História O tutor - Dezenove

-Você consegue ser uma aberração limpa até bêbado. -Eren comentou divertido, um sorriso brincando em seus lábios enquanto observa Levi esfregar o corpo minuciosamente debaixo da água gelada. -Acho melhor sair logo, só te coloquei no banho para ajudar a passar o efeito da bebida.

O Ackerman estava só de boxes, o corpo tenso e trêmulo por conta da temperatura, mesmo sentindo frio ele se negava a sair antes de limpar todo o corpo, com uma mão apoiada na parede para conter a tontura passou a se  esfregar com a outra como fazia em sua rotina meticulosa de limpeza de si mesmo.

-Estou fedendo e com um gosto horrível na boca, seria nojento deitar assim na minha cama. -Segurou a barra da boxer e desceu o tecido sem qualquer vergonha, expondo seu corpo nu diante do olhar envergonhado de Eren que praticamente correu do banheiro com a desculpa de pegar roupas limpas e confortáveis. -...acho melhor você dormir aqui por isso.

Eren escutou Levi falar enquanto voltava para o banheiro com as roupas nas mãos,havia perdido metade da última frase, porém entendeu o que o mais velho queria.

-Tudo bem. -Murmurou em resposta, já havia garantido que dormiria com ele,mas a bebida parecia ter deixado o Ackerman manhoso e repetitivo. Levi fechou o chuveiro e saiu do box, os braços segurando firmemente na parede para não cair, os olhos caídos e a expressão sonolenta. -Peguei uma cueca mais confortável para você.

Estendeu uma samba canção negra de seda, esta que foi ignorada pelo outro homem que tropeçou até estar perto o suficiente para agarrar o corpo de Eren, ignorando o fato de estar todo molhado e sem nenhum tecido no corpo.

-Levi! -Eren não teve tempo de desviar dos braços grudentos do chefe que pressionando o corpo despido contra o seu acabou encharcando tudo no caminho, as mãos segurando de forma possessiva enquanto um bico se formou na boca pequena. Com a cintura presa, Eren se esforçou em segurar a cueca e se agachar, fazendo Levi agarrar em seu pescoço como uma criança, o rosto afundado na curva. -Levante uma perna.

Bufando Levi obedeceu, vestindo um lado da roupa íntima, a segunda perna foi mais complicada, quase caiu no processo e Eren precisou apoiar e equilibrar o peso dos dois com seu pescoço sendo agarrado.

-Estou com sono. -Levi resmungou, relaxando em cima de Eren que suspirou, se levantando com dificuldade e praticamente arrastando Levi para a cama, onde jogou o corpo já mole sem muito cuidado, seus músculos reclamando do esforço. -Não vai embora.

Levi resmungou antes de enfim apagar, dormindo encolhido em cima dos cobertores. Eren precisou fazer um esforço para puxar o tecido e ajeitar o corpo pesado da forma correta debaixo deles. Por fim tirou suas próprias roupas molhadas, vestindo um moletom largo de Levi, ignorando totalmente o fato de ficar curto em suas pernas, deitou ao lado do Ackerman, sendo imediatamente agarrado por braços e pernas, não achou ruim e mais rápido do que esperava, dormiu, pensaria em tudo que aconteceu no outro dia.

(...)

Arrumou sua mochila mais cedo do que o costume, decidiu adiantar seu despertador no intuito de conseguir conversar com uma pessoa em específico, sabia que naquele horário seria mais fácil pois teriam tempo e privacidade para falar, sem seus irmãos e os trabalhadores da casa em volta. Aproveitou para vestir também o uniforme da escola, complementando sua roupa com meias cobrindo as panturrilhas, pulseiras coloridas e um brilho labial rosado, trançou o cabelo loiro para o lado e usou pouquíssimas gotas de sua colônia, pois ainda estava cedo para algo mais forte.

Tentou não se apegar ao fato de estar usando pouca maquiagem e poucos acessórios, além de ignorar a jaqueta que sempre amarrava na cintura para disfarçar suas coxas e quadril mais largos. A insegurança ainda estava lá, não mentiria para si mesma dizendo que estava cem por cento satisfeita com sua aparência e seu peso, mas estava confortável o suficiente para gostar menos do tanto de produtos que usava antes, cortando aos poucos a quantidade, no fim do dia nem se lembraria disso, afinal.

Kaya sempre foi uma garota gorda, desde pequena vestiu os tamanhos maiores e até certo ponto, isso não importou, mas quando a pré adolescência começou e a puberdade também, as preocupações não só consigo mesma mas também com o que os colegas maldosos pudessem dizer surgiram, a insegurança corporal antes inexistente foi plantada e diariamente regada até chegar ao ponto de sua opinião sobre si mesma se tornar tóxica. Lembrava vagamente de sua mãe estimulando sua auto estima e dizendo o quanto era linda, que padrões de peso não definiam isso e que nunca precisaria mudar para agradar ninguém, as lembranças nunca eram boas porque no fim sua mãe sempre acabava morta, ausente e silenciosa em sua vida e na dos seus irmãos. Então quando Eren surgiu cuidando, sendo carinhoso e sincero com todos eles, se esforçou em escutar os conselhos dele e de tentar, novamente, gostar de si mesma. Não só por si mesma, mas também por sua família, estava satisfeita em ver como Eren estava aproximando todos novamente sendo nada mais do que sincero, achava o Jaeguer um pouco desastrado e muito fofo, mas ele também tinha atitude e sabia ser firme quando necessário, era uma boa influência para todos e sendo a irmã mais velha, Kaya decidiu que também queria ser um exemplo, então seu esforço teria resultados um dia, tinha certeza disso.

Esses pensamentos levavam sua mente até o assunto que queria tratar com o pai. Enquanto caminhava até o quarto do mais velho repassou tudo que abordaria, não queria pressionar o mais velho, conhecia o pai o suficiente para saber que ele não se abria fácilmente, torceu os dedos e se preparou para abordar o assunto que queria sem pressionar ele, sabia o quanto o pai podia ser fechado com seus sentimentos e não queria parecer intrometida ou demonstrar desgosto com o que estava suspeitando, apenas queria entender e quem sabe, dar seu apoio.

Levi pode ter achado que tinha sido sutil, mas suas perguntas na outra noite foram óbvias e diretas o suficiente para que fizesse a associação mais tarde em sua cama, até mesmo se xingou depois de se tocar do quão óbvio o Ackerman mais velho tinha sido, se aquilo era ele sendo discreto então deveria dar um toque para que se esforçasse mais, pois era questão de tempo até a casa inteira perceber o que estava acontecendo. Todos já tinham notado o interesse de Levi em Eren, isso não foi nenhum segredo, seu pai nunca teve nenhuma vergonha em demonstrar suas vontades em relação a pessoas bonitas e embora seus irmãos fossem alheios a isso, Kaya notava tudo, seus olhos azuis eram tão astuciosos quanto os de sua mãe foram, assim como percebia a falta de calor amoroso entre seus pais, também percebeu o explícito interesse de seu pai por Eren. Contudo isso não era algo relevante, já que Eren fugia e se esquivava do Ackerman sempre que uma tentativa surgia, enfrentava ele e batia de frente se fosse necessário, então também foi de conhecimento geral que o interesse de Levi não passaria disso, uma atração física momentânea e não retribuída.

Nem sabiam se Eren era Gay ou bissexual, quer dizer, aquelas presilhas fofas no cabelo e as bochechas sempre coradas faziam o 'gaydar' de qualquer um disparar, mas não podiam simplesmente tirar conclusões baseadas em padrões, não quando estava justamente fugindo deles.

Riu nervosa antes de bater na porta, esperou ansiosamente alguns segundos e quando não houve resposta, estranhou, nesse horário seu pai já estaria de pé e impecavelmente vestido para o café e depois trabalho, daria um beijo em cada filho e saíria, existia alguma chance dele já estar no escritório? Mordeu os lábios pensando no que faria, observou a porta alguns instantes e então deu de ombros.

Era melhor ter certeza de que ele não estava no quarto antes de tentar o outro cômodo, não queria adiar a conversa e nem tocar no assunto na frente dos outros, não sem antes ter certeza, afinal, tinha uma pequena noção dos sentimentos de seu pai, mas não sabia se eles eram retribuídos ou se alguma relação estava estabelecida entre os dois adultos.

Virou a maçaneta, testando se a porta estava trancada e se surpreendeu por ela não estar, o que era raro, seu pai não gostava de ter seu espaço pessoal acessível, algo estranho estava acontecendo e uma curiosidade infantil tomou conta, acabou por empurrar a porta sem muito cuidado, se deparando com uma cena totalmente inesperada.

Levi estava enrolado em cobertores, uma bagunça de pernas e braços para todos os lados e pressionado entre o colchão e o corpo bagunçado do Ackerman, estava Eren, encolhido e parecendo muito confortável apesar de estar sendo esmagado, os rostos próximos o suficiente para constatar a intimidade entre os dois e pele exposta demais para não pensar em coisas que sabia que adultos faziam.

Deve ter ficado bons minutos segurando a maçaneta com uma mão e a boca aberta enquanto encarava a cena, pois mãos macias seguraram seus ombros lhe causando um susto, por sorte fechou a boca e abafou o grito assustado que quis sair.

-Tia? -Olhou sobre o ombro se deparando com a outra Ackerman, Hanji fez sinal de silêncio e esticou a mão até a maçaneta, cobrindo a sua e puxando a porta até que estivesse fechada com ambas para fora. -O papai e o Eren…

-Eu também estou surpresa, acredite. -Falou baixo, olhando para os lados se certificando de que ninguém ouvia o diálogo das duas. - Não achei que se resolveriam tão rápido.

-A quanto tempo? -Kaya ainda estava chocada, mas um sorriso pequeno adornava sua boca desenhada.

-Não muito, acredito. -Hanji parecia tão confusa quanto a sobrinha. -Melhor não comentar nada sobre isso, ainda preciso falar com seu pai e entender toda a situação. Você sabe o que aconteceu com as últimas tutoras que se envolveram com ele.

Kaya arregalou os olhos, puxando o blazer de Hanji com força, aproximando-se dela com os olhos transbordando desespero.

-Não faça isso, tia, Eren não é como as outras, além do mais… -Encolheu os ombros, se vendo sem escolha, teria que revelar o segredo de seu pai. -Papai gosta dele, de verdade.

Hanji levantou uma sobrancelha, nem um pouco surpresa com a informação, um sorriso animado cresceu em seu rosto e então Kaya percebeu, sua tia já sabia de tudo e estava só lhe testando.

-E como você se sente em relação a isso? -Zoe perguntou com um brilho perspicaz refletidos de seus olhos nos óculos com armação cara que usava.

Piscou e refletiu sobre a pergunta por pouco tempo, assim como se sentiu quando percebeu que seu pai estava gostando romanticamente do tutor, estava satisfeita, Eren era bom não só para ela como também para seus irmãos, se ele fazia seu pai bem então tinha todo seu apoio. Simples assim, não via motivos para complicar.

-Se papai estiver feliz, então está bom. -Respondeu, gostando da forma como a expressão de Hanji se iluminou.

-Eu concordo com você, mocinha. -Olhou para a porta fechada e suspirou. -Pode acordar seus irmãos mais novos? Acho que Eren não escutou o despertador tocando no quarto dele e acabou perdendo a hora. 

-Tudo bem…- Olhou para a tia antes de ir em direção a saída do corredor. -Te vejo na mesa.

Assim que entrou na curva pôde ver a mais velha entrando no quarto que antes estava, um sorriso brincou em seus lábios e uma sensação reconfortante tomou conta de seu estômago. Não tinha como negar, desde que Eren chegou tudo estava mudando, para a melhor, claro.

(...)

A primeira coisa que sentiu foi a pontada em sua cabeça, a dor se espalhando para seus olhos cansados e seu corpo pesado, demorou para se situar e perceber que estava apenas de samba canção e na sua cama, os cobertores pareciam mais pesados e o colchão irregular, o que era estranho, o cheiro que cutucava seu nariz também era bem diferente do que estava acostumado. Se mexeu se encaixando ainda mais no calor reconfortante de sua cama, fazendo seu quadril esfregar em algo macio que despertou sua ereção matinal mais rápido do que esperava.

-Porra…-Resmungou. Tentou esticar um braço e percebeu ter algo pesado em cima dele, o que despertou seus instintos. Mal abriu os olhos e os fechou novamente, a claridade queimando suas retinas sensíveis, merda, havia bebido noite passada? suas memórias estavam confusas.

Quando enfim abriu os olhos, se deparou primeiramente com fios castanhos espalhados pelo travesseiro a sua frente, ao invés de analisar o resto da situação, como os braços e pernas entrelaçados nos seus próprios membros, se assustou. Tinha bebido e dormido com alguém?

-Puta que pariu! -Praticamente pulou de onde estava, ficando de pé no chão, afastando o corpo macio e quente do seu, sua mente confusa e embaralhada demorando a perceber o que acontecia ao seu redor.

Se lembrava do dia anterior, Eren, a conversa sem sentido e o Jaeguer fugindo enquanto tentava declarar seus sentimentos, ah sim, a sensação de imponência e o gosto amargo da rejeição, acabou afogando sua mágoa em álcool enquanto encarava a figura debochada de Historia no escritorio, lembrava-se vagamente de achar o sorriso pequeno da loira incrivelmente irônico, como se ela estivesse esfregando na sua cara que não era digno de ser amado de volta.

-A sua noite foi boa? -A voz estridente de Hanji fez com que seu coração parasse por um momento, acelerando logo em seguida com o susto que levou, virou o rosto se deparando com a irmã sentada em sua poltrona, de frente para a cama com um sorriso debochado de merda no rosto. -Está de ressaca?

Levi abriu a boca, pronto para mandar a Ackerman se ferrar, mas o corpo adormecido na cama se moveu e levantou, a pessoa provavelmente atordoada e despertada com o barulho. Naquele momento Levi quis enfiar a cabeça em algum lugar e desaparecer, porque sempre acabava comendo alguém quando estava chateado? Péssimo momento para decidir enfiar seu pau em qualquer lugar. O pior é que não se lembrava de nada do que tinha feito a partir do momento que ficou bêbado no escritório, nem sabia como aquela pessoa havia parado lá, teria que fazer um exame de DST o mais rápido possível.

-Acho que ele não se lembra. -Hanji comentou, olhando diretamente para a figura na cama que Levi se negava a encarar. 

-Levi? -Aquela voz mesmo sonolenta era inconfundível, mas isso confundiu ainda mais o Ackerman mais velho.

-Eren? O que…

Foi interrompido pela risada alta de Hanji.

-Hanji? -Eren parecia ainda estar acordando, resquícios de cansaço ainda presentes em seu semblante, ele parecia não ter dormido muito. 

-Vocês precisam se apressar, estão atrasados. -Hanji informou, se levantando da poltrona. -Mas conversem antes, ontem já tivemos dramas demais, ok? Eren, falo com você mais tarde.

E saiu do quarto, sendo seguida por dois pares de olhos surpresos e inquietos.

-Nós…? -Levi perguntou, percebendo a falta de suas roupas, Eren tombou a cabeça para o lado, negando logo após.

-Você não se lembra de nada? -O Jaeguer parecia inseguro.

-Eu estava bebendo no escritório… -E só, era como se tivesse dormido depois de beber tudo que pretendia, bom, era exatamente o que queria. -Você tinha fugido do quarto, o que aconteceu?

Tentou soar tranquilo e indiferente, indo até seu closet para retirar roupas limpas para o dia. Não queria que Eren percebesse sua ansiedade e confusão, a noite anterior tinha sido dolorosa o suficiente.

-Hanji foi no meu quarto e eu decidi que seria melhor conversar e esclarecer tudo com você, fugir não foi maduro da minha parte. -O Jaeguer admitiu, se encolhendo e sem coragem de sair de onde estava, de repente a satisfação do dia anterior não estava mais lá e tudo que conseguia sentir era medo e insegurança, e se a declaração fosse apenas murmúrios de um bêbado?

Levi virou a cabeça, olhando para Eren rapidamente antes de voltar sua atenção para as roupas perfeitamente arrumadas. Sabia que ficava grudento quando estava bêbado, se tornava uma versão vergonhosa que não gostaria que qualquer um visse, então tinha uma noção do que poderia ter acontecido.

-Então eu te agarrei e te obriguei a vir dormir comigo, não é? -Seu tom impessoal e frio causou um silêncio desconfortável, Eren parecia distraído e abatido, se virou para o moreno esperando uma resposta.

-Sim, mas nós conversamos… -Eren ser vago daquele jeito deixou Levi com medo, não estava com vontade de escutar que foi rejeitado outra vez. -Você me contou o que sentia e me pediu para ficar.

A voz de Eren saiu baixa.

-Você não precisava ficar, não vou te demitir por não gostar de mim, Eren, conversarei com a minha irmã, não precisa se obrigar a estar comigo. -Levi acabou falando, as emoções recentes ainda borbulhando em seu peito.

-Não. -Eren se mexeu, saindo de onde estava até ficar de frente para um Levi perdido. -Eu realmente não esperava lidar com você bêbado e manhoso daquele jeito. -Um sorriso trêmulo desenhou os lábios carnudos, Levi não conseguiu se impedir de encará-los. -E menos ainda esperava saber que você…

-Eren, não precisa fazer isso- Levi tentou dizer enquanto se xingava internamente, não acreditando que tinha se declarado, patético, pensou.

-Que você também sente algo por mim. -Eren desviou os olhos, deixando sua insegurança transparecer. -Eu fugi porque achei que você estava apaixonado por Armin ou outra pessoa, foi demais para mim.

Levi fechou os olhos pronto para dizer que tudo bem, que entendia e que Eren não era obrigado a lhe retribuir, mas então seus pensamentos freiaram enquanto as palavras faziam sentido em sua cabeça, Eren também gostava dele? o que?

-O que?! -Arregalou os olhos normalmente cerrados e pequenos, expondo suas pupilas azuis escuras. -Não, estou apaixonado por você, idiota.

Eren deu de ombros, abaixando a cabeça e encolhendo o corpo, tímido demais para falar mais ou tomar qualquer outra atitude, custou muito de sua coragem para dizer aquilo na cara de Levi. 

O Ackerman demorou alguns segundos para colocar sua cabeça no lugar e então sorriu, se aproximando mais de Eren até que o Jaeguer fosse obrigado a levantar a cabeça, seus olhos se chocaram em uma sensação já conhecida e satisfatória, as mãos suaram e os estômagos se retorcendo.

-Eu posso te beijar? -Eren mal concordou com a cabeça e sua boca já estava sendo atacada, os braços envolvendo os dois corpos em um abraço carinhoso enquanto os dedos agarravam o máximo de pele possível. Levi não tinha dúvidas pelo que sentia por Eren, seu coração acelerar tanto por conta de um simples beijo era a prova disso. - O que você fez comigo, Jaeguer? Me fez te beijar antes de escovar os dentes. -Perguntou em um tom divertido quando os lábios se afastaram, Eren riu sem graça, escorregando os dedos pelos fios curtos de sua nuca.

-Podemos conversar sobre isso mais tarde? Estamos atrasados e eu preciso ver as crianças, já está na hora do café. -Levi moveu a cabeça, concordando, apesar de querer ficar pelo resto do dia agarrado a Eren e enfurnado no quarto, ainda tinha suas próprias responsabilidades para resolver, mesmo que estivesse com a intenção de ir até a empresa naquele dia, a ressaca ainda estava cobrando seu preço em seu corpo e já estava atrasado mesmo, então se daria um dia de descanso, aproveitaria o tempo com seus filhos e Eren.

-Tudo bem, vou estar em casa hoje. -Eren pareceu surpreso com a informação. -Mais tarde te levarei para jantar, vou pedir a Rico para ficar com as crianças, então conversamos, o que acha?

-Um jantar? -As bochechas coraram adoravelmente. -Parece um encontro.

-Algo do tipo. -Respondeu satisfeito, havia muito o que discutir com Eren, porém sua casa com ouvidos em todas as paredes não era um bom lugar.

(...)

Quando finalmente desceu para o café da manhã, passou na sala de jantar para verificar as crianças antes de ir comer sua própria refeição e arrumar as lancheiras. Não se surpreendeu ao encontrar Levi de moletom e camiseta conversando com Gabi na mesa, o Ackerman parecia bem disposto apesar de carregar olheiras e ao invés de seu costumeiro chá, tomava uma caneca grande de café que parecia forte. 

Eren cumprimentou a todos e conversou brevemente com os meninos antes de decidir que estava tudo bem e sair do cômodo, seus olhos e de Levi se encontrando rapidamente em alguns momentos sob o olhar divertido de Hanji e uma expressão curiosa em Kaya, o Jaeguer fez um lembrete mental de conversar com a adolescente mais tarde, ela parecia um tanto suspeita encarando ele e Levi sem piscar daquele jeito.

-Caiu da cama hoje? -Sasha perguntou sorrindo enquanto despejava uma boa quantidade de ovos no prato de Eren, o moreno concordou com a cabeça, corando envergonhado.

-Não dormi muito bem. -Não se sentia bem em mentir, mas não podia expor uma situação que ele mesmo não entendia.

-Deve ser porque aquele chá que você gosta acabou. -Sasha vasculhou os armários enquanto falava. -Vou anotar para trazer mais tarde, vou ao supermercado.

-Quer ajuda? -Connie riu atrás de sua caneca de café, sentado ao lado de Eren estava silencioso naquela manhã.

-Ela vai com o vizinho. -Contou o careca, fazendo Sasha corar e dar de ombros. 

-Ele se ofereceu. -Deu a língua para o jardineiro, Jean e Marco entraram enquanto isso acontecia. -Eren não foi o único que dormiu demais hoje.

Sasha falou com um tom malicioso na voz, Marco corou e Jean revirou os olhos, se aproximando de Eren para roubar um pedaço dos ovos dispostos no prato.

-Ei!

-Estou te ajudando a não engordar.

-Já estão discutindo? Ainda é manhã. -Rico disse entrando na cozinha com Armin atrás. Eren se sentiu desconfortável, evitando olhar para os dois loiros. -Bom dia gente.

Todos responderam com um toque de preguiça na voz, nada de anormal para mais um dia de trabalho.

-Bom dia. -Armin cumprimentou baixo, se sentando ao lado de Eren com um sorriso pequeno no rosto, Jean enrugou o cenho olhando a cena enquanto o Jaeguer cumprimentou de volta, olhando rapidamente para o Kirsten e balançando a cabeça, conversariam sobre isso em outro momento. O loiro ignorou Marco e Jean enquanto cumprimentava os outros e Eren tentou não pensar nisso, não fazia muito sentido o loiro se afastar quando ele mesmo estava apaixonado por outra pessoa.

Estava tão distraído que nem notou quando arrumou as lancheiras e a cozinha estava vazia outra vez, a manhã estava passando rápido.

(...)

-Você parece bem, pai. -Kaya comentou, observando seu pai mastigar algumas frutas e concordar com a cabeça. -Não vai trabalhar? Está vestido para ficar em casa.

Hanji riu atrás de sua xícara, gostando imensamente da atitude da sobrinha.

-Não, vou ficar com vocês hoje. -Levi respondeu sem se abalar e como se estivesse confirmando algo, Kaya olhou para Hanji com o mesmo ar divertido.

-Tem algum motivo especial para isso? -Hanji perguntou com falsa inocência, recebendo um olhar irritado como resposta, levantou os braços como se estivesse se rendendo. -Calma, irmãozinho, estou só preocupada, sabe que aquela empresa não funciona sem você.

-Tch. -O olhar do mais velho era um claro “foda-se” que ele não poderia dizer na frente de seus filhos. -E você, Kaya, faltam três dias para sua apresentação, tem ensaiado?

Os olhos azuis da adolescente brilharam, feliz com o interesse do pai.

-Sim, estou pronta para fazer isso. -Informou, sentindo sua confiança aumentar com os dias se aproximando, apesar de estar nervosa. 

-E como vai funcionar a competição? -Falco perguntou, curioso.

-São apenas quarenta vagas, quatro especialistas são jurados e eles vão selecionar. -Gabi contou, animada por sua irmã. -Kaya vai conseguir.

-Sim e nos próximos dias seremos divididos em duplas e competimos entre nós, a cada semana alguém da dupla será eliminado e então formaremos dupla com outra pessoa até sobrar apenas cinco competidores, onde faremos uma apresentação final, os jurados eliminarão dois e os últimos três irão para voto popular.

-Parece complicado. -Falco comentou, as sobrancelhas franzidas.

-E o que você vai ganhar quando vencer? -Zofia perguntou animada, um bigodinho de chocolate quente em cima de sua boca deixando sua figura um tanto engraçada, Kaya sorriu para a pequena antes de responder.

-Um contrato com uma das maiores gravadoras de Paradis. 

-Uau. -Udo falou enquanto tenta imitar a forma peculiar de seu pai segurar a caneca.

-Não será fácil, a faixa etária vai até dezoito anos, com certeza vai ter muita gente experiente e-

-E você vai dar o seu melhor, não esqueça que deve se divertir fazendo isso, Kaya, você é nova e terá muitas outras oportunidades depois dessa. -Levi interrompeu, olhando com firmeza para a loira que concordou com a cabeça. -Você é uma Ackerman, eles não tem nenhuma chance.

-Isso é óbvio. -Gabi respondeu.

Kaya sorriu lindamente, mostrando todos seus dentes para o pai.

(...)

-Você parece cansado. -Levi comentou, sentado de pernas cruzadas em uma das poltronas macias da varanda com uma xícara de chá nas mãos. Eren concordou com a cabeça voltando sua atenção para os pequenos brincando de amarelinha no jardim.

-Dormi pouco. -Informou, as bochechas levemente coradas por estar ao lado do motivo de sua noite em claro.

-Acostume-se com isso, Jaeguer. -Levi comentou em um tom baixo, seu timbre soando malicioso em uma provocação sutil, Eren não conseguiu evitar corar com aquela atitude. Era estranho lidar com Levi sabendo que ambos gostavam mais do que da aparência um do outro, o dia ainda estava na metade e estava mais confuso e distraído do que mais cedo. Diante toda a correria do dia e de suas responsabilidades, mal viu o Ackerman desde o café da manhã, sempre que cuidava das crianças acabava se distraindo com as conversas e brincadeiras.

Não respondeu pois um carro entrava pelo portão principal, seu acesso sendo cedido sem problemas por provavelmente Rico que estava dentro de casa, Levi parecia tenso ao reconhecer o veículo.

Eren olhou para o chefe preocupado, a postura leve e tranquila que Levi estava sustentando pareceu ruir diante a tensão que se formou conforme o carro desconhecido parava, não demorou para a figura elegante de Mikasa sair de lá, saltos altos e uma saia lápis preta deixando sua silhueta sinuosa e feminina.

Com tanta coisa acontecendo havia se esquecido totalmente da outra Ackerman, mas agora vendo seus passos confiantes em direção a um Levi aparentemente nervoso, não pôde deixar de se sentir intimidado. Lembrava claramente de como a mulher deixou claro sua vontade de se casar com Levi e de como ele estava sendo pressionado para escolher uma mulher para se casar novamente, se havia alguém disposto a resolver isso e fosse indicada para tal coisa, definitivamente era Mikasa.

-O que faz aqui? -Levi perguntou antes mesmo de cumprimentar a mulher, que não se abalou.

-Azedo como sempre. -Ela respondeu, acenando para as crianças de longe enquanto andava de saltos sobre a grama como se não fosse nada. -Você não foi trabalhar hoje.

Levi revirou os olhos, estalando a língua claramente incomodado com a presença nova. Tal atitude acalmou o aperto no peito de Eren, que repetiu internamente que deveria confiar em Levi, eles nem começaram nada concreto e nunca teriam se sempre esperasse o pior do outro, no restaurante Levi havia sido claro ao não dar qualquer indício de querer aquela mulher assim como fazia naquele momento, então tentaria não se abalar com isso.

-Eu não devo satisfação a você.

-Vim ver se estava bem, da última vez você desmaiou de exaustão e-

-Já viu, vá embora.

Mikasa bufou, olhando em volta e parando seu olhar em Eren por um segundo, torcendo o nariz.

-Será que pode nos dar licença, tutor? Estamos no meio de uma conversa privada. -Moveu as mãos como se estivesse enxotando uma mosca. Eren mordeu a língua se segurando para não xingar enquanto se virava, caminhando em direção às crianças, deveria estar com eles, de qualquer maneira.

-A única que deve sair daqui é você, Mikasa, cuide da sua própria vida e vá embora, se eu quisesse ver e falar com você teria ido na empresa. -Eren escutou o chefe falando enquanto ia até Zofia e Udo, um sorriso satisfeito adornou seu rosto enquanto se afastava, escutou também Mikasa resmungar e bufar enquanto falava mais algumas coisas relacionadas ao trabalho.

Se confiasse em Levi, tudo ficaria bem. Quem sairia para um encontro com o Ackerman seria ele e tinha certeza que Mikasa não esperava por isso. Viu Jean chegar da direção contrária, também indo até as crianças e apressou os passos, talvez pudesse conversar com o Kirsten sobre o assunto.