1. Spirit Fanfics >
  2. O tutor >
  3. Oito

História O tutor - Oito


Escrita por: luzinanda

Notas do Autor


Olá, como estão? Mesmo atolada eu fiz esse capítulo no fim de semana durante as pausas que tive.
Ele está enorme porém eu não quis dividir.

Boa leitura.

Capítulo 8 - Oito


Segunda de manhã foi normalmente cheia e cansativa, depois de acordar as crianças e preparar as lancheiras dos mais velhos, Eren está na cozinha tomando uma xícara fumegante de chá enquanto a família Ackerman toma seu café da manhã na sala de jantar. Sasha corre de uma lado para o outro separando os ingredientes para o almoço, Connie come um sanduíche enorme de ovo com a gema mole pingando no prato, Armin mexe em sua salada de frutas com a cabeça baixa sem dar atenção a nada a sua volta e Jean se acomoda ao lado do moreno, lançando um olhar enojado para a xícara nas mãos dele.

-Não acredito que está com nojo do meu chá sendo que o Connie está comendo bem na nossa frente. -Apontou para o careca comendo aquele tanto de calorias logo de manhã. Um pouco de gema escorre do queixo e pinga no prato.

-Você parece um velho tomando isso. -Jean não se abalou com Connie comendo, já estava acostumado. -Faria mais sentido tomar café, a bebida dos jovens e dos Deuses.

Eren riu anasalado vendo o mais alto servir uma grande caneca de café para si, junto de algumas torradas com ovos, abriu a boca para alfineta-lo, como já estava se acostumando a fazer, porém, seu olhar caiu em Armin lhe encarando de uma forma totalmente diferente dos últimos dias. As orbes azuis pareciam brilhar de raiva em sua direção, a boca retorcida e as sobrancelhas juntas denunciaram a aversão do loiro na direção do de cabelos castanhos. Eren não entendeu o que estava acontecendo ali.

-Tudo bem, Armin? -Perguntou, deixando sua confusão transparecer. Sentiu Jean ficar tenso ao seu lado, enquanto Armin, sentado de frente para si cerrou os dentes. Ficando em silêncio e virando o rosto.

Não houve mais espaço para aquela conversa pois os saltos de Rico ecoaram no corredor, a mulher falava com alguém e a voz da pessoa que respondia era desconhecida, despertando a curiosidade do grupo, que parou de falar, comer e beber para prestar a atenção na entrada. Rico cruzou a porta com um rapaz um pouco mais baixo que Eren, com olhos castanhos brilhantes e gentis e cabelos negros curtos e divididos ao meio com uma franja tímida e fofa caindo na parte superior de sua testa. Ele seguiu Rico olhando para o chão com as mãos atrás do corpo magro, deixando clara a sua timidez.

-Esse é Marco Bodt, o novo zelador. -Apresentou, apontando para cada um dos funcionários, apresentando-os. -Marco é um conhecido de Moblit, namorado da Hanji, então por favor sejam educados e tratem ele bem.

Rico ameaçou com o dedo levantado, deixando claro que não perdoaria que alguém tratasse o rapaz de forma rude. Eren riu baixinho, em sua opinião, Marco era incrivelmente adorável e fofo, sua postura insegura dando um ar inocente para a figura dele.

Jean torceu o nariz e voltou a comer, soltando um “tsc”.

-Gentil como sempre. -Eren disse, revirando os olhos e se levantando.

-Eren, pode apresentar as crianças para o Marco? Eu e Armin precisamos separar tudo para que ele comece o trabalho e também precisamos levar Udo para o tratamento. -Rico disse com sua expressão de sempre, a única diferença em sua aparência eram as olheiras fundas que a maquiagem não conseguiu esconder. Eren se sentiu compelido a ajudar.

-Tudo bem, posso levar Udo também. -Se ofereceu, dando de ombros.

-Não tem necessidade, Eren, eu e Rico podemos dar conta. -Armin disse também se levantando, sua tigela de frutas continuava cheia.

-Na verdade é perfeito, temos muita coisa para fazer hoje. -Rico disse parecendo aliviada, puxou um papel de seu bolso e estendeu para Eren. -Aqui, o horário e endereço da clínica responsável pelo Udo, depois pode levá-lo para comer qualquer coisa, vou pedir a Hanji para te entregar o cartão que o senhor Ackerman deixa para usarmos com as crianças.

-Não acha que é cedo? -Armin novamente se meteu, claramente contrariado.

-Não, Eren tem a plena confiança de Hanji. -Rico esclareceu. -Vamos, Armin, não temos tempo para isso.

Cortou qualquer tentativa do loiro de contestar novamente, saindo da cozinha com ele praticamente correndo para lhe acompanhar. Eren ficou alguns segundos olhando para a porta confuso, não entendeu o que estava acontecendo com Armin, mas naquele momento, resolveu relevar, o Arlet poderia estar em um mal dia.

-Marco, tudo bem? Se importa em me acompanhar até a sala de jantar? Os meninos ainda estão lá. -Disse se aproximando de Marco que corou levemente, acenando com a cabeça.

Caminharam lado a lado em silêncio até a sala ao lado, o barulho de conversas estava evidente mesmo com a porta fechada, Eren bateu levemente e abriu, sendo o primeiro a entrar e visualizar a pequena bagunça. Todos já haviam terminado de comer.

-Kaya, Falco e Gabi. -Chamou, sorrindo para eles. -Está na hora da escola.

Ignorou os resmungos mal humorados de Gabi, a voz sonolenta de Falco pedindo para ficar mais e Kaya fazendo bico. Zofia praticamente pulou de onde estava correndo até Eren, pedindo colo com os braços para cima, foi atendida no mesmo momento, com Eren ajeitando a pequena em seu colo em seguida.

-A escola parece legal. -Udo disse, tentando consolar os irmãos que levantavam com extrema preguiça.

Levi estalou a língua no céu da boca, se levantando também.

-Respeitem o Eren, comportem-se. -Disse da forma mais gentil que conseguiu, mas mesmo assim a figura de Marco tremeu, estava quase escondido atrás de Eren e isso chamou sua atenção. -Você é?

Hanji riu de sua cadeira.

-É o novo zelador, entrevistei ele hoje mais cedo.

Levi soltou um resmungo de entendimento estendendo uma das mãos.

-Levi Ackerman. -Se apresentou de forma educada, porém, aos olhos castanhos de Marco, Levi soava assustador, a áurea fria do mesmo causando arrepios na pele cheia de sardas do Bodt.

-Ma-mar-marco Bodt. -Apertou a mão do chefe sem firmeza, quase pulando quando ele se afastou de repente.

Levi deu de ombros já acostumado em causar esse tipo de reação nas pessoas, foi até Udo, acariciando os fios negros e depois seguiu até Zofia no colo de Eren, beijando o rosto da loira e ignorando a proximidade perigosa com o moreno.

Já estava sendo difícil o suficiente evitar olhar com desejo para a figura bonita do Jaeguer, por isso, se afastou rápido, saindo logo após se despedir dos maiores.

Eren ficou alguns segundos em silêncio encarando as costas largas do Ackerman, estava confuso pois em momento nenhum recebeu os tão costumeiros olhares intensos, ele nem ao menos havia se aproveitado da aproximação rápida, na realidade Levi apenas o tratou como deveria ter tratado desde o início. Como um simples empregado.

Voltou a realidade quando viu as crianças olhando curiosas para um Marco corado, sorriu gentil e fez as apresentações. O Bodt logo foi buscado por Rico para começar a trabalhar, deixando Eren sozinho com Zofia, Udo e Hanji, que também se preparava para sair.

Se lembrou que deveria conversar com a chefe naquele momento, colocando Zofia no chão para se aproximar dela rapidamente.

-Hanji, desculpe. -Disse depois de tocar o braço feminino e ter a atenção que precisava. -Hoje vou levar Udo até a clínica para o tratamento, Rico disse que eu deveria pegar um cartão com você.

Hanji moveu a cabeça concordando.

-Está na empresa, na minha sala, se importa em passar lá? -Tirou um cartão de contato com o endereço de sua bolsa e estendeu para Eren. -Eu esqueci de te entregar antes, agora estou com pressa, licença.

Praticamente correu dali, os saltos elegantes fazendo um barulho agudo contra o piso.

-Eren, vamos brincar de pique esconde? -Zofia pediu, os olhos azuis brilhando em expectativa. Eren fingiu pensar puxando o papel do bolso, o horário da consulta seria um pouco antes do almoço, então ainda tinham tempo.

-Tudo bem.

Disse por fim, achando adorável o sorriso que despontou nos lábios dos dois pequenos. Afinal, Zofia e Udo eram uma dupla, eles sempre chegavam a um consenso antes de sugerir qualquer brincadeira.

(...)

Dentro do carro com Jean dirigindo iam em direção a clínica, Udo e Zofia conversavam animadamente, olhando pela janela do carro enquanto Eren mexia em seu celular sem muita vontade, Jean parecia estar com a mente distante enquanto dirigia.

-O que achou dele? -Eren estranhou a pergunta repentina do Kirsten.

-Quem? Marco? -Jean acenou com a cabeça, afirmando. -Ele é fofo.

Recebeu um olhar estranho do mais alto.

-Você é gay? –“Direto e delicado”, Eren pensou com ironia.

-Sim. -Deu de ombros, desviando os olhos para a janela.

-Está interessado? -Eren riu, alto, conseguindo a atenção dos pequenos que olharam para os dois nos bancos da frente curiosos e atentos.

-Que? Não. -Olhou indignado para o motorista que não pareceu se abalar com sua resposta, estreitou os olhos achando a pergunta suspeita. Levou alguns segundos para se situar. -Deus, você está interessado.

Riu batendo a mão na própria coxa, principalmente depois que um pequeno rubor tomou conta das bochechas de Jean.

-Não diga besteiras, eu só achei ele...adorável.

-Adorável? -Eren arregalou os olhos depois de falar. -É a primeira vez que diz algo legal desde que te conheci.

-Cala a boca, suicida.

-Tsc, não vai conquistar o fofo do Marco assim, pocotó. -Jean quase ofereceu um dedo do meio para o moreno, porém, percebeu olhos curiosos em si e isso lhe freou. Eren aproveitou seu recuo, voltando a falar. -Eu já imaginava que você também fosse gay.

Admitiu, conseguindo um olhar irritado do outro.

-Que merda você está falando?

-Eu achava que você e Armin poderiam ter algo.

-Porque? -Jean ficou sério, desfazendo a falsa carranca que carregava até então, sua expressão agora era genuína.

-Vocês parecem um ex casal brigado. -Esclareceu Eren, dando de ombros. -Mas quanto ao Marco, se agir como uma mula com ele vai se ver comigo, entendeu?

Jean levantou uma sobrancelha, ignorando propositalmente tudo que Eren havia falado.

Eles finalmente haviam chego na clínica.

(...)

Eren saiu com um Udo cansado em seu colo, o menino parecia levemente estressado, porém, não reclamou em momento algum, se aconchegando no colo oferecido e fechando os olhos por alguns minutos enquanto esperavam Jean voltar para busca-los.

-Eren, estou com fome. -Zofia reclamou, apertando a própria barriga de forma dramática. Eren moveu a cabeça em afirmativa.

-Já estamos no horário de almoço, só preciso ir até sua tia Hanji buscar o cartão. -Murmurou mais para si mesmo, Zofia concordou com a cabeça.

Jean chegou e Eren apenas disse que precisavam ir até onde Hanji trabalhava, o Kirsten riu anasalado.

-Ela trabalha na empresa do irmão, idiota. -Jean disse, ignorando a cara de bosta que Eren fez em sua direção.

-As crianças. -Eren murmurou entre dentes, virando o rosto para a paisagem na rua, decidido a ignorar Jean e suas respostas afiadas.

Estacionaram na frente de um prédio enorme e espelhado bem no meio do centro tecnológico e comercial da cidade, era um dos maiores localizado na parte obviamente mais cara do centro.

-Vou voltar para almoçar, consegue chamar um carro de aplicativo para voltar? -Jean perguntou, deixando óbvio que tinha outros planos para o resto da tarde. O tutor deu de ombros ajeitando um Udo sonolento no colo, apertando a mão de Zofia firmemente com a mão livre.

-Tanto faz. -Respondeu sem se importar em ser grosso, Jean revirou os olhos dando partida no carro em seguida. Eren permaneceu de pé encarando a entrada sinuosa do prédio, tudo ali cheirava a poder e dinheiro. Por alguns instantes o Jaeguer se sentiu pequeno diante a imensidão espelhada a sua frente. Foi despertado pelos dedos de Zofia apertando os seus, chamando a sua atenção.

-Vamos entrar. -Ela sugeriu, olhando curiosa para a expressão perdida do mais velho. -Faz tempo que não venho no trabalho do papai e da tia Hanji.

Eren começou a andar escutando em silêncio Zofia tagarelar como normalmente fazia, a garotinha era esperta e eloquente, falava muito bem para sua idade, não errando uma palavra se quer.

-Boa tarde, em que posso ajudar? -A recepcionista perguntou sem olhar na direção dos três parados na frente do balcão, os olhos da mulher morena de olhos castanhos presos na tela do computador na sua frente.

Eren sentiu vontade de revirar os olhos, sentia os olhares desconfiados dos seguranças e agora a recepcionista parecia fazer pouco caso para atendê-lo. Coçou a garganta e ainda assim não conseguiu a atenção da mulher, respirando fundo decidiu falar logo, desistindo de obter educação daquela pessoa.

-Viemos ver Hanji Ackerman.

A mulher entortou a boca e sem sequer checar qualquer coisa, disse:

-Sinto muito mas a senhorita Ackerman não atende sem hora marcada.

-Mas...

-Você pode se retirar. -Cortou Eren começando a digitar em seu teclado de forma rápida, ignorando totalmente o moreno incrédulo parado na recepção. Ele entendia ser tratado daquela forma pois vestia roupas casuais e simples, blusa preta lisa, calça jeans skinny e all star verde, além das suas costumeiras presilhas coloridas prendendo sua franja. Mas estava com dois dos filhos do dono e chefe daquele lugar e achava estranho que nenhuma daquelas pessoas estivessem reconhecendo as crianças.

-Porque não podemos ir ver a tia Hanji? -Zofia perguntou, falando pela primeira vez desde que pararam na frente da recepção. A mulher percebendo a criança finalmente desviou os olhos do computador, arregalando as orbes castanhas ao perceber não um, mais dois dos filhos de Levi Ackerman parados junto do homem desconhecido em sua frente. Praguejou baixo arrumando o cabelo de forma nervosa.

-Vou avisar o secretário da senhorita Ackerman que tem visita. -Disse pegando o telefone ao seu lado, rapidamente fazendo a discagem rápida. -Eld, os sobrinhos da senhorita Ackerman estão subindo até aí, ok? Estou liberando a entrada deles junto do...

Olhou para Eren desconfiada.

-Eren Jaeguer, o tutor.

A boca da mulher se abriu em entendimento.

-Junto do tutor deles, certo, obrigada. -Encaixou o telefone de volta se virando para eles com um sorriso nervoso. -Podem subir, último andar primeira sala a direita.

Eren apenas acenou com a cabeça, sem vontade alguma de fazer qualquer agradecimento a péssima recepcionista.

-Não gostei dela. -Zofia reclamou, entrando no elevador na frente de Eren, que soltou sua mão para ajeitar um Udo agora adormecido no colo.

-Nem eu. -Eren acabou admitindo enquanto apertava o botão do andar em que encontraria Hanji. Alguns funcionários entravam e saiam do elevador olhando de forma curiosa para o trio que subia, alguns estavam apenas intrigados enquanto outros faziam óbvias caretas desagradáveis na direção de Eren, que ignorou. Ele sempre foi bom em ignorar.

Assim que o elevador parou no andar indicado Eren segurou a mão pequena de Zofia conduzindo a menina em segurança até ficarem na frente da porta indicada, o nome de Hanji estava bem colocado na madeira cara. Soltou a mão da pequena Ackerman para bater na porta, esperou ser atendido, porém, ninguém atendeu e antes que alcançasse a mão de Zofia novamente ela correu, fazendo Eren se virar com pressa para ao menos ver para onde ela ia com tanta pressa, se surpreendendo em ver Levi acompanhado de Hanji, um loiro de sobrancelhas grossas que viu na festa de Gabi e Mikasa.

-Papai!! -Zofia praticamente se jogou no colo do pai, sendo amparada sem dificuldade, o Ackerman mais velho beijou os cabelos cheirosos da filha olhando curioso para ela e em seguida para o tutor parado na frente da sala de Hanji com um Udo adormecido nos braços.

-Oi garotinha. -Ajeitou Zofia em seus braços. -Eren? Aconteceu alguma coisa?

Não era comum que seus filhos fossem levados até a empresa. Eren negou, indicando Hanji com a cabeça.

-Hanji me pediu para passar aqui, acabamos de vir da clínica.

Levi assentiu, as segundas Udo fazia seu tratamento para a hemofilia, porém quem normalmente levava o pequeno era Armin ou Rico.

-Ah, verdade, eu tinha esquecido. -Hanji disse, rindo sem graça, caminhou com pressa até a própria sala, saindo de lá em seguida com o cartão na mão, este que entregou para Eren.

Erwin e Mikasa permaneceram em silêncio apenas observando.

-Onde vocês vão? -Hanji perguntou ao ver Zofia fazer bico por ter que se despedir do pai.

-Eu quero almoçar e depois comer sorvete. -Zofia disse, abrindo um lindo e manipulador sorriso.

-Sabe que não pode comer muitos doces. -Levi alertou, apertando a bochecha da loira.

-Só hoje...-Disse manhosa, Eren sorriu, achando a cena um tanto fofa.

-Porque não almoçam com a gente? -Erwin ofereceu, sorrindo gentilmente na direção de Eren. O moreno abriu a boca prestes a negar, porém, Hanji foi mais rápida.

-É uma ótima ideia. -Hanji praticamente pulou de animação. -Vamos, vamos antes que o senhor trabalho até cair desista.

Apontou para Levi que ignorou a irmã com sucesso colocando Zofia no chão e segurando sua mão.

Caminharam até os elevadores em silêncio, Eren se encontrava totalmente constrangido e tímido, não era sua intenção se meter no meio de um almoço entre família e amigos.

-Me desculpe se ficou desconfortável com o convite. -Erwin disse baixo de forma que apenas o Jaeguer escutasse, porém, o loiro viu Levi juntar as sobrancelhas, revelando que ouvira sua frase. -Mas não precisa se preocupar, você não está sendo inconveniente.

Eren corou desviando dos olhos azuis astutos de Erwin, o tom de voz usado pelo loiro era macio e gentil, assim como suas palavras, gentil até demais, deixando do tutor envergonhado. Eren nunca conseguiu se sentir à vontade com pessoas brandas demais, principalmente quando percebia quando era uma gentileza interessada, mas com aquele homem sendo amigo de seu chefe, ao invés de fechar a cara como normalmente faria, apenas desviou o olhar fingindo que não ouviu.

A porta do elevador abriu antes que chegassem ao térreo, revelando duas funcionárias que entraram encolhidas ao perceberem o chefe bem ali.

-Senhor Ackerman. -Cumprimentaram de forma desajeitada, ambas estremecendo quando o olhos azuis petróleo do chefe se desviaram até elas.

Eren também estremeceu, mas não de medo, na verdade ele não entendeu exatamente o que era, apenas sentiu-se estranho com a postura pouco conhecida do chefe, o rosto estava estoico como sempre, porém, os olhos não eram afetuosos como ele costumava ver em casa com as crianças, ali na empresa os olhos de Levi apenas refletiam poder. Não eram olhos desejosos, como Eren recebeu algumas vezes, não, era uma intensidade diferente, uma que se fosse direcionada ao Jaeguer, ele tinha certeza, seria completamente dominado.

“Que merda estou pensando?”

Mordeu os lábios tentando controlar os pensamentos, porém, se já era difícil resistir a Levi apenas lhe olhando de forma lasciva. Vê-lo com aquela áurea de inalcançável e indomável era incrivelmente atraente, nesse momento, Eren percebeu o motivo de ter tantas pessoas tentando estabelecer um relacionamento com aquele homem.

Chegaram ao térreo encontrando com uma dúzia de funcionários conversando na porta, provavelmente saindo para o almoço. Antes que saíssem do prédio Levi parou, fazendo com que os outros parassem também.

-Quer me dar ele? -Estendeu os braços para o Jaeguer na intenção de pegar Udo, porém o moreno negou.

-Estou bem, não se preocupe senhor Ackerman.

Levi olhou nos olhos verdes por alguns segundos, perdendo a postura fechada que mantinha quando estava na empresa, não só Eren, mas os colegas e funcionários do Ackerman notaram, vendo abismados o que o misterioso homem com uma das crianças no colo e presilhas na cabeça causava no chefe intocável. Mal sabiam eles que essa era a única face conhecida pelo Jaeguer até aquele momento.

Voltaram a andar em direção a saída, porém, novamente foram impedidos, dessa vez pela Ackerman mais nova. Zofia encarava a recepcionista com uma expressão irritada desenhada no rosto.

-O que foi? -Levi quis saber, ainda segurando a mão da filha, que com a mão livre apontou para o balcão da recepção.

-Eu não gosto dela. -Disse, fazendo bico.

-Porque? -Hanji quem perguntou, confusa.

-Ela tratou o Eren mal. -Explicou, fazendo o tutor ficar ainda mais vermelho do que já estava.

-Isso é verdade, Eren? -A expressão fechada e irritada estava lá novamente, fazendo alguns funcionários que observavam toda a cena dar um passo para trás. Eren se encontrou sem saída, não queria prejudicar a recepcionista mas também não queria chamar Zofia de mentirosa, mesmo que achasse a atitude da menina um tanto mimada, sabia que era a forma dela de proteger quem gosta.

-Ela não me conhecia então não quis me deixar subir de imediato, não acredito que foi proposital. -Disse nervoso, falhando em parecer tranquilo.

-Certo, ela realmente não reconheceria você, mas por qual razão não percebeu meus filhos te acompanhando?

Eren ficou mudo, olhando para o chão em seguida. Não queria ser o responsável pela demissão de ninguém.

Levi suspirou caminhando tranquilamente até a recepção, falou pouco com a mulher, que parecia em choque, e voltou, olhando diretamente para Mikasa.

-Contrate uma recepcionista nova. -A Ackerman levantou uma sobrancelha.

-Você a demitiu? -A contrariedade estava óbvia na voz da mulher.

-Não, apenas transferi de setor.

O silêncio que se seguiu foi desconfortável, Eren trocou o peso de uma perna para a outra, constrangido, seguiu o grupo para a rua sem coragem de encarar ninguém.

Felizmente para Eren o restaurante escolhido por eles era simples e caseiro, de forma que o tutor não se sentiu envergonhado, já que não estava vestido e nem preparado para ir até um restaurante de luxo.

Comeram em silêncio por longos minutos, Eren tentou se concentrar em seu prato, porém, a mulher a sua frente, Mikasa, parecia agitada. Ele percebeu a forma como ela sempre olhava de canto para Levi, verificando o baixinho a cada instante pelo canto dos olhos. Os outros pareciam alheios, mas Eren não, para ele estava bem óbvio.

-Para onde transferiu Carolina? -Ela enfim perguntou, Levi apenas a olhou alguns segundos antes de ignorar completamente sua pergunta, voltando a comer. -É sério, Levi, não pode afastar uma funcionária que está conosco a anos por causa de outro funcionário que pode ser facilmente substituído.

Eren odiou a forma como ela falou, agindo como se ele não estivesse lá ouvindo. Mordeu a própria língua se segurando para não dizer que estava ali ouvindo a conversa.

-Você também pode ser substituída, não se esqueça disso. -Levi disse, limpando a boca com o guardanapo de forma elegante e descansando a mão sobre a mesa.

-Só estou tentando ser racional, trabalhamos a muito tempo juntos, você sabe que eu nunca faria nada para te prejudicar. -Mikasa disse, colocando sua mão sobre a do primo, os olhos cinzentos dele acompanharam o movimento, retirando sua mão do contato com a dela.

Eren abriu os olhos curioso, a forma como Mikasa agiu mostrou um nível de intimidade entre os dois que ele não esperava, suspirou voltando sua atenção para Udo agora acordado e comendo de forma metódica e silenciosa. Erwin e Hanji se encontravam com as sobrancelhas franzidas e expressão de pura confusão, normalmente Mikasa era quem cutucava Levi até irrita-lo, era a primeira vez que a viam agir de forma afetuosa daquela forma com ele.

Mikasa ao ver Eren nitidamente desconfortável e desviando o olhar, sorriu de canto.

-Claro, não faria nada de mal, só tentar me arrancar da presidência. -Levi respondeu com ironia, achando a situação bizarra demais para ter outra reação. Porém, novamente agindo de forma inesperada, Mikasa riu.

-Bom, há uma forma de isso não acontecer. -Disse olhando para seu colo e colocando o cabelo atrás da orelha. -Eu sei que os outros acionistas estão te pressionando a casar logo, afinal, não faz bem para a imagem da empresa ser um pai de cinco solteiro. Podemos juntar o útil ao agradável.

Hanji engasgou, Eren travou onde estava, Erwin arregalou os olhos levantando as sobrancelhas grossas, Zofia e Udo pararam de comer para finalmente prestar atenção na conversa dos adultos e Levi permaneceu parado e totalmente em choque.

-Quanto de vinho você bebeu? -Respondeu por fim, suspirando e desviando o olhar de Mikasa, que claramente pareceu decepcionada com a resposta. -Tch, pare de falar merda.

A Ackerman deu de ombros voltando a comer enquanto o resto da mesa tentou se recuperar da estranha conversa, Levi pareceu distante durante o resto do almoço, respondendo apenas as perguntas do filho. Enquanto Eren também permaneceu em silêncio, estava incomodado e não sabia dizer com o que, saber que Levi logo estaria casado não caiu bem em seus ouvidos, e assustado com aquelas sensações, o Jaeguer não tentou puxar qualquer assunto, respondendo quando era citado com palavras curtas.

(...)

O resto do dia se passou tranquilo, já estavam em casa e Eren terminava de jantar, sozinho, na cozinha. Os outros funcionários já haviam comido e se retirado, apenas o moreno permaneceu lá olhando para o prato meio cheio. Estava distraído o dia todo e sabia ter a ver com a conversa esquisita no restaurante durante o almoço, porém, não entendia porque aquilo lhe incomodava tanto.

Seu chefe não lhe olhava mais como se fosse atacar a qualquer momento, na verdade ficou clara a desistência do Ackerman, então não havia motivos para Eren sentir que estava sendo tratado como mais um brinquedo, certo?

Não, não era isso, ele estava incomodado em saber que Levi poderia aparecer casado a qualquer momento, mas porquê? Isso definitivamente não deveria ser uma preocupação.

-Eren. -A voz de Armin lhe fez desviar os olhos do prato para o loiro a sua frente, este que se sentou, cruzando as mãos na frente do rosto, apoiando o queixo.

-Hum? -Esperou que o Arlet falasse o que desejava. Não esperava que ele fosse puxar conversa, já que fazia dias que o loiro agia estranho consigo.

-Quem é Reiner?

Silêncio.

Os olhos de Eren estavam arregalados, em segundos sua respiração ficou descompassada e seu coração pareceu querer saltar do peito, abriu a boca porém nada saiu. Levou as mãos aos cabelos, bagunçando os fios e se levantando, quase tropeçando no processo, ignorando completamente um Armin olhando curioso saiu andando de forma desordenada. Os olhos verdes apagados e a mente longe, Eren não estava mais ali. De forma automática o corpo de Eren se dirigia até o quarto, até um local seguro, tentava controlar a respiração que ficava cada vez mais descompassada e errática.

-Sua puta desgraçada, é sua culpa, Eren, sua culpa. Porque não morre?

-Desculpe, desculpe. -Eren sussurrava, tropeçando no corredor e quase indo ao chão, se apoiou na parede sentindo os olhos lacrimejando.

-Você precisa de uma lição.

-Não! -Agarrou o próprio corpo, se apoiando na parede com o tecido da blusa entre os dedos, apertando com força. Doía, sentia doer, seu corpo estava cheio de marcas, ele merecia? Sim.

-Você sabe que a culpa é sua, não sabe? Eu sempre fiz tudo por você, eu cuidei de você e você foi mal agradecido, por que sempre age tão mal?

-Perdão. -Puxou o ar com força fazendo o peito doer, seus músculos cardíacos pareciam não querer funcionar, sua cabeça também doía assim como suas costas, era como se as feridas ainda estivessem abertas, sangrando.

Era um lixo, alguém que não merecia o que tinha, por isso vivia fugindo, fugia de que mesmo? De si mesmo, afinal, era ele o culpado de tudo, de todos.

-Eren?

O moreno não percebeu que havia outra pessoa no corredor, esta que olhou preocupada para o estado do tutor, encolhido e sentado no chão com lágrimas pesadas escorrendo dos olhos verdes, se balançando e sussurrando ‘perdão’ inúmeras vezes, definitivamente era um Eren que ninguém daquela casa havia visto ainda. Um Eren quebrado.

-Eren? -Tentou chamar novamente, se agachando na frente dele, nesse momento Eren pareceu perceber que havia alguém lá, tentou toca-lo no braço porém ele se encolheu.

-Por favor, não me machuque. -Sussurrou, quase se fundindo a parede, os cotovelos estavam vermelhos de tanto serem pressionados.

-Eu nunca te machucaria. -Sussurrou de volta, levando as mãos até os fios castanhos. -Consegue se acalmar?

Ele negou com a cabeça.

-Tudo bem, eu fico com você até que melhore. -E sem aviso pegou o Jaeguer no colo, levando-o até o quarto dele.

Depositou o corpo trêmulo na cama com cuidado, observando sua expressão assustada, mesmo de olhos fechados ele parecia com medo, preso em uma redoma de terror.

-Está tudo bem Eren, sou eu, pode abrir os olhos. -Tentou, porém ele negou, se sacudindo com o espasmo que o choro lhe deu. -Eren.

Tentou chamá-lo a razão, se aproximando do corpo novamente encolhido e pegando nos ombros tensos, empurrando até que Eren estivesse deitado na cama, mas antes que pudesse se afastar foi puxado, caindo deitado ao lado dele. Em silêncio e ainda tremendo Eren se aproximou, se agarrando ao outro corpo, buscando conforto.

Aos poucos sua respiração foi se acalmando e antes que dormisse, sussurrou.

-Obrigado, Levi


Notas Finais


Quem já sabia que era o Levi? Ficou óbvio, na verdade.

Capítulo super importante cheio de várias dicas.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...