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História O vazio dos seus olhos - CAPITULO VIII - Eu entendo sua escuridão


Escrita por: biagw

Capítulo 8 - CAPITULO VIII - Eu entendo sua escuridão


CAPÍTULO VIII 

Naruto POV 

 

– Wow, que estante fantástica! Todos esses figures action, você é rico mesmo... 

Embora eu estivesse usando aquele assunto apenas pra não deixar que o clima se tornasse horrível e disfarçar o choque que deveria estar claro em minha cara, a parte da estante era verdadeira. No fundo do quarto dele (que era enorme, diga-se de passagem) tinha uma estante grande toda de vidro cheia de itens de colecionador e figure actions que eu jamais conseguiria fazer meu pai comprar pra mim. Seu quarto tinha todo tipo de item geek, principalmente de Star Wars, na estante e espalhados pelo cômodo. Tinha um sabre de luz bem colocado na parede acima de sua cama, um poster enorme que era idêntico ao original de “O Império Contra-ataca" e um BB8 em tamanho real.  

Aquilo era tão incrível que ate eu caí em meu próprio plano de distração, porque realmente fiquei mais impressionado com a decoração e me esqueci dos problemas em minha frente por um instante. Isso de certa forma foi bom, meu queixo ter quase caído tornou minha surpresa mais verídica e Sasuke se convenceu sobre meu encantamento. Ele ainda parecia querer se esconder e tinha uma postura retraída, principalmente tentando encolher os braços como se pudesse esconder as marcas neles, mas não parecia desconfiado com minha presença, nem tão desconfortável.  

– Eu tinha que ter alguma coisa, afinal... 

Eu quase não ouvi sua resposta – e na verdade pareceu que a intenção era que eu não ouvisse. No momento eu estava babando pela decoração e não dei muita moral praquela afirmação, mas pensando bem sobre ela, acho que entendi o que ele quis dizer. Será que a vida do Sasuke é assim tão ruim que ele acha que o dinheiro que compra tudo isso é a única coisa que tem na vida? Se sim, é um tanto triste.  

– Meu Deus, essa é de uma edição super rara! – corri feito um babaca até a estante assim que percebi uma das raras edições da figure do Darth Vader lançada junto com “A Vingança dos Sith”. Tive que me conter ao máximo pra não me enfiar com a cara no vidro e eu podia ter plena certeza de que meus olhos estavam brilhando naquele momento – Cara, como você conseguiu isso? É um master item de colecionador, deve ser uma fortuna! 

Eu acho que minha postura e minha expressão de fã encantado deveriam estar muito divertidas ou engraçadas naquele momento. Sasuke estava sorrindo quando o encarei. Era um sorriso pequeno e tímido, mas... Fez meu coração parar por um instante por algum motivo. Era a primeira vez que eu o via sorrir daquele jeito (ou talvez fosse a primeira vez que o via sorrindo) e já podia ter tanta certeza de que o sorriso combinava muito mais com seu rosto que qualquer outra coisa. E ele podia sorrir. Era como se fosse o oposto de seus olhos vazios. Se ele pudesse sorrir mais, talvez aquela escuridão se preenchesse.  

Algo naquela hora me fez querer arrancar mais de seus sorrisos, como se eu fosse o responsável por aquela salvação. Algo que eu não sabia explicar. Algo que me pareceu mais interessante que a figure lendária do Darth Vader. Por que aquele pequeno sorriso que mal mostrava seus dentes parecia tão mais brilhante e encantador que todos os itens da estante juntos? 

Por um segundo, me lembrei das milhares de vezes que meu pai me contou a mesma história. A história de quando se apaixonou pela mamãe. Ele diz que se apaixonou à primeira vista, quando viu seu sorriso pela primeira vez. Meu pai diz que era como se o mundo dele parasse toda vez que a mamãe sorria. Que foi assim que ele notou que estava apaixonado.  

Então, será que eu... 

 

– Eu trouxe dos Estados Unidos – a resposta de Sasuke me tirou da transe anterior. Ele parecia não ter percebido a combustão que acontecia em minha mente naquele momento, mas eu sentia bem o meu rosto queimando. Isso é estranho. 

Mas, não, não deve ser o que pensei.  

A gente mal se conhece, isso não é tão fácil.  

Meu pai é um bobão apaixonado e emocionado, ele certamente exagera nas histórias e nas emoções. Eu só... Devo estar nervoso, sei lá. Coisa do tipo.  

– Mas essa é minha preferida – Sasuke foi até o meu lado, apontando uma outra figure, dessa vez do Yoda. E ela era realmente bem bonita, mas naquele momento eu ainda estava um pouco perturbado então não consegui aproveitar a vista.  

– Hm, é linda mesmo... – tentei responder de forma decente, mas fui meio fracassado. Eu não conseguia entender porque tinha ficado tão nervoso de repente, esse não é meu jeito natural. De qualquer forma, me afastei um pouco e observei o resto do quarto, tentando me distrair. Sasuke se sentou na cama e não disse mais nada, como se só me esperasse continuar a conversa. Claro, Naruto, foi você que invadiu o quarto – Bom, é... Seu quarto é todo maneiro 

Patético, Naruto, patético. 

– Obrigado 

 

É possível que toda vez que a conversa seja entre nós dois a minha capacidade comunicativa diminua em pelo menos 50%? Isso significa alguma coisa? Parece que desaprendi a conversar direito e agora estamos parados num silêncio constrangedor faz meia hora. Eu disfarço tudo encarando a estante como se descobrisse coisas novas, mas a verdade é que não sei mais o que dizer – e que também não quero olhar pra ele porque estou me sentindo envergonhado. É ridículo admitir isso, mas é real.  

– Naruto... 

Okay, ele vai começar uma conversa agora. Não seja estúpido, encare o seu colega de carteira naturalmente e deixe de pensar coisas idiotas.  

Ele parece mais sério.  

– Por que veio até aqui? 

– Pra te entregar o trabalho... 

– Isso foi só uma desculpa 

 

O que? Como ele sabe? Eu sou tão óbvio? 

Engoli seco, desviando o olhar por um instante enquanto tentava arrumar outra desculpa. Mas nada mais vinha em minha mente, a escola era minha única saída racional e se ele já sabia que era mentira... Talvez o melhor fosse dizer a verdade de uma vez.  

– Eu fiquei um pouco preocupado – respondi, sem graça, encarando o chão. Eu achava que Sasuke poderia se irritar com minha insistência ou pensar que eu tinha pena dele. Sei que não quer esse tipo de sentimento – Você tinha me dito que iria pra aula e não apareceu, então eu achei que pudesse ter acontecido alguma coisa.  

– Por que se preocupou com isso? Você mal me conhece 

– Eu preciso conhecer alguém tanto assim pra me preocupar? 

Nossos olhares se encontraram por um pequeno segundo e eu senti meu corpo gelando de novo. Todo aquele vazio me dava arrepios. E eu sentia como se sua dúvida não fosse pelo fato de eu ser um estranho, mas sim porque ele parecia não acreditar que merecesse alguma preocupação.  

– Você é meu colega de classe, oras! Dissemos que seríamos amigos. Eu não sou do tipo que deixa os amigos de lado – completei, assim que meus olhos foram parar do outro lado do quarto. Eu ainda não tinha certeza sobre a forma como falava, mas esperava estar chegando no resultado final.  

– Obrigado 

Aquela palavra saiu como um sussurro de seus lábios, mais por falta de força que por vergonha. Mas, mesmo tão baixinho e simples, foi suficiente pra mim. Eu me sentia feliz sabendo que ele não estava incomodado comigo ou coisa do tipo, me dava um pouco de esperança.  

E, bom, fomos pro silêncio mais uma vez.  

Parecia que algo nos impedia de falar, algo que nenhum de nós dois conseguia quebrar, alguma barreira invisível. Talvez fosse porque eu queria perguntar coisas que não deveriam ser perguntadas e ele queria confessar coisas que não deveriam ser confessadas. Acabávamos os dois brigando com nosso interior e não dizendo nada.  

 

– Você é a primeira pessoa que vem até aqui... 

E então uma de suas confissões escapou, no meio de um sorriso nervoso. Eu estava surpreso de várias formas – primeiro porque ele estava falando mais que eu naquele dia, depois porque estava me contando coisas que eu não esperava ouvir, e por último porque aquele pequeno sorriso estava lá de novo e eu podia sentir meu rosto queimar outra vez. Estou começando a odiar a sensação... 

– Sério?  

– Pode dizer o que pensou, eu sei que deve ter me achado um antissocial ridículo 

– Não, claro que não. Eu só pensei que... É bom que haja um primeiro, é mais fácil conquistar os próximos depois – sorri de leve, sendo encarado com uma expressão meio indecifrável. No entanto, no meio daquele escuro infinito, eu conseguia ver um pequeno brilho. Uma pequena luz no vazio. Isso era reconfortante – E eu com certeza vou acabar te ajudando a fazer isso acontecer, meu círculo de pessoas é sempre enorme, sabe como é, sou um tanto extrovertido. 

 

Bom, parecíamos ir bem... 

Isso até ouvirmos o barulho da porta da sala.  

Eu nem tinha notado o tempo passar. Sasuke também não e agora ele parecia desesperado.  

O que eu faço? O que eu faço? 

 

– Se esconde! – Sasuke me respondeu como se pudesse ler meus pensamentos, me pegando pelos ombros, mais preocupado do que eu. Na verdade ele parecia estar com medo.  

E foi nesse momento que eu me lembrei do começo da tarde e do meu motivo pra estar ali. Não tínhamos começado falando sobre Star Wars. Eu estava ali porque tinha me preocupado e minha preocupação estava correta. Era só olhar pra ele, ver todas aquelas marcas arroxeadas em seu corpo. Eu estava com medo de seu pai, Sasuke deve ter pânico dele.  

– Tá – respondi, sem mal conseguir me mexer direito. Puxei minha mochila com pressa e fiquei feito uma barata tonta de um lado ao outro do quarto, sem saber pra onde ir. Eu estava nervoso, mais do que temia me ferrar por ter invadido a casa e aberto o quarto que o cara havia trancado, eu temia que Sasuke se ferrasse por minha causa. E meu nervosismo não me permitia pensar direito.  

– Vai pra debaixo da cama – mais esperto que eu (ou talvez mais acostumado à situação), foi Sasuke quem deu a ideia. Mas, antes que eu cumprisse seu plano, ele me agarrou pelo ombro outra vez, me encarando de perto e com um olhar sério – Não saia daí por nada, entendeu? Em nenhuma circunstância! Não saia até que eu diga pra sair! Se meu pai te descobrir aqui ele vai me matar! 

– Entendi... – eu estava basicamente me tremendo todo de medo e então só segui suas instruções e me enfiei embaixo da cama, que felizmente era enorme como o resto do quarto. Dava pra sentir meu suor gelado escorrendo e eu nem sabia porque exatamente estava assim tão amedrontado, como se nunca tivesse me metido numa confusão antes (coisa que já fiz muitas vezes). 

 

Escutei Sasuke se jogando no colchão e os passos na escada pouco depois. Eu estava até tentando respirar mais devagar pra não fazer qualquer tipo de barulho. Meu campo de visão era uma fresta minúscula entre a colcha e o chão, talvez eu pudesse ver os pés do homem assustador quando ele entrasse. É, eu realmente podia ver seus pés.  

Quando ouvi a porta abrindo, senti minha alma sair do meu corpo e voltar. Eu não tenho tanto medo nem do meu próprio pai. Eu sabia que nada de importante aconteceria comigo se ele me encontrasse, mas não podia imaginar o que ele faria se desconfiasse de Sasuke em algum momento. Era um cara agressivo que trancava o filho no quarto, afinal. Enquanto eu basicamente rezava um terço pedindo por misericórdia divina, a voz do cara ecoou no quarto.  

– Sua porta está aberta... 

 

DROGA! 

Droga, droga, droga! 

Seu burro! Burro, idiota, inútil! 

Como eu não pensei nisso antes? 

Eu abri a porcaria da porta com a chave dele e obviamente não coloquei a chave no lugar de novo, até porque não daria pra estar do lado de fora e do lado de dentro ao mesmo tempo. Eu não acredito que fiz isso.  

– Está? – Sasuke fingia calmamente não saber de nada. Ele já esperava por isso? Ele já pensou nos próximos passos? – Eu nem tentei abrir... Disse que ia trancar 

– E eu tranquei. Deixei a chave na cozinha, mas ela não está mais lá 

– Talvez tenha deixado em outro lugar 

– Seu verme, como fez pra sair? 

– Papai, eu não tinha como sair! Você trancou a porta e levou a chave, como eu iria pegá-la do lado de fora? 

Eu não conseguia ver nada claramente, mas sabia que agora os dois estavam de pé. Pelo barulho em minha cabeça, o mais velho estava revirando a cama, provavelmente tentando encontrar a chave – que eu nem sei onde Sasuke enfiou. Tudo que eu podia fazer era sentir raiva e continuar pedindo a misericórdia divina.  

Era ainda pior quando tudo ficava silencioso, eu não fazia ideia do que estava acontecendo e não podia colocar a cabeça pra fora pra conferir. Pela fresta, eu ainda via os quatro pés por ali, ou seja, não estávamos livres. Mas não demorou até que meus músculos travassem. O barulho das chaves batendo contra o chaveiro da marca de cerveja.  

Ele encontrou? 

 

– Está dando uma de rebelde, Sasuke? Está se rebelando contra mim? 

Os passos se distanciavam da cama. Sasuke estava fugindo dele, mas sendo seguido. Ele ia se encrencar de novo e a culpa era minha. 

– Acho que estou sendo muito brando com você, está se comportando feito um garoto mimado. Parece que lições básicas não funcionam mais com você, não é? Está até me desafiando agora... Preciso ser mais duro pra que me entenda, é isso? O que pensariam de um pai que não pode controlar o próprio filho? Um pai que é enganado por um vermezinho dessa forma... Ah, que vergonha.  

 

As palavras daquele homem me davam nos nervos, davam ansia. Por que ele parecia não se importar nem um pouco com seu filho? Ele o acompanhou até o hospital numa situação daquelas dias atrás e mesmo assim esta agindo dessa forma agora. Ele é como um monstro.  

Me aproximei mais do canto da cama, onde minha visão ficaria um pouco melhor. Ainda não dava pra ver muito, mas era mais que pés. Eu podia ver os punhos de Sasuke cerrados, sem saber se ele queria socar o pai ou se era apenas medo. Perto daquele cara, ele parecia uma criança pequena, sua postura se tornava ainda pior, ele quase se fundia ao chão. Deve ser tão humilhante e doloroso. 

E a culpa era minha.  

A culpa era minha se Sasuke estava levando aqueles tapas na minha frente. Daqueles que o barulho é assustador. Se seus lábios estavam sangrando agora e suas bochechas estavam inchadas, eu era o culpado. Eu queria sair dali debaixo e fazer alguma coisa, mas ele me dizia com o olhar pra não me mexer.  

“Meu pai vai me matar se te descobrir aqui” 

Talvez não fosse um exagero.  

Aquele homem monstruoso parecia gostar do que fazia, ele mal tinha motivos. Era seu hobbie bater no filho todos os dias? E se ele realmente fosse capaz de fazer algo pior? Eu não podia arriscar, então continuei petrificado enquanto só assistia. Eu jamais imaginei antes que um pai pudesse ser assim, ele era como um pesadelo, ele dava medo de verdade.  

E então, depois de minutos de xingamentos listados, o tal monstro saiu quebrando coisas pelo quarto. Eu não conseguia assistir a tudo, então só fechava os olhos feito um covarde e ouvia Sasuke implorando pra que ele parasse, no meio dos barulhos confusos das coisas voando e atingindo as paredes ou o chão. Ele estava destruindo o quarto inteiro, provavelmente acabando com todas as coisas que eram importantes pra seu filho depois de já ter sido agressivo com ele.  

Quanto mais eu via e ouvia, mais entendia... Aquela escuridão em seus olhos.



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