar mais, eles precisavam conversar.

-Eu preciso ir. -Eren tentou se afastar assim que sua consciência estava clara, Levi inicialmente não permitiu, soltando seu corpo devagar e se afastando pouco, apenas para que pudessem se olhar. -Eu preciso voltar ao meu quar-

-Não, precisamos conversar. -O tom duro de Levi fez o Jaeguer se encolher, mas não recuou, não podia. -Me diga, você confia em mim, Eren?

O mais alto engasgou, sua garganta arranhada pelo choro fazendo o barulho soar seco. Mas Levi não se abalou, ele precisava saber, ele precisava disso, suas próprias inseguranças gritavam tão alto quanto as de Eren, a diferença estava no quão disposto cada um estava em falar sobre si mesmo.

-Eu tenho muito o que contar, Eren, quero que saiba de tudo, mas e você? Está disposto a confiar em mim e se abrir também? -"Eu quero cuidar de você." Era o que queria dizer, mas primeiro precisava que Eren confiasse, que Eren se abrisse. Com o silêncio dele continuou a falar, soando mais desesperado do que queria. -Eu preciso que me deixe entrar.

Eren tremeu mas não vacilou quando se levantou, em silêncio ele saiu, deixando uma porta aberta e uma trilha de lágrimas no caminho, Levi ficou lá, encarando o vão do corredor jogado no chão enquanto suas próprias lágrimas desciam, enquanto o gosto amargo da rejeição preenchia suas papilas gustativas, nem mesmo viu quando Hanji se aproximou com uma expressão preocupada, nem mesmo escutou as palavras que saiu da boca dela.

-Porque Eren saiu daqui chorando, Levi? O que está acontecendo?

Não havia resposta, ele não sabia, ele não queria saber, doía demais e tudo que fez no momento foi se afogar na sensação já conhecida.


Notas Finais


Para quem comentou no último capítulo e adivinhou a desgraça: sim, você estava certo.


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