1. Spirit Fanfics >
  2. O vazio dos seus olhos >
  3. CAPÍTULO I - Vazio

História O vazio dos seus olhos - CAPÍTULO I - Vazio


Escrita por: biagw

Capítulo 1 - CAPÍTULO I - Vazio


CAPÍTULO I 

Naruto POV 

 

- Esperando sua mãe?  

Me assustei por um instante antes de reconhecer aquela voz firme em minhas costas. Tia Tsunade tem a mania de aparecer do nada e me assustar de propósito, depois ela acaba rindo da minha cara como se fosse uma criança arteira. Ou melhor, Doutora Tsunade. Minha mãe se irrita quando me refiro a ela de outra forma que pareça menos respeitosa (o que me parece uma frescura que não deveríamos ter, afinal, ela me conhece desde que nasci) dentro do hospital, talvez por ser a médica chefe.  

- Ah, sim. Ela me disse que está terminando o turno dessa noite... 

Minha mãe gosta de trabalhar demais, eu nem entendo por quê. Ela diz que ama ser médica, que sua missão é muito importante porque salva vidas todos os dias – e eu realmente me orgulho muito por isso - mas acho que nenhum outro médico nesse país passa tanto tempo no hospital como essa dona Kushina. E, mesmo que ela esteja cansada ao máximo, continua passando pelos corredores com um sorriso, conversando com os pacientes, atendendo mais gente. Bom, isso pelo menos faz com que todos a admirem também, desde seus colegas até os desconhecidos que vem procurando por seu atendimento. Essa é a parte legal.  

Meu pai tentou convencê-la inúmeras vezes sobre abrir uma clínica, trabalhar menos e ter menos estresse, mas essa mulher teimosa insiste que deve estar onde as pessoas precisam mais – ela diz que consultas marcadas são chatas, inacessíveis a maioria da população e menos necessárias. De certa forma ela parece certa. E por causa de sua profissão, eu acabei me acostumando a esse ambiente conturbado e deprimente que é o hospital, esse em especial, onde ela já trabalha faz uns anos. 

Os outros médicos e enfermeiros me conhecem, além das tias da limpeza que sempre são minhas aliadas e me levam pra tomar um café na cozinha às escondidas, claro. Tem até uns pacientes que vivem reaparecendo e já se tornaram meus colegas. Eu normalmente apareço depois das aulas quando mamãe vai voltar pra jantar ou pra acompanhá-la de volta pra casa depois dos meus treinos, principalmente quando meu pai não pode vir. As vezes eu apareço sem nenhum motivo, só porque estou entediado em casa, como é o caso de hoje. É uma boa aparecer assim, normalmente minha mãe se inspira e acabamos comendo algo antes de voltar pra casa – um lucro pra mim, não é? 

- Naruto! 

Senti o toque quente da minha mãe em meu ombro e logo a encontrei sorrindo, parada atrás de mim. Ah, e é fácil saber que o toque é dela, é mais quente e macio que de qualquer outra pessoa. Como já estava sem o jaleco e com a bolsa pendurada, eu podia ter certeza que era hora de irmos pra casa. Felizmente foi um dos dias em que não tive que esperar muito – as vezes ela resolve atender mais um, mais um e mais outro e passa horas do horário original sem nem perceber. Coisa de seu espírito altruísta.  

- Vamos comer algo hoje? 

- Por que? Está com fome? Minato não te deu nada no jantar?  

Naquela noite minha mãe parecia excepcionalmente calma, ela só terminava de assinar as coisas no balcão sem qualquer pressa enquanto sua querida chefona, Tsunade, saia da nossa vista rindo de alguma coisa. Na maioria das vezes, ela sai toda agitada querendo fazer um milhão de coisas ao mesmo tempo e sem dar pausas no meio das frases. 

- Papai não é tão relaxado assim... - me apoiei no balcão, a observando terminar seus relatórios ou seja lá o que eram aqueles papeis – Eu só queria aproveitar da situação 

Eu podia rir porque na verdade era a cara do meu pai se esquecer de preparar alguma refeição. Não que eu não pudesse me virar sozinho, mas digamos que eu tenha pais que gostam de me ‘mimar’. Enfim, meu pai anda sempre tão concentrado e ocupado com suas funções de professor (pilha de prova pra corrigir, recado de mãe de aluno, essas coisas) que não seria nada estranho se ele me esquecesse por alguns minutos.  

- Podemos ir, se quiser 

Devo confessar, minha mãe adora me agradar. Ao extremo. 

E na mesma proporção, meu azar adora atrapalhar os momentos em que ganho meus mimos.  

- Kushina! 

Tia Tsunade reapareceu na cena nem dez minutos depois de ter sumido e agora não mais com o riso de antes. Na verdade ela parecia bem séria enquanto chamava pela minha mãe e eu já podia imaginar o que viria pela frente... Uma emergência.  

- Emergência! 

Viram? Eu tinha certeza... Agora ela vai dizer que o médico do próximo horário ainda não chegou e que precisam de alguma ajuda.  

- Shizune ainda não chegou, vamos precisar de você 

 Ah, a repetição da mesma cena. 

- Naruto, me desculpe... Pode me esperar mais um pouco? 

- Claro, mãe 

No fim, eu já estava acostumado àquele tipo de situação também. Não dava pra fazer nada além de suspirar e esperar mais. Eu tinha muita preguiça pra ir pra casa e voltar mais tarde, então seguia o plano mais fácil que era me distrair por ali com alguma fofoca que corresse pelos corredores ou só sentar enquanto penso nas provas que me safei de fazer depois de ter pedido transferência. Pensar na escola nova também é uma boa ideia. Mas uma ideia ainda melhor é só seguir minha curiosidade e ir ver qual é o caso de emergência de hoje.  

Eu ouço tanto minha mãe fazer diagnósticos e falar termos médicos 24 horas por dia que sinto como se eu tivesse feito uns anos do curso de medicina. E as vezes parece que toda essa paixão dela acabou passando pra mim também, embora eu não faça a mínima ideia se essa é a profissão que quero exercer no futuro ou não. Por tudo isso, acabei criando o péssimo hábito de ir bisbilhotar os novos casos. Normalmente são coisas emocionantes como acidentes de carro, brigas, tiros e coisas do tipo. Não que a emoção seja exatamente boa, tudo é sempre um tanto deprimente - são pessoas feridas, afinal – mas é menos monótono que dores de barriga, gripe e enxaqueca como o restante dos casos que ela atende. Bem, o que minha mãe diz ser meu instinto medico aflorando, eu intitulo mais como curiosidade excessiva mesmo. Um defeito, confesso.  

De qualquer forma, já me tornei mestre em passar pelas pessoas sem ser muito notado e me encaixar em pontos estratégicos dos corredores pra receber a notícia em primeira mão. Depois de tanta experiência, eu sei exatamente por onde vão correr e até que sala vão ir. Sendo assim, segui minha mãe até o outro lado do hospital, onde as ambulâncias com as tais emergências costumam chegar, e arrumei um cantinho no corredor onde não atrapalharia ninguém. A equipe está tão acostumada com minha presença pelo hospital que esquecia de me expulsar todas as vezes e eu só tinha que me esforçar pra não atrapalhá-los.  

As pessoas que saem das ambulâncias estão sempre apressadas, médicos e familiares. É de praxe que alguém esteja chorando ou desesperado demais (e essa é a parte que menos gosto de presenciar) e também é sempre rápida a movimentação da equipe do hospital. As coisas pareciam correr normalmente, minha mãe corria pra sala pra buscar seus equipamentos, os outros preparavam o corredor, os que desciam da ambulância tinham pressa. Bom, pelo menos da parte profissional da coisa tudo corria como sempre. 

O homem que desceu da ambulância e parecia ser o acompanhante não tinha o semblante desesperado que me acostumei a ver, na verdade ele parecia irritado, farto. Talvez estivesse nervoso demais. Seu semblante era tão forte que dava a ele um ar assustador, eu até me escondi um pouco mais quando seus olhos vieram pra minha direção. Ele também mantinha os braços cruzados e permanecia calado, sem cobrar os médicos ou se lamentar como a maioria costuma fazer. Era um cara estranho, eu diria.  

Depois dele, logo desceram o paciente de verdade. Eu não conseguia ver muita coisa com toda a movimentação de pessoas na minha frente, então apenas esperei que passassem com a maca por mim. Bom, no fim, era um garoto, e ele parecia ter minha idade. Busquei tentar entender o que tinha acontecido com ele, mas eu não via nenhum sinal de nada em seu corpo, nem ferimentos chamativos, o que me fez demorar alguns segundos pra perceber. A atenção dos profissionais dali estava nas ataduras improvisadas que tentavam conter o sangue... Em seus pulsos. Era então mais uma tentativa de suicídio.  

Não era tão incomum, na verdade, mas era ainda mais deprimente que os outros. Era o tipo de caso que eu não gostava de ver, nem acompanhar, e que muitas vezes fazia minha mãe chorar quando tentava contar o que houve em casa. Nada deixa minha mãe mais triste que encontrar alguém que já desistiu e só pensa em morrer, não por ela, mas pelo sofrimento dos outros e pela vida. Minha mãe celebra a vida com todo seu vigor e ela se entristece em saber que tem vidas por aí que não podem ser celebradas. Sabendo que era alguém da minha idade, isso acabava me deixando um pouco abalado também. Eu não posso reclamar de nada, mas existem tantos outros que não são como eu, não é? É como um choque de realidade.  

E, falando nela, minha mãe ressurgiu correndo tanto quanto quando sumiu, agora devidamente preparada pra ser a médica em ação. Restaram no corredor apenas mais alguns enfermeiros; Tsunade foi resolver alguma outra coisa, tudo estava nas mãos da mamãe. E eu percebi quando ela encarou o garoto e me encarou em seguida, como se fizesse o paralelo entre nos dois, com os olhos tristes. O homem de antes se identificava como pai, mas ele não parecia interessado ou sequer preocupado; quanto mais o tempo passava, mais aquele comportamento dele me intrigava. 

Antes que todos saíssem de vez, eu voltei a encarar o menino que estava evitando desde que tinha entendido a situação. Seu rosto era um contraste da pele extremamente clara e os cabelos negros, tinha traços leves e delicados – que não eram em nada parecidos com o tal pai esquisito. Mas, o que prendeu minha curiosidade em seu rosto, foram seus olhos. Eles eram tão escuros quanto seu cabelo, mas esse não era o ponto que me chamava atenção.  

Seus olhos pareciam vazios. Não tinha nada neles, eram como um grande buraco negro, cheios só daquela cor escura. Era estranho. Por que não demonstravam nenhum medo, tristeza ou arrependimento? Por que não pareciam vivos nem mortos? Era só um grande nada, como se ele não sentisse nada. Não encaravam ponto nenhum, não choravam nem sorriam. Era só vazio.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...