Obito
Eu preciso de redenção
Eu sou apenas um homem
Um homem numa missão
Eu não quero problemas
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A palestra na delegacia no domingo seria às 13 e duraria até as 16 e era obrigatória, ou seja, as probabilidades de ser um desastre já eram enormes, ainda com o meu sutil atraso de 15 minutos..
-Me desculpem pela demora. Eu tive vários imprevistos no caminho.
Entrei ofegante na sala. As ruas em Iwagakure eram parecidas demais e para alguém com leve ressaca e com pressa essa semelhança formou um pequeno labirinto.
-Seja bem vindo. Eu sou responsável pela divisão de inteligência, Kisame.
Um homem verdadeiramente alto estendeu a mão para me cumprimentar. Educadamente, retribui o seu cumprimento e comecei a organizar algumas coisas que usarei na palestra.
-Obrigado por me receber.
-Somos nós quem agradecemos. Não é sempre que nos deparamos com uma chance assim.
Estou acostumado com figuras na liderança que desejam cair nas graças de agências importantes como a nossa. Eu não prestei muita atenção, estava fazendo o meu melhor para preparar os slides e fotos dos nossos arquivos, mas o tal Kisame parecia alheio à minha distração.
-Nossa sargento cobrou alguns favores de um amigo de infância com quem o senhor trabalhou - Eu achei que ele só queria estabelecer relações e contatos até ouvir o nome - Kakashi Hatake.
-Ah sim.
Meu humor piorou sutilmente. Kakashi deve ter entrado num acordo com Itachi e eu fui o azarado escolhido para essa tarefa. Kisame trocou algumas palavras comigo até que cinco minutos depois, finalmente consegui deixar tudo funcional. Agradeci pela sua atenção e dei início ao discurso.
-Mais uma vez peço desculpas pela demora. Eu sou Obito Uchiha, faço parte de uma força tarefa especial chamada UAC - Unidade de Análise Comportamental - há seis anos. As técnicas que usamos para observar e aprender sobre cenas de crimes, embora não seja algo fácil de aprender em algumas poucas horas, podem ser de grande valia para vocês. Pois não? Pode me dizer o seu nome?
Um jovem de cabelos escuros ergueu a mão e soube pelo seu olhar afiado que enfrentaria o primeiro obstáculo com ele.
-Tatsuo, faço parte da inteligência. Eu não entendo qual a utilidade dessas técnicas de observação se elas não valem praticamente nada no tribunal - Argumentou cheio de desdém.
-Bom. Qual a função da polícia?
-Servir e proteger.
Concordei sinceramente com ele - Julgar e executar não fazem parte das funções dos policiais e não é minha função. Minha função, assim como a sua, é parar esses criminosos o mais brevemente possível.
-Nesse caso, a perícia não é a mais importante?
Essas são as duas objeções mais comuns que encontramos, felizmente elas apareceram cedo e logo poderei resolver.
-Vou dar um exemplo real para vocês e depois vocês me digam o que acham. Um menino de 8 anos desapareceu sem deixar nenhuma pista enquanto ia para a escola, o primeiro das duas vítimas anuais durante o período de uma década. Alguns detalhes sobre os sequestros: Exceto Koji, todas as crianças foram sequestradas à noite, todas as crianças dormiam num quarto do segundo andar, e como não houve nenhum sinal de arrombamento ou invasão, a perícia concluiu que foram as próprias crianças que abriram as portas. Em todos os quartos foram encontrados desenhos infantis rasgados em pedaços minúsculos. Todas as 19 vítimas foram encontradas no máximo duas semanas após o sequestro, exceto Koji. O que você acha disso?
Enquanto eu falava, mudava as fotos dos quartos infantis em ordem cronológica. Tatsuo pensou um pouco antes de responder.
-O sujeito estava recriando a primeira experiência, ele deveria trabalhar com altura, o que permitiu observar as crianças e ter as habilidades para sequestrar as crianças.
-Essa foi a mesma teoria seguida pela força tarefa criada após a terceira vítima ter sido encontrada. Todos os técnicos de telefonia, internet, televisão, até mesmo funcionários da prefeitura que podam árvores foram investigados.
-Qual foi a sugestão de vocês?
-A equipe da UAC responsável pelo caso sugeriu que as famílias das vítimas parassem de fazer apelos à mídia e recomendou que os policiais ficassem atentos à pais solteiros que tinham apenas um filho.
Tatsuo riu com deboche - Que idiotice.
-Foi exatamente isso que os policiais disseram. Bom, antes de entrar em detalhes sobre o porquê, vou contar o desfecho desse caso. Quando a 21° vítima foi levada, a família não foi até a mídia apelar pela misericórdia do sequestrador e foi isso que salvou a vida da sua filha. Durante uma blitz de rotina, a polícia perseguiu um furgão que se recusou a parar e dentro dele encontraram a pequena Ume e um jovem de 18 anos no volante. Esse jovem era Koji, a primeira vítima. O que me diz sobre isso?
-Que o garoto sofreu de síndrome de Estocolmo e ajudou o sequestrador - Ele me respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
-Sim, houve uma vítima de Estocolmo, mas não foi o Koji. Veja bem, durante o interrogatório o meu mentor percebeu que Koji pedia constantemente para ver as entrevistas dos pais das crianças. E embora seus pais tivessem garantido que ele era canhoto, ele escreveu o endereço do sequestrador com a mão direita. Sabe o que encontramos naquela casa?
Coloquei em paralelo as fotos dos quartos: Um quarto com uma boa cama, computador e televisão. Arrumado e limpo com esmero. O segundo quarto era só um cômodo vazio com um colchão manchado e um travesseiro fino pelos anos de uso.
-Quais desses dois você acha que era o quarto do Koji?
Tatsuo apontou para o segundo quarto.
-Errado. O quarto dele era este - Apontei para o primeiro quarto - A perícia não achou DNA em nenhum dos quartos, mas meu mentor lembrou que Koji contou no interrogatório que ele conseguia ver a TV pelo buraco da fechadura da porta do seu quarto. Como podem ver, esse quarto é o único que tem o ângulo certo para tanto.
Depois dos sons de surpresa e olhares curiosos, continuei explicando.
-Ele foi a única vítima fora do padrão, por que? Porque ele criou o padrão! As casas não foram invadidas, a cena indicava que as crianças interagiram com o sequestrador, até mesmo desenhando com ele ao invés de gritar por ajuda. Por que? Todos os pais ensinam os filhos a ficar longe de adultos estranhos, mas que pai ensina o filho a ficar longe de outras crianças? Por isso pedimos para os policiais ficarem atentos aos pais solteiros com um filho único da região. Outro ponto: o desenho rasgado não era uma assinatura, mas sim um ataque indireto contra a criança.
-Por que vocês acusaram Koji como o mentor e não como cúmplice? - Tatsuo perguntou confuso.
-Por que uma pessoa canhota fingiria ser destra? Porque seus desenhos estavam misturados com os das vítimas. Por que uma vítima iria pedir para ver de novo e de novo o sofrimento dos pais das vítimas? Porque ele se alimenta desse sofrimento. Por que uma suposta vítima viveria em condições melhores que o seu raptor? Porque ele conseguiu inverter o jogo.
O único som presente era o das respirações, alguns pareciam até mesmo com medo de piscar e perder algo.
-Nós reparamos duas coisas: quanto mais os pais apelavam nas mídias, mais rápido seus filhos morriam. Koji gostava de fantasiar que o desespero desses pais era o desespero dos seus próprios pais. Era ele quem queria criar uma memória. Koji escolhia as vítimas e conquistava a confiança delas. Era ele quem entrava no quarto e brincava com a vítima, foi ele quem convenceu a vítima a lhe seguir. Apesar de ter 18 anos, Koji parecia ter no máximo 13 anos, baixo e magro, rosto redondo e sorridente, por isso ele conseguiu agir por tantos anos. Koji teria sido inocentado se não fosse por nossas observações, apenas as provas da perícia não seriam suficientes.
Fiz uma pausa para eles assimilarem tudo o que eu disse e aproveitei para beber um pouco de água.
-Koji é um exemplo perfeito para o que tentamos ensinar. Todo serial killer é um psicopata, mas nem todo psicopata é um serial killer. Assim como Koji, Charles Manson, alguns psicopatas não chegam ao ponto de matar alguém, e particularmente, eu acho essa última classe mais perigosa. Agora, vamos ver algumas formas de caçar esses monstros.
Ouvi o farfalhar de folhas e respirei fundo antes de prosseguir.
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No fim da palestra, juntei minhas coisas o mais rapidamente que eu consegui e tentei me esquivar dos agradecimentos o mais rápido. Eu tive a sorte de conquistar a confiança dos ouvintes, mas outra coisa muito comum nesses momentos é um pedido de ajuda com algum caso complicado ou com pistas risíveis de tão simplórias.
Quando cheguei na calçada, pensei ter escapado. Estava prestes a comemorar quando ouvi uma voz doce me chamar. Uma policial com roupas comuns correu a breve distância até estarmos pertos.
-Me desculpe te chamar tão casualmente, senhor.
-Não se preocupe. Eu não ligo.
Ela ajeitou os cabelos castanhos atrás de ambas as orelhas. Seu sorriso era algo tão sincero que chegava a ser contagiante.
-Eu me chamo Rin Nohara - A cumprimentei com um sorriso animado que vacilou um pouco com a frase seguinte - Eu sou amiga de infância do Kakashi.
-Prazer te conhecer - Então essa figura pequena e um tanto fofa é o motivo da minha viagem.
-Eu posso imaginar como a rotina de vocês é corrida, posso lhe pagar um café como agradecimento por ter vindo?
Apesar dos arrepios de alerta na minha coluna, acabei aceitando o seu convite.
Eu a segui até a cafeteria Akatsuki e meu humor melhorou um pouco quando vi Deidara emburrado no caixa. Ele fingiu não me conhecer, acho que mereço depois da brincadeira que fiz com ele.
Eu só queria o irritar, achei sua expressão de raiva um tanto fofa e memorável, mas eu não esperava encontrar uma expressão ansiosa nele. Os olhos dele assombraram meus sonhos durante a noite toda como faróis em meio a neblina densa guiando meu eu perdido no mar que tentava entender como medo, curiosidade e rebeldia conseguiram se completar tão perfeitamente na a íris única dele.
A última vez que vi uma íris tão expressiva foi no Naruto.
-O que o senhor vai querer? Pode ficar a vontade, eu falei sério quanto a pagar.
Rin me perguntou e voltei a prestar atenção nela.
-Eu quero que você pare de me chamar de senhor. Eu não tenho nem 30 anos ainda.
-Me desculpe, é a força do hábito. Aqui é necessário sempre tomar cuidado com as palavras informais demais até mesmo fora do horário do serviço.
Senti um pouco de pena pelo o que ela me falou em tom de brincadeira. Talvez ela quisesse ajuda com um problema interno e por isso tocou nesse assunto.
-Bem, eu não vou ficar irritado se você me tratar mais afetuosamente.
Ela sorriu com o que eu disse, escondendo uma mecha do cabelo atrás da orelha novamente. Nesse mesmo momento, uma sombra apareceu entre nós.
-Desejam fazer seus pedidos?
Ergui uma das sobrancelhas assim que vi Deidara parado com um caderninho na mão e com um avental preto amarrado na sua cintura.
-Por favor, um chá gelado e macarrons.
Deidara anotou o pedido dela e esperou o meu, ainda ignorando minha presença.
-Eu quero um expresso e duas fatias daquele bolo de chocolate - Apontei para a vitrine um bolo que gritava 'diabetes' por causa da generosa cobertura branca.
-Hm.
Deidara pisou forte contra a madeira do piso até o balcão onde preparou nossos pedidos. Quando ele serviu Rin, ele foi bem educado e até sorriu para ela, mas parecia disposto a jogar o expresso na minha cabeça.
-Bom - Rin elogiou após provar um macaron rosa como algodão doce.
-As coisas aqui são deliciosas - Falei depois de uma garfada no bolo.
-O senh- Você já conhecia esse lugar?
-Acabei aqui por acaso ontem.
-É a sua primeira vez na cidade?
-Ahan. Eu só viajo a trabalho, e sua cidade não lida com um criminoso serial desde aqueles incêndios de seis anos atrás.
Se não me engano, aquele foi de longe o maior 'criminoso serial' que aquela cidade já produziu. Um total de sete incêndios em residências de classe média em três dias. Esse caso aconteceu no meu primeiro ano na UAC e eu só recordo pois prestamos consultoria numa vídeo conferência.
-Ah, foi no mesmo ano que eu me formei na academia.
Rin começou a contar animadamente sobre sua carreira até a inteligência. Conversamos sobre trabalho o tempo todo, dois colegas trocando informações e nada mais. Eu estava quase pensando que julguei errado suas intenções quando ela ficou repentinamente séria.
-Obito, me desculpe. Eu prometi que não iria incomodar o senhor com isso, mas quanto mais conversamos mais eu fico inquieta pois suas análises são impressionantes. Mas se caso o senhor não deseje que eu peça ajuda, é só me falar que eu esquecerei que tive essa ideia.
Eu já esperava por algo assim, então só dei de ombros.
-Não posso prometer que serei de grande ajuda, mas se eu puder ajudar de alguma forma.
Rin sorriu tão abertamente que seus olhos lacrimejaram pela emoção. Ela segurou minhas mãos por cima da mesa.
-Eu prometo compensar o senhor! Só queria saber se o senhor conseguiria ver algo que eu deixei passar.
Ela soltou minha mão para mexer na mochila ao seu lado. Dela foi tirada uma pasta de plástico azul com algumas folhas brancas com vários post-its amarelos e verdes.
-O nome da vítima é Jiton. Ele desapareceu há seis anos, poucos dias antes dos incêndios começarem. Na verdade, sua casa também foi incendiada, mas não foi associada com os outros casos.
-Por que não? - Perguntei enquanto corria os olhos pelos papéis.
-A casa estava vazia e foi usado um combustível diferente.
-Mas você acredita ter ligação?
-Sim - Ela foi resoluta em sua resposta.
-Por que?
-Jiton era professor de uma escola pública, tinha uma excelente reputação. Ele ficou viúvo e cuidou da filha sozinho desde que ela tinha três anos. Ele fazia parte do sindicato dos professores, treinava o time de basquete da escola, nunca cometeu nenhum crime e um belo dia… puff - Rin fez um gesto que lembrava uma explosão - Ele desapareceu sem deixar rastros e sem explicações. Alguns dias depois o maior piromaníaco apareceu e sumiu tão rápido quanto.
Na pasta que ela me deu tinha relatórios oficiais, recortes de jornais, fotos, até mesmo relatos de supostas testemunhas. Um trabalho e tanto.
-Aqui diz que acharam material genético dele no local.
-Um pouco de sangue na primeira casa e por isso… Alguns policiais culpam ele pelo incêndio.
-Chegaram a achar um corpo?
-Nunca.
-Esse foi o seu primeiro caso?
Chutei apenas com conveniência e para testar a honestidade dela. Pela foto desse homem, tenho um palpite um pouco mais elaborado sobre o interesse dela nesse caso, apesar dos sobrenomes diferentes. Rin mordeu a boca nervosamente algumas vezes antes de erguer a cabeça e provar que eu estava certo.
-Jinton é o meu pai.
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